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domingo, 27 de maio de 2012

Os que sabiam do assassinato de Kennedy







O magnicídio foi um golpe de Estado

Gabriel Molina Franchossi

O crime de Dallas, no qual ainda se pretende envolver Cuba, foi realmente a consumação do golpe de Estado que tramavam altos chefes militares da CIA e outros ultraconservadores.

Este magnicídio não só afetou os Estados Unidos, mas sim, em surpreendente medida, também atingiu Cuba e o mundo todo. Após quase 50 anos do assassinato de J.F. Kennedy, quando a dramática relação se torna cada dia mais presente no panorama mundial contemporâneo, a CIA pretende adiar, por outro quarto de século, a revelação de alguns documentos que ainda esconde, acerca do crime de 22 de novembro de 1963. Parte dessa estratégia pode ser lida no livro The Castro’s secrets (Os segredos de Castro), de Brian Latell, oficial da CIA para a América Latina, de 1990 a 1994, e que depois de participar de operações da agência contra a Ilha, desde os anos 60, tenta disfarçar o mais escandaloso complô do século 20.

Um dia depois do magnicídio, o presidente Fidel Castro foi, possivelmente, o primeiro em denunciar o assassinato como um complô, num comparecimento na tevê cubana: "Nós podemos dizer que há elementos dentro dos Estados Unidos que defendem uma política ultrarreacionária em todos os campos, tanto no da política internacional como no da nacional. E esses são os elementos chamados a beneficiar-se dos sucessos que tiveram lugar ontem nos Estados Unidos".

O líder cubano leu um dos primeiros telexes: "Dallas, 22 de novembro, (UPI). — A polícia deteve hoje Lee H.Oswald, identificado como o presidente do ‘Comitê do Jogo Limpo com Cuba’, como principal suspeito no assassinato do presidente Kennedy. Quatro dias depois do assassinato, em 27 de novembro, analisou a teoria de Oswald como atirador único, e suas alegadas simpatias "castristas", que nesse momento ninguém questionava. Citou Hubert Hammerer, campeão olímpico de tiro, que declarou inverossímil que um atirador equipado com uma carabina de repetição, com tele-objetivo, possa acertar no alvo três vezes seguidas, no espaço de cinco segundos, quando dispara contra um alvo que se desloca a uma distância de 180 metros, a uma velocidade de 15 quilômetros por hora". Com base em suas experiências na Serra Maestra, com fuzis de mira telescópica, como o que disseram utilizou Oswald, Fidel acrescentou: "Uma vez que se dispara o alvo se perde — por efeito do disparo — e é necessário voltar a encontrá-lo rapidamente (...) com esse tipo de arma é realmente muito difícil fazer três disparos consecutivos. Mas, sobretudo, muito difícil acertar no alvo. Quase impossível" (1).

Fidel analisou que Kennedey era empurrado ao caminho da guerra pelos círculos mais reacionários, com fortes campanhas, leis e resoluções no Congresso, forçando o governo, pelo que eles qualificaram, em 1961, como o colapso da Baía dos Porcos, até colocar o mundo à beira de uma guerra nuclear, a Crise de outubro ou Crise dos Mísseis. O primeiro-ministro de Cuba, na época, também se referiu à atitude de Kennedy sobre os direitos civis, como a segregação e a discriminação racial, e a política de coexistência pacífica que avançava com Jruschov. Estas ações desatavam insuspeitas forças contra o presidente e faziam pensar que o assassinato era obra de alguns dos elementos inconformados com sua política, particularmente sua política respeito a Cuba , que não consideravam suficientemente agressiva, pois se resistia a autorizar uma intervenção militar direta.

O líder cubano se referiu a evidências de que se Oswald "tivesse sido o verdadeiro assassino, estaria claro que os autores intelectuais do assassinato estiveram preparando a coartada com muito cuidado. Enviaram este indivíduo a solicitar visto de Cuba no México. Imaginem...que o presidente dos EUA acabasse sendo assassinado por esse indivíduo, que acabava de retornar da União Soviética, passando por Cuba. Era a coartada ideal (...) para fazer crer à opinião pública norte-americana a suspeita de que tinha sido um comunista ou um agente de Cuba e da União Soviética, como diriam eles" (2).

Em 1978, demonstrou-se que Fidel tinha razão. O Comitê Seleto do Congresso dos Estados Unidos que investigou o assassinato, concluiu: "O Comitê considera a possibilidade de que um impostor visitasse a embaixada soviética ou o consulado de Cuba, durante um ou mais contatos, nos quais Oswald foi identificado pela CIA, em outubro de 1963" (3) O documento do Comitê chega à conclusão de que não tinha nada a ver com Oswald, porque enquanto este era pequeno e magro, o indivíduo da fotografia era "forte, atlético, 6 pés de estatura e careca" (4).

A suspeita começara, em parte, quando o FBI mostrou à mãe de Oswald a suposta fotografia de seu filho. Ela declarou que não era de Lee, mas sim de Jack Ruby, o autor de sua morte. De fato, não havia nenhuma semelhança — acrescentava o relatório do Comitê — o homem da fotografia não era nem Oswald nem Ruby. O FBI também o negou. Num memorando ao serviço secreto consignava: "Estes agentes especiais (do FBI) opinam que o indivíduo da fotografia não é Lee Harvey Oswald".

Fidel tinha suficientes razões para alarmar-se com as insinuações e acusações, típica estratégia da CIA. Ainda agora, Latell tenta afastar as suspeitas sobre os verdadeiros responsáveis pelo crime, tenta fazer renascer o infundado da companhia contra Cuba e de negar que houve um complô entre aqueles que "defendem uma política ultra-reacionária". A teoria do atirador solitário é esgrimida não só no caso de Oswald em 1963, mas também no de Sirhan H. Sirhan, suposto assassino de Robert Kennedy, em 1968, no mesmo momento que foi eleito candidato contra Richard Nixon, suspeito do magnicídio. A verdade tem-se revelado, pouco a pouco, a partir desse momento. Os últimos detalhes foram conhecidos em 2005, através do livro do pesquisador David Talbot Brothers, The hidden history of the Kennedy years (Irmãos. A escondida história dos anos dos Kennedy), com sua sensacional revelação de que Robert possivelmente foi assassinado quando admitiu que, caso fosse eleito presidente, o qual estava praticamente próximo de conseguir, reabriria o amanhado processo.

Latell se refugia na desprestigiada teoria do assassino único da comissão Warren, que criou Johnson, para investigar o assassinato, ao substituir Kennedy na presidência. Uma das últimas e mais contundentes contestações a constitui a nota enviada, em 8 de novembro de 1963, 15 dias antes do atentado, por Oswald a Howard L. Hunt, também suspeito de participar do magnicídio e organizador da rusga contra os "encanadores" do Watergate "Gostaria que me desse informação sobre minha posição. Estou solicitando isto somente para informar-me. Sugiro discutir o assunto antes de dar qualquer passo. Muito obrigado. Lee Harvey Oswald" (5).

O pesquisador Paul Kangas explica que a carta de Oswald foi obtida pelo escritor e jornalista Jack Anderson em Nova Orleans, onde vivia o "atirador solitário" com Clay Shaw, os cubanos Félix Rodríguez, Bernard Barker e Frank Sturgis, investigados também pelo Comitê Especial do Congresso e pelo juiz Jim Garrison. Anderson afirma num vídeo que Hunt e Shaw pediram a Oswald reunir-se com eles, para organizar a posição que ocuparia em Dallas durante o atentado. Como não recebeu resposta de Hunt, Oswald disse a James Hosty, agente do FBI que o atendia, que Hunt e um grupo de cubanos do gabinete da CIA, em Miami, estavam planejando matar Kenndey em Dallas, em 22 de novembro de 1963. Segundo Kangas, Hosty enviou um telexe a Hoover, diretor do FBI, para informá-lo e este o reenviou a seus agentes no país.

O juiz Garrison narra que Waggoner Carr, procurador geral do Texas, entregou à Comissão Warren, numa sessão secreta, efetuada em 22 de janeiro de 1964, provas de que Oswald era o informante secreto do FBI número 179, com um ordenado de US$ 200, desde 1962. As provas foram entregadas a Carr por Allan Sweat, chefe da divisão criminosa do escritório do xerife de Dallas e publicadas pelo Philadelphia Inquirer, o Houston Posat e o The Nation, mas a Comissão Warren não citou para declarar nem Sweat nem os jornalistas que redigiram as notícias. Garrison admite que se Oswald era informante do FBI, em Dallas e Nova Orleans, pode-se admitir que seu trabalho consistia em filtrar organizações como Jogo Limpo para Cuba e o aparelho de Guy Bannister para matar o presidente. "A pergunta que me atormentava e que talvez atormentou Oswald era: se a polícia de Dallas, o gabinete do xerife, o serviço secreto, o FBI e a CIA estavam potencialmente envolvidos na conspiração, então quem eram as autoridades adequadas?" (6).

Quando Robert Blakey, chefe dos investigadores do Comitê Seleto da Câmara, soube em 1990 que o recém falecido George Joannides, oficial da CIA, designado pela agência para informá-lo sobre o assassinato de Kennedy, lhe ocultou que tinha trabalhado estreitamente em Nova Orleans, desde antes do crime, com Oswald e com o grupo terrorista denominado Diretório Revolucionário Estudantil , o considerou uma obstrução da justiça e agora não acredita em coisa alguma do que a CIA disse ao Comitê.

Não é raro que a Comissão Warren eludisse buscar a verdade; não debalde estava presidida pelo congressista Ed Ford, um homem de Nixon, também suspeito.

Allen Dulles, o onipotente chefe da CIA, manipulava os membros, nomeados por Lynndon Johnson, novo presidente por obra e graça do original golpe de Estado, que na prática foi o assassinato dos irmãos Kennedy.

Jornal Revolución. 28 de novembro de 1963.
Ibidem.
The Final Assasinations Report of The Select Committee, on U.S. House of Representatives. Bantam Book. Nova York, 1979, p.320.
Ibidem.
Jornal Granma, 13 de abril de 2012, p. 9
Jim Garrison. JFK Trás La pista de los asesinos. Edições B. Barcelona, 1988, pp. 296-301.
 

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