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domingo, 3 de novembro de 2013

Vlado somos todos nós

     

38 anos após o assassinato de Vladimir Herzog, grande parte dos crimes da quase cinquentenária ditadura permanecem na escuridão.


Isabel Harari

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No dia (25) a Câmara Municipal de São Paulo inaugurou a Praça e Memorial Vladimir Herzog, localizada na Rua Santo Antônio, atrás do Palácio Anchieta, centro de São Paulo.  A data foi escolhida pois no dia 25 de outubro completam-se 38 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog pelo aparato repressor do regime militar. Vlado tornou-se um símbolo da luta por memória, verdade, justiça.

O jornalista iniciou sua carreira como repórter no Estado de São Paulo em 1959. Entrou para a televisão em 1963, no “Show de Notícias” da TV Excelsior e após dois anos no programa foi contratado pela BBC de Londres, onde permaneceu até 68. Herzog volta para o Brasil como editor cultural da revista Visão.

Herzog se tornou diretor do Departamento de Jornalismo da TV Cultura em 1972. A vontade de veicular uma programação que revelasse a potencialidade da cultura brasileira e a realidade de seu povo, contrariando a censura instituída pela ditadura militar e os programas de cunho nacionalista impostos pelo regime, aumentou a pressão sobre o jornal e o próprio jornalista. “Uma campanha articulada pelos órgãos de repressão, montada pelos militares da chamada linha dura, acusava-o de colocar o noticiário da emissora a serviço da subversão comunista”, relatou Audálio Dantas, no livro “As duas guerras de Vlado Herzog” (Editora Civilização Brasileira, 2012).


O recrudescimento da chamada “linha dura” da ditadura militar teve seu auge em meados dos anos 70. Com a instituição do Ato Institucional número 5, em dezembro de 1968, uma onda de repressão sem precedentes passou a atingir milhares de pessoas. O governo militar detinha o poder e o utilizava de todas as formas para barrar o “avanço comunista”. Por meio da censura, a cúpula militar escondia nos porões as atrocidades cometidas de forma arbitrária a qualquer um que se opusesse ao regime.


Sob suspeita de manter ligações com o Partido Comunista, Herzog foi convocado para prestar depoimento e se apresentou ao DOI-CODI, o Destacamento de Operações Internas - Comando Operacional de Informações do II Exército, por volta das 9h da manhã do dia 25 de outubro de 1975. Foi torturado e assassinado. Os agentes da ditadura fraudaram o atestado de óbito. O laudo necroscópico, assinado pelo médico legista Harry Shibata, confirmou o suposto suicídio, “asfixia mecânica por enforcamento”, diz o documento.


No dia seguinte já se exigia esclarecimentos sobre as reais circunstancias em que ocorrera a morte de Herzog. O Sindicato dos Jornalistas teve papel fundamental, juntamente com a família do jornalista, para trazer à tona os fatos do assassinato. Somente em setembro de 2012, mais de trinta anos depois e após um pedido da Comissão Nacional da Verdade (CNV), foi determinada a retificação do atestado de óbito de Vladimir Herzog, que agora consta que sua “morte decorreu de lesões e maus tratos sofridos em dependência do II Exército – SP (DOI- CODI)”.

A decisão representa uma vitória na luta pelo resgate da memória do país. No entanto, 38 anos após o seu assassinato, grande parte dos crimes da quase cinquentenária ditadura permanecem na escuridão, e a impunidade dos torturadores é uma realidade mesmo frente à instituição da Comissão Nacional da Verdade. No livro de Audálio Dantas, Fernando Birri, cineasta argentino e amigo de Herzog elucida: “Vlado somos nós, Vlado somos todos nós”.

Fonte: Carta Maior

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