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sábado, 31 de março de 2012

Falar com Lula faz bem para a alma

 

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Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula


Por: Ricardo Kotscho

Já passava das nove da noite quando o telefone tocou. Era o Sandro, filho do Lula: "Meu pai quer falar com você". Antes dele, entrou na linha a amiga Marisa para reclamar que eu não tinha ligado, e ficamos um tempão conversando, enquanto o ex-presidente falava em outra linha.
Claro que eu já sabia da bela notícia de que o tumor na laringe de Lula tinha desaparecido, mas eles queriam me contar. Somos amigos faz mais de trinta anos. "Por que você não ligou pra nós?", cobrou Marisa, que sempre cuidou de mim nas muitas viagens que fizemos juntos ao longo da vida.
Lula tinha acabado de aparecer nos telejornais falando como Marisa tinha sido importante na sua recuperação. Só ela não viu porque estava atendendo ao telefone que não parava de tocar.
Pois é, não  liguei para a casa deles porque imaginei que meio mundo estava fazendo isso e não queria incomodar. Ao ouvir a felicidade de Lula de própria voz, depois dos exames que fez nesta quarta-feira, fiquei emocionado como eles e me lembrei dos muitos momentos difíceis que passamos juntos nas campanhas eleitorais e no governo.
No fim, dá tudo certo, a gente costumava dizer um para o outro nestas horas duras, que não foram poucas, desde que Lula trocou a pacata vida de operário pela de líder político.
Deu certo mais uma vez. Aos muitos amigos comuns que me ligaram nos últimos dias e semanas para saber como estava o Lula, posso garantir, independentemente de boletins médicos, que o astral dele está muito bom e que não vê a hora de voltar à vida política.
Me perguntou o que achei e contou que ficou contente com o encontro que teve na véspera com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Eles são adversários políticos, mas nunca deixaram de ser amigos, ainda mais nestas horas.
Lula ainda precisa de alguns dias para recuperar a força e a voz que perdeu por causa do tratamento de radioterapia, mas agora falta pouco, e ele não vê a hora de entrar com tudo nas campanhas do PT, principalmente na de São Paulo, que virou seu grande desafio.
O amigo ex-presidente sempre viveu de desafios, de remar contra a maré, contrariar o senso comum, mirar o impossível. Falar com ele faz bem para o coração e a alma, ainda mais num dia em que mais uma vez Lula sai vencedor de uma dura batalha.
Fiquei na dúvida se deveria escrever aqui no Balaio sobre essa nossa conversa, mas não queria deixar de dividir com todos os leitores a alegria que sinto por ter falado agora há pouco com esta grande figura num dia tão importante na vida dele e, com certeza, na de todos nós, brasileiros, que acreditamos no Brasil.
Valeu, amigo Lula, bola pra frente, vida que segue.

Fonte: Balaio do Kotscho

America Latina apoia Argentina nas Malvinas


Por Yana Marull

BRASÍLIA (AFP) – A América Latina, mais unida que há trinta anos, quando explodiu a guerra das Malvinas sob domínio britânico, se uniu à Argentina em sua reivindicação de soberania e ressuscita, com o Brasil na liderança, uma iniciativa para controlar o Atlântico Sul.
Os países latino-americanos apoiaram de forma unânime a Argentina, rejeitaram a presença militar britânica na região e pretendem corroborar esta posição na Cúpula das Américas de Cartagena em abril, informou nesta semana a chanceler colombiana, María Ángela Holguín.
O chanceler brasileiro, Antônio Patriota, deixou claro para seu homólogo britânico William Gague em Brasília no início do ano: o Brasil e a região “apoiam a soberania argentina sobre as Malvinas e as resoluções da ONU que pedem os governos argentino e britânico para dialogarem sobre este tema”.
Patriota informou ainda que o Brasil colabora com o Uruguai para convocar uma reunião da “Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul”, com países sul-americanos e africanos banhados pelo oceano.
“Há um interesse de Brasil, Argentina e Uruguai de criar uma área de segurança do Atlântico Sul. Há décadas isto estava na agenda”, afirma o professor da Universidade Estadual Paulista, Tullo Vigevani.
Mas agora este interesse é mais diligente, depois que o Brasil descobriu gigantescas reservas petroleiras em alto mar, em frente a sua costa.
“O Atlântico Sul é extremamente importante para todos os países de ambos os lados do oceano. A geologia desta região é um espelho, o que há do lado sul-americano, existirá do sul-africano, e já estão sendo descobertas grandes reservas petroleiras na costa africana, além da riqueza do oceano, como a pesca”, afirma Alberto Pfeifer, do Grupo de Análises de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo
O potencial petrolífero das Malvinas foi peça-chave no recente atrito entre Argentina e Grã-Bretanha, uma vez que empresas uma vez que empresas britânicas iniciaram prospecções em 2010, embora com um resultado aparentemente limitado.

Há 30 anos, tinha início a Guerra das Malvinas, um conflito sem solução ©AFP / Kt/Dp/Ppbritânicas iniciaram prospecções em 2010, embora com um resultado aparentemente limitado.
O recente envio à região de uma fragata britânica e do príncipe William em uma manobra militar alimentou esta tensão e levou a Argentina à ONU para acusar Londres de militarizar o Atlântico Sul.
Em meio a este aumento de tensões e para além da retórica, os países do Mercosul e associados se comprometeram em dezembro a proibir a entrada em seus portos de barcos com bandeira das Malvinas. Por sua vez, o Peru acaba de cancelar a visita de uma fragata britânica, e o presidente equatoriano, Rafael Correa, chegou a propor a adoção de sanções contra o Reino Unido.
Este apoio não foi tão aberto nem homogêneo 30 anos atrás, em plena Guerra Fria, quando boa parte da região estava sob ditaduras convencidas de que o inimigo era o país vizinho, afirma o professor de Relações Internacionais das universidades Nacional do Centro e de Buenos Aires, Raúl Bernal-Meza. “Existia uma hipótese de conflito entre muitos países.”
A ditadura chilena de Augusto Pinochet prestou colaboração velada à Grã-Bretanha e o único país que forneceu uma ajuda concreta à Argentina foi o Peru, que enviou armas e aviões Mirage (o que não é reconhecido oficialmente).
Hoje os países latino-americanos dependem menos de Europa e Estados Unidos e mais de si mesmos, ao mesmo tempo em que mostram uma vontade maior de manter uma identidade comum.
“A existência da Unasul (União Sul-Americana de Nações) deu mais coesão à posição de solidariedade com a Argentina porque é muito mais fácil obter acordos e consensos”, afirma Ernesto Velit Granda, catedrático peruano de Relações Internacionais.
Para o cientista político da Universidade do Chile, Ricardo Israel, “é difícil que o apoio latino-americano passe de um gesto simbólico”, entre outros, porque “não haverá uma nova guerra; a Argentina não tem as mínimas condições militares”.
Não haverá medidas restritivas ao comércio, nem ao transporte com as Malvinas, como deixaram claro o Chile, que tem uma comunidade nas ilhas que chega a 10% da população e opera, através da LAN, o único voo comercial semanal, assim como o Uruguai, que aumentou o comércio com elas nos últimos anos.
No dia 2 de abril de 1982, a ditadura militar argentina invadiu as ilhas tomadas pela Grã-Bretanha em 1833. As tropas argentinas se renderam após 74 dias de conflito, que terminou com 649 argentinos mortos e 255 britânicos, selando também o destino da ditadura argentina, que caiu no ano seguinte.
A Grã-Bretanha se mantém irredutível em sua defesa “do princípio de autodeterminação” dos habitantes das Falklands, nome oficial da Grã-Bretanha para o arquipélago, grande como o Líbano e com 3.000 habitantes, localizado a 650 km da costa da Patagônia argentina.

Fonte:Carta Capital

sexta-feira, 30 de março de 2012

90 anos de comunismo no Brasil







Escrito por Mário Maestri  
Em 25 de março de 1922, era fundado, em Niterói, no Rio de Janeiro, o Partido Comunista Brasileiro. O pequeno grupo de nove delegados – sobretudo operários e artesões –, representando pouco mais de 70 militantes, de diversas regiões do Brasil, dimensionava os limites orgânicos do movimento nascente. A ideologia anarco-sindicalista e a escassa formação marxista dos novos comunistas demarcavam igualmente a fragilidade política do movimento em formação.

Entretanto, foi enorme o sentido simbólico daquela reunião. Sob o impulso da Revolução de 1917, pela primeira vez em uma nação ainda essencialmente rural e profundamente federalista, os trabalhadores expressavam em forma clara e explícita a vontade de organizar-se em partido para a luta pela construção de uma sociedade nacional e internacional sem explorados e exploradores.

As celebrações essencialmente genealógicas que acabamos de viver do transcurso em questão registram fortemente os impasses e a debilidade do comunismo no Brasil, noventa anos após a reunião histórica.

Já sem quaisquer raízes com os princípios que nortearam os primeiros anos do comunismo no Brasil e no mundo, o Partido Comunista do Brasil (PC do B), produto da cisão de 1960, procura registrar burocraticamente os laços organizacionais que o ligariam àquele movimento primordial, no momento em que participa com destaque da gestão governamental do país em favor do grande capital, sendo regiamente remunerado por tal ação.

O pequenino Partido Comunista Brasileiro (PCB), glorioso resgate da rendição incondicional empreendida pelo PPS, em 1992, realiza meritório esforço de “reconstrução revolucionária”, fortemente dificultada pelo resgate acrítico de passado que materializou, por longas décadas, a negação radical dos princípios consagrados pela revolução soviética. Homenagem e tributo ao pesado lastro do passado que determinam, comumente, a ação do presente.

Uma enorme parte da história do comunismo no Brasil e no mundo está marcada indelevelmente pela sombra sinistra do stalinismo, excrescência política da imensa capa burocrática que expropriou o poder político dos trabalhadores, em processo que levaria a URSS, a China, os países do Leste Europeu, à crise e à restauração capitalista. Processo que determina, hoje, mais e mais, o destino da sociedade cubana.

Através do mundo, os comunistas que se organizaram contra a colaboração de classe e em defesa do internacionalismo, da revolução socialista, da democracia leninista etc. foram expulsos dos partidos comunistas, caluniados, perseguidos e, não raro, eliminados fisicamente. Na URSS, na China, na Espanha etc., os comunistas revolucionários vitimados pelos stalinistas se contam às dezenas de milhares.

O gráfico Joaquim Barbosa, Rodolfo Coutinho, Manoel Medeiros, Mario Pedrosa, Fúlvio Abramo, Lívio Xavier, Aristides Lobo, Manoel Medeiros, João da Costa Pimenta, Hermínio Sacchetta foram alguns das centenas de destacados e dedicados militantes comunistas, alguns deles fundadores do PCB, que enfrentaram, em diversas épocas, a luta pela reconstrução revolucionária do comunismo no Brasil, então sob a férrea hegemonia liquidadora stalinista.

Em geral, essa luta empreendida nas mais difíceis condições foi dada através de grupos ligados à Oposição de Esquerda, animada por León Trotsky, igualmente expulso da URSS, perseguido e vilmente assassinado pelos esbirros do stalinismo. Nossa saudação a todos aqueles comunistas revolucionários brasileiros, nesta data que é de tantos e, sobretudo, deles.

O caráter restrito das celebrações da fundação do movimento comunista no Brasil, em 1922, é um enorme depoimento de sua atual fragilidade organizacional e político-ideológica. Fragilidade extensiva àqueles que reivindicam filiação orgânica direta ou apenas político-ideológica ao ato inaugural do comunismo no Brasil.

Mário Maestri é sul-rio-grandense, historiador e comunista sem partido.
E-mail: maestri(0)via-rs.net

Fonte: Correio da Cidadania

quinta-feira, 29 de março de 2012

Imprensa silencia no caso Demóstenes






De: Marcelo Semer

Pior do que o sensacionalismo, é o sensacionalismo seletivo, que só explora vícios de quem incomoda


Demóstenes Torres é promotor de justiça. Foi Procurador Geral da Justiça em Goiás e secretário de segurança do mesmo Estado.

No Senado, é reputado como um homem da lei, que a conhece como poucos. Além de um impiedoso líder da oposição, é vanguarda da moralidade e está constantemente no ataque às corrupções alheias. A mídia sempre lhe deu muito destaque por causa disso.

De repente, o encanto se desfez.

O senador da lei e da ordem foi flagrado em escuta telefônica, com mais de trezentas ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, de quem teria recebido uma cozinha importada de presente.

A Polícia Federal ainda apura a participação do senador em negócios com o homem dos caça-níqueis e aponta que Cachoeira teria habilitado vários celulares Nextel fora do país para fugir dos grampos. Um deles parou nas mãos de Demóstenes.

Há quase um mês, essas revelações têm vindo à tona, sendo a última notícia, um pedido do senador para que o empresário pagasse seu táxi-aéreo.

Mesmo assim, com o potencial de escândalo que a ligação podia ensejar, vários órgãos de imprensa evitaram por semanas o assunto, abrandando o tom, sempre que podiam.

Por coincidência, são os mesmos que se acostumaram a dar notícias bombásticas sobre irregularidades no governo ou em partidos da base, como se uma corrupção pudesse ser mais relevante do que outra.

Encontrar o nome de Demóstenes Torres em certos jornais ou revistas foi tarefa árdua até para um experiente praticante de caça-palavras, mesmo quando o assunto já era faz tempo dominante nas redes sociais. Manchetes, nem pensar.

Avançar o sinal e condenar quando ainda existem apenas indícios é o cúmulo da imprudência. Provocar o vazamento parcial de conversas telefônicas submetidas a sigilo beira a ilicitude. Caça às bruxas por relações pessoais pode provocar profundas injustiças.

Tudo isso se explica, mas não justifica o porquê a mesma cautela e igual procedimento não são tomados com a maioria dos "investigados" - para muitos veículos da grande mídia, a regra tem sido atirar primeiro, perguntar depois.

Pior do que o sensacionalismo, no entanto, é o sensacionalismo seletivo, que explora apenas os vícios de quem lhe incomoda. Ele é tão corrupto quanto os corruptos que por meio dele se denunciam.

Todos nós assistimos a corrida da grande imprensa para derrubar ministros no primeiro ano do governo Dilma, manchete após manchete. Alguns com ótimas razões, outros com acusações mais pífias do que as produzidas contra o senador.

Não parece razoável que um órgão de imprensa possa escolher, por questões ideológicas, empresariais ou mesmo partidárias, que escândalo exibir ou qual ocultar em suas páginas. Isso seria apenas publicidade, jamais jornalismo.

Durante muito tempo, os jornais vêm se utilizando da excludente do "interesse público" para avançar sinais na invasão da privacidade ou no ataque a reputações alheias.

A jurisprudência dos tribunais, em regra, tem lhes dado razão: para o jogo democrático, a verdade descortinada ao eleitor é mais importante do que a suscetibilidade de quem se mete na política.

Mas onde fica o "interesse público", quando um órgão de imprensa mascara ou deliberadamente esconde de seus leitores uma denúncia de que tem conhecimento?

O direito do leitor, aquele mesmo que fundamenta as imunidades tributárias, o sigilo da fonte e até certos excessos de linguagem, estaria aí violentamente amputado.

Porque, no fundo, se trata mais de censura do que de liberdade de expressão.

Fonte: Blog Sem Juizo