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terça-feira, 13 de março de 2012

Filosofia materialista

Já que fui adicionado a este grupo, sinto-me na obrigação em dar minha contribuição ao tema filosofia, apresentando, concretamente uma proposta de curso de filosofia do mestre Georges Politzer, nas aulas ministradas na Universidade Operária de París. As aulas de Politzer foram anotadas por seus alunos e posteriormente viraram um livro: Princípios Elementares de Filosofia. As aulas são ministradas numa linguagem simples para fácil entendimento, sem a linguagem rebuscada dos filósofos burgueses, recheada de "ismos" que complicam o entendimento da filosofia e sua doutrina. O que veremos a seguir é o estudo da história da filosofia, suas doutrinas e concepções, desde a idade antiga até o século XIX, quando surgiram Marx e Engels, criadores do materialismo Dialético.

As aulas serão apresentadas diariamente, até a conclusão rápida do curso. No final, serão disponibilizadas integralmente, num arquivo em PDF.

INTRODUÇÂO

  1. Por que devemos estudar a filosofia?


     

Propomo-nos, no decurso desta obra, apresentar e explicar os princípios elementares da filosofia materialista.

Porquê? Porque o materialismo está intimamente ligado a uma filosofia e a um método: os do materialismo dialético. É, pois, indispensável estudar essa filosofia e esse método, para na verdade compreender o marxismo e refutar os argumentos das teorias burguesas, assim como para empreender uma luta política eficaz.

Com efeito, Lenine disse: «Sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário1». Isto quer dizer, antes de mais: é preciso juntar a teoria à prática.

O que é a prática? É o até de realizar. Por exemplo, a indústria, a agricultura realizam (isto é: tornam reais) certas teorias (teorias químicas, físicas ou biológicas).

O que é a teoria? É o conhecimento das coisas que queremos realizar.

Pode ser-se apenas prático - mas, então, realiza-se por rotina. Pode ser-se apenas teórico - mas, então, o que se concebe é muitas vezes irrealizável. É preciso, portanto, que haja ligação entre a teoria e a prática. A questão é saber quais devem ser essa teoria e a sua ligação com a prática. Que é preciso um método que não seja um dogma, dando-lhe soluções acabadas, mas um método que tenha em conta fatos e circunstâncias que nunca são os mesmos, um método que nunca separe a teoria

da prática, o raciocínio da vida. Ora, esse método está contido na filosofia do materialismo dialéctico, base do marxismo, que nos propomos explicar.


 

  1. O estudo da filosofia é uma coisa difícil?


     

Pensa-se, geralmente, que o estudo da filosofia é uma coisa cheia de dificuldades,

necessitando conhecimentos especiais. Ê preciso confessar que a maneira como estão redigidos os manuais burgueses tem a intenção de levá-los a pensar desse modo, e não pode senão aborrecê-los. Não pensamos negar as dificuldades que o estudo, em geral, comporta, e a filosofia, em particular; mas estas dificuldades são perfeitamente superáveis, e ocorrem, sobretudo, pelo fato de se tratar de coisas novas para muitos dos nossos leitores.

Desde o início, vamos, por outro lado, precisando as coisas, chamá-los a rever certas definições de palavras que estão deturpadas na linguagem corrente.


 

1 LÉNTNE: «QUE fazer?», Obras Escolhidas de Lénine em três Tomos, Ed. Avante 1977, Tomo I, pag. 79-214


 


 

  1. O que é a filosofia?


     

Vulgarmente, entende-se por filósofo: ou àquele que vive nas nuvens, ou o que toma as coisas pelo lado bom, aquele que nada faz. Ora, muito ao contrário, o filósofo é aquele que quer, a certas perguntas, dar respostas precisas, e, se se considerar que a filosofia quer dar uma explicação aos problemas do universo (de onde vem o mundo? para onde vamos? etc.), vê-se, por conseguinte, que o filósofo se ocupa de muitas coisas, e, ao contrário do que dizem, trabalha muito.

Diremos, portanto, para definir a filosofia, que ela quer explicar o universo, a natureza, que é o estudo dos problemas mais gerais. Os menos gerais são estudados pelas ciências. A filosofia é, pois, um prolongamento das ciências, no sentido em que se apoia nas ciências e delas depende.

Acrescentaremos, em seguida, que a filosofia marxista utiliza um método de resolução de todos os problemas, e que tal método depende do que se chama o materialismo.


 

  1. O que é a filosofia materialista?


     

Também aí existe uma confusão, que devemos denunciar imediatamente; é vulgar entender-se por materialista aquele que só pensa em gozar com os prazeres materiais. Jogando com a palavra materialismo - que contém a palavra matéria -, chegou a dar-lhe um sentido completamente falso.

Vamos, estudando o materialismo - no sentido científico da palavra -, restituir-lhe o seu verdadeiro significado; ser materialista, não impede, iremos vê-lo, de ter um ideal e de lutar para fazê-lo triunfar.

Dissemos que a filosofia quer dar uma explicação aos problemas mais gerais do mundo. Mas, no decurso da história da humanidade, esta explicação não foi sempre a mesma.

Os primeiros homens procuraram, na verdade, explicar a natureza, o mundo, mas não o conseguiram. O que permite, com efeito, explicar o mundo e os fenômenos que nos rodeiam são as ciências; ora, as descobertas que permitiram às ciências progredir são muito recentes.

A ignorância dos primeiros homens era, pois, um obstáculo às suas investigações. Por isso é que no decurso da História, por causa desta ignorância, vemos surgir as religiões, que querem explicar, também elas, o mundo, mas por forças sobrenaturais. É esta uma explicação anticientífica. Ora, como, pouco a pouco, no decurso dos séculos, a ciência se vai desenvolver, os homens vão tentar explicar o mundo através de fatos materiais, a partir de experiências científicas, e é daí, desta vontade de explicar as coisas pelas ciências, que nasce a filosofia materialista.

Nas páginas seguintes, vamos estudar o que é o materialismo, mas, desde já, devemos fixar que o materialismo não é mais do que a explicação científica do universo.

Estudando a história da filosofia materialista, veremos quanto foi áspera e difícil a luta contra a ignorância. É preciso, aliás, constatar que, mesmo nos nossos dias, esta luta não terminou ainda, uma vez que o materialismo e a ignorância continuam a subsistir juntos, lado a lado.

É no coração desta luta que Marx e Engels intervieram. Compreendendo a importância das grandes descobertas do século XIX, permitiram à filosofia materialista fazer enormes progressos na explicação científica do universo. Foi assim que nasceu o materialismo dialético. Depois, os primeiros, compreenderam que as leis que regem o mundo permitem também explicar a evolução das sociedades; formularam, assim, a

célebre teoria do materialismo histórico.

Propomo-nos estudar, nesta obra, primeiramente, o materialismo, depois, o materialismo dialéctico e, por fim, o materialismo histórico. Mas, antes de mais, queremos estabelecer as relações entre o materialismo e o marxismo.


 

  1. Quais são as relações entre o materialismo e o marxismo?


     

Podemos resumi-las da seguintes maneira:

1. A filosofia do materialismo constitui a base do marxismo.

2.- Esta filosofia materialista, que quer dar uma explicação científica aos problemas do mundo, progride, no decurso da História, ao mesmo tempo que as ciências. Por consequência, o marxismo tem origem nas ciências, apoia-se nelas e evolui com elas.

3. Antes de Marx e Engels, houve, em várias etapas e sob formas diferentes, filosofias materialistas. Mas, no século XIX, dando as ciências um grande passo em frente, Marx e Engels renovaram esse materialismo antigo, a partir das ciências modernas, e deram-nos o materialismo moderno, a que se chama materialismo dialético, e que constitui a base do marxismo.

Vemos, por estas breves explicações, que a filosofia do materialismo, contrariamente ao que dizem, tem uma história. Esta está intimamente ligada à das ciências. O marxismo, baseado no materialismo, não teve origem no cérebro de um só homem. É o resultado, a continuação do materialismo antigo, que estava já muito avançado em Diderot. O marxismo é a manifestação do materialismo desenvolvido pelos Enciclopedistas do século XVIII, enriquecido pelas grandes descobertas do século XIX.


 

  1. Campanhas da burguesia contra o marxismo.


     

Estas tentativas de falsificação apoiam-se em bases muito variadas. Procura-se levantar contra o marxismo os autores socialistas do período pré-marxista (antes de Marx). É assim que vemos, muitas vezes, utilizar contra Marx os «utopistas». Outros se servem de Proudhon; outros, ainda, bebem nos revisionistas de antes de 1914

(portanto magistralmente refutados por Lénine). Mas o que interessa, sobretudo sublinhar é a campanha de silêncio que a burguesia faz contra o marxismo. Particularmente, tudo tem feito para impedir que seja conhecida a filosofia materialista sob a sua forma marxista. Impressionante a este respeito é o conjunto do ensino filosófico tal como é dado em França.

Nos estabelecimentos de ensino secundário, ensina-se a filosofia. Mas pode acompanhar-se todo esse ensino sem jamais aprender que existe uma filosofia materialista elaborada por Marx e Engels. Quando, nos manuais de filosofia, se fala de materialismo (porque é conveniente falar nisso), o marxismo e o materialismo são sempre abordados em separado. Apresenta-se o marxismo, em geral, unicamente como uma doutrina política, e, quando se fala do materialismo histórico, não se fala a este respeito da filosofia do materialismo; enfim, ignora-se tudo do materialismo dialético.

Nós, queremos demonstrar que o marxismo comporta uma concepção geral, não apenas da sociedade, mas, ainda, do próprio universo. É, pois, inútil, contrariamente ao que alguns pretendem, lamentar que o grande defeito do marxismo seja a sua falta de filosofia, e querer, como alguns teóricos, ir à procura dessa filosofia que falta ao marxismo. Porque o marxismo tem uma filosofia, que é o materialismo dialético.

Porém, apesar desta campanha de silêncio, apesar de todas as falsificações e precauções tomadas pelas classes dirigentes, o marxismo e a sua filosofia começam a ser cada vez mais conhecidos.

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