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sábado, 28 de setembro de 2013

A transmutação do fascismo: a matriz mediática



Caracas (Prensa Latina) O fascismo possui várias facetas e muda conforme as épocas para novas formas de dominação como a referente aos meios de comunicação em massa, presentes nas mais recentes tentativas de desestabilização promovidas pela direita contra governos progressistas na América Latina.
Participantes do I Encontro Internacional Antifascista, convocado em Caracas a 40 anos do Golpe de Estado no Chile, puseram a descoberto este processo de transmutação experimentado pelo fascismo desde sua criação nas primeiras décadas do século XX: uma de suas caras mais relevantes na atualidade deriva de sua matriz mediática.

De acordo com o jornalista e catedrático espanhol Ignacio Ramonet, o papel dos meios de comunicação nos golpes de Estado executados na América Latina, evidenciam a manipulação como uma das especialidades do fascismo, bem como a fascinação pelo controle dos meios.

Ao fazer uma contagem histórica desta manifestação política, Ramonet recordou a vinculação desde cedo entre fascismo e imprensa: assim, por exemplo, o ditador italiano Benito Mussolini -criador desta vertente ideológica- utilizava seu jornal para mobilizar massas e criar massas antiprogressistas, precisou.

Mais tarde, os nazistas na Alemanha -com Adolph Hitler, grande admirador de Mussolini- desenvolveram um sistema mediático, onde se destacou a propaganda com um ministro como Joseph Goebbels que utilizava os meios para manipular às massas.

Sobre esse ponto, o catedrático espanhol recordou que desde suas origens "a comunicação e a manipulação da mesma constituiu uma das especialidades do fascismo".

Não obstante, a diferença da Europa onde -segundo Ramonet- os meios eram impulsionados historicamente pelo Estado, na América Latina por tradição estadunidense estes se desenvolveram a partir de iniciativas e capital privado.

Por isso, esse caráter privado será característico da guerra mediática à que assistimos há 40 anos, que começou com o golpe de Estado contra o presidente chileno Salvador Allende e não terminou, disse o jornalista.

Como demonstração mais recente de seus argumentos citou a campanha mediática que contribuiu em 2009 à derrubada do mandatário hondurenho, Manuel Zelaya, ou o caso do Paraguai e o golpe parlamentar contra o presidente Fernando Lugo, em 2012.

Em todo este período a imprensa deveio expressão das oligarquias que já dominavam estes países, com todos seus recursos como a terra, o comércio, a banca e até o mesmo poder, explicou o catedrático ao recordar a posse dos meios de comunicação de massas por tais classes como elemento de propaganda de suas próprias ambições.

Daí que vemos -especificou- uma América Latina onde os meios de grupos de comunicação privados se jactam de ter feito e desfeito governos, posto e deposto presidentes, e que fazem parte do poder tradicional, das oligarquias e burguesias que se consideram donas naturais do país.

Assim, pareceria normal que a burguesia governe porque o país sob esta visão lhes pertence, e por isso quando a maioria pobre e explorada acede democraticamente ou chega por qualquer circunstância ao poder e aspira à redistribuição da riqueza mal repartida para acertar a dívida social, então não se aceita este tipo de partilha.

Desde esse momento põe-se em marcha o mecanismo do golpe: na América Latina nenhum governo com vontade de mudança social -exceto Cuba desde 1959- conseguiu manter-se no poder antes do triunfo do presidente Hugo Chávez na Venezuela, explicou Ramonet, ao denotar a significação da Revolução Cubana e Bolivariana para o acordar do continente.

Por sua vez, o vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, manifestou que o fascismo tem tido muitas caras: a princípios do século XX era um fascismo expansionista que invadia, na década de 1960 e 1970 era um fascismo golpista-militarista, dimensionou.

Hoje não há nem o rosto do invasor nem o rosto da ditadura militar, hoje há outro rosto: além da conspiração econômica, financeira, existe a mediática: É fascismo, mas sob novas formas, detalhou.

Conhecedora da cara mediática do fascismo, a ex-chanceler hondurenha, Patricia Rodas, expressou que esta vertente política "se transforma em expressões específicas que se transladam do ultramar para nosso continente com a intenção de esmagar todos os processos de transição e transformação democrática em curso".

Para tal fim, o fascismo então começa a mudar e a procurar novos mecanismos de dominação e de extravio mental que correspondam a essas novas formas de manifestação social que vão aparecendo, asseverou em declarações Prensa Latina.

Nesse sentido, a ex-ministra de Relações Exteriores do derrocado governo de Zelaya fez notar também a evolução dos métodos do fascismo desde os clássicos golpes militares para outras vias desestabilizadoras na atualidade como a guerra econômica e sobretudo na esfera mediática.

Tal estratégia é explicável se se entende que com a chegada dos novos tempos e das transformações sociais as armas de agressão fascistas evoluem e se transformam enquanto evoluem e se transformam os setores que pretendem agredir, precisou.

Desse modo, quando vimos a queda das ditaduras militares isso não quis dizer que desapareceram a repressão e os mecanismos de perseguição, mas que esta se transformou em outras formas como a manipulação mediática, denunciou.

É do modo que começamos a receber notícias e realidades deformadas e começou-se a injetar preconceitos a cidadãos de uma mesma sociedade que padecemos os mesmos males e se aprofundou na estigmatização do que é diferente ou de propostas inovadoras, agregou.

Inclusive a política de difamação, mentira e engano converte-se em uma cultura de ódio, tudo isso através dos meios de comunicação com seus respectivos mecanismos de formação de consciência para manter sob seu domínio do terror a setores importantes da população, expressou Rodas.

Acrescentou que a estratégia do terrorismo mediático pretende a divisão e desintegração social mediante o ódio: "com isso se aspira destruir esse tecido que fundamentou os Estados-Nação e a necessidade de nos integrar não só como sociedade como um com o outro, e de reconhecer as lutas de um continente e de nossos próceres".

Não obstante, contra esse mal atualmente luta-se pela integração de nossas pátrias latino-americanas, para conseguir uma forma de associação continental que não seja excludente e permita a eliminação do preconceito e do temor como base fundadora das grandes contradições que ameaçam o século XXI, afirmou.

A este respeito, considerou vital a solidariedade continental entre os povos pois só assim poderá ser enfrentado com sucesso o fascismo em qualquer lado que este se encontre, dimensionou.

*Corresponsável da Prensa Latina na Venezuela jha/mem/cc

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