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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Comunismo avança nos EUA como alternativa à crise capitalista mundial


Em Seattle, a campanha comunista já fez o salário mínimo subir
Em Seattle, a campanha comunista já fez o salário mínimo subir

Em tempos de crise, o comunismo deixa de ser o velho ‘bicho papão’ dos tempos da Guerra Fria e tornar-se, cada vez mais, uma alternativa política para sociedades oprimidas pela concentração de renda. Principalmente nos EUA, onde o sistema divide o eleitorado em basicamente conservadores democratas e ultraconservadores republicanos, o ideário comunista se fortalece, nas urnas, com as campanhas de candidatos do campo das esquerdas, como o atual prefeito de Nova York, Bill De Blasio, e dois candidatos da Alternativa Socialista (CIT, na sigla em inglês), em duas grandes cidades norte-americanas.
Kshama Sawant em Seattle e Ty Moore em Minneapolis, conduziram as campanhas eleitorais explicitamente socialista mais fortes nos EUA em décadas. “Independentemente do resultado final, os votos para esses ativistas socialistas ilustram claramente o vácuo na política dos EUA e a raiva contra o establishment controlado pelas grandes empresas.
“As duas campanhas se fortaleceram com a enorme desconfiança que existe em relação ao sistema político, enraizada na Grande Recessão e a lenta recuperação econômica”, afirma Bryan Koulouris, integrante da CIT.
“A recente paralisação do governo federal, quando não havia acordo sobre o orçamento, também alimentou a ira popular que permitiu que as campanhas socialistas tivessem um eco entre os trabalhadores. Durante a paralisação do governo, o índice de aprovação do Congresso caiu para um mínimo histórico de 5%. Em uma pesquisa Gallup, um recorde de 60% disseram que é necessário um novo partido nos EUA, e um nível baixo recorde de apenas 26 % disseram que os dois partidos estavam fazendo um trabalho adequado”, acrescentou.
Ainda segundo Koulouris, “muitas pessoas nos EUA se sentem desencorajadas e desmoralizadas pelo sistema eleitoral pró-empresas e fraudulento. No entanto, essas campanhas demonstraram sem sombra de dúvida que os candidatos independentes e pessoas da classe trabalhadora podem desafiar o establishment sem receber um centavo de dinheiro das empresas! Ty Moore arrecadou mais dinheiro do que seu principal adversário apoiado pelas empresas e Kshama Sawant levantou cerca de US$ 110 mil, em comparação com os US$ 238 mil de seu oponente”.
“As campanhas da Alternativa Socialista mostraram claramente que é possível para as pessoas comuns e os jovens se organizarem e lutar para mudar o mundo. Alternativa Socialista quer aproveitar esse momento para futuras campanhas dos 99% , como a campanha ‘Pela sindicalização e um salário mínimo de US$ 15 por hora’, e a luta para taxar os super-ricos para pagar um programa de transporte público ecológico massivo”, pontua Koulouris.
“Muitas pessoas de esquerda argumentam que as ideias socialistas não podem ganhar o apoio das massas neste país, mas essas campanhas mostram que eles estão completamente errados. Pesquisas do Pew Research Center mostram repetidamente que a maioria dos jovens e negros agora preferem o ‘socialismo’ ao ‘capitalismo’. Obviamente, essa consciência é confusa, mas ilustra que as pessoas estão de saco cheio com a desigualdade crescente e com os aumentos insuportáveis no custo de vida e do próprio capitalismo”, escreveu.
Construindo movimentos
A campanha de Ty Moore no Distrito 9 de Minneapolis foi construída ao lado de uma campanha importante e com grande visibilidade por justiça habitacional liderada pelo ‘Ocupe Casas Minnesota’. Moore e a Alternativa Socialista ajudou a lançar esta organização, que defendeu com sucesso muitas famílias de serem despejadas pelos grandes bancos e pela polícia. O centro ‘Zona livre de despejos’ do Ocupe Casa foi no Distrito 9, bairro etnicamente misto habitado por trabalhadores. O ‘Ocupe Casas’ e a campanha de Moore reforçaram mutuamente um ao outro.
Da mesma forma, em Seattle, a campanha de Sawant ajudou a colocar a ‘Luta por 15′ – as greves e protestos de trabalhadores de baixa renda pelo salário mínimo de US$ 15 – no centro do debate político. “A Alternativa Socialista construiu energicamente este movimento, auxiliando grevistas criminalizados e combatendo os argumentos contra o aumento do salário mínimo”, afirmou.
Quando as organizações de trabalhadores conseguiram incluir um plebiscito sobre o aumento do salário mínimo a US$ 15 na votação no subúrbio de Seattle de SeaTac, a campanha de Sawant energicamente apoiou este movimento, contribuindo para a vitória histórica no plebiscito. Os dois candidatos a prefeito, que não tinha mencionado o salário mínimo no início de suas campanhas, saíram vagamente em apoio de um salário mínimo US$ 15 dólares. O sucesso da Sawant em deslocar o debate político levou o Seattle Times, o maior jornal de Seattle, a dizer antes da eleição que ‘o vencedor da eleição de Seattle já é a socialista Kshama Sawant”.
PC norte-americano
Em Nova York, hoje governada por um prefeito do campo socialista, a sede do Partido Comunista norte-americano, no bairro de Chelsea, vive uma fase de brilho, em meio à crise financeira, segundo seus membros, que ainda defendem as teses marxistas-leninistas. No número 235W da rua 23, em frente ao hotel Chelsea, símbolo da boêmia dos anos 60 e 70, funciona também uma imobiliária, cujos donos são comunistas.
– Recebemos cada vez mais ligações de pessoas que querem se informar e se interessam por nós devido à crise financeira, porque estamos em um momento de mudanças e acredito que o Partido Comunista terá papel fundamental no período que se inicia – disse à agência francesa de notícias AFP Libero Della Piana, 36 anos, filho de pai italiano e mãe afro-descendente, atual presidente do partido no estado de Nova York.
Fundado em 1919, o Partido Comunista norte-americano (CPUSA, na sigla em inglês) era considerado apenas um grupo que fazia propaganda para a “potência estrangeira” (a União Soviética) durante a guerra fria, e seus membros eram com freqüência demitidos de seus empregos durante o período do Macartismo, nos anos 50. O CPUSA, dirigido em escala nacional por Sam Webb, conta hoje com “entre 3 e 3,5 mil membros”, mas Libero Della Piana e Erica Smiley, de 28 anos, coordenadores da “Liga dos jovens comunistas”, instalada no mesmo edifício, afirmam que o “caos atual” engrossará as fileiras de simpatizantes.
Longe de querer “brincar sozinhos”, os comunistas norte-americanos querem “construir a base mais ampla possível, com os movimentos de mulheres, estudantes, sindicatos, para derrotar a direita”.
– Acreditamos que o momento chegou. As preocupações dos jovens são a guerra, o desemprego e a cobertura médica, e nossas propostas são boas – indicou por sua vez Erica Smiley.
Nos 500 metros quadrados recentemente reformados da sede, onde as obras completas de Lenin e Marx dividem a estante com livros sobre o racismo e a causa feminista, houve uma reunião na segunda-feira, mas muitos militantes estão ausentes.
– A crise nos mostrou que o mercado não pode se regular sozinho, e que, ao deixar que isso acontecesse, o governo enlouqueceu a máquina de dar créditos baseados em uma fantasia. Vamos ficar menos na defensiva, pela primeira vez desde os anos 80, e teremos nossa opinião para expressar na reconstrução dos Estados Unidos sobre novas bases, e já não para satisfazer a avidez de uns poucos – comentou Della Piana.
Ainda que não tenha declarado oficialmente seu respaldo ao candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, o CPUSA o apóia abertamente e a maioria de seus militantes usam buttons de Obama.
– Estão em campanha para incentivar as pessoas a votarem – explicou Bill Davis, aposentado de 65 anos filiado ao partido há 37.
Os comunistas norte-americanos têm encontro marcado com os “camaradas da América Latina e do resto do mundo no final de novembro, em São Paulo“.
– Explicaremos a eles a situação nos Estados Unidos após a eleição presidencial, embora o Komintern (Internacional Comunista) não exista mais e cada partido tenha suas especificidades – disse Della Piana.
Prefeito de esquerda
Na última terça-feira, os democratas venceram a eleição e voltaram à prefeitura de Nova Iorque após 20 anos. O novo dirigente, Bill de Blasio, foi militante de esquerda nos anos de 1980 e projeta um plano progressista para cidade. Conheça sete fatos marcantes da trajetória do novo prefeito:
1. Pai comunista. Warren Wilhelm, pai de Bill de Blasio, teve carreira promissora como economista no Departamento de Comércio do governo norte-americano antes de servir ao Exército. No entanto, sofreu boicote de outros funcionários quando descobriram que ele e sua esposa argumentavam em favor do comunismo. Sanções e declínio profissional levaram o economista ao alcoolismo.
2. Mudança de nome. Na verdade, o nome no registro de nascimento de Bill de Blasio era Warren Wilhelm, Jr., em homenagem ao pai, que perdeu a perna esquerda na 2ª Guerra Mundial. Após seguidos casos de alcoolismo e violência, os pais de Bill de Blasio se divorciaram. Após a separação, ainda no ensino médio, o novo prefeito de Nova Iorque decidiu, na época, adotar o apelido de infância – Bill – e o sobrenome italiano da mãe – de Blasio. A alteração foi feita formalmente em cartório. “Estava bastante irritado com a separação”, disse Bill, em entrevista recente.
3. Apoio ao movimento sandinista. Um dos momentos mais marcantes da carreira política de Bill de Blasio aconteceu em 1988, quando o novo prefeito de Nova Iorque visitou a Nicarágua para entregar ajuda de uma organização de esquerda dos EUA. Naquela época, De Blasio tinha 26 anos e o governo sandinista nicaraguense enfrentava uma guerrilha apoiada pela administração de Ronald Reagan (1981-1989).
Após voltar da visita ao país, o novo prefeito manteve seu respaldo aos sandinistas colaborando com um grupo chamado Rede de Solidariedade com a Nicarágua, embora depois tenha se desvinculado progressivamente. Segundo de Blasio, ele estava desencantado pela maneira como os sandinistas tratavam oposição e imprensa.
4. Trabalho com Hillary Clinton. Bill de Blasio foi gerente de campanha de Hillary Clinton. No entanto, foi demitido sob a justificativa de ser “politicamente fraco” e “não decisivo”, na visão do casal Clinton. Na época, o jornal The New York Times chegou a escrever um artigo de opinião, condicionando a fraca campanha de Hillary à falta de poder de decisão do então gerente Bill de Blasio. Ambos, no entanto, mantiveram um bom relacionamento. Hillary inclusive organizou um evento para arrecadar fundos para as eleições de Nova Iorque no mês passado, angariando mais de US$1 milhão para campanha de Bill.
5. Casado com mulher negra e ativista de direitos LGBT. Bill é casado há 19 anos com a poeta Chirlane McCray, de 58 anos, conhecida pela atuação militante na organização radical de feministas e lésbicas negras Combahee River Collective, na década de 1970.
6. Lua de mel em Cuba. Contrariando a legislação norte-americana que proíbe viagens a Cuba, o casal de Blasio passou metade da lua de mel na Ilha. Os filhos herdaram a miscigenação da cor branca de Bill de Blasio e da cor negra de Chirlane McCray.

7. Despejo em Nova Iorque. Em 1983, graças a um problema contratual, Bill de Blasio foi expulso do apartamento em que morava em Nova Iorque. Ainda candidato, citou diversas vezes o episódio para defender uma política de moradia popular aos nova-iorquinos. A promessa é de construção de mais de 200 mil casas populares na cidade.

Fonte: Correio do Brasil

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