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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Fidel era mestre de espionagem e enganou os EUA, diz analista

       

    
 


Por quase três décadas depois que Fidel Castro tomou o poder, o serviço de inteligência de Cuba colocou em campo quatro dezenas de agentes duplos em uma operação de nível mundial debaixo do nariz da CIA, de acordo com um novo livro escrito por um analista veterano da agência de inteligência dos Estados Unidos.
Foi apenas em junho de 1987, quando um espião cubano desertou para a Embaixada dos EUA em Viena que a CIA descobriu quão terrivelmente tinha sido enganada, escreveu Brian Latell, um analista veterano aposentado da CIA e especialista em Cuba.
"Castro foi um supremo e incontestado mestre da espionagem", disse Latell a uma audiência em um livro de leitura recente. As revelações do livro de Latell ajudam a explicar como Castro sobreviveu a várias tentativas de assassinato bem documentadas e como a ilha empobrecida de Cuba resistiu às mudanças que derrubaram outros regimes comunistas no final do século 20.
"Nos anais da espionagem moderna é uma realização extraordinária. É difícil manter um agente duplo em campo, e ele gerenciou todos eles ... até os mínimos detalhes", acrescentou Latell, autor de Castro's Secrets, the CIA and Cuba's Intelligence Machine, publicado pela Palgrave Macmillan.
Latell começou a observar Cuba em meados dos anos 1960 e atuou como Diretor Nacional de Inteligência dos EUA para a América Latina antes de se aposentar da CIA em 1998.
Todos os agentes duplos foram recrutados em Cuba e em outras partes do mundo e comandados pessoalmente por Castro. Ele favoreceu jovens, adolescentes impressionáveis sem uma educação universitária. "Castro queria que eles não fossem contaminados pela velha Cuba. Ele queria que eles fossem maleáveis e entusiasmados", disse Latell.
Enquanto Cuba alardeou seu sucesso com agentes duplos no passado, o livro de Latell mostra que a penetração era mais extensa do que se sabia anteriormente, e comprometia as fontes e métodos de inteligência dos EUA.
A deserção em 1987 de Florentino Aspillaga finalmente alertou a CIA para a extensão da rede de espionagem de Fidel Castro. "Eles estavam em um estado de choque. Nada parecido com isso havia acontecido conosco antes", diz Latell.
Aspillaga era "o oficial mais informado e mais bem condecorado a desertar da inteligência cubana", conta Latell, e sua deserção foi um ponto de virada na atitude da CIA em relação a Cuba. "Até aquele momento, nós subestimávamos os cubanos. Nós nunca imaginamos que a pequena Cuba poderia executar um serviço de inteligência que era de nível mundial", diz ele.
As operações de contra-inteligência foram posteriormente reforçadas. Depois de apenas quatro espiões cubanos terem sido presos entre 1959 e 1995, esse número aumentou mais de dez vezes entre 1998 e 2011, Latell escreve em seu livro.
Aspillaga foi recrutado como espião aos 16 anos e passou 25 anos na inteligência cubana. Sua deserção forneceu "alguns dos segredos mais preciosos, incluindo os agentes duplos", diz Latell, que o entrevistou durante vários dias em 2007.
A entrevista foi realizada a pedido de Aspillaga, que disse que simplesmente queria contar sua história.
Aspillaga também compartilhou um livro de memórias inédito com Latell, sem pedir qualquer pagamento ou favor em troca. O ex-agente vive agora com uma nova identidade depois de sobreviver a uma tentativa de assassinato em Londres, em 1988.
Aspillaga é apenas um de uma dezena de desertores que Latell entrevistou no livro, que conta com milhares de páginas de documentos desclassificados da CIA que o autor revisou no Arquivo Nacional, em Maryland, bem como entrevistas com vários agentes da CIA.
No livro, Latell revela que a inteligência cubana sabia mais sobre o assassinato em 1963 do presidente John F. Kennedy do que admitiu na época, incluindo informações sobre o atirador, Lee Harvey Oswald.

Imagem do STF é turva com Gilmar Mendes

A atuação suspeita e desastrosa de Gilmar Mendes no STF e sua retalhada versão da "conversa" com Lula , já geram manifestações indignadas da sociedade civil.  A hastag #GilmarMentes foi destaque no Twitter
Gilmar Mendes não é o Supremo

Engana-se o senhor Gilmar Mendes, quando denuncia uma articulação conspiratória contra o Supremo Tribunal Federal, nas suspeitas correntes de que ele, Gilmar, se encontra envolvido nas penumbrosas relações do senador Demóstenes Torres com o crime organizado em Goiás.

A articulação conspiratória contra o Supremo partiu de Fernando Henrique Cardoso, quando indicou o seu nome para o mais alto tribunal da República ao Senado Federal, e usou de todo o rolo compressor do Poder Executivo, a fim de obter a aprovação. Registre-se que houve 15 manifestações contrárias, a mais elevada rejeição em votações para o STF nos anais do Senado.

Com todo o respeito pelos títulos acadêmicos que o candidato ostentava — e não eram tão numerosos, nem tão importantes assim — o senhor Gilmar Mendes não trazia, de sua experiência de vida, recomendações maiores. Servira ao senhor Fernando Collor, na Secretaria da Presidência, e talvez não tenha tido tempo, ou interesse, de advertir o presidente das previsíveis dificuldades que viriam do comportamento de auxiliares como PC Farias.

Afastado do Planalto durante o mandato de Itamar, o senhor Gilmar Mendes a ele retornou, como advogado-geral da União de Fernando Henrique Cardoso. Com a aposentadoria do ministro Néri da Silveira, Fernando Henrique o levou ao Supremo. No mesmo dia em que foi sabatinado, o jurista Dalmo Dallari advertiu que, se Gilmar chegasse ao Supremo, estariam “correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional”. Pelo que estamos vendo, Dallari tinha toda a razão.O STF deve julgar, como se espera, o processo conhecido como Mensalão, como está previsto

Gilmar, como advogado-geral da União — e o fato é conhecido — recomendara aos agentes do Poder Executivo não cumprirem determinadas ordens judiciais. Como alguém que não respeita as decisões da justiça pode integrar o mais alto tribunal do país? Basta isso para concluir que Fernando Henrique, ao nomear o senhor Gilmar Mendes, demonstrou o seu desprezo pelo STF. O Supremo, pela maioria de seus membros, deveria ter o poder de veto em casos semelhantes.

Esse comportamento de desrespeito — vale lembrar — ocorreu também quando o senhor Francisco Rezek renunciou ao cargo de ministro do Supremo, a fim de se tornar ministro de Relações Exteriores, e voltou ao alto tribunal, reindicado pelo próprio Collor. O episódio, tal como a posterior indicação de Gilmar, trouxe constrangimento à República. Ressalve-se que os conhecimentos jurídicos de Rezek, na opinião dos especialistas, são muito maiores do que os de Gilmar.

Mas se Rezek não servia como chanceler, por que deveria voltar ao cargo de juiz a que renunciara? São atos como esses, praticados pelo Poder Executivo, que atentam contra a soberania da Justiça, encarnada pelo alto tribunal.

A nação deve ignorar o esperneio do senhor Gilmar Mendes. Ele busca a confusão, talvez com o propósito de desviar a atenção do país das revelações da CPI. O Congresso não se deve intimidar pela arrogância do ministro, e levar a CPMI às últimas consequências; o STF deve julgar, como se espera, o processo conhecido como Mensalão, como está previsto.

Acima dos três personagens envolvidos na conversa estranha que só o senhor Mendes confirma, lembremos o aviso latino, de que testis unus, testis nullus, está a nação, em sua perenidade. Está o povo, em seus direitos. Está a República, em suas instituições.

O senhor Gilmar Mendes não é o Supremo, ainda que dele faça parte. E se sua presença naquele tribunal for danosa à estabilidade republicana — sempre lembrando a forte advertência de Dallari — cabe ao Tribunal, em sua soberania, agir na defesa clara da Constituição, tomando todas as medidas exigidas. Para lembrar um autor alemão, Carl Schmitt, que Gilmar deve conhecer bem, soberano é aquele que pratica o ato necessário.
Mauro Santayana / JB 
 
Fonte: Palavras Diversas

Jean Wyllys diverge do PSOL sobre investigação de Lula

Partido assinou, junto com a oposição de direita, representação pedindo investigação de Lula. Via twitter, deputado do PSOL disse não se sentir confortável em se juntar a partidos de direita “enquanto houver guerras de versões e não fatos”. "Se houvesse provas, a representação era justa. Mas por enquanto há guerra de versões. E a melhor delas não pode ser a da direita", acrescentou o parlamentar.


Brasília - Após a publicação de reportagem da revista Veja, no último fim de semana, acusando o ex-presidente Lula de suposta pressão sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, para adiar o julgamento do mensalão, os partidos de oposição de direita e esquerda protocolaram uma representação contra Lula na Procuradoria Geral da República (PGR).

Assinaram a representação o PSDB, DEM, PPS e PSOL. Em nota intitulada “PSOL quer investigar tudo e todos”, o partido afirma ser “favorável a mais completa investigação sobre a veracidade dos fatos citados” pela revista Veja e diz que “a não assinatura poderia ser utilizada pelos nossos adversários como um gesto de omissão”. O PSOL ainda considerou o pedido à PGR como “insuficiente” e afirmou que nesta terça-feira (29) iria exigir do órgão a investigação do ministro Gilmar Mendes.

Apesar de assinar a nota do PSOL, o deputado federal Jean Wyllys, eleito pelo partido no Rio de Janeiro, registrou em três post de seu Twitter, nesta terça, críticas à decisão do partido.

“Enquanto houver guerra de versões e não fatos, não me sinto confortável em me juntar a partidos de direita contra Lula.”

“Se houvesse provas, a representação era justa. Mas por enquanto há guerra de versões. E a melhor delas não pode ser a da direita.”

“Mas o partido é uma instância maior que o indivíduo. E democraticamente a maioria da representação do partido no CN optou por assinar."

Carta Maior

Levante Popular da Juventude: protagonismo juvenil contra a injustiça e pela transformação da sociedade



Como movimento de contracultura em prol da igualdade social e para mostrar que os jovens não estão alheios às questões essenciais do Brasil, o Levante Popular da Juventude (LPJ)- uma articulação de jovens militantes voltada para as lutas populares em busca da transformação da sociedade – tem chamado a atenção por sua irreverência em protestos e mobilização social e, especialmente, pelo engajamento incisivo da juventude brasileira na área política.
No momento em que o país discutia e apoiava a Comissão da Verdade e Justiça, o Levante mostrou a que veio com a ação ‘Levante Contra a Tortura', em que pedia que os responsáveis por crimes de tortura fossem punidos e esclarecessem os delitos praticados durante Ditadura Militar.
Os jovens militantes do Levante foram às ruas de várias capitais brasileiras realizar uma série de escrachos/esculachos contra torturadores, em frente às suas residências e/ou endereços profissionais, para exigir justiça.
Paulo Henrique Lima, militante do LPJ em Fortaleza, no Estado do Ceará, em entrevista a ADITAL, conta sobre a origem do Levante Popular da Juventude e sua importância para a mudança do quadro sociopolítico brasileiro e o fortalecimento da organização coletiva por parte dos diversos setores da sociedade. "O grande desafio que dá origem ao Levante é que a juventude se torne protagonista de um projeto de transformação estrutural da sociedade brasileira, que contemple tanto as demandas específicas da juventude, mas também as demandas de todo o povo brasileiro”, afirmou.
ADITAL - Como surgiu o movimento Levante Popular da Juventude? Como escolhem os temas em que vão militar? Quantos/as jovens hoje estão unidos à causa e qual o perfil deles/as?
Paulo Henrique Lima - O Levante surge em 2006 no Rio Grande do Sul, por influência dos movimentos que compõem a Via Campesina (MST, MAB, MPA, CPT, PJR), diante da necessidade de organizar a juventude brasileira, em especial a dos grandes centros urbanos, em torno de um projeto popular para o Brasil. Ou seja, o grande desafio que da origem ao Levante é que a juventude se torne protagonista de um projeto de transformação estrutural da sociedade brasileira, que contemple tanto as demandas específicas da juventude, mas também as demandas de todo o povo brasileiro. Em 2010 iniciamos o processo de nacionalização do Levante, diversos estados começam a construir células, que é nossa organização de base, nas periferias, nas escolas, nas universidades e no campo.
Todo esse processo culminou no nosso I Acampamento Nacional do Levante em janeiro desse ano em Santa Cruz do Sul (RS), que contou com a participação de aproximadamente 1.200 jovens de 17 estados do Brasil. O acampamento foi um momento muito importante para nós do Levante, contando com a participação de jovens de diferentes origens sociais: universitários, estudantes secundaristas, jovens da periferia e camponeses. No acampamento ainda elencamos uma série de pautas e reivindicações da juventude brasileira e construímos nosso calendário de luta.
ADITAL - Houve um forte engajamento dos/as jovens em várias cidades brasileiras em favor da Comissão da Verdade, recentemente empossada pela presidenta Dilma Rousseff. Como o Levante avalia essa adesão da juventude neste tema e os resultados das ações?
Paulo Henrique Lima - Acreditamos que os escrachos/esculachos realizados pelo Levante a nível nacional foi um novo marco na luta da juventude brasileira. Contrariando todos os teóricos do marasmo e do imobilismo, nossa ação evidenciou uma das maiores contradições da sociedade brasileira nos últimos 30 anos, a impunidade de agentes de estado comprometidos com a Ditadura Militar e o assassinato, desaparecimento e a tortura de vários militantes sociais. Os escrachos/esculachos tiveram o papel de defender a Comissão da Verdade dos ataques dos militares da reserva e ampliar o tema para toda a sociedade. A avaliação que fazemos é bastante positiva, mas é preciso que toda a sociedade, em especial a juventude, continue engajada nessa pauta, dando suporte para os trabalhos da comissão da verdade e pressionando para que os torturadores sejam punidos.
ADITAL - De onde veio essa sede de justiça por um fato tão distante dessa geração?
Paulo Henrique Lima - Acreditamos que a impunidade dos torturadores é que legitima o extermínio, por parte da polícia, da juventude negra e pobre nas periferias do Brasil. É a situação de impunidade por parte daqueles que deveriam servir e defender o povo brasileiro, mas que acabam servindo aos interesses das elites/classes dominantes que gera essa contradição de vivermos numa sociedade dita democrática, mas marcada por traços absolutamente autoritários, é dessa impunidade que decorre a criminalização dos movimentos sociais.
Além disso, temos clara a importância de lutarmos em defesa da memória daqueles, em sua maioria jovens, que lutaram pela transformação do país, que buscaram, assim como nós, construir um Brasil justo e realmente democrático.
ADITAL - O fato mostra que a juventude brasileira não está apática e alheia às questões primordiais no país. Nesse contexto o que o Levante tem a dizer sobre a possibilidade do veto da presidenta Dilma ao Código Florestal? Qual seu posicionamento?
Paulo Henrique Lima - Nos somamos aos diversos movimentos sociais que defenderam a importância de a presidenta Dilma vetar as mudanças propostas pelo Congresso Nacional ao Código Florestal por saber que elas representam um retrocesso não só da questão ambiental, mas do ponto de vista da questão fundiária, principalmente na região Amazônica. As mudanças propostas pelos deputados vêm atender ao interesse da bancada ruralista. A Dilma vetou 12 artigos e alterou outros tantos, isso só foi possível devido a mobilização da população brasileira que encampou a campanha do "Veta, Dilma”. Apesar de não ter sido veto total, devido ao caráter de composição de classes do governo e da atual correlação de forças na sociedade, diante do retrocesso que representava as mudanças no Código, a atitude da presidenta Dilma foi um ato importante.
ADITAL – Como se deu a mobilização e a disseminação das ideias do Levante para a juventude em todo o Brasil?O que os/as jovens interessados/as podem fazer para participar do Levante?

Paulo Henrique Lima - O Levante Popular da Juventude é um movimento que busca toda as formas de comunicação com a juventude. Desde recuperar a agitação e propaganda (agitprop) que a esquerda brasileira relegou a um papel secundário diante do marketing eleitoral, buscando resgatar elementos das experiências do Centro Popular de Cultura (CPC) e da União Nacional dos Estudantes (UNE), como o teatro, o audiovisual, a poesia. Até elementos mais recentes como a batucada, o break, o funk, para nós todas essas técnicas e linguagens são formas de dialogarmos com a juventude brasileira. A internet e as redes sociais entram no sentido de potencializar e difundir nossa mensagem de forma mais ampla e rápida possível.

Os/as jovens que estão interessados/as em construir o Levante podem entrar em contato conosco via site ou facebook.

http://levante.org.br/wp/
http://www.facebook.com/levante.dajuventude

Fonte: Adital



Haddad: "Rejeição a Serra em SP é maior que a do PT"

                          

Haddad: Foto: Edição/247

Pré-candidato petista em São Paulo, Fernando Haddad diz que a cidade foi "abandonada" por José Serra e Gilberto Kassab e minimiza pouca expressão nas pesquisa de intenção de voto: "As pessoas não têm noção de quem são os candidatos"

         
 O pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, enxerga na rejeição ao concorrente tucano José Serra um consolo para os inexpressivos 3% que detém nas pesquisas de intenção de voto para as eleições municipais da capital paulista. Em sabatina organizada pela Record News e pelo portal R7, que vai ao ar à meia-noite desta quinta para sexta-feira, o pré-candidato minimizou a influência que a recente rejeição ao PT na capital paulista possa vir a ter no pleito deste ano. "Pelas pesquisas, isso mudou muito. Hoje, a maior rejeição é ao prefeito Gilberto Kassab. Em seguida vem o Serra, que tem rejeição maior que a do PT. Isso se dá por conta da alta aprovação do governo federal", analisou.
Haddad destacou que seu partido tem "uma aprovação enorme e inédita no governo federal", algo que, ele espera, deve se converter em votos ao candidato petista na capital paulista. "As pessoas não têm noção de quem são os candidatos. Falam em (o deputado Paulo) Maluf, em (o prefeito Gilberto) Kassab, em Marta (Suplicy)", disse, ainda minimizando a pouca expressividade na corrida pela Prefeitura. "É natural, numa cidade com 11 milhões de habitantes, que as pessoas demorem a conhecer os candidatos. Mas nas pesquisas qualitativas isso muda", acrescentou.
Ao contrário do pré-candidato do PMDB em São Paulo, o deputado federal Gabriel Chalita, sabatinado antes de Haddad, o candidato do PT não se furtou a criticar os responsáveis pelas últimas gestões em São Paulo. "A cidade foi abandonada pelo Serra e foi abandonada pelo Kassab. A cidade precisa de um prefeito 24 horas. E não temos isso", disse.

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Silêncio é a nova quebra de decoro de Demóstenes

                                                   
Silêncio é a nova quebra de decoro de Demóstenes Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Um parlamentar que não parlamenta (fala, conversa, debate, ataca, defende, propõe) demonstra total desprezo por sua atividade; essa foi a postura, na manhã de hoje, diante da CPI do Cachoeira, de Demóstenes Torres; ele está à altura de seu mandato de senador da República?


         
 O senador Demóstenes Torres demonstrou na sessão da CPI do Cachoeira, nesta quinta 30, que lhe falta decoro parlamentar. Afinal, ainda na condição de senador da República, um dos três representante de Goiás na chamada Câmara Alta, a postura de se recusar, exatamente, a parlamentar (falar, debater, discutir, expor fatos e argumentos, trocar idéias), mantendo-se em silêncio diante dos integrantes da CPI, indicou todo o seu desprezo pelo espírito franco e democrático do Congresso e a própria atividade para a qual foi eleito.
Demóstenes, sim, fala, mas apenas quando convém, o que aconteceu por quase cinco horas, ontem, na Comissão de Ética do Senado. Neste ambiente que considerou mais amistoso, exclusivamente entre seus pares, o senador voltou a mostrar os lampejos da antiga postura enfática e assertiva. Chegou, claramente para emocionar, a dizer que voltara a acreditar em Deus, e confessou que, até então, agira muito mais pautado pela "política dos homens". Quase deu dó. Ele citou várias vezes, contrito, a sua família, colocando na roda mais uma instituição cara a todos. Por momentos, ao citar passagens do inquérito da PF, Demóstenes conseguiu, tecnicamente, passar a impressão de que estava mesmo disposto a enfrentar de cabeça erguida, em todos os foros, as provas e acusações existentes contra si. Mas bastaram 24 hora para essa farsa cair.
Diante dos integrantes da CPI, melhor informados sobre o inquérito da Operação Monte Carlo, da PF e, portanto, em condições de fazerem perguntas mais duras sobre sua destacada posição junto a Carlinhos Cachoeira, Demóstenes optou "pela faculdade" de ficar calado que a Constituição garante a todos os cidadãos.
O mutismo de Demóstenes irritou, em especial, o deputado Silvio Costa (PTB-PE). "O seu silêncio escreve em letras garrafais que 'eu, Demóstenes Torres, sou integrante da quadrilha de Carlinhos Cachoeira'", afirmou Costa. "O senhor não vai para o céu, que não é lugar para mentirosos, para hipócritas. O senhor é um ex-senador, esse silêncio vai fazer com que o senhor seja cassado por 80 votos no Senado". Costa foi interrompido pelo senador Pedro Taques (PDT-MT), que apontou o artigo da Constituição que barra a humilhação a pessoas. Diante do bate-boca que se criou, o senador Vital do Rego (PMDB-PB) liberou Demóstes e liberou a sessão. Com a estratégia de ficar calado, a verdade é que o senador saiu da CPI derrotado.

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quarta-feira, 30 de maio de 2012

O ódio a Lula

                       

O Brasil já cultivou ressentimentos irracionais em relação a Getúlio, JK, Jango e, agora, ao metalúrgico que ainda é a principal força política do País

    

  
Teve início, neste fim de semana, um movimento organizado de ataque ao ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Primeiro, a reportagem sobre a suposta chantagem exercida por ele contra Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal, para adiar o julgamento do mensalão, já desmentida pelo anfitrião do encontro, Nelson Jobim. Depois disso, críticas espalhadas pela rede sobre o comportamento indecoroso de Lula diante das instituições e até ironias relacionadas ao uso de remédios para o tratamento contra o
câncer na laringe. Por fim, vozes mais radicais cobrando até a prisão do ex-presidente.
Por que será que Lula, depois de oito anos de governo, tendo deixado o Palácio Planalto com recordes de aprovação, tanto junto ao povão quanto às elites, que se tornaram ainda mais ricas, desperta tanto ressentimento? A resposta é uma só: goste-se ou não dele, Lula ainda é a principal força política do Brasil. E é uma força viva, que pode voltar ao poder em 2014 ou em 2018.
Mas essa seria uma análise objetiva, dos que fazem cálculos frios nos jogos de poder. Ocorre que o ressentimento em relação a Lula, muitas vezes, é irracional. Como pode um retirante, metalúrgico, sem educação formal ter chegado tão longe? É isso que incomoda boa parte da classe média brasileira.
Sentimentos assim já houve no passado em relação a outros líderes políticos, como Getúlio Vargas, João Goulart ou mesmo Juscelino Kubitschek. Os paulistas odiavam Getúlio e nunca lhe deram um nome de avenida. Mas poucos fizeram tanto pela industrialização do estado, que começou a se libertar do atraso cafeeiro, como o líder trabalhista. Os militares também odiavam JK, mas, no poder, tentaram reproduzir sua visão de “Brasil Grande”. E os que vierem depois de Lula, de certa forma, serão escravos do seu modelo de inclusão social.
Por mais que o critiquem, Lula não será abatido por seus detratores. Até porque, até aqui, ele foi um democrata. E resistiu à tentação do terceiro mandato, quando teria totais condições de se perpetuar no poder.

Brasil 247

Agora, Mendes insinua que Jobim também tentou pressioná-lo

 

Mendes durante a sessão da 2ª Turma do STF, nesta quinta-feira. Foto: Carlos Humberto / STF
Mendes durante a sessão da 2ª Turma do STF, nesta quinta-feira. Foto: Carlos Humberto / STF

No início da noite de terça-feira 29, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes concedeu uma entrevista para alguns veículos de imprensa no qual acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de comandar uma “central de boatos” contra ele abastecida por “bandidos” e “gângsters”.
O objetivo desse grupo, disse Mendes, seria atrapalhar o julgamento do mensalão, previsto para ocorrer ainda neste ano. Em entrevistas a dois jornais publicadas nesta quarta-feira 30, Mendes parece estar recuperando os fatos ocorridos na fatídica conversa e traz dois aspectos novos que ainda não havia trazido à tona. Segundo Mendes, o teor da reportagem publicada pela revista Veja é fruto de uma “interpretação” e o ex-presidente do STF Nelson Jobim, anfitrião do encontro entre Lula e Mendes, também pode ter, segundo Mendes, participado da tentativa de “chantageá-lo”.
A insinuação de que Jobim tentou “chantagear” Mendes foi feita pelo ministro em entrevista ao jornal Valor Econômico. Segundo ele, isso teria ocorrido quando Jobim citou, durante a conversa do trio, o nome de Paulo Lacerda, ex-diretor-geral da Polícia Federal. Lacerda e Mendes são inimigos políticos desde 2008. Lacerda perdeu o cargo após denúncias de que teria mandado grampear o gabinete de Mendes no STF. A revista Veja publicou a denúncia, mas ela jamais foi comprovada e os grampos nunca apareceram. Em entrevista ao Estado de S.Paulo, também publicada nesta quarta-feira 30, Gilmar Mendes afirma ter recebido notícias de que Lacerda quer “destruí-lo”. Questionado pelo Valor Econômico se, ao citar o nome de Lacerda, Jobim estaria tentando fazer uma chantagem, Gilmar diz que “Pode ser”. Em seguida, Mendes afirma “que Jobim participou da conversa inteira” e que, “uma ficha caiu”. “Isso é possível, vamos constrangê-lo com Paulo Lacerda. Não sei se é isso”, diz Mendes.
A frase “não sei se é isso” no fim da fala demonstra que Mendes pode estar, em meio à imensa polêmica criada, reinterpretando os fatos ocorridos na reunião com Lula e Jobim e tentando dar a eles uma lógica. O que pode ser um problema para Mendes é que essa lógica agora é guiada pelo clima de rivalidade clubística em torno do caso. Neste contexto, Mendes não tem como recuar das denúncias feitas, num comportamento parecido com o que manteve no episódio do “grampo”.
É importante notar que o tom de histeria a respeito do caso foi dado, em grande medida, pela reportagem de Veja. A revista afirma que Lula “ofereceu proteção ao ministro Gilmar Mendes, dizendo que ele não teria motivo de preocupação com as investigações” para só depois dizer que isso teria ocorrido de forma “decodificada”. Em entrevista à TV Globo, levada ao ar pela GloboNews na noite de segunda-feira 28, Mendes negou uma oferta direta de proteção feita por Lula. Nas reinterpretações que vem fazendo da reunião, Mendes parece estar buscando argumentos para provar a si próprio que foi vítima do que seria um acha que político por parte de Lula. Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta quarta, Mendes diz que a revista interpretou as informações que possuía. “A Veja compôs aquilo como uma colcha de retalhos, a partir de informações de várias pessoas, depois me procuraram. Óbvio que ela tem a interpretação. O fato na essência ocorreu”, disse. O que não se sabe é quem seriam as “várias pessoas” citadas por Gilmar, uma vez que a reunião tinha apenas três integrantes: ele, Jobim e Lula.

CartaCapital

Paulo Lacerda: ‘Gilmar Mendes está exaltado, sem controle’

 

Em setembro de 2008, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes procurou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva – hoje acusado por ele de sugerir ajuda na CPI do Cachoeira em troca do adiamento do mensalão – para denunciar o suposto uso de grampos ilegais pela Abin (Agencia Brasileira de Inteligência).
Para “provar” a irregularidade, a revista Veja publicou uma irrelevante conversa entre Mendes e o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).
O ex-chefe da Abin Paulo Lacerda. Foto: Agência Brasil

A suspeita, jamais confirmada, provocou estragos: derrubou o ex-delegado Paulo Lacerda da chefia da Abin e enterrou as provas da Operação Satiagraha, que pouco antes havia levado para a prisão o banqueiro Daniel Dantas.
Quase quatro anos depois, Mendes voltou à carga contra Lacerda, acusando-o de espalhar informações falsas sobre ele para o ex-presidente Lula. Entre as “informações falsas” estaria a suspeita de que o ministro foi até Berlim em viagem paga pelo contraventor Carlinhos Cachoeira, pivô da CPI que investiga a relação de políticos e empresários com o jogo do bicho.
Nesta quarta-feira 30, Lacerda reagiu. Em entrevista ao site Terra Magazine, o ex-diretor-geral da Polícia Federal afirmou que, se Mendes realmente fez tal afirmação, “ele foi leviano e mente”.
Lacerda negou proximidade com o ex-presidente Lula, disse que não o vê há anos, e lembrou que hoje trabalha numa associação de empresas de segurança privada. Negou também conhecer o araponga Idalberto Matias Araújo, braço direito de Cachoeira – e que, segundo Mendes, era homem de confiança de Lacerda.
“Não trabalho com nada, nada de investigação, e quem me conhece e à minha vida hoje sabe disso.”
Lacerda se disse espantado com o “tipo de informações” recebidas pelo ministro, que segundo ele deram base à crise toda. “Se as informações que ele diz ter recebido são dessas mesmas fontes, se foram essas fontes e informações que o levaram a dizer o que anda dizendo nos últimos dias, tá explicado porque ele está dizendo essas coisas e dessa forma. Ele, de novo, mais uma vez, está totalmente mal informado.”
E completou: “impressiona e é preocupante como um ministro do Supremo não se informa antes de dizer esses absurdos”.
Para Lacerda, o ministro do STF está “exaltado, sem controle”.
O ex-delegado afirmou ainda que a CPI do Cachoeira será uma “ótima oportunidade” para esclarecer o caso dos grampos ilegais jamais provados que derrubaram a Satiagraha.

CartaCapital

terça-feira, 29 de maio de 2012

Capitalismo é incompatível com justiça e igualdade social

    

A demolição do “Estado de bem-estar social”

Um por um, os direitos que os trabalhadores europeus conquistaram com décadas e mesmo séculos de luta, estão sendo abolidos na Europa. Bastou mais uma profunda crise econômica do capitalismo para que os governos europeus completassem a destruição do Estado do bem-estar social e provassem que o lucro não rima com justiça social ou que é impossível haver igualdade enquanto existir a propriedade privada dos meios de produção.

Durante décadas, o Estado do bem-estar social (Welfare State, em inglês) foi apresentado pelos partidos burgueses, entre eles os partidos social-democratas, como prova de que a propriedade privada dos meios de produção e o lucro podem conviver com o respeito aos direitos trabalhistas e à garantia de padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e seguridade social. Mas, como a mentira tem pernas curtas, bastou uma profunda crise econômica do capitalismo para que os governos europeus completassem a demolição do Estado do bem-estar social, obra iniciada nos anos 70 e aprofundada com a política econômica neoliberal, caracterizada por ataques sistemáticos aos direitos dos trabalhadores e ampla liberdade de exploração para o capital na década de 80.

Agora, os que prometiam alcançar a igualdade social no capitalismo fazem discursos e publicam artigos nos seus jornais apontando os gastos sociais dos governos como o responsável pela crise, confirmando assim, a incompatibilidade entre os interesses da classe capitalista de obter lucros cada vez maiores e os dos trabalhadores e da imensa maioria da sociedade de ter uma vida digna.

Na verdade, o chamado Estado do bem-estar social foi uma tentativa de deter na Europa o vigoroso crescimento do movimento operário após a Segunda Guerra Mundial e de enganar as massas de que era possível obter direitos sociais sem precisar fazer uma revolução. Entretanto, como provam as greves gerais e manifestações que sacodem o continente, tal intento foi em vão.

Austeridade só para os trabalhadores

O fato é que um por um os direitos que os trabalhadores europeus conquistaram com décadas e mesmo séculos de luta estão sendo abolidos com reformas trabalhistas que os governos a mando da União Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do Fundo Monetário Internacional estão implementando. O objetivo é permitir que os capitalistas demitam sem pagar nenhum direito ao trabalhador, aumentem a jornada de trabalho e tornem letra morta os contratos coletivos de trabalho, em resumo, pagar um salário menor pela força de trabalho explorada.

Com efeito, a Grécia, para receber um empréstimo do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do BCE, foi obrigada a adotar medidas anti-povo como a redução em 22% do salário mínimo, demissão de 150 mil servidores públicos e privatização de empresas públicas. Em Portugal, o governo do conservador Pedro Passos Coelho (PSD), também em troca de um empréstimo do BCE, implementa a mesma política: diversas empresas estatais foram privatizadas, os salários dos aposentados foram reduzidos e a Saúde e a Educação públicas estão sendo sucateadas.

Na Itália, o Governo de Mario Monti, um técnico nomeado pelo Banco Central, adota uma reforma trabalhista que além de eliminar vários direitos trabalhistas, cobra mais impostos dos trabalhadores autônomos e quer o fim da indenização quando da demissão do trabalhador.

Na Espanha, o governo segue a mesma receita e impõe uma reforma para flexibilizar os contratos de trabalho e retirar vários direitos.
Na Holanda, uma das principais economias da Europa, o governo também pretende reduzir os salários dos aposentados, mas não os lucros dos seus bancos e monopólios. Até na Alemanha, um dos poucos países europeus que não está em recessão, as vagas de trabalho oferecidas são em sua maioria em tempo parcial, mal pagas e sem direitos a benefícios sociais.

O resultado desses planos de austeridade são devastadores para a sociedade e, em particular, para a juventude.

Dados divulgados em abril pela União Europeia revelaram que a taxa de desemprego entre os jovens de 15 a 24 anos passa dos 50% na Espanha e na Grécia. Na França, o desemprego entre os jovens é de 21% e em Portugal, 30,8% dos jovens com menos de 25 anos estão desempregados. Na Bulgária, Eslováquia, Irlanda e Itália, o desemprego está acima de 30%.

Vale resaltar que essas taxas oficiais levam em consideração apenas os trabalhadores que procuraram emprego nas quatro semanas anteriores à pesquisa ser realizada. Ou seja, os jovens que desistiram de procurar trabalho, os que estudam em tempo integral ou vivem com os pais são considerados empregados, bem como os que têm emprego temporário ou estágio.

Esse enorme desemprego entre os jovens forma o que alguns economistas chamam de “geração perdida”, isto é, milhões de jovens que depois de formados não conseguem emprego, ficam desatualizados e tornam-se supérfluos para os capitalistas, os donos dos meios de produção. Ou seja, passam a viver de trabalho temporário ou se entregam à criminalidade, atividade que mais cresce junto com o tráfico de drogas e de pessoas no capitalismo do século XXI. Enfim, ficam desempregados para o resto de suas vidas. Ocorre o que já advertia Karl Marx e Frederic Engels no Manifesto do Partido Comunista, de 1848, “a burguesia é incapaz de assegurar ao seu escravo (trabalhador assalariado) a própria existência no quadro da escravidão”.

FMI exige mais arrocho

Não bastasse, a última reunião do Conselho do Fundo Monetário Internacional (FMI), realizada em 22 de abril, em Washington, EUA, aprovou comunicado exigindo que os governos da Zona do Euro adotem medidas drásticas para “acalmar os mercados e evitar que a situação se agrave”. Wolfgang Schaeuble, ministro das Finanças da Alemanha, assim justificou essas novas medidas: “Os países europeus com crises financeiras adotaram reformas de profundo calado. Isso inclui os mercados trabalhistas, os sistemas de seguridade social, administrações públicas e instituições financeiras. É a única forma que poderemos restaurar a confiança dos nossos cidadãos e investidores”. Leia por cidadãos, os banqueiros.

Essa política da chamada troica FMI-BCE-CE (Comissão Europeia) leva o povo a pagar duas vezes por um serviço: primeiro, o verdadeiro cidadão paga um imposto ao Estado para que esse Estado garanta seus direitos. Porém, como o dinheiro do imposto pago é transferido para os bancos e grandes corporações, o povo fica sem nenhuma assistência e passa a ser obrigado a pagar por saúde, educação, habitação, etc.

Em decorrência dessa espoliação, o número de famílias europeias sem abrigo e que recorre às instituições humanitárias para sobreviver, aumentou imensamente e milhares de estudantes de escolas particulares abandonaram os estudos por falta de pagamento das mensalidades.

Segundo documento do Eurostat, mais de 115 milhões de pessoas, ou seja cerca de 23.4% da população nos 27 Estados membros da União Europeia, encontram-se em risco de pobreza e exclusão social. Entre crianças e menores de 18 anos este número é ainda maior: 27%.

Na Espanha, desde o início do ano, milhares de famílias não conseguem pagar as prestações de suas casas e centenas de empresas não pagam os empréstimos feitos. De acordo com o Banco Central espanhol, os bancos privados do país têm 176 bilhões de euros em ativos imobiliários que não serão pagos por falência dos devedores. Portanto, outra consequência dessas medidas é a proletarização dos pequenos e médios empresários. De acordo, com a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), todo mês centenas de empresas fecham as portas no país. As causas, segundo a Confederação, são a queda do consumo das famílias e o aumento dos impostos.

Na realidade, todos os países que têm seguido a receita do FMI e da Comissão Europeia, isto é, a receita de tudo realizar para manter intocável o lucro da classe capitalista, tiveram um aprofundamento da recessão.

A Grécia, país que está em recessão há cinco anos, teve nesse primeiro semestre de 2012, uma queda de 7% no PIB em comparação com o ano passado. Não bastasse, a dívida grega, apesar de todos os pagamentos bilionários que o país fez, passou de 263 bilhões de euros em 2008 para 355 bilhões em 2012. Portugal, segundo o boletim do Banco Central do país, viu sua atividade econômica recuar 2,7% e o consumo terá uma queda de 7,5% até 2013. O Reino Unido, mesmo mantendo sua moeda, vive em recessão e tem os piores índices sociais de sua história. Na Espanha, 5,6 milhões de pessoas estão desempregadas.

Tal é o verdadeiro Estado de bem-estar social que o capitalismo é capaz de oferecer à juventude e ao povo.

Quem paga a conta?

Por outro lado, ao mesmo tempo em que aperta o cinto dos trabalhadores, os governos seguem drenando o dinheiro público para alimentar a vampiragem da moderna classe capitalista, o capital financeiro.

O FMI anunciou em abril mais US$ 430 bilhões para financiar os bancos e monopólios europeus em crise. Esses 430 bilhões sairão evidentemente dos governos e, consequentemente, dos povos que pagam impostos. Os EUA não se comprometeram com nenhum centavo, mas o Fundo quer que o Brasil entre com 10 bilhões de euros. Em 2009, o Brasil tirou da Saúde e da Educação do nosso povo US$ 10 bilhões que enviou generosamente para a Europa. A crise se aprofundou e, agora, querem mais dinheiro do nosso país, na base do “Deus lhe pague!”.

No total, do final do ano passado até abril de 2012, foram quase 1,5 trilhão de euros para financiar a banca.

Mas isso não é nada. De acordo com o FMI, a conta do total de crédito que os governos terão que garantir para evitar a falência do sistema financeiro na Europa pode ultrapassar a US$ 2,6 trilhões até 2013. Uma cifra espantosa, mas ainda menor que a que foi utilizada pelo governo dos Estados Unidos para salvar sua classe capitalista: 16 trilhões de dólares.

De onde vem esse dinheiro, senão dos impostos pagos pelos trabalhadores?

Vejamos o exemplo da Grécia. O governo deste país em troca das medidas draconianas contra seu povo recebeu um empréstimo de 130 bilhões de euros. No entanto, esses 130 bilhões ficaram sob controle do FMI para assegurar que serão gastos exclusivamente com o pagamento da dívida da Grécia. A Espanha, no mesmo dia que doou 66 bilhões de euros para o Fundo, adotou um ajuste fiscal no valor de 27 bilhões de euros, composto por aumento dos impostos e cortes nos gastos sociais.

A justificativa para essa política é sempre obter a confiança do chamado “mercado”, isto é, do capital financeiro que, como definiu Lênin, significa a fusão do capital bancário com o capital industrial, e não simplesmente, como apresenta a moderna socialdemocracia, o capital bancário.

Em resumo, os governos capitalistas fazem opção em favor do capital em vez do emprego, da salvação de bancos e monopólios em vez da Saúde e da Educação e do bem-estar do povo.

Fica, portanto, evidente, a total impossibilidade de se alcançar a igualdade social, o fim do desemprego e da pobreza enquanto o controle da economia estiver nas mãos de um punhado de ricos. Provas: 1 bilhão de pessoas famintas, quase 300 milhões de desempregados, as guerras constantes e o empobrecimento da população, enquanto, um reduzido grupo de pessoas que forma a classe rica vive na fartura e no esbanjamento.

A repressão ao movimento operário e popular

Mas, por que as centenas de greves e de manifestações ocorridas até agora no continente europeu e que conseguiram derrubar 10 governos (Grécia, Portugal, Irlanda, Eslováquia, Romênia, Itália, Reino Unido, Espanha, Grécia, Islândia e, agora, da Holanda), alguns da socialdemocracia, outros da direita, não tiveram força para estabelecer governos revolucionários ou comprometidos com os trabalhadores?

Um dos obstáculos ao desenvolvimento e avanço da luta revolucionária é, sem dúvida, a brutal repressão desencadeada pelos governos burgueses e seus aparelhos de repressão.

Na última greve geral realizada na Espanha, que teve cerca de 100 manifestações contra a reforma trabalhista, mais de 500 pessoas foram presas por participar dos protestos. Na Grécia, antes de cada greve geral várias prisões são realizadas e nos dois últimos anos o número de presos políticos aumentou vertiginosamente. Pior, devido a uma nova lei penitenciária, um preso político para ser libertado é obrigado a pagar 10.000 euros, o equivalente a R$ 25.000. Logo, se o preso for um desempregado a pena se transforma em prisão perpétua. Essa, aliás, é uma política globalizada pela burguesia. No Equador, o estudante Marcelo Rivera, ex-presidente da Federação dos Estudantes Universitários (FEUE) encontra-se preso há 30meses e após cumprir a pena terá que pagar uma multa de mais de R$ 500 mil reais para sair da cadeia. Nos EUA, em um protesto do movimento Occupy Wall Street no início do ano contra a dívida dos financiamentos estudantis nos Estados Unidos, centenas de estudantes foram detidos pela Polícia de Nova York. As cidades de Oakland, Nova York e Los Angeles foram as que mais registraram os maiores protestos na linha “Ocupe” e, também, as que mais registraram prisões. Em comunicado, a polícia afirmou que os protestos diminuíram depois que os governos destas cidades usaram de força para retirar centenas de manifestantes acampados em ruas destas cidades. Ainda nos EUA, a lei, que criminaliza os protestos estabelece que qualquer pessoa que “entre ou permaneça em qualquer edifício ou terreno (de acesso) restringido sem a autoridade legal para fazê-lo, será castigada com uma multa ou o encarceramento por 10 anos, ou ambos”.

Na França, durante as últimas jornadas nacionais de greves e protestos contra a reforma previdenciária, segundo o Ministério do Interior, duas mil pessoas foram presas, e nos confrontos com a polícia, vários jovens foram assassinados.

Tem mais: O Governo espanhol decidiu adotar mais sanções para quem convocar manifestações pela internet e fizer frente à polícia. O anúncio foi feito pelo ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, que disse no Parlamento ter a intenção de impor uma pena mínima de dois anos de prisão para quem convoque “tumultos”. “Há que robustecer a autoridade legítima de quem legitimamente tem a exclusividade de poder atuar através da força”, disse o ministro do Interior. As medidas do Governo espanhol surgem na sequência de vários protestos e manifestações que têm acontecido por todo o país desde o início da crise.

A importância da repressão para manter o sistema capitalista é tão grande que entre as exigências feitas à Grécia pela União Europeia está a de o país não realizar cortes das verbas para a Defesa, de forma a garantir a repressão aos movimentos populares e às greves e a compra de armas da França e da Alemanha.

Este é também o motivo para, mesmo com os países mergulhados numa profunda recessão, o comércio mundial de armas convencionais ter crescido 24% no período 2006-2010. De acordo com o estudo do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri), em 2010, foi gasto em armas um total de 1,6 trilhão de dólares, dinheiro esse que seria suficiente manter 212 milhões de crianças dignamente.

Mas há ainda outra condição que impede que a revolução triunfe de imediato. Trata-se do pequeno vínculo dos partidos revolucionários com as massas, em particular, com a classe operária. Como afirma Lênin, “A revolução proletária é impossível sem a simpatia e o apoio da imensa maioria dos trabalhadores à sua vanguarda: o proletariado. Mas esta simpatia e este apoio não se obtêm subitamente, não se decidem em votações, mas se conquistam em uma demorada e difícil luta de classes”. (Saudação aos comunistas italianos, franceses e alemães).

De fato, para realizar uma revolução é necessário que a maioria dos operários não só compreenda a necessidade da revolução, mas esteja disposta a se sacrificar por ela. Entretanto, só é possível desenvolver essa consciência revolucionária se as concepções dos partidos social-democratas de humanizar o capitalismo ou, como fazem hoje alguns partidos de esquerda no Brasil, de apresentar como alternativa à crise do sistema o desenvolvimento do próprio capitalismo forem derrotadas. Propõem que o “estado de bem-estar social” deve ser o principal objetivo da luta dos trabalhadores, esquecendo que o capitalismo em sua fase final, para não dizer moribunda, é além de profundamente reacionário, incapaz de realizar algum progresso definitivo para a sociedade. Com esse discurso, propagam ilusões nas massas e as afastam da revolução. Mas aqui também, como revela a atual crise capitalista, a mentira tem pernas curtas.

Não há, portanto, porque se desesperar com tal traição. É preciso seguir em frente e trabalhar dia a dia de maneira firme e infatigável para aumentar o vínculo dos comunistas revolucionários com as massas e retomar a hegemonia no movimento operário e popular.

Lula Falcão é membro do Comitê Central do PCR

AVERDADE

“A Veja deve explicações ao país”, diz presidente da Fenaj

                           

“A Veja deve explicações ao país”, diz presidente da Fenaj Foto: Renato Araújo/ABr

Em entrevista  ao jornal Sul21, o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, avalia a conduta da revista nesse e em outros episódios e defende a necessidade de um marco regulatório para a comunicação no país "A Fenaj não vai proteger jornalistas criminosos"

       
Samir Oliveira _ Sul 21 - A CPI realizada pelo Congresso Nacional que tenta investigar a influência do bicheiro Carlinhos Cachoeira sobre o poder público acabou suscitando um debate tão inesperado quanto necessário no país: a relação da mídia com as esferas de poder, sejam elas políticas ou econômicas.
A Polícia Federal identificou cerca de 200 conversas telefônicas entre o diretor da sucursal da revista Veja em Brasília, Policarpo Júnior, e o contraventor. A divulgação dessas escutas mostra que Cachoeira pautava a publicação da editora Abril, que se deixava levar pelos interesses políticos de um empresário fortemente ligado ao senador Demóstenes Torres (ex-DEM).
Diante desse cenário, alguns parlamentares têm defendido a convocação de Policarpo para depor na CPI, mesmo que o relator Odair Cunha (PT-MG) já tenha rejeitado pedido de informações a respeito. Para o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Celso Schröder, a revista precisa explicar o que guiou sua prática jornalística nesse episódio. "A Veja tem que dar explicações ao Brasil. É preciso explicar como ela exerce a atividade jornalística com essas veleidades, com descompromisso e irresponsabilidade em relação a princípios éticos e técnicos consagrados pelo jornalismo", entende.
Sul21 – O que a CPI do Cachoeira pode nos dizer sobre a mídia brasileira?
Celso Schröder – A CPI está nos mostrando que a mídia é uma instituição como qualquer outra e precisa estar submetida a princípios públicos, na medida em que a matéria-prima do seu trabalho é pública: a informação. Quanto menos pública essa instituição for e mais submetida aos interesses privados dos seus gestores ela estiver, mais comprometida ficará a natureza do jornalismo. Como qualquer instituição, a mídia não está acima do bem e do mal, dos preceitos republicanos do Estado de Direito e do interesse público. Do ponto de vista político, a Veja confundiu o público com o privado. Do ponto de vista jornalístico, comete um pecado inaceitável: estabelecer uma relação promíscua entre o jornalista e a fonte. Não é só um repórter, mas é a organização, a chefia da empresa, que conduz e encaminha uma atividade tecnicamente reprovável e eticamente inaceitável. Todo jornalista sabe, desde o primeiro semestre da faculdade, que a fonte é um elemento constituidor da notícia na medida em que ela for tratada como fonte. A fonte tem interesses e, para que eles não contaminem a natureza da informação, precisam ser filtrados pelo mediador, que é o jornalista. A fonte, ao mesmo tempo em que dá credibilidade e constitui elemento de pluralidade na matéria, por outro lado, se não for mediada e relativizada pelo jornalista, pode contaminar o conteúdo.
Sul21 – Em que pontos a relação entre Policarpo Júnior e Cachoeira extrapolaram uma relação saudável entre repórter e fonte?
Schroder – Ele não tratou o Cachoeira como fonte. O problema é um jornalista ou uma empresa jornalística atribuir a alguém uma dimensão de fonte única, negociando com ela o conteúdo e a dimensão da matéria e, principalmente, conduzindo a Veja para uma atuação de partido político. Esse é um pecado que a Veja vem cometendo há algum tempo. A oposição no Brasil é muito frágil. Por não existir uma oposição forte, a imprensa assume esse papel, o que é uma distorção absoluta. A imprensa não tem que assumir essa função, a sociedade não atribui a ela uma dimensão político-partidária, como a Veja se propõe. A Veja acaba de nos produzir um dos piores momentos do jornalismo. Quando houve o episódio da tentativa de invasão do apartamento do ex-ministro José Dirceu (PT) por um repórter da Veja, eu escrevi um artigo dizendo que, assim como Watergate tinha sido o grande momento do jornalismo no mundo, a atuação da Veja no quarto de Dirceu foi um anti-Watergate. Mal sabia eu que teríamos um momento ainda pior. Não foi a ação individual de um repórter sem capacidade de avaliação. Foi uma ação premeditada e sistêmica de uma empresa de comunicação, de um chefe que conduzia seu repórter para uma ação imoral, tangenciando perigosamente a ilegalidade.
Sul21 – O mesmo pode ser dito para o episódio recente entre Policarpo Júnior e Cachoeira?
Schröder - Neste momento, isso se consolida. É uma revista que coloca em jogo a matéria-prima básica da sua existência: a credibilidade. Parece-me um suicídio, inclusive do ponto de vista de um negócio jornalístico. A não ser que a Veja esteja contando com um outro tipo de financiamento, ou já esteja sendo subsidiada por outro mecanismo que não seja decorrente da credibilidade e da inserção no público. Não temos dados concretos sobre isso, mas tudo leva a crer que, nesse momento, o financiamento da Veja esteja se dando por outro caminho. O comprometimento e o alinhamento inescrupuloso da revista a uma determinada visão de mundo conduz à ideia de que a Veja possa ter aberto mão de ser um veículo de comunicação para ser um instrumento político com financiamento deste campo.
Sul21 – Mas a revista já passou por períodos em que era mais comprometida com o jornalismo. Como ocorreu essa mudança?
Schroder – Não é de agora que a Veja vem dando indícios de que abre mão de um papel de referência jornalística. A Veja foi fundamental para a redemocratização do país, foi referência para jornalistas de várias gerações e teve em sua direção homens como Mino Carta e Alberto Dines. Depois de um certo tempo, a revista começa a alinhar-se a um determinado grupo social brasileiro. É claro que os editores da revista têm opiniões e cumprem um papel conservador no país. Tudo bem que isso aconteça nas dimensões editoriais. Agora, que se reserve ao jornalismo informativo um espaço de discussão com contrapontos. Princípios elementares do jornalismo foram sendo abandonados e essa revista, que foi importante para a democracia e para o jornalismo, passa a ser um exemplo ruim que precisa ser enfrentado.
Sul21 – Como o senhor vê a possibilidade de Policarpo Júnior ser convocado para depor na CPI?
Schroder – Tenho visto declarações de alguns políticos, como da senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS), que diz que o envolvimento do Policarpo nisso representa um ataque à imprensa. Os jornalistas não estão acima da lei e não podem estar acima dos princípios republicanos. Se ele for convocado pela CPI, tem o direito de não ir. Se ele for, tem o direito de exercer a prerrogativa do sigilo de fonte. Mas a convocação não representa uma ameaça. A Veja tem que dar explicações ao Brasil. É preciso explicar como ela exerce a atividade jornalística com essas veleidades, com descompromisso e irresponsabilidade em relação a princípios éticos e técnicos consagrados pelo jornalismo. Questionar isso é fundamental. Os jornalistas e a academia têm obrigação de fazer esse questionamento.
Sul21 – Nesse sentido, não seria válido também convocar o presidente do Grupo Abril, Roberto Civita?
Schroder – Parece que seria deslocar o problema. Na CPI, a Veja é um dos pontos. O problema é a corrupção entre o Cachoeira e o Parlamento brasileiro. Um depoimento do Civita geraria um debate que desviaria os trabalhos da CPI. Não há dúvida de que a Veja praticou um mal jornalismo e deve prestar contas. A CPI tem gravações de integrantes da revista com o bicheiro. Que eles sejam convocados, então. Não é pouca coisa trazer o chefe da sucursal da Veja em Brasília para depor.
Sul21 – As críticas à Veja costumam ser rebatidas com argumentos que valorizam o trabalho supostamente investigativo feito pela revista, com diversas denúncias de corrupção. Entretanto, as gravações entre Policarpo e Cachoeira revelam como funcionava a engenharia que movia algumas dessas denúncias.
Schroder – Há uma certa sensação de que estamos vivendo um momento de corrupção absoluta no país. E isso está longe de ser verdade. Basta olhar a história e ver que agora temos instituições democráticas funcionando. A imprensa cumpre um papel democrático e fiscalizador importante com a denúncia. O problema é que alguns setores, ao fazerem denúncias, atribuem um papel absoluto à ideia da corrupção. No caso da Veja, o pior de tudo é que a própria revista estava envolvida. Não é só um mau jornalismo sendo praticado. Há indícios perigosos de uma locupletação – que não precisa ser necessariamente financeira. Pode ser uma troca de favores, onde o que a Veja ganhou foi a constituição de argumentos para uma atuação política, não jornalística. Como se fosse o partido político que a oposição não consegue ser. Se a imprensa se propõe a esse tipo de coisa, volta a um patamar de atuação do século XVIII.  Se é para ser assim, que a revista mude de nome e assuma o alinhamento a determinado partido. Agora, ao se apresentar como um espaço informativo, a Veja precisa refletir a complexidade do espaço político brasileiro. Se ela não faz isso, está comprometendo o jornalismo e tangenciando uma possibilidade de ilegalidade que, se houver, precisa ser esclarecida. A Fenaj não vai proteger jornalistas criminosos.
Sul21 – A revelação desse modus-operandi da Veja está gerando uma discussão quase inédita no país: a mídia está debatendo a mídia. A revista Carta Capital tem dedicado diversas capas ao tema e a Record já fez uma reportagem sobre o assunto. É um fenômeno comum em outros países, mas até então não ocorria no Brasil.
Schroder – Nos anos 1980, quando a Fenaj propôs uma linha para a democratização da comunicação, partimos da compreensão de que a democratização do país não havia conseguido chegar à mídia. O sistema midiático brasileiro, ao contrário de todas as outras instituições, não havia sido democratizado. Temos cinco artigos da Constituição nessa área que não estão regulamentados. Durante 30 anos tivemos diversas iniciativas de tentar construir  esse debate. A lógica da regulamentação existe em todos os países do mundo. Mas, no Brasil, isso enfrenta resistências de uma mídia poderosa, que fez os dois primeiros presidentes da República após a democratização. Sarney e Collor são dois políticos que saíram dos quadros da Rede Globo. Na presidência do Congresso tivemos outros afilhados da Rede Globo, como Antonio Carlos Magalhães, que também foi ministro das Comunicações. A mídia não só está concentrada, no sentido de ter monopólios, como está desprovida de qualquer controle público. Está absolutamente entregue à ideia de que a liberdade de expressão é a liberdade de expressão dos donos da mídia. Enquanto que o preceito constitucional diz que a liberdade de expressão é do povo, e o papel da mídia é assegurar isso.
Sul21 – Quanto se conseguiu avançar nesse debate desde então?
Schroder – Estamos há 30 anos pautando esse debate até chegarmos a Confecom (Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro de 2009). A Fenaj consegue constituir a ideia de que esse debate precisa ser público, já que ele é omitido pela mídia, que atribui à essa discussão uma tentativa de censura. A Confecom, no início, teve a anuência das empresas. Eu fui junto com os representantes da RBS e da Globo aos ministros Helio Costa (Comunicações),  Tarso Genro (Justiça) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) propor a conferência. As empresas compreendiam que, naquele momento, a telefonia estava chegando e ameaçava um modelo de negócios. Mas, durante a Confecom, a Rede Globo e todos os seus aliados se retiraram, tentando sabotar mais uma vez o debate. O espírito conservador está no DNA da Rede Globo. Ela acostumou-se à ideia de que para o seu negócio não deve existir nenhuma regra. Acostumou-se a impor seus interesses ao país e, portanto, é ontológicamente contra qualquer regra. Naquele momento em que a Globo se retirou da Confecom ficou claro que não é possível contar com esses empresários para qualquer tipo de tentativa de atribuir à comunicação no Brasil uma dimensão pública, humana e nacional, regida por princípios culturais, democráticos e educacionais, não simplesmente pelo lucro fácil e rápido.
Sul21 – O editorial do jornal O Globo defendendo a revista Veja é um indício de que há um corporativismo muito grande entre os donos da mídia tradicional?
Schroder – O princípio que os une é aquele verbalizado pela Sociedade Interamericana de Imprensa: Lei melhor é lei nenhuma. As empresas alinhadas à ideia de que não podem estar submetidas à lei protegem-se. Abrigadas no manto de uma liberdade de expressão apropriada por elas, protegem seus interesses e seus negócios, atuando de uma maneira corporativa e antipública.  O jornalismo é fruto de uma atividade profissional, não é fruto de um negócio. Jornalismo não é venda de anúncios. Jornalismo é, essencialmente, o resultado do trabalho dos jornalistas. Portanto, a obrigação dos jornalistas é denunciar sempre que o jornalismo for maculado, como ocorreu com a Veja. Seria, também, uma obrigação das empresas jornalísticas, na medida em que elas não estejam envolvidas com esse tipo de prática. Ao tornarem-se cúmplice e acobertarem esse tipo de prática, as empresas aliam-se a elas. Essas empresas disputam o mercado, mas protegem-se no que consideram essencial, no sentido de inviabilizar a ideia de que exercem uma atividade submetida aos interesses públicos, como qualquer outra.

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segunda-feira, 28 de maio de 2012

Cachoeira arrumou jatinho para Demóstenes e "Gilmar"

 












Escutas telefônicas indicam que o contraventor Carlinhos Cachoeira providenciou um jatinho King Air para dar uma carona ao senador Demóstenes Torres e a "Gilmar", no retorno de uma viagem da Alemanha ao Brasil. Em uma ligação no dia 23 de abril, um ex-vereador do PSDB pede autorização para buscar o "Professor" Demóstenes em um jatinho, que está com o "Gilmar". Na degravação, a PF questiona entre parênteses (“Mendes?”). O ministro do STF foi a Europa neste período para participar de um congresso internacional de Direito.


Brasília - Escutas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal (PF), com autorização da Justiça, durante a Operação Monte Carlo, questionam se o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, “pegou carona” em um jatinho fornecido pela quadrilha de Carlinhos Cachoeira, no dia 25 de abril de 2011, quando teria retornado da Alemanha ao Brasil, na companhia do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).

Uma ligação interceptada pela PF no dia 18/4/2011, às 18:08 horas, mostra Carlinhos Cachoeira informando ao ex-funcionário da Delta e ex-vereador pelo PSDB, Wladimir Garcez, também preso durante a Operação Monte Carlo, que Demóstenes estava em Berlim.

Em nova ligação, no dia 23/4/2011, às 19:31 horas, Wladimir pede autorização à Cachoeira para buscar o “Professor” (um dos codinomes de Demóstenes, segundo a PF), em São Paulo, no jatinho de alguém chamado Ataíde. Diz que está ele e Gilmar. Na degravação, a PF questiona entre parênteses (“?Mendes?”).

Mais tarde, às 20:24 horas, Wladimir liga novamente para Cachoeira dizendo que não conseguiu falar com Ataíde e que mandaria o avião de Rossini. Cachoeira pegunta qual é o avião de Rossini e Wladimir responde: um jatinho King Air.

Cachoeira: um pequeno, né?

Wladimir: é... aí eu peguei falei com ele. Ele falou não, não preocupa que eu organizo. Porque tá vindo ele e o GILMAR, né? Porque não vai achar vôo, sabe?


Cachoeira se despede falando que ligaria para Demóstenes em Berlim.

Às 20:38 horas, Cachoeira liga novamente para Wladimir. Tratam de outros assuntos. Depois, voltam a discutir a “carona”. Wladimir diz que Demóstenes chegará às seis da manhã do dia 25/4 e que deixará tudo organizado para o piloto ir buscá-lo.

No dia 25/4, às 12:10 horas, Wladimir diz à Cachoeira que o senador já chegou.

Gilmar Mendes foi à Europa participar de um congresso internacional em homenagem ao jurista italiano Antônio D’Atena, promovido pelo Fundação Peter Häberle e pela Universidade de Granada, da Espanha. O congresso foi aberto no dia 13/4/2011, mas a participação de Mendes se deu na manhã do dia seguinte, com a palestra “A integração na América Latina, a partir do exemplo do Mercosul”.

Não há registro públicos do que Mendes teria feito no restante do tempo em que permaneceu fora do Brasil. À revista Veja, ele teria dito que se encontrou com Demóstenes em Berlim, na Alemanha. Ainda segundo a Veja, o ministro teria uma filha residente em Berlim e, por isso, frequentaria a cidade com regularidade.

Não há registros públicos de quais atividades Demóstenes teria ido desenvolver na Europa, mas levantamento feito por Carta Maior demonstra que ele não participou das votações realizadas no plenário do Senado entre 13 e 25/4/2011.

Em nota oficial, Lula manifesta indignação
A assessoria de imprensa do Instituto Lula divulgou nota oficial onde o ex-presidente manifesta indignação com o teor da matéria publicada pela revista Veja. A nota afirma:

Sobre a reportagem da revista Veja publicada nesse final de semana, que apresenta uma versão atribuída ao ministro do STF, Gilmar Mendes, sobre um encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 26 de abril, no escritório e na presença do ex-ministro Nelson Jobim, informamos o seguinte:

1. No dia 26 de abril, o ex-presidente Lula visitou o ex-ministro Nelson Jobim em seu escritório, onde também se encontrava o ministro Gilmar Mendes. A reunião existiu, mas a versão da Veja sobre o teor da conversa é inverídica. “Meu sentimento é de indignação”, disse o ex-presidente, sobre a reportagem.

2. Luiz Inácio Lula da Silva jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do Supremo ou da Procuradoria Geral da República em relação a ação penal do chamado Mensalão, ou a qualquer outro assunto da alçada do Judiciário ou do Ministério Público, nos oito anos em que foi presidente da República.

3. “O procurador Antonio Fernando de Souza apresentou a denúncia do chamado Mensalão ao STF e depois disso foi reconduzido ao cargo. Eu indiquei oito ministros do Supremo e nenhum deles pode registrar qualquer pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja”, afirmou Lula.

4. A autonomia e independência do Judiciário e do Ministério Público sempre foram rigorosamente respeitadas nos seus dois mandatos. O comportamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o mesmo, agora que não ocupa nenhum cargo público.

Fonte: Carta Maior

Jobim desmente Veja sobre conteúdo do encontro entre Gilmar Mendes e Lula

 

Mendes
Jobim disse que Gilmar Mendes conversou apenas amenidades com Lula


De passagem por Itaipava, no interior do Estado do Rio, o ex-ministro da Defesa no governo de Luiz Inácio Lula da Silva Nelson Jobim, anfitrião do encontro noticiado na última edição da revista semanal de ultradireita Veja, negou que Lula teria pedido ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes qualquer coisa acerca do processo conhecido como ‘mensalão’. Em entrevista a um colunista do diário conservador carioca O Globo, Jobim foi enfático:

– Não houve nada disso do que a Veja, segundo me informaram, está publicando. Estou aqui em Itaipava e soube desse conteúdo através de um repórter do Estadão, que me procurou há pouco. Portanto, estou falando sem ter lido a revista. Mas, posso assegurar que, se o conteúdo for mesmo esse, o de que Lula teria pedido a Gilmar para votar no mensalão, não é verdade. Quem tocou no assunto mensalão fui eu, no meio da conversa, fazendo a seguinte pergunta: ‘Vem cá, essa coisa do mensalão vai ser votada quando?’. No mais, a conversa girou sobre assuntos diversos da atualidade – afirmou o ex-ministro.

Acerca do motivo para o encontro, Jobim contou que, desde que saiu do governo, no ano passado, o ex-presidente Lula tem-lhe prometido uma visita.

– Três dias antes, a assessora Clara Ant me ligou dizendo que o presidente Lula iria a Brasília conversar com a presidente Dilma numa quarta-feira e que retornaria no dia seguinte, mas antes queria falar comigo. De pronto, respondi que o encontro poderia ser na minha casa, no meu escritório ou em qualquer outro lugar que o presidente quisesse. Lula optou pelo meu escritório, não só porque tinha prometido conhecê-lo, mas, também, porque fica perto do aeroporto. E assim ocorreu – lembrou.

Quanto à presença do ministro Gilmar Mendes no encontro, Jobim relata que eles estão juntos em um projeto sobre a Constituição de 1988 e mantêm reuniões frequentes para tratar do assunto. “Por coincidência, o Gilmar estava no meu escritório, quando o presidente Lula apareceu para a visita. Conversaram cerca de uma hora, mas só amenidades. Em nenhum momento, Lula e Gilmar conversaram na cozinha. Aliás, Lula não esteve na cozinha do escritório”, relata.

– Agora, não posso controlar as versões, especulações, que a mídia e as pessoas fazem desse encontro. Faz parte do jogo. O que eu posso dizer é que não houve nada disso – afirmou Jobim.

Fonte ouvida pelo Correio do Brasil, no entanto, após conhecer a versão do ex-ministro Jobim, confirma que Mendes pediu para estar presente durante a visita de Lula ao escritório de Jobim.

– O encontro fora marcado com três dias de antecedência. Não havia surpresa alguma na presença de Lula no escritório de Jobim. Gilmar Mendes sabia do encontro e pediu para estar presente – concluiu.

Correio do Brasil

Mistica Bolivariana













Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor

Aparentemente esses dois termos não se articulam. Mística é um termo empregado pelas religiões para designar experiências fortes e extraordinárias de intimidade com o Divino. Bolivarianismo é o movimento latino-americano, inspirado em Simon Bolívar, o grande libertador do continente. O bolivarianismo visa à plena libertação política, econômica e cultural de nossos povos, assim como uma verdadeira integração dos diversos países do continente. É o processo que atualmente ocorre em vários países do continente, como Bolívia, Equador, Venezuela e outros. O bolivarianismo propõe uma unidade que preserva a autonomia de cada país, mas impulsiona a solidariedade e a profunda consciência de pertencermos todos a uma só "pátria grande”, ou como chamou José Martí: "Nuestra América”.
É verdade que o cientista político Daniel Hellinger considera Bolívar um "santo secular”. Isso significa que ele viveu uma profunda espiritualidade humana, mesmo sem ter sido especificamente religioso. Desde o tempo de Bolívar e principalmente na segunda metade do século XX, surgiu especialmente na América Latina uma mística de olhos abertos à injustiça do mundo e ao compromisso de transformá-lo. Desde então, pessoas e comunidades vivem essa mística da solidariedade e se consagram à libertação de todos como caminho de intimidade com Deus. Outros vivem essa dedicação profunda à revolução cultural e social como algo que reflete uma experiência amorosa que as próprias pessoas não explicam, mas não as leva diretamente ao religioso.
Como afirma o cientista português Boaventura de Souza Santos: "A América Latina tem sido o continente, onde o socialismo do século XXI entrou na agenda política”(1). Esse processo de luta vem desde os tempos de Bolívar e passou por muitos momentos diversos. Muitos mártires deram a vida por isso. Desde os anos 60, em nome de sua fé e como atitude espiritual, muitos cristãos participam ativamente dessa caminhada de libertação. Em uma carta circular, enviada de Roma e escrita na noite de 16 de novembro de 1965, Dom Hélder Câmara, então arcebispo de Recife, afirma: "Monsenhor Dell’acqua, assessor e secretário especial do papa Paulo VI, entende e estimula o novo Bolivarismo, (era a forma que então se usava), no sentido do esforço conjunto para a independência econômica do continente, em articulação sempre maior com o 3º mundo... A Igreja precisa aceitar participar desse processo para colaborar com ele. Sem mística, as vaidades naturais de cada povo, os melindres e jogos de interesses não serão superados”(2).
Aí vemos que existe sim uma mística bolivariana e somos chamados a vivê-la. Ela consiste em desenvolvermos em nós um amor solidário organizado e que se concretize em um caminho político libertador. Propõe que vejamos no processo social e político emergente hoje em vários países do continente uma mediação incompleta, mas em caminho para a realização do projeto divino no mundo. E devemos, pessoalmente, viver de acordo com esse projeto. Se realizarmos isso, compreenderemos o que, no século IV, um grande místico cristão, Santo Agostinho escreveu: "Apontem-me alguém que ame e ele sente o que estou dizendo. Deem-me alguém que deseje, que caminhe neste deserto, alguém que tenha sede e suspira pela fonte da vida. Mostre-me esta pessoa e ela saberá o que quero dizer”(3).
Notas:
(1) Cf. BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, A esquerda tem o poder político, mas a direita continua com o poder econômico. In Caros Amigos, março 2010, p. 42.
(2) Cf. DOM HELDER CÂMARA, Circulares Conciliares, vol I, tomo III, Recife, CEPE, 2009, p. 253.
(3) AGOSTINHO, Tratado sobre o Evangelho de João 26, 4. Cit. por Connaissance des Pères de l’Église32- dez. 1988, capa.

Fonte: Adital


Veja nova versão do documento base da Rio+20, não divulgada pela ONU

 







 A Cúpula dos Povos divulga em primeira mão a mais recente versão do documento que servirá de base para as discussões na Rio+20 oficial (o ‘rascunho zero’), distribuída apenas para os grupos negociadores das Nações Unidas – Estados-membros, organizações intergovernamentais e Major Groups. No espírito Wikileaks, esta divulgação de um documento mantido fora do alcance do público pela ONU é apenas a primeira da série que chamamos de Rio+Leaks.
As Nações Unidas publicaram na íntegra apenas a primeira versão do documento. O motivo? Não sabemos. Mas a Cúpula considera que todas as versões do ‘rascunho zero’ – intituladoO futuro que queremos –são de interesse público e ajudam a entender os jogos de poder e os interesses que circulam nos debates a portas fechadas na sede da ONU, em Nova York.
Neste documento, formulado após uma rodada de negociações informais realizada no início de maio, as 80 páginas revelam uma "linguagem mais amena que as outras versões do ‘rascunho zero’”, segundo a antropóloga Iara Pietricovsky, do Instituto de Estudo Socioeconômicos (Inesc) e membro do Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20. Como nas outras duas versões do documentos que analisamos aqui, Iara apontou alguns aspectos importantes – explícitos e implícitos – do texto.
Leia na íntegra a mais recente versão do documento oficial da ONU para a Rio+20:

Fonte: Adital

São Paulo vai morrer





Escrito por João Whitaker   
As cidades também morrem. Há meio século, o lema de São Paulo era “a cidade não pode parar”. Hoje, nosso slogan deveria ser “São Paulo não pode morrer”. Porém, parece que fazemos todo o possível para apressar uma morte anunciada. Pior, o que acontece em São Paulo tornou-se infelizmente um modelo de urbanismo que se reproduz país afora. A seguir esse padrão de urbanização, em médio prazo estaremos frente a um verdadeiro genocídio das cidades brasileiras.

Enquanto muitas cidades no mundo apostam no fim do automóvel, por seu impacto ambiental baseado no individualismo, e reinvestem no transporte público, mais racional e menos impactante, São Paulo continua a promover o privilégio exclusivo dos carros. Ao fazer novas faixas para engarrafar mais gente na Marginal Tietê, com um dinheiro que daria para dez quilômetros de metrô, beneficia os 30% que viajam de automóvel todo dia, enquanto os outros 70% se apertam em ônibus, trens e metrôs superlotados. Quando não optam por andar a pé ou de bicicleta, e freqüentemente demais morrem atropelados. Uma cidade não pode permitir isso, e nem que cerca de três motociclistas morram por dia porque ela não consegue gerenciar um sistema que recebe diariamente 800 novos carros.

Não tem como sobreviver uma cidade que gasta milhões em túneis e pontes, em muitos dos quais, pasmem, os ônibus são proibidos. E que faz desaparecer seus rios e suas árvores, devorados pelas avenidas expressas. Nenhuma economia no mundo pode pretender sobreviver deixando que a maioria de seus trabalhadores perca uma meia jornada por dia – além do duro dia de trabalho – amontoada nos precários meios de transporte. Mas em São Paulo tudo se pode, inclusive levar cerca de quatro horas na ida e volta ao trabalho, partindo-se da periferia, em horas de pico.

Uma cidade que permite o avanço sem freios do mercado imobiliário (agora, sabe-se, com a participação ativa de funcionários da própria prefeitura), que desfigura bairros inteiros para fazer no lugar de casas pacatas prédios que fazem subir os preços a patamares estratosféricos e assim se oferecem apenas aos endinheirados; prédios que impermeabilizam o solo com suas garagens e aumentam o colapso do sistema hídrico urbano, que chegam a oferecer dez ou mais vagas por apartamento e alimentam o consumo exacerbado do automóvel; que propõem suítes em número desnecessário, o que só aumenta o consumo da água; uma cidade assim está permanentemente se envenenando. Condomínios que se tornaram fortalezas, que se isolam com guaritas e muros eletrificados e matam assim a rua, o sol, o vento, o ambiente, a vizinhança e o convívio social, para alimentar uma falsa sensação de segurança.

Enquanto as grandes cidades do mundo mantêm os shoppings à distância, São Paulo permite que se levante um a cada esquina. Até sua companhia de metrô achou por bem fazer shoppings, em vez de fazer o que deveria. O Shopping Center, em que pese a sempre usada justificativa da criação de empregos, colapsa ainda mais o trânsito, mata o comércio de bairro e aniquila a vitalidade das ruas.

Uma cidade que subordina seu planejamento urbano a decisões movidas pelo dinheiro, em nome do discutível lucro de grandes eventos, como corridas de carro ou a Copa do Mundo, delega as decisões de investimentos urbanos não a quem elegemos, mas a presidentes de clubes, de entidades esportivas internacionais ou ao mercado imobiliário.

Esta é uma cidade onde há tempos não se discute mais democraticamente seu planejamento, impondo-se a toque de caixa políticas caça-níqueis ou populistas, com forte caráter segregador. Uma cidade em que endinheirados ainda podem exigir que não se faça metrô nos seus bairros, em que tecnocratas podem decidir, sem que se saiba o porquê, que o mesmo metrô não deve parar na Cidade Universitária, mesmo que seja uma das maiores do continente.

Mas, acima de tudo, uma cidade que acha normal expulsar seus pobres para sempre mais longe, relegar quase metade de sua população, ou cerca de 4 milhões de pessoas, a uma vida precária e insalubre em favelas, loteamentos clandestinos e cortiços, quando não na rua; uma cidade que dá à problemática da habitação pouca ou nenhuma importância, que não prevê enfrentar tal questão com a prioridade e a escala que ela merece, esta cidade caminha para sua implosão, se é que ela já não começou.

Nenhuma comunidade, nenhuma empresa, nenhum bairro, nenhum comércio, nenhuma escola, nenhuma universidade, nem uma família, ninguém pode sobreviver com dignidade quando todos os parâmetros de uma urbanização minimamente justa, democrática, eficiente e sustentável foram deixados para trás. E que se entenda por “sustentável” menos os prédios “ecológicos” e mais nossa capacidade de garantir para nossos filhos e netos cidades em que todos – ricos e pobres – possam nela viver. Se nossos governantes, de qualquer partido que seja, não atentarem para isso, o que significa enfrentar interesses poderosos, a cidade de São Paulo talvez já possa agendar o dia se deu funeral. Para o azar dos que dela não puderem fugir.

João Sette Whitaker Ferreira, arquiteto-urbanista e economista, é professor da Faculdade de Urbanismo da Universidade de São Paulo e da Universidade Mackenzie.

Correio da Cidadania

domingo, 27 de maio de 2012

Gilmar Mendes & Veja: a pauta do desespero

 


A revista que arrendou uma quadrilha para produzir 'flagrantes' que dessem sustentação a materias prontas contra o governo, o PT, os movimentos sociais e agendas progressistas teve a credibilidade ferida de morte com as revelações do caso Cachoeira. VEJA sangra em praça pública. Mas na edição desta semana tenta um golpe derradeiro naquela que é a sua especialidade editorial: um grande escândalo capaz de ofuscar a própria deriva. À falta dos auxilares de Cachoeira, recorreu ao ex-presidente do STF, Gilmar Mendes, que assumiu a vaga dos integrantes encarcerados do bando para oferecer um 'flagrante' à corneta do conservadorismo brasileiro. Desta vez, o alvo foi o presidente Lula.

A semanal transcreve diálogos narrados por Mendes de uma inexistente conversa entre ele e o ex-presidente da República, na cozinha do escritório do ex-ministro Nelson Jobim. Gilmar Mendes --sempre segundo a revista-- acusa Lula de tê-lo chantageado com ofertas de 'proteção' na CPI do Cachoeira. Em troca, o amigo do peito de Demóstenes Torres, com quem já simulou uma escuta inexistente da PF (divulgada pelo indefectível Policarpo Jr, de VEJA, a farsa derrubou o diretor da ABI, Paulo Lacerda), deveria operar para postergar o julgamento do chamado 'mensalão'.

Neste sábado, Nelson Jobim, insuspeito de qualquer fidelidade à esquerda, desmentiu cabalmente a versão da revista e a do magistrado. Literalmente, em entrevista ao Estadão, Jobim disse: 'O quê? De forma nenhuma, não se falou nada disso. O Lula fez uma visita para mim, o Gilmar estava lá. Não houve conversa sobre o mensalão; tomamos um café na minha sala. O tempo todo foi dentro da minha sala (não na cozinha); o Lula saiu antes; durante todo o tempo nós ficamos juntos", reiterou.

A desfaçatez perpetrada desta vez só tem uma explicação: bateu o desespero; possivelmente, investigações da CPI tenham chegado perto demais de promover uma devassa em circuitos e métodos que remetem às entranhas da atuação de Mendes e VEJA nos últimos anos. Foram para o tudo ou nada. No esforço para mudar o foco da agenda política e criar um fato consumado capaz de precipitar o julgamento do chamado 'mensalão', jogaram alto na fabricação de uma crise política e institucional. O desmentido de Jobim nivela-os à condição dos meliantes já encarcerados do esquema Cachoeira. A Justiça pode tardar. A sentença da opinião pública não.

Fonte: Carta Maior