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quinta-feira, 13 de março de 2014

Vereador de Antônio Prado pede exoneração de assessora de imprensa por ela não acreditar em Deus


Renata Ghigghi protagonizou episódios como a retirada de um crucifixo do plenário da Casa

Vereador de Antônio Prado pede exoneração de assessora de imprensa por ela não acreditar em Deus Diogo Sallaberry/Agência RBS
O vereador Alex Dotti (PMDB) pediu a exoneração da assessora de imprensa da Casa, Renata Helena Ghiggi Foto: Diogo Sallaberry / Agência RBS

Camila Boff e Rodrigo Chernhak, especial
Uma polêmica que veio à tona nesta segunda-feira agita o cenário político de Antônio Prado. Na primeira sessão ordinária da Câmara de Vereadores, em 4 de fevereiro 2014, o vereador Alex Dotti (PMDB) pediu a exoneração da assessora de imprensa da Casa, Renata Helena Ghiggi, 33 anos, por ela se declarar ateia. O pedido foi negado pela Mesa Diretora, mas a polêmica se armou.

De acordo com a ata 729/2014, Dotti declarou na sessão que "numa cidade onde todos nós fomos eleitos com mais de 98% dos votos, a maioria tem uma religião e acredita em Deus, eu acredito que não pega bem e acho que é muito errado pronunciar-se contra Deus. (...) Eu peço a exoneração da Assessora de Imprensa e a troca urgente, porque a Câmara de Vereadores e a cidade de Antônio Prado é uma cidade de fé".

O episódio ganhou repercussão nacional e foi parar em diversos blogs da Internet e alimentou intensas discussões nas redes sociais. Tudo começou no final de 2013, quando a assessora decidiu retirar o crucifixo existente no plenário da Câmara por entender que o Estado é laico e precisa ser dissociado de qualquer religião. Mais recentemente, em 23 janeiro, Renata realizou uma postagem em seu perfil no Facebook que suscitou outra discussão acalorada.

— Coloquei um questionamento porque vi um apresentador dizendo que Deus salvou fulaninho do acidente, aí eu questionei por que Deus não evitou todo o acidente? Pessoas do meu círculo de amizade, católicos e gente de outra religião começaram um debate de superalto nível, pessoas com conhecimento do que estavam falando. Eis que o vereador entrou rachando na discussão, baixou o nível, ofendeu meus amigos, minha irmã que é católica, xingou alguns, mostrou os seus preconceitos — conta Renata.

Renata é formada em Relações Públicas pela UFRGS e se disse surpresa com as declarações de Dotti no plenário. De família inteiramente católica, revela que foi na catequese onde decidiu ser ateia — justamente em um lugar voltado à educação dos jovens cristãos — por não concordar com os dogmas da Igreja Católica. Porém, garante nunca ter sofrido grandes preconceitos e se mostra uma pessoa esclarecida tendo, inclusive, organizado missas quando trabalhava em um hospital.

— Aprendi que tinha que rezar para Deus não me castigar, aprendi que tinha que fazer as coisas certas porque senão Deus não ia me recompensar. Com 12, 13 anos, comecei a me questionar, buscar conhecer outras religiões. No fim das contas, não concordava com nenhuma. Não acredito em Deus, realmente, não sou agnóstica, não tenho dúvidas — salienta.

A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) ingressou com uma manifestação no Ministério Público por crime de discriminação religiosa. O vereador Alex Dotti alega que se sentiu vítima de preconceito, no momento em que Renata retirou o símbolo do plenário.

— Mantenho meu posicionamento, porque acho que ela me ofendeu e eu não ofendi em nada ela — disse.

O vereador alega que seu pronunciamento foi motivado pela indignação das pessoas de Antônio Prado que se manifestaram através de redes sociais, telefonemas e na rua, perguntando quem mandava na Câmara de Vereadores, se era a assessora ou eram os vereadores. Segundo Dotti, o posicionamento também foi para defender o que determina o regimento interno da Casa, no que diz respeito à invocação de Deus no início e no fim sessões ordinárias.

O presidente da Câmara de Antônio Prado, Valdicir Viali (PTB), disse que a Mesa Diretora repudia qualquer ato de preconceito. E garante que a assessora vai ser mantida no cargo, porque não há reclamações quanto ao trabalho dela. Viali chegou a cogitar acionar a Comissão de Ética, para avaliar as declarações de Dotti.

— Não deveria nem acontecer esse tipo de situação. Briga por religião, cor de pele, no século em que nós vivemos — complementa o presidente, que foi quem indicou Renata para o cargo.  

Fonte: Jornal Zero Hora

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