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segunda-feira, 31 de março de 2014

EUA desesperados para isolar a Rússia em todos os fronts


Pepe Escobar, Rússia Today
http://rt.com/op-edge/us-desperate-to-isolate-russia-893/
O governo Obama não carregará prisioneiros em sua sanha para tentar “isolar” a Rússia em todos os fronts possíveis – até agora, sem resultados importantes.
Já listei algumas razões pelas quais a Ásia não isolará a Rússia.[1] E também algumas razões pelas quais a União Europeia não pode isolar a Rússia.[2] Mesmo assim, o governo Obama prossegue, incansável, e continua a atacar em três grandes fronts – o G-20, o Irã e a Síria.
Primeiro, o G-20. A ministra de Relações Exteriores da Austrália Julie Bishop lançou um balão de ensaio, especulando que a Rússia e o presidente Vladimir Putin poderiam ser barrados da reunião do G-20 em Brisbane, em novembro.
A reação dos outros quatro nações-membros BRICS foi imediata: “A custódia sobre o G-20 pertence a todos os estados-membros igualmente, e nenhum estado-membro pode determinar, unilateralmente, sua natureza e caráter.”
Austrália, sempre subserviente aos EUA, teve de calar o bico. Por hora.
Os BRICS, não por acaso, são a aliança chave do mundo em desenvolvimento dentro do G-20, que atualmente está discutindo o que interessa nas relações internacionais. O G-7 – que ‘expulsou’ a Rússia de sua próxima reunião em Sochi, já transferida para Bruxelas – não passa de balcão de conversas de autopromoção.
De sanção em sanção
Então, há o Irã. O vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Ryabkov deixou muito claro que se os EUA e fantoches selecionados insistirem em lançar sanções econômicas por causa do referendo da Crimeia,“nós tomaremos também medidas de retaliação”. E falava das negociações do P5+1 sobre o dossiê nuclear iraniano.
Em “Three Reasons Why Russia Won't Wreck the Iran Nuclear Negotiations” [Três razões pelas quais a Rússia não arruinará as negociações nucleares iranianas], 25/3/2014, Suzanne Maloney, Brookings, em http://www.brookings.edu/blogs/iran-at-saban/posts/2014/03/22-russia-us-tension-sabotage-iran-nuclear-deal (ing.)], lê-se uma exposição bem acurada de o que o establishment norte-americano pensa sobre o papel da Rússia naquelas negociações.
É verdade que a revelação, em 2009, de uma instalação iraniana secreta, subterrânea, de enriquecimento de urânio não agradou a Moscou – a qual, em resposta, cancelou a venda do sistema S-300 de defesa aérea a Teerã.
Mas mais crucial é o fato de que Moscou quer que o dossiê nuclear iraniano permaneça sob o guarda-chuva do Conselho de Segurança da ONU – onde a Rússia pode exercer seu poder de veto; qualquer solução terá de ser multilateral, não engendrada por neoconservadores psicótico(a)s.
Facções políticas conflitantes no Irã talvez ainda duvidem do comprometimento de Moscou a favor de alguma solução justa – considerando que Moscou não fez grande coisa para aliviar o terrível pacote de sanções. E, sim, Rússia e Irã são concorrentes, como exportadores de energia – e sanções que castiguem o Irã são presentes para a Rússia (50% menos petróleo iraniano foi exportado desde 2011, e o país não se qualifica como grande exportador de gás natural).
Mas se o frenesi das sanções dos EUA engolfar também a Rússia, haverá fogos no céu: Moscou acelerará a troca de mais de 500 mil barris/dia de cru iraniano em troca de a Rússia construir mais uma usina nuclear; haverá outros movimentos russos para detonar a parede de sanções ocidentais; e Moscou também pode decidir vender não só os sistemas de defesa S-300 mas os S-400 ou o futuro e ultra sofisticado sistema de defesa S-500, a Teerã.
É tempo de ataques forjados, sob bandeiras falsas
Há, finalmente, a Síria. Mais uma vez, os BRICS estão na vanguarda. O embaixador russo Vadim Lukov acertou o olho do alvo, quando disse que “Falando bem francamente, sem a posição dos BRICS, a Síria já estaria, há muito tempo, convertida em Líbia.”[3]
Os BRICS aprenderam a lição para o caso da Síria, quando permitiram, com as abstenções em votação na ONU, que se abrisse a via para o bombardeio humanitário da OTAN que destruiu a Líbia e converteu o país em estado arruinado. Subsequentemente, a diplomacia russa interveio, para salvar o governo Obama de bombardear a Síria por causa de uma estúpida, sem sentido, autoinfligida “linha vermelha” – com consequências potencialmente cataclísmicas.
Agora, o enredo novamente se adensa. O enviado da ONU e da Liga Árabe Lakhdar Brahimi anda dizendo que o reinício das conversas de paz de Genebra-2 está “fora de questão” por enquanto. Em briefing ao Conselho de Segurança da ONU no início de março, Brahimi culpou o governo sírio pela interrupção.
É completo absurdo. As incontáveis facções de oposição na Síria, todas oportunistas, jamais quiseram, nunca, qualquer negociação; só queriam mudança de regime. Para nem falar da nuvem de jihadistas – as quais, até recentemente, vinham criando fatos em campo com armas fornecidas a todas elas pelos petrodólares do Golfo.
Agora, abundam os boatos de que o governo Obama estaria pronto para ‘isolar’ a Rússia – e por extensão os BRICS – também no caso da Síria.
O governo Obama, servindo-se dos proverbiais ‘funcionários’ não identificados, anda distribuindo ‘relatos’ de desinformação[4] sobre ataques de jihadistas contra interesses ocidentais, partidos do norte e do nordeste da Síria. Pode ser o prelúdio para um perfeito ataque de ‘terceiros’, apresentado sob bandeira falsa, a ser usado como pretexto para ‘justificar’ uma intervenção ocidental – atropelando, obviamente, a ONU. Os doidos pró-guerra nunca pararam de sonhar com a tal zona de exclusão aérea sobre a Síria.
Esse cenário articula-se claramente com o escândalo em curso no governo Erdogan na Turquia: o que todos vimos por YouTube[5] é exatamente uma conversa no plano da segurança regional, sobre como um membro da OTAN, a Turquia, poderia forjar um ataque, sob bandeira falsa, e atribuí-lo à Síria.
A conclusão é que a OTAN está longe de ter desistido da ‘mudança de regime’ na Síria. Há notáveis simetrias em tudo isso. Putsch na Ucrânia. Ataque forjado na Síria. Ataque da OTAN à Síria? Ataque russo no leste da Ucrânia. Pode não ser tão delirante quanto parece. Daí que... abriram-se as apostas.
Todo o Novo Grande Jogo na Eurásia está sendo de tal modo distorcido, que agora temos Obama, o especialista em Direito Constitucional, a legitimar a invasão e a ocupação do Iraque (“os EUA procuramos trabalhar dentro do sistema internacional, não reivindicamos nem anexamos território iraquiano”[6]) e os doidos fazedores-de-guerra na Think-tankelândia norte-americana a pregar embargo de petróleo contra a Rússia, como para o Irã, com Washington a usar seus fantoches sauditas para completar o serviço.
Depois de dar aulas aos europeus, em Haia e Bruxelas, sobre os desígnios “maléficos” dos russos, e desfilar em Roma feito neo-Cesar, Obama encerra seu tour triunfal precisamente lá, em sua satrapia saudita. Temos de nos preparar para uma imunda caixa de docinhos que vem por aí. ******
[1] 25/3/2014, Pepe Escobar, “A Ásia não ‘isolará’ a Rússia”, Asia Times Online, traduzido em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/03/pepe-escobar-asia-nao-isolara-russia.html
[2] 28/3/2014, Pepe Escobar, “Por que a União Europeia não pode ‘isolar’ a Rússia”, Asia Times Online, traduzido em http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/03/pepe-escobar-por-que-uniao-europeia-nao.html
[3] http://voiceofrussia.com/2014_02_26/BRICS-is-priority-for-Russian-foreign-policy-and-way-to-shape-
multipolar-world-Russias-diplomat-5870/
[4] http://www.nytimes.com/2014/03/26/world/middleeast/qaeda-militants-seek-syria-base-us-officials-
say.html?_r=2&gwh=652320DB83B249B2623A03E8CFD84D42&gwt=regi&assetType=nyt_now
[5] Sobre esse vazamento, ver 28/3/2014, “Erdogan usa a al-Qaeda para encobrir sua invasão à Síria. Vazamentos (tudo traduzido! É nóiz!)” em redecastorphoto
(http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/03/erdogan-usa-al-qaeda-para-encobrir-sua.html ): e em Oriente Mídia, “Turquia usa Al-Qaeda para justificar guerra contra a Síria”, em Oriente Mídia, em http://www.orientemidia.org/vazamentos-turquia-usa-al-qaeda-para-justificar-guerra-contra-a-siria/ ) [NTs].
[6] Em Bruxelas, anteontem (em http://www.whitehouse.gov/the-press-
office/2014/03/26/remarks-president-address-european-youth) [NTs].

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