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domingo, 22 de julho de 2012

Ninguém aguenta mais: a Espanha vai às ruas

 


Mais de 100 mil pessoas ocuparam a praça do Sol, em Madrid, na noite desta 5ª feira. Protestos tomaram outras 80 cidades da Espanha. As centrais sindicais exigem um plebiscito para definir o futuro da sociedade e da economia. As manifestações explodiram no mesmo dia em que o Congresso -dominado pela direita do PP - aprovou o novo pacote de arrocho ditado pela cúpula do euro à Madrid. O governo conservador de Mariano Rajoy já não comanda; o Palpacio de la Moncloa está sob intervenção direta dos homens de negro de Bruxelas que impõem medidas, fiscalizam políticas e fuçam as contas do Estado.

Em troca de empréstimos para salvar os bancos, cuja primeira parcela de 30 bi foi liberada esta semana, o Eurogrupo determinou cortes adicionais da ordem de 65 bi no fragilizado tecido social espanhol. O pacote sancionado nesta 5ª feira impõe perdas salariais aos funcionários públicos, eleva impostos e retalha adicionalmente orçamentos essenciais e restringe o auxílio desemprego em meio a um quadro de reduçao epidêmica de vagas. Bombeiros aplaudiam manifestantes nas ruas de algumas cidades nesta 5ª feira --os homens do fogo também foram atingidos pelo incêndio neoliberal em que se transformou a Espanha.

O sacrifício é visto como inútil até pelos economistas conservadores: a Espanha já quebrou. Ao alimentar a recessão com mais arrocho o governo sabota sua própria capacidade de obter receita e pagar contas. Os capitais sabem e fogem do país; mais de 200 bilhões de euros saíram este ano da Espanha: é o dobro do volume que Bruxelas acena emprestar para salvar os bancos.

A conta não fecha. Investidores preferem guardar o dinheiro na Alemanha, e receber juro negativo, do que financiar o governo desastrado da direita espanhola, que lhes paga taxas recordes insustentáveis de 7%. A derrocada espanhola é a síntese de dois momentos do ciclo neoliberal: a omissão estatal no ciclo de alta, feito de supremacia das bolhas de crédito e desregulamentação especulativa; e a ausência de soberania estatal agora, no colapso do modelo, quando a finança submete toda a sociedade à opressão para salvar-se.

O que as ruas de Madrid estão dizendo, finalmente, é que os espanhóis querem o Estado de volta para defendê-los; não para dilapidá-los com aguilhões e espetos da impunidade rentista. Trata-se de uma agenda universal.

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