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sábado, 21 de abril de 2012

José Dirceu quer ser julgado no STF e resgatar legado político



Dirceu
Dirceu vê agora a sua chance de ser inocentado no Supremo e retomar seus direitos políticos

Ao passo que se aproxima o julgamento no Supremo Tribunal Federal do processo apelidado pela mídia conservadora de “mensalão”, o assunto começa a surgir com força nas redes sociais e, nesta sexta-feira, o ator e diretor de Teatro José de Abreu divulgou, em seu microblog, a recente entrevista do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu a um programa de TV, no qual ele pede para ser julgado. Sob a hashtag #julgamentojustoja, Abreu lembra as declarações de Dirceu quanto a ter sido atirado às feras, em questão de apenas alguns dias, e rotulado de “chefe de quadrilha”.

– Eu tenho uma biografia. Não tenho folha corrida, como muitos que me acusaram. Nunca fui investigado na minha vida. Nunca fui acusado de nada. Ninguém pode virar bandido do dia para a noite. Aquilo foi uma infâmia que fizeram contra mim para atingir o presidente, o governo, o PT. Mas eu nunca me sinti abandonado – disse José Dirceu, em uma entrevista ao programa da jornalista Marília Gabriela, que circula pelas redes sociais.

O militante de esquerda exilado, depois eleito para a Câmara dos Deputados e ter o mandato cassado, não esconde o impacto de um dia acordar como um dos homens fortes da República e anoitecer como o chefe de uma quadrilha especializada em tráfico de influência e propina dentro do Congresso e em ministérios do então governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

– É evidente que (foi difícil) enfrentar, do dia para a noite, (o fato de ser transformado) em chefe de quadrilha e corrupto, porque a denúncia depois aceita pelo Supremo (Tribunal Federal, STF) diz isso. Sem nenhuma prova – garante, ao lembrar que, ouvidas todas as testemunhas, “nenhuma prova foi oferecida”.

Segundo Dirceu, ele foi absolvido “em todos os inquéritos e em todas as CPIs”:

– Já respondi a processos em Brasília e fui absolvido na primeira e na segunda instâncias, sofri uma devassa da Receita ao longo de dois anos e recebi um atestado de honestidade. Então, eu quero ser julgado – reafirmou.

Confusão proposital

Diante das denúncias de participação do senador Demóstenes Torres nos negócios ilícitos do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, nos quais também estariam envolvidos o empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, os governadores de Goiás, Marconi Perillo; de Brasília, Agnelo Queiróz, e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, entre outros deputados e empresários, Dirceu foi lembrado como um dos assessores contratados pela Delta Construções.

A empresa ocupa lugar de destaque na indústria da Construção Civil e, à certa altura, fez um contrato de assessoria com o escritório do ex-deputado petista, no valor de R$ 20 mil. O negócio, porém, segundo Cavendish, não prosperou:

– Um diretor nosso conheceu um assessor do José Dirceu. E falou pra mim: ‘Quer conhecer o José Dirceu?’ Só que fizeram um contrato de R$ 20 mil. Até hoje não consegui entender. Mas o imbecil lá resolveu fazer isso. Tanto é que, quando soube, eu disse: ‘Pode parar essa p!’. Eu estive com José Dirceu uma vez só. Ele falou sobre a Índia, outros países. E foram dizer que a Delta é o que é por causa dele. Isso é esdrúxulo – pontuou o empresário, em entrevista a um jornal paulistano.

A tentativa de ligar o nome de Dirceu ao recente escândalo que gerou a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, como explicou em um artigo o presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, trata-se de uma manobra desesperada de setores da direita e de conservadores na tentativa de despistar os acontecimentos que, um dia após o outro, têm-se mostrados mais graves.

“Era preciso embaralhar as culpas do Demóstenes oposicionista com aquelas de políticos governistas. E era óbvio com quais: os acusados pelo “mensalão”. Eles e Demóstenes tinham de ser igualados. Se esse diversionismo fosse bem-sucedido, o escândalo terminaria por ser positivo: aumentaria as pressões para que o STF julgasse logo o caso”, afirmou, em artigo publicado aqui, no Correio do Brasil.

Restabelecido politicamente

Alheio à manobra dos adversários, Dirceu tratou de reforçar sua posição no PT e junto aos aliados na base de sustentação ao governo da presidenta Dilma Rousseff. Uma vez ultrapassada a última barreira do processo, possivelmente ainda este ano, caso o STF resolva julgar o caso do “mensalão”, Dirceu estará restabelecido politicamente para buscar de volta seus direitos políticos, cassados no Plenário da Câmara. Em uma recente aparição pública, ainda que rara, em um evento partidário, Dirceu foi recebido de pé por cerca de 600 militantes, além de dirigentes do partido, na sede de um sindicato no centro da capital paulista.

– Meu único objetivo é trabalhar para me defender no Supremo Tribunal Federal. Quero ser julgado o mais rápido possível. Não faço planos pra depois – afirmou.

Dirceu também colocou por terra o argumento usado por seus adversário acerca de um possível desmantelamento da ação no Supremo, com a prescrição de algumas penas previstas no processo, em agosto deste ano. Segundo afirmou, “está havendo confusão”.

– Ao que me consta, no dia 26 de agosto vai prescrever, mas é o caso concreto. É tudo o que eu não quero. Não quero que prescreva nenhuma pena daquilo de que eu fui acusado. Eu espero que o julgamento seja antes de 26 de agosto. Eu espero que o Supremo julgue antes disso, mas prescreve a pena concreta, não quer dizer que não vá ser julgado. Eu, como cidadão e como réu, quero ser julgado antes – afirmou.


Fonte: Correio do Brasil

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