Translate

sábado, 31 de maio de 2014

Lições da NEP soviética para «Economia Socialista de Mercado» da China Popular


por Thomas Kenny**
Autores marxistas ocidentais de vários pontos de vista asseveram que a Nova Política Econômica (NEP) prenunciou a Economia Socialista de Mercado (ESM). Um autor observou: «A ordem social que atualmente se considera válida na China apresenta-se como uma espécie de NEP gigantesca e expandida», (Losurdo, 2000, 498). De forma semelhante, um panfleto recente dos comunistas britânicos comparou a China dos dias de hoje, com a sua economia socialista de mercado, à NEP da Rússia Soviética na década de 1920. «Em defesa da NEP, Lênin elaborou muitos dos mesmos pontos que Deng Xiaoping e representantes do Partido Comunista Chinês elaboram hoje (...) Naturalmente, a China no último quartel do século XX não era a Rússia no primeiro quartel. Mas as suas crises apresentam sintomas semelhantes. E os seus remédios assemelham-se fortemente uns com os outros» (China's Line of March 2006, 32).1
Este meu documento partilha a visão de que a NEP é de fato uma precursora da ESM. Chego à conclusão, no entanto, não de que a NEP tenha sido um êxito, o precursor abortado da ESM, mas ao contrário de que a NEP conta-nos antecipadamente as contradições e limites da ESM.2
*www.resistir.info/varios/socialismo_de_mercado.html
**Autor de O Socialismo Traído, Por Trás do Colapso da URSS, Roger Keeren e Thomas kenny, Edições «Avante!», 2008.
1Da mesma forma, um acadêmico norte-americano, AIbert L. Sargis, escreve na revista teórica e de discussão do CPUSA, que a NEP foi «uma economia socialista de mercado em forma embrionária» (Sargis 2004).
2A comparação de experiências revolucionárias tão remotas no espaço e no tempo como a NEP da Rússia e a ESM da China é certamente apropriada. Exemplo: a Comuna de Paris de 1871 e a Revolução de Outubro de 1917 tiveram lugar em circunstâncias totalmente diferentes. Mas a partir da Comuna, Marx fez importantes generalizações teóricas acerca da natureza do poder de Estado e das exigências da transformação revolucionária aplicáveis noutros lugares. Em 1917 Lênin testou-as na prática. Uma abordagem científica da história exige uma pesquisa de tais padrões. «Uma característica fundamental da historiografia antimarxista é a absolutização do particular, do que é nacionalmente específico (...) Pois os antimarxistas temem generalizações (...) eles evitam cuidadosamente conceitos que possam sugerir regularidades no desenvolvimento da sociedade». (E. Júkov, Methodology of History, Moscow: USSR Academy of Sciences, 1983, 56). É o caso do «excepcionalismo americano», um erro ideológico recorrente no movimento da esquerda dos EUA. O «excepcionalismo chinês» é um desvio nacionalista na esfera da teoria.
3Xue parece pensar que o apoio anterior a 1949 dos camponeses chineses à revolução – tornando desnecessária qualquer NEP pós-revolucionária para restaurar a aliança dos operários com o campesinato – torna a China diferente da Rússia (Xue Mukiao, 1981, 3). Xue asseverou: «Ele [Lênin] avançou com a NEP numa tentativa de controlar a pequena economia camponesa através do mercado mediante o desenvolvimento do comércio estatal e cooperativo (...) A situação na China era diferente». Xue continua este raciocínio, afirmando que a Revolução Chinesa já havia desenvolvido «cooperativas de abastecimento e comercialização» em zonas libertadas antes de 1949, separando politicamente os camponeses do latifundismo e ganhando-os para a revolução. A inexistência da necessidade na China de se perseguir o objetivo político da NEP – reconquistar o apoio político do campesinato – é um fraco argumento para demonstrar a não semelhança entre a NEP e a ESM. No entanto, indiretamente e talvez involuntariamente, Xue admite que a NEP foi adotada em condições de necessidade genuína e que a ESM não era necessária no mesmo sentido estrito. A visão de Xue é uma posição mistificadora para um acadêmico chinês. É bem sabido que Deng Xiaoping se mostrou profundamente interessado em aprender tudo o que podia acerca da NEP através do industrial dos EUA, Armand Hammer, que a conheceu em primeira-mão (http://www.reference.com/browse/wiki/Deng_ Xiaoping). Possivelmente, muitas décadas de anti-sovietismo no discurso político chinês desencorajam comparações sino-soviéticas. A doutrina da «etapa primária do socialismo» ligada a uma teoria sobre 1989-91 oferece poucos incentivos para tais comparações, já que, para os Estados socialistas do Leste Europeu e a União Soviética tudo correu mal e a história pronunciou o seu veredicto. Um eminente pensador chinês escreveu que os Estados que caíram já não tinham nada de socialistas (ver Zhongkiao Duan, 1998, 224). Desde que isto aconteceu, houve tantas guinadas na política econômica da China Popular que o período inicial, isto é, o período de 1949-56, é muito mais semelhante à NEP do que a própria ESM (Slakovsky 1972, 153).

4Obviamente, existem diferenças entre a NEP e a ESM. Primeiro, decorrem em diferentes circunstâncias históricas. A Rússia pré-1914 era um país capitalista de desenvolvimento médio, que foi arruinado pela I Guerra Mundial, pela intervenção estrangeira e pela guerra civil. No início da NEP, o governo de Lênin estava em perigo de perder o apoio do campesinato. Em 1949, a China era um país semi-feudal e semi-colonial; em 1978 a China havia perdido anos preciosos de desenvolvimento devido a políticas precipitadas, ultra-esquerdistas, aventureiras. Segundo, a ESM perdurou muito mais tempo. Certamente que a sensibilidade da China Popular ao perigo da perda de soberania nacional é um fator na paciência com que tanto as autoridades como o povo têm suportado as agudas contradições da ESM (ver Weil, 1996, 83). Além disso, a paciência chinesa é compreensível; arrancar da pobreza 400 milhões de chineses entre 1990 e 2003, segundo dados da OMC, é um feito estupendo

NEP e ESM: essencialmente o mesmo
Ironicamente, podem-se encontrar eminentes economistas chineses a negarem a conexão entre a NEP e a ESM ou, pelo menos, relutantes em afirmá-la. Um destacado economista chinês pró-mercado, o falecido Xue Mukiao, enfatizou a dissemelhança entre a NEP e a ESM.3 Tal dissociação é pouco convincente. A NEP é semelhante à ESM em todos os aspectos chave. Na finalidade e no conteúdo de classe a NEP e a ESM são idênticas: aumentar a riqueza da classe trabalhadora, do Estado socialista, através de uma política que necessita do crescimento de novas classes que são objetivamente hostis à construção socialista. As suas principais políticas são idênticas. Ambas promovem mecanismos de mercado, a propriedade privada, a concorrência, a integração na economia capitalista externa. Os seus resultados tiveram a mesma seqüência. Ambas, após o êxito inicial, entraram em crise porque eram auto-contraditórias. Em teoria, eram idênticas. Desenvolveram-se e realizaram a recuperação das forças produtivas recuando para relações capitalistas de produção historicamente ultrapassadas, discordantes dos objetivos socialistas de um Estado dos trabalhadores. Finalmente, as suas crises foram as mesmas, como veremos abaixo.4
Terceiro, as perspectivas são qualitativamente diferentes. Na Rússia, a NEP foi vista como um recuo temporário para o «capitalismo de Estado». A China Popular abraçou todas as novas doutrinas do desenvolvimento, alongando a transição para o socialismo. Quarto, a Rússia Soviética cercada tinha o mundo externo hostil a pouca distância, interagindo com ele meramente através de acordos de paz e acordos comerciais. O Estado soviético permaneceu em grande medida economicamente autônomo. Em contraste, a China procurou a integração impetuosa na economia capitalista mundial. Quinto, na Rússia da NEP, o Partido mantinha uma vigilância estrita sobre a economia. As autoridades em Pequim, talvez porque o fenômeno de uma grande crise só amadureceu mais tarde, até recentemente transferiam grande parte da supervisão da economia para organismos regionais e locais. Sexto, durante grande parte da época da ESM, de 1978 até 1991, o alvo principal da hostilidade, pressão e subversão imperialista era a URSS, não a China Popular.
5 No ocidente capitalista, a NEP é um «terreno contestado» numa recorrente batalha ideológica entre comunismo e reformismo. Até 1985, a NEP constituiu a época da história soviética em que foi dada mais liberdade ao capitalismo. Assim, naturalmente, os reformistas sociais, reformistas liberais e comunistas revisionistas idealizam a NEP, mitologizando-a saudosamente como «o caminho não seguido». Na batalha para mudar de direção em 1921, certas frases de Lênin – por exemplo, de que a NEP seria prosseguida «seriamente» e «por um longo período», forneceram aos oportunistas uma base documental para argumentar que o líder russo encarava a NEP como a nova rota permanente para o socialismo soviético. Já na década de 1930, o social-democrata austríaco Otto Bauer exprimiu a esperança de que a experiência da NEP poderia eventualmente suavizar o bolchevismo e conduzi-lo de volta à corrente principal do social-reformismo europeu. Em 1956, comunistas revisionistas húngaros, sob Imre Nagy, promoveram esta mesma imagem da NEP, tal como o fez mais tarde Ota Sik, conselheiro principal do revisionista checoslovaco Alexander Dubcek, em 1967-68
.
As bases da NEP
Recordemos o que foi a NEP. Em Março de 1921, após a rebelião do Kronstadt contra as políticas bolcheviques, o X Congresso do Partido Comunista Russo reuniu-se e ouviu Lênin argumentar em favor de um novo rumo na política soviética. Lênin argumentou a favor do que denominou «capitalismo de Estado», que deveria realizar-se nas seguintes formas: 1) joint-ventures com o estrangeiro e mesmo propriedade estrangeira de empresas («concessões»); 2) cooperativas baseadas nos princípios de mercado; 3) utilização de comerciantes capitalistas, bem como administradores econômicos e especialistas técnicos treinados em métodos capitalistas de gestão e organização; e 4) o arrendamento de empresas de propriedade estatal e de recursos naturais tanto a capitalistas estrangeiros como nacionais. As empresas estatais, que controlavam os «níveis de comando», eram auto-suficientes e operavam segundo o princípio dos lucros e perdas, abastecendo-se elas próprias dos seus ativos circulantes (Sargis, 2004).

Por que acabou a NEP?
A maior parte dos partidários do socialismo, incluindo este autor, encara a NEP sob uma luz positiva, como um expediente de curto prazo que teve êxito ao ajudar a Rússia revolucionária a sair de uma crise econômica. Lênin provou estar certo: depois de ter sido restaurado o livre comércio nos cereais, a NEP teve êxito imediato. Mas no fim da década de 1920, contudo, a NEP terminou porque estava a aprofundar a crise e não por causa dos poderes arbitrários e excessivos de Stálin, como é muitas vezes apregoado.5
3
O historiador Roi Medvédev, um apoiante de Gorbatchov, louvou a NEP como «a mais vital contribuição de Lênin para a teoria e a prática do movimento socialista». Analogamente, a antiga e influente conselheira de Gorbatchov, Tatiana Zaslávskaia, promoveu a NEP como o modelo das reformas a partir de 1986. O analista de assuntos soviéticos do The Nation, Stephen F. Cohen, declarou: «Dito de uma forma simples, o Partido Comunista Chinês reabilitou a alternativa econômica perdida com o stalinismo (...) a NEP, que estabeleceu uma economia mista, foi o primeiro experimento do socialismo de mercado». Nas suas memórias, Anatoli Cherniáev, um ajudante de topo de Gorbatchov, conta que depois de ter lido a biografia de Bukhárine, de Stephen F. Cohen, Gorbatchov – um bukharinista simplesmente inconsciente até então – decidiu reabilitar Bukhárine e adoptou-o como padrinho ideológico, por assim dizer, da perestróika. Alguns neo-bukharinistas dos dias de hoje, indo mais além do que o próprio Bukhárine ousou, fazem-se eco de economistas neoliberais tais como Ludwing von Mises e Friedrich Hayek, que argumentavam que apenas «mercados livres» permitem a formação racional do preço e a eficiência distributiva. Os mercados «livres», apregoam esses neo-bukharinistas, são superiores ao planejamento central pelo menos no presente estado da ciência.
6Um comunista italiano coloca o problema de modo claro: «A maior parte dos historiadores está bem consciente das contradições que acabaram por levar à crise da NEP no fim da década de 1920» (Boffa, 1982, 178). Primeiro, o mercado criou instabilidade, como por exemplo a crise das «tesouras» de 1922-23, na qual a acentuada flutuação dos preços dos cereais provocaram escassez alimentar e desemprego entre trabalhadores, prejudicando camponeses pobres e muitos camponeses médios, mas beneficiando camponeses ricos, isto é, kulaks. Segundo, os sovietes perceberam que as políticas da NEP condenavam a União Soviética a um período prolongado de atraso industrial, uma perspectiva inaceitável face aos boicotes e provável invasão por países ocidentais – sem mencionar o objectivo supremo de uma sociedade socialista próspera apenas possível na base da moderna indústria pesada. Terceiro, em 1927-28 a ideia de que os mecanismos de mercado, por si só, seriam suficientes para alimentar as cidades foi completamente destroçada quando, face à descida dos preços, os provocadores kulaks açambarcaram os cereais deixando as cidades confrontadas com a fome. A NEP também engendrou crescentes contradições políticas internas, como o crescimento de um nacionalismo pernicioso. Quando a situação internacional se agravou, as crises da NEP revelaram-se ingovernáveis.
7Os NEPmen eram comerciantes privados, uma nova burguesia que cresceu na época da NEP. (Ver Ball, 1987, 15-37).
Múltiplas crises levaram a liderança soviética a terminar a NEP.6
A NEP trouxe mais cereais para as cidades (isto é, aumentou as forças produtivas), através do aumento dos incentivos para os camponeses, especialmente camponeses ricos (kulaks), na base dos antigos incentivos embutidos nas velhas relações de produção. Mas estas mesmas relações de produção pré-revolucionárias restauradas pelos bolcheviques deram o poder aos kulaks de reter os cereais do mercado na esperança de obterem preços mais elevados.
Num dado momento, a NEP restaurou rapidamente a aliança operário-camponesa, mas fê-lo à custa do fortalecimento dos inimigos de classe internos – os kulaks e os NEPmen 7 – dando-lhes, objetivamente, especialmente aos últimos, uma capacidade crescente de determinar o ritmo da construção socialista. Portanto, no curto prazo, a NEP apaziguou o campo mas, a longo prazo, fortaleceu inevitavelmente as classes opostas à construção socialista. Além disso, alienou a classe social para a qual o sistema devia orientar-se, a classe trabalhadora.
O Estado soviético lutou arduamente para debelar as contradições, mas estas não podiam ser eliminadas e tenderam a agudizar-se ao longo do tempo. Aumentaram as praticas pró-capitalista na economia.
8 «Durante a NEP, a burocracia, os administradores, os técnicos e a intelligentsia – o corpo dirigente da nova sociedade – era predominantemente, quase exclusivamente, constituído por elementos estranhos ao regime» (Carr, 1958, 116). A obra em vários volumes de Carr, A History of Soviet Russia, talvez seja o relato mais pormenorizado da NEP disponível em inglês.
9Sobre a corrupção da NEP, ver Ball 1987, 63, 106, 114, 116, 171.
10 O Acordo Anglo-Soviético de Comércio, no princípio da época da NEP, estipulava que os soviéticos tinham de restringir a «propaganda hostil» contra a Grã-Bretanha (Carr 1953, 289).
11«Corrupção, poluição, confisco de terras, taxas e impostos arbitrários estão entre as principais causas de uma vaga de agitação social. Os tumultos tornaram-se uma constante na vida rural da China – mais de 200 “incidentes maciços de protesto" verificaram-se diariamente em 2004, indicam as estatísticas da polícia – minando os esforços do partido para assegurar a estabilidade social» (Kahn 2006).
O fortalecimento económico da pequena burguesia levou ao crescimento do nacionalismo pequeno-burguês, que assumiu duas formas: o chauvinismo grão-russo e o separatismo nacionalista nas antigas nações subjugadas (Lénine e Stáline, 1979; Stáline 1953, 243 - 44). Quanto mais o fim da NEP fosse adiado, maior seria o custo de uma viragem para o planeamento e a propriedade pública. Em 1928, a maior parte dos líderes soviéticos concluiu que ou os kulaks estrangulariam a revolução ou o Estado soviético teria de descobrir um meio de cortar o nó górdio. A solução determinava que: a) O socialismo podia ser construído num só país através da industrialização rápida. b) A industrialização rápida podia ser financiada com o aumento do rendimento da agricultura através das cooperativas agrícolas e da mecanização. c) Um confronto com os kulaks seria inevitável. d) O crescimento da indústria e da agricultura podia ser coordenado através do planeamento central (Keeran e Kenny, 2004, 18). desigualdades no campo e os desequilíbrios na indústria. Diminuíram as possibilidades de crescimento rápido da indústria pesada socialista. Formas de consciência social instigando a agitação e o retrocesso ideológico atingiram o interior do Partido e ameaçavam a sua unidade.8 A corrupção floresceu.9 Entre 1921-28, o imperialismo utilizou a NEP, no quadro das relações externas, para se ingerir nos assuntos soviéticos.10

O poder premonitório da NEP
Tal como a NEP, a ESM avançou e realizou a recuperação das forças produtivas através de um recuo para relações capitalistas de produção historicamente ultrapassadas, discordantes de outros objetivos socialistas a médio e longo prazo da China Popular. Se na verdade a NEP é a matriz da ESM, que fenômenos seria de esperar que ocorressem na China? Nós esperaríamos ver – e estamos a ver – o crescimento de forças de classe hostis dentro do país; corrupção no Partido; regressão ideológica; agitação social; desemprego; desigualdade crescente entre ricos e pobres; desigualdade entre regiões; privações e agitação no campo;11 condições gravosas para os imigrantes das zonas rurais em busca de trabalho nas cidades; abusos laborais, especialmente nas empresas controladas pelas corporações transnacionais (CTNs); distanciamento dos trabalhadores industriais e camponeses pobres em relação ao Partido; declínio dos serviços de saúde e educação (Hart-Landsberg and Burkett, 2004, 58-75).
Certas características especiais da ESM tornam a China Popular ainda mais vulnerável aos seus perigos do que a Rússia o foi durante a NEP. A inovação doutrinária da etapa primária de socialismo permitiu, até muito recentemente, uma atitude displicente em relação aos sinais de aviso.

12«A China encontra-se e permanecerá por um longo período de tempo na fase primária do socialismo, etapa histórica inevitável na modernização socialista de um país atrasado do ponto de vista econômico e cultural, que se prolongará por uma centena de anos» (Estatutos do Partido Comunista da China, parcialmente revistos no XVII Congresso Nacional do PCC e aprovados em 21 de Outubro de 2007, http://news.xinhuanet.com/english/2007-10/25/content_6944738.htm) [Link actualizado pelo editor da presente versão portuguesa].
13Um historiador econômico contemporâneo dos EUA, Robert C. Allen, afirma que o ritmo da industrialização do Primeiro e Segundo Planos Quinquenais atingiu um crescimento de 12,7 por cento ano (2003, 219). Esta é uma visão semelhante à do economista marxista Maurice Dobb, que cita economistas burgueses anti-soviéticos nos Estados Unidos, os quais calcularam taxas de crescimento da produção industrial soviética pelo menos de 14 por cento entre 1929 e 1937 (1968, 261-62).
A China tem uma integração muito mais plena na economia capitalista mundial, fato imposto por instituições tais como a Organização Mundial do Comércio (OMC). Desta integração resulta a facilidade de transmissão de choques econômicos externos. A China permanece dependente de uma ordem política e militar dirigida pelo imperialismo. A pressão imperialista para desregulamentar o sistema financeiro da China e, mais amplamente, para enfraquecer o controle do Estado sobre o conjunto da economia e «se abrir», persiste. Se a China procurar corrigir abusos laborais nas empresas propriedade das CTNs, estas ameaçarão reduzir ou suspender os investimentos no país.

Questões decorrentes para ESM da China
Se esta análise da NEP é correta, então colocam-se logicamente certas questões.
 A crise da ESM agravar-se-á forçosamente? A China conseguiu resultados extraordinários através do alargamento das relações capitalistas de produção, a mesma contradição que atormentou a NEP. Durante quanto mais tempo será a ESM sustentável? Para se por termo à NEP na União Soviética, em 1928-29, foi necessária uma luta demasiado sangrenta no campo, «uma terceira revolução», nas palavras de Bukhárine. Não será razoável pensar que a reversão do curso na China, se for adiada por «uma centena de anos»12, irá também exigir um preço demasiado alto? A nova doutrina da «etapa primária do socialismo», a estender-se quase infindavelmente no futuro, parece subestimar gravemente a velocidade da constituição de classes objetivamente hostis ao socialismo na China Popular.
 Quais são as prováveis conseqüências da ESM na esfera da ideologia? Nos meados da década de 1920 os líderes soviéticos notaram a ascensão do nacionalismo pequeno-burguês. Poderá alguém avaliar o impacto ideológico regressivo da descolectivização e do retorno à propriedade privada em milhões de camponeses chineses?
 Haverá um caminho de desenvolvimento para a China Popular que ofereça uma taxa de desenvolvimento das forças produtivas igual ou ainda mais rápida? No Primeiro Plano Quinquenal, quando a URSS superou a NEP, foram atingidas taxas anuais de crescimento industrial da ordem dos 13 por cento.13 Dado que a construção socialista significa ao mesmo tempo criar relações socialistas de produção e aumentar as forças produtivas, poderá fazer mais sentido aceitar um crescimento mais lento da produção se tal for exigido para dedicar mais atenção ao reforço da rede de segurança social e à recuperação do bem estar dos trabalhadores e camponeses? 

14Monopólios transnacionais de propriedade ocidental e japonesa controlam cada vez mais a economia chinesa. A sua parte nas vendas totais de produtos manufaturados na China passou de 2,3 por cento em 1990 para 31,3 por cento em 2000 (Hart-Landsberg and Burkett 2004).
15A Foreign Affairs é uma revista chave no debate da classe dominante dos EUA acerca de política externa. Num artigo na Foreign Affairs, Zheng Bijian escreveu com a maior ingenuidade que uma «ascensão pacífica» dependia dos anseios da potência em ascensão, não dos armamentos da potência hegemônica, os EUA, armada até os dentes com milhares de armas nucleares e com um cadastro medonho no seu emprego contra um povo asiático. Zheng escreve: «A China não seguirá o caminho da Alemanha que levou à I Guerra Mundial» e «a China ultrapassará diferenças ideológicas no seu empenho pela paz, desenvolvimento e cooperação». O artigo identifica o autor como um dos que «redigiu relatórios chave em cinco congressos nacionais do partido chinês e que ocupa postos elevados em organizações acadêmicas e do partido na China» (2005).
 Será totalmente inédito que fenômenos de crises inesperadas surjam na ESM fora do controle das autoridades de Pequim? A NEP foi cheia de surpresas. As relações capitalistas de produção na China são vastas. A integração do país no sistema capitalista está avançada. Muitos – incluindo a Wall Street (Kahn 2005; Barboza 2006b) — temem a emergência de um dos maiores males do capitalismo, uma crise cíclica de sobre produção ou, no jargão dos negócios, um crash após um longo boom. Os planejadores centrais em Pequim cederam muito poder à espontaneidade do mercado.14 Será que está posta em causa a capacidade do Estado de estabilizar uma economia estrepitosa e amortecer o impacto brutal de choques externos?
 Haverá algum realismo em supor que o imperialismo consentirá uma «ascensão pacífica da China»?15 A NEP restringiu as «concessões estrangeiras» e confinou o comércio externo praticamente às trocas de cereais por maquinaria pesada. O peso da China na economia mundial tem aumentado. Mas a história teve episódios sinistros. Porventura a Grã-Bretanha imperialista aquiesceu à «ascensão pacífica» da Alemanha em 1870-1914? Ou a América imperialista aquiesceu à «ascensão pacífica» da URSS em 1945-91? A história mostra-nos que a China Popular terá de lutar pelo seu sistema socialista, pela sua independência nacional e pela paz. O imperialismo é inimigo destes três objetivos.
 Se a ESM significa que a China continuará a pugnar pela sua integração num mundo política e economicamente dominado pelos EUA, como poderá este país socialista cumprir suas responsabilidades internacionalistas? Deverá a China procurar desenvolver-se atraindo investimentos estrangeiros e competindo no comércio exterior apenas na base dos salários baixos?16 Os interesses da classe trabalhadora da China não são os únicos que estão causa. Todos os amigos do socialismo chinês ficaram satisfeitos com os passos dados recentemente para melhorar os direitos laborais (Barboza 2006a). Quando a URSS alcançou milagres de produção nos primeiros dois Planos Quinquenais, revolucionários de todo o mundo ganharam ânimo. O prejuízo ideológico para o prestígio do socialismo provocado pela imagem da China – merecida ou não – como «fábrica do mundo com péssimas condições de trabalho» é grande.
16«Apesar de os custos horários totais dos trabalhadores industriais terem aumentado mais rapidamente na China do que nos Estados Unidos entre 2002 e 2004, a remuneração horária por trabalhador na China continuava a ser três por cento do nível dos Estados Unidos» (Lett and Banister 2006).

Conclusão
É de saudar que a liderança iniciada em 2002, perturbada por indicadores negativos, esteja a combater mais firmemente as conseqüências perniciosas da ESM. Este estudo, assim o espero, acrescenta argumentos, baseados na teoria e na história, aos esforços dos líderes chineses que desejam ir mais adiante nesta retificação. O movimento revolucionário mundial sofreu imensas perdas com a destruição do socialismo na Europa e na URSS quase no fim do século XX. O movimento ainda está a lutar para recuperar deste revés. Tremo ao pensar no desespero que dominará toda a humanidade progressista no século XXI se a subestimação dos perigos inerentes à «economia socialista de mercado» vier a causar danos irreparáveis às realizações revolucionárias da China Popular.

Bibliografia
Allen, Robert C. 2003. From Farm to Factory: A Reinterpretation of the Soviet Industrial Revolution. Princeton, Princeton Univ. Press.
Ball, Alan M. 1987. «Building Communism with Bourgeois Hands». Chap. 1 of Russia's Last Capitalists: The Nepmen», 1921–1929. Berkeley, Univ. of California Press.
Barboza, David. 2006a. China Drafts Law to Empower Unions and End Labor Abuses: Opposition Voiced by US and other Corporations. New York Times, 13 October.
2006b. Rare Look at China's Burdened Banks: Loan Risk Adviser Warns of Cover-Up. New York Times, 15 November 2006.
Boffa, Giuseppe. 1982. The Stalin Phenomenon. Ithaca: Cornell Univ. Press.
Carr, Edward Hallett 1953. «NEP in Foreign Policy». Chap. 27 in The Bolshevik Revolution, 1917–1923», vol. 3, Soviet Russia and the World. London: Macmillan.
1958. «Socialism in One Country», Vol. 1 of A History of Soviet Russia. London: Macmillan, 1958).
«China's Line of March». 2006. Conclusions and Prospects from a report of the Communist Party of Britain delegation to China. London: Communist Party of Britain.
Dobb, Maurice. 1968. Soviet Economic Development since 1917. New York, International Publishers.
Hart-Landsberg, Martin, and Paul Burkett. 2004. «China and Socialism: Market Reforms and Class Struggle». Special issue of Monthly Review (July-August).
Kahn, Joseph. 2005. «Investment Bubble Builds New China». New York Times, 23 March.
2006. «A Sharp Debate Opens in China over Ideologies». New York Times, 12 March.
Keeran, Roger, and Thomas Kenny. 2004. Socialism Betrayed: Behind the Collapse of the Soviet Union. New York: International Publishers.
Lenin, V. I., and J. V. Stalin. 1979. Selections from V. I. Lenin and J V. Stalin on the National and Colonial Question. Calcutta, Calcutta Book House.
Lett, Erin, and Judith Banister. 2006, «Labor Costs of Manufacturing Employees in China: An Update to 2003–2004». Monthly Labor Review (November): 40–45. U.S. Bureau of Labor Statistics.
Losurdo, Domenico. 2000. «Flight from History? The Communist Movement between Self-Criticism and Self-Contempt», Nature, Society, and Thought 13, no. 4:457–511.
Sargis, Al L. 2004. «The Socialist Market Economy: Unfinished Business». Political Affairs (January).
Slakovsky, M. I., ed. 1972. Leninism and Modern China's Problems. Moscow, Progress Publishers.
Stalin, J. V. 1953. «Report on National Factors in Party and State Affairs». 12 th Congress of Russian Communist Party, 23 April. In Works , 241–68. Moscow, Foreign Languages Publishing House.
Weil, Robert. 1996. «Red Cat, White Cat: China and the Contradictions of Market Socialism» New York, Monthly Review Press.
Xue Muqiao. 1981. China's Socialist Economy. Beijing, Foreign Languages Press.
Zheng Bijian. 2005. «China's “Peaceful Rise” to Great Power Status», Foreign Affairs 84, no. 5 (September–October): 18–24.
Zhongqiao Duan. 1998. «Critique of Market Superiority and Market Neutrality». Nature, Society, and Thought 11, no. 2:221–39.
 Para a História do Socialismo
www.hist-socialismo.net
Original em inglês publicado em Nature, Society, and Thought, vol. 20, no. 1, 2007
disponível em http://webusers.physics.umn.edu/~marquit/nst201a.pdf
Tradução portuguesa de www.resistir.info*, revisão e edição por CN, 26.11.2008


quarta-feira, 28 de maio de 2014

EUA: Obama pode impulsionar política de diálogo com Cuba

Escrito por Camila Carduz
miércoles, 28 de mayo de 2014
Havana, (Prensa Latina) A maioria dos estadunidenses são partidários agora da normalização das relações entre seu país e Cuba, segundo revelou uma recente sondagem solicitada pelo Atlantic Council, uma proeminente instituição de pesquisa de Washington.
A organização descreve os resultados como "um reflexo sem precedentes da mudança das atitudes norte-americanas com a ilha, que deixam para trás suposições de longa data" e são consideradas por comentaristas políticos como um possível passo do confronto em direção ao diálogo.

Essa pesquisa de opinião citada pela publicação The Havana Reporter foi amplamente comentada por influentes meios de imprensa estadunidenses, entre eles o The New York Times.

Os resultados do estudo, segundo esse jornal, também chegam quando há um sentimento crescente no estado da Flórida e em outras partes de que o isolamento econômico e político imposto fracassou ao não conseguir seus objetivos de afetar o governo de Havana.

A amostragem demonstrou que a maioria da população, tanto democratas como republicanos, está pronta para uma mudança, escreveram em uma introdução à pesquisa Peter Schechter e Jason Marczak, os dois principais executivos do Centro Latino-americano Adrienne Arsht do Atlantic Council, destacou o Times.

Mais de seis em cada 10 entrevistados nacionalmente desejam que a linha mude para que empresas norte-americanas façam negócios em Cuba e que se permita aos norte-americanos liberdade para viajar e gastar dinheiro lá sem restrições, indicou.

Em dezembro passado uma dúzia de importantes entidades estadunidenses, incluída a Câmara de Comércio, enviaram uma carta ao presidente, Barack Obama, na qual pediam o levantamento do bloqueio, que segundo as estimativas custava anualmente à economia nortenha mais de um bilhão 200 milhões de dólares ao ano.

Atualmente existe um movimento crescente da comunidade cubano-americana a favor de uma política de maiores intercâmbios com a ilha, quaisquer que sejam as razões e perspectivas pelas quais se defendam tais intercâmbios, no mais estrito respeito pela soberania de Cuba.

Um artigo do jornal mexicano La Jornada apontou que existe um coro surpreendente de figuras da política estadunidense para Cuba, incluídos senadores e empresários, entre outros, que destacam a necessidade de "uma nova canção na relação bilateral, o que gera especulação sobre se haverá um maior giro na estratégia de Washington".

Na segunda-feira 19 de maio, 44 destacados políticos, empresários e acadêmicos, assinaram uma carta aberta a Obama para que flexibilize sua política com o povo cubano.

Neste grupo se destacam John Negroponte, ex-diretor de Inteligência Nacional durante o governo de George W. Bush, e três ex-subsecretários de Estado para o Hemisfério Ocidental.

Um destes últimos sugeriu que ao Congresso deveria ser seriamente proposto levantar as sanções, ainda que pontuou que neste momento o objetivo da carta é não retardar mais a oportunidade que o presidente tem agora para modificar significativamente as relações entre Washington e Havana.

É opinião dos assinantes da carta que a lei dá ao chefe da Casa Branca uma significativa margem de autoridade discricional para implementá-la de forma flexível.

O acadêmico e cientista político cubano Jesús Arboleya, em um recente artigo no Progreso Semanal considerou que a última carta das personalidades estadunidenses a Obama representa "uma incomum demonstração de consenso no polarizado cenário político estadunidense" sobre uma mudança de direção com Cuba.

A carta constitui o reconhecimento, por parte de muitos dos que foram seus executores, do fracasso de uma estratégia que durante mais de meio século tem tratado de asfixiar Cuba economicamente e isolá-la no cenário político internacional, destacou.

Também é revelador o interesse do aspirante a governador da Flórida, Charlie Crist, sobre a necessidade de uma mudança, interesse que poderia estar sustentado no que representará para esse estado no plano econômico um novo direcionamento na posição da Casa Branca.

Por outro lado, destaca que na administração Obama existe um marcado interesse em cumprir as leis do bloqueio com o aumento de ações de perseguição a empresas e agências que mantenham algum tipo de vínculo com Cuba, inclusive aplicadas de forma extraterritorial pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro.

Por exemplo, em junho de 2012, o banco holandês ING foi sancionado com uma multa de 619 milhões de dólares por realizar, entre outras, transações em dólares com Cuba, através do sistema financeiro estadunidense, entre 2002 e 2007.

Segundo as autoridades cubanas, Washington sancionou unilateralmente ao banco ING por tramitar, em conjunto com suas subsidiárias na França, Bélgica, Holanda e Curação, operações financeiras e comerciais de entidades cubanas, proibidas pela criminosa política de bloqueio contra Cuba.

Outras empresas estrangeiras como a multinacional sueca Ericsson, especializada no campo das telecomunicações, teve que pagar uma multa de 1,75 milhões de dólares por consertar, através da sua filial no Panamá, equipamentos cubanos no valor de 320 mil dólares, nos Estados Unidos. O volume das multas e a perseguição pontual dos que contravierem as sanções unilaterais ilustram que a política de Washington contra a ilha, pese as pretendidas flexibilizações, foram intensificadas no atual governo.

Nesse sentido destaca também, a inclusão da ilha caribenha na lista de Estados que Promovem o Terrorismo Internacional, apesar da rejeição internacional e dentro dos Estados Unidos com relação à dita medida.

Porém, em vista do atual clima e dos indícios de que algo está em movimento, muitos se perguntam hoje Em que direção vai a bola e se será Obama capaz de fazer um gol histórico com relação a Cuba?

vc/lb/rcg /cc

*Chefe da redação da América do Norte da Prensa Latina

terça-feira, 27 de maio de 2014

Movimentos cobram Gilmar Mendes por ação de doações de campanhas


sexta-feira, 23 de maio de 2014

Líbia, em permanente queda livre



Leandro Albani:
Tradução: Valter Xéu
O país tinha as melhores condições de vida na África e agora está em uma crise terminal, onde os grupos armados disputa o poder a ferro e fogo. A Líbia vive em uma espiral de violência causada por interferência estrangeira e má gestão.
Vácuo de poder, confusão, crise institucional e política, profunda fragmentação na sociedade. Qual destas definições deve ser usado para descrever agora a Líbia? A verdade, é que apesar de poucas informações divulgadas sobre o país norte-Africano, é que o território líbio se assemelha a uma área em que os conflitos tribais e políticos aumentam dia a dia desde a derrubada sem julgamento e o assassinato de Muammar Al Kaddafi em 2011, após oito meses de bombardeio contínuo por forças da OTAN comandada pelo Ocidente.
Os grupos armados que transformaram a Líbia em um campo de batalha, e que os EUA e seus aliados forneceram armas e dinheiro e que foram mostrado ao mundo como "adversários" em busca da liberdade, agora encabeçam sangrentas lutas internas pelo poder que têm mais a ver com o negócio do petróleo do que o bem-estar da população.
Mercenários, radicais islâmicos, empresários, políticos transformaram e uma variedade de oportunistas tentando fazer pé em um território devastado, em que o número de mortes que ocorreram através dos bombardeios da OTAN e as operações realizadas pelos grupos violentos ainda não se sabe exatamente.
Um exemplo perfeito do que acontece na Líbia ocorreu na semana passada onde quase oitenta mortos foram contabilizados após dois ataques na cidade de Benghazi e Trípoli, a capital. O autodenominado Exército Nacional Líbio (ENL), liderado pelo ex-general Khalifa Haftar atacou em Benghazi sede de milícias islâmicas Brigada 17 de fevereiro e Ansar El Sharia. Haftar militar que desertou em 80 para os Estados Unidos, disse que as operações contaram com aviões de combate tentando libertar a Líbia da "praga islâmica”. No ataque, pelo menos 80 pessoas foram mortas e 150 ficaram feridas.
Haftar era um dos ex-militares que desde o exterior apoiou as ações violentas que terminaram com Gaddafi. É visto pela comunidade internacional como um agente da CIA, o ex-general organizou sua própria milícia, como indicado no livro "Manipulações africanas", publicado pelo Le Monde Diplomatique. Proveniente da tribo Farjani, tribo, Haftar retornou à Líbia em 2011 e foi classificado como o terceiro no comando das Forças Armadas. O ex-soldado caído em desgraça depois de que em fevereiro 2014 anunciou na televisão que o governo provisório havia sido dissolvido, algo negado pelo então primeiro-ministro, Ali Ziedan, que descreveu o anúncio como "ridículo".
Enquanto isso, no domingo (18), os grupos sob o comando de Haftar entraram com veículos blindados em Trípoli e atacaram o Congresso Geral, (Parlamento), órgão que governa de fato o país, devido à falta de consenso para manter os políticos eleitos como presidente e primeiro-ministro.
Após o ataque, o ENL anunciou que vai formar um conselho constitucional para elaborar uma nova constituição. Nesta situação, o primeiro-ministro demissionário Abdallah Al Thini, disse que o ataque foi repelido e a cidade está sob controle. Apesar destas declarações, ainda é desconhecido o paradeiro do presidente do Congresso, Abu Sahmain Nuri, que pode estar prisioneiro dos grupos que disputam o poder.
De acordo com o que a mídia noticiou ENL – “Exercito Nacional da Líbia” rejeitou a nomeação de Ahmed Maitiiq como primeiro-ministro, apoiado por legisladores da Irmandade Muçulmana. As tropas de Haftar também exigiram que o Parlamento cedesse o poder ao Conselho Constitucional, cujos membros até agora ninguém conhece.
Ainda no mesmo domingo, o ministro líbio da Justiça Saleh Al Mergani revelou que houve confrontos armados que deixaram vários mortos em Trípoli. Por sua vez, foram relatados ataques contra o Conselho Militar da Líbia, localizada a cerca de sete quilômetros do Congresso Geral.
Poucos dias antes dos ataques, o Gabinete do Procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) apresentou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas um relatório confirmando que existem milhares de pessoas presas na Líbia sem nenhum processo judicial. A maioria dos presos são seguidores e partidários de Gaddafi. Para isso, ele acrescentou que até agora nenhum membro da milícia ou do novo governo foi levado à justiça. O relatório também alertou que permanecem sem resposta alegações de crimes, tais como a limpeza étnica de pessoas de pele negra, cometidos na região de Misrata por grupos que derrubaram Kaddafi.
Em suma, a crise interna na Líbia, que aumenta com o passar do tempo, é coberta por um manto de silêncio e impunidade. Você tem que pedir aos Estados Unidos, Nações Unidas e aos países que promoveram a derrubada de Kaddafi, em que momento os líbios receberão a "democracia" e "liberdade" pela qual esta nação foi bombardeada e dizimada.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Venezuela: dois pesos e duas medidas dos meios de comunicação ocidentais

Veículos internacionais são incapazes de mostrar imparcialidade quando se trata de abordar a complexa realidade venezuelana
Venezuela leaders
Apesar de a violência mortífera que ataca o país desde fevereiro de 2014 ser resultado de ações da oposição, os meios de comunicação ocidentais insistem em acusar o governo democrático de Nicolás Maduro.

Desde 1998, a oposição venezuelana tem rejeitado os resultados das eleições democráticas, com uma exceção: reconheceu a legitimidade de sua vitória no referendo constitucional de 2 de dezembro de 2007, o qual ganhou com uma margem inferior a 1%. Assim, a direita se opôs resoluta aos governos de Hugo Chávez de 1999 a 2013 e ao de Nicolás Maduro desde abril de 2013. Utilizou todos os métodos para derrubá-los: golpe de Estado, assassinatos políticos, sabotagem petroleira, guerra econômica, convocações a revoltas e campanhas midiáticas de desprestígio.
Efe

Membros da PNB (Polícia Nacional Bolivariana) observam veículo da corporação incinerado por opositores em Caracas
Desde fevereiro de 2014, a Venezuela é vítima de uma violência mortífera que custou a vida de mais de 40 pessoas, entre elas 5 membros da guarda nacional e um promotor da República. Mais de 600 pessoas ficaram feridas, entre elas 150 policiais, e os danos materiais superam os 10 bilhões de dólares: ônibus queimados, estações de metrô saqueadas, uma universidade —a UNEFA — completamente destroçada pelas chamas, dezenas de toneladas de produtos alimentícios destinados aos supermercados públicos reduzidos a cinzas, edifícios públicos e sedes ministeriais saqueados, instalações elétricas sabotadas, centros médicos devastados, instituições eleitorais destruídas etc. 1
Frente a essa tentativa de desestabilização destinada a provocar uma ruptura da ordem constitucional, as autoridades venezuelanas deram uma resposta enérgica e começaram a prender vários líderes da oposição que fizeram apelos à insurreição ou promoveram atos de vandalismo, e quase mil pessoas envolvidas com a violência. 2 Como todo Estado de Direito e no estrito respeito às garantias constitucionais, a Justiça venezuelana julgou os acusados e lhes aplicou as sanções previstas no Código Penal para atos semelhantes. 3
Os meios de comunicação ocidentais denunciam atentados contra os direitos humanos. Ao mesmo tempo, omitem cuidadosamente os assassinatos que os manifestantes cometeram, as apreensões, por parte da polícia, de armas e explosivos entre esses grupos apresentados como pacíficos e as destruições de propriedades públicas e privadas. 4
De fato, a indignação midiática tem dois pesos e duas medidas e não se aplica de modo universal. Efetivamente, a imprensa observa um surpreendente silêncio quando os países ocidentais tomam medidas muito mais draconianas por distúrbios muito menos graves que os que atacam a Venezuela.
Timothy Krause (15/11/2011)

Idosa é detida pela polícia de Nova York em 2011, durante os protestos do Occupy Wall Street na cidade norte-americana
O caso da França é revelador. No dia 27de outubro de 2005, estouraram revoltas urbanas nos bairros populares de Paris e das grandes cidades do país, depois da morte acidental de dois adolescentes perseguidos pela polícia. A importância da violência — que não causou nenhum morte — era menor que a que atingiu a Venezuela nas últimas semanas.
Entretanto, a partir de 8 de novembro de 2005, o presidente Jacques Chirac decidiu declarar o estado de exceção em todo o país e instaurar um toque de recolher mediante o decreto 2005-1386, durante vários meses, aplicando assim a lei de 3 de abril de 1955 adotada durante… a guerra da Argélia. Essa lei, que não era utilizada desde 1961, suspende as garantias constitucionais e atenta gravemente contra as liberdade públicas já que permite “proibir o trânsito de pessoas”, “instituir zonas de proteção ou de segurança onde se regulamenta a permanência de pessoas” e declara “prisão domiciliar em uma circunscrição territorial para toda pessoa que resida na zona determinada pelo decreto”. 5
Da mesma maneira, “o ministro do Interior, para todo o território onde está instaurado o estado de exceção, e o prefeito da província, podem ordenar o fechamento provisório de salas de espetáculos, bares, restaurantes e locais de reunião de todo tipo nas zonas determinadas pelo decreto previsto no artigo 2. Podem também proibir, a título geral ou particular, as reuniões cuja natureza possa provocar ou alimentar a desordem.” 6
A lei de 3 de abril de 1955 confere “às autoridades administrativas apontadas no artigo 8 o poder de ordenar registros de domicílio dia e noite” e habilita “as mesmas autoridades a tomarem todas as medidas para assegurar o controle da imprensa, das publicações de toda índole, assim como dos programas de rádio, das projeções cinematográficas e das representações teatrais”. 7
Essa lei dá o poder à Justiça Militar de substituir a Justiça Civil. Assim, “pode autorizar a jurisdição militar a se encarregar de crimes, assim como dos delitos que lhe são conexos, que competem [normalmente] ao tribunal regional”, em detrimento da jurisdição de direito comum. 8
Para justificar semelhantes medidas que contrariam a Convenção Europeia de Direitos Humanos (CEDH), Paris evocou o artigo 15 da CEDH que autoriza “em caso de guerra ou de perigo público que ameace a vida da nação”, suspender as obrigações às quais a França tinha se comprometido. 9
Gabriel Vinicius de Moraes

Soldados da polícia militar atiram em direção de manifestantes na Avenida Paulista, em São Paulo, em 13 de junho
Em nenhum momento a Venezuela — atacada por uma violência mais severa que a de 2005 na França — instaurou o estado de exceção, nem suspendeu as garantias constitucionais, nem atentou contra as liberdades públicas, nem impôs a Justiça Militar em detrimento da Justiça Civil.
Um exemplo mais recente é também ilustrativo. Depois dos distúrbios que aconteceram na cidade de Amiens, no dia 14 de agosto de 2012 que causaram danos materiais (uma escola e vários edifícios públicos incendiados) e feriram 17 policiais, a Justiça francesa sancionou severamente os autores desses delitos. Seis pessoas foram condenadas a penas de um a cinco anos de prisão. 10 O tribunal de menores de Amiens, inclusive, condenou cinco adolescentes de 14 a 17 anos a penas de até 30 meses de prisão.11
Seria fácil multiplicar os exemplos. Quando a polícia de Nova York prendeu arbitrariamente mais de 700 manifestantes pacíficos, os quais foram vítimas de brutalidades por parte das forças da ordem, os meios de comunicação não acusaram o governo de Barack Obama de violar os direitos humanos. 12
Da mesma maneira, quando a polícia brasileira reprimiu violentamente os manifestantes pacíficos em São Paulo e prendeu 262 pessoas em um único dia, agredindo ao mesmo tempo vários jornalistas, os meios de comunicação, com razão, não colocaram em julgamento a legitimidade democrática da presidenta Dilma Roussef. 13
Os meios de comunicação ocidentais são incapazes de mostrar imparcialidade quando se trata de abordar a complexa realidade venezuelana. A imprensa se nega a cumprir seu dever, que consiste em difundir todos os fatos e zomba do Código de Ética Jornalística. Prefere defender uma agenda política bem precisa, a qual vai contra os princípios elementares da democracia e da vontade do povo venezuelano expressada múltiplas vezes nas urnas.
Salim Lamrani
Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos, Salim Lamrani é professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro se chama Cuba. Les médias face au défi de l’impartialité, Paris, Editions Estrella, 2013, com prólogo de Eduardo Galeano.
Contato: lamranisalim@yahoo.fr ; Salim.Lamrani@univ-reunion.fr
Página no Facebook: https://www.facebook.com/SalimLamraniOfficiel
1. Agencia Venezolana de Noticias, “Violencia derechista en Venezuela destruye 12 centros de atención médica y electoral”, 27 de março de 2014.
2. Salim Lamrani, “Se a oposição venezuelana fosse francesa… “, Opera Mundi, 11 de abril de 2014. (site consultado no dia 20 de maio de 2014).
3. EFE, “Lilian Tintori expone el caso de Leopoldo López ante autoridades españolas”, 18 de maio  de 2014.
4. Paulo A. Paranagua, « Leopoldo Lopez, prisonnier politique numéro un du président vénézuélien Maduro », Le Monde, 22 de abril de 2014. (site consultado no dia 20 de maio de 2014).
5. Loi n°55-385 du 3 avril 1955 relatif à l’état d’urgence. (site consultado no dia 20 de maio de 2014).
6. Ibid.
7. Ibid.
8. Ibid.
9. Convention européenne des droits de l’homme, article 15. (site consultado no dia 20 de maio de 2014). 10. Le Monde, « Emeutes d’Amiens : jusqu’à cinq ans de prison ferme pour les violences », 16 de maio de 2014. (site consultado no dia 20 de maio de 2014). 11. Le Monde, « Emeutes d’Amiens : jusqu’à 2 ans de prison ferme des mineurs », 13 de mayo de 2014. (site consultado no dia 20 de maio de 2014). 12. Sandro Pozzi, “La policía detiene a 700 indignados por ocupar el puente de Brooklyn”, El País, 2 de outubro de 2011. 13. María Martin, “Ativistas denunciam brutalidade policial durante o ato contra a Copa de São Paulo”, El País, 14 de febrero de 2014. (site consultado el 20 de mayo de 2014).

Acordo estratégico Moscou-Pequim: uma contraofensiva da frente oriental

A arte da guerra
Xi Jinping Poutine
Enquanto a OTAN convoca amanhã em Bruxelas os seus 28 ministros da defesa para a realização de uma força antirussa ao mesmo tempo em que ela intensifica o treinamento de militares e paramilitares de Kiev, o que inclue então os esquadrões que tentaram assassinar o secretário do Partido Comunista ucraniano, e a União Européia lança novas sanções contra a Rússia, a resposta vem não de Moscou, mas de Pequim. O presidente Vladimir Putin da Rússia inicia hoje a sua visita oficial a China, durante a qual se assinará cerca de uns trinta acordos bilaterais, dos quais o primeiro efeito será o de frustrar o plano de Washington, que tem em vista o “isolar a Rússia de Putin enfraquecendo seus elos econômicos e políticos com o mundo exterior”.
O abrangimento do acordo é estratégico. Um contrato no valor de 270 bilhões de dólares entre a companhia estatal russa Rosneft e a companhia chinesa “National Petroleum Company” estipula que a Rússia deverá fornecer a China, nos próximos 25 anos, mais de 700 milhões de toneladas de petróleo, enquanto um outro contrato estabelece que a companhia estatal russa Gazprom fornecerá a China, até 2018, 38 bilhões de metros cúbicos de gás por ano, ou seja, cerca de ¼  -um quarto- do que a Rússia fornece hoje a Europa. Tendo também em conta investimentos chineses previstos para 20 bilhões de dólares, os quais tem o seu foco na infraestrutura, Moscou está projetando para fornecer a China, a realização de um óleoduto entre a Sibéria oriental e o oceano Pacífico, ao lado de um gasoduto de 4 000  km. Pequim também está interessado em fazer investimentos na Criméia, e isso especialmente para a produção e exportação do gás natural liquefeito, a modernização da agricultura e a construção de um terminal para a cultura de cereais. Ao mesmo tempo, tanto Moscou como Pequim estão pensando em abandonar o dólar como moeda de intercâmbio na Ásia. Tem-se aqui também que a Rússia está em andamentos para um novo sistema de pagamentos, semelhante ao modelo chinês Union Pay, sistema esse que deverá ser usado em mais de 140 países, colocando-se assim no segundo lugar mundial, depois do sistema Visa.
A cooperação russo-chinesa não se limita ao campo econômico. O presidente Xi Jinping e o presidente Vladimir Putin, fontes diplomáticas anunciaram, irão fazer uma “declaração substancial” sobre a situação internacional. A convergência de seus interesses estratégicos será demonstrada com um exercício conjunto que a marinha da Rússia e da China farão no Mar Chinês Meridional, exatamente depois de nas Filipinas ter sido desenvolvido o grande exercício aero-naval dos Estados Unidos. Também está praticamente concluido o acordo militar no qual a Rússia fornecerá a Pequim o jato de caça de múltiplas funções, o Sukhoi Su-35, submarinos de classe Lada, e ainda os mais avançados sistemas de defesa missílica S-400.
Para sublinhar a convergência de interesses entre Moscou e Pequim, o presidente Putin também age na Conferência sobre as medidas de interação e reforçamento da confiança e lealdade na Ásia, CICA, que presidida por Xi Jinping se realiza em Changai, em 20-21 de maio, com a participação, entre outros, do primeiro ministro iraquiano Nouri al-Maliki, do presidente afegão Hamid Karzai e do presidente iraniano Hassan Rouhani. Essa é uma bofetada na cara dos Estados Unidos depois desse ter gasto nas guerras do Iraque e Afeganistão seis mil bilhões de dólares para ver agora a China economicamente presente nesses países. No Iraque a China compra cerca da metade do produto bruto, ou seja da matéria prima, e faz grandes investimentos na indústria petrolífera; no Afeganistão a China investe sobretudo no sector da mineração, depois dos geólogos do Pentágono terem descoberto ricas jazidas de litio, cobalto, ouro e outros metais. E, entende-se que, quanto ao ferir o Irã, aqui abre-se a possibilidaade do desenvolvimento do mesmo ao leste, enquanto a Rússia e a China invalidam de-facto o embargo feito pelos Estados Unidos, e a União Européia.
As coisas não vão melhor para os Estados Unidos na frente ocidental. O prospecto da administração de Obama quanto a uma possibilidade de reduzir de uns 25%, dentro de um decênio, o fornecimento do gás russo a Europa, para ser substituido pelo gás liquefeito natural fornecido pelos Estados Unidos, está se revelando como um bluff. Isso se confirma pelo fato de que não obstante as sanções anunciadas por Berlim, as companhias alemãs continuam a investir na indústria energética russa. A Rma Pipeline Equipment, produtora de válvulas para oleo-e-gasodutos, está fazendo a sua maior planta na região do Volga, na Rússia enquanto a companhia russa Gazprom já assinou  contratos, dos quais entre eles, um de 2 bilhões de euros com a italiana Saipem, Eni, para a realização do gasoduto South Stream-Torrente Sul, que desviando-se da Ucrânia, levará o gás russo através do Mar Negro até a Bulgária e depois a União Européia. Mesmo se os Estados Unidos sucedessem em bloquear essa “Torrente do Sul”, a Rússia continuaria a poder exportar esse gás a China. O caminho para a China já está agora aberto. Esse é através da “Torrente Leste”.
 Manlio Dinucci
Edição de terça-feira, 20 de maio de il manifesto
http://ilmanifesto.it/controffensiva-sul-fronte-orientale/
Tradução Anna Malm para Mondialisation.ca

terça-feira, 20 de maio de 2014

Estados Unidos incrementa pressões militares contra Rússia


Roberto García Hernández *
Havana (Prensa Latina) Estados Unidos realiza vários exercícios militares de grande envergadura na Europa e outras regiões, ao menos um deles com seus agrupamentos nucleares, como parte das pressões contra Rússia depois do agravamento da crise em Ucrânia.

O Comando Estratégico (CE) do Pentágono, cuja chefatura está em Offut, estado de Nebraska, leva a cabo desde 12 até 16 de maio as manobras Global Lightning 2014 (Relâmpago Global), com a participação de duas dezenas de bombardeiros estratégicos BÂ52 e BÂ2, capazes de portar armas atômicas.

De acordo com meios de imprensa estadunidenses, o resto dos componentes de suas unidades nucleares em toda a órbita cumprem algumas dinâmicas em interesse do evento.

"Este exercício proporciona oportunidades únicas para incorporar as tecnologias mais recentes em
apoio às missões de nossas forças com o fim de contra rastrear ameaças atuais e futuras ao Estados Unidos e nossos aliados", declarou o chefe do CE, almirante Cecil Haney.

Segundo o anúncio oficial, o objetivo é "demonstrar a flexibilidade e capacidade de resposta", ainda que o comando castrense esforça-se em declarar que as manobras não têm nenhuma relação com acontecimentos da "vida real".

No entanto, sua realização coincide com outras atividades similares de grande envergadura do Pentágono.

Outro anúncio oficial do Departamento de Defesa assinalou que em 15 de maio começariam em território europeu as manobras Combined Resolve II, (Resolução Combinada) com a participação de mais de quatro mil militares de 13 países, entre eles Rumania, Bulgária, Georgia e Lituânia.

O tenente coronel Carter Price, porta-voz das unidades de cavalaria com sede em Fort Hood, estado de Texas, que participam nas manobras, disse que "esta é uma forma de duplicar nossas capacidades na área com vista a reagir diante qualquer contingencia, quando seja necessário", em alusão à crise ucraniana.

Os exercícios Combined Resolve incluem ações com o uso de fogo real, o que complica a situação diante a possibilidade de qualquer incidente com as unidades russas que protegem as fronteiras terrestres e marítimas dessa nação euroasiática, opinam experientes.

Sua realização tem lugar em momentos em que "os aliados de Washington estão nervosos" frente à resposta do Kremlin ao golpe de estado em Ucrânia que derrocou o presidente Viktor Yanukóvich, e em particular após a adesão da Criméia a Rússia, assinala um artigo publicado em 12 de maio no diário Stars and Stripes. Como parte destas intenções de Washington para incrementar as pressões contra Rússia, as Forças de Operações Especiais (FOE) estadunidenses começaram um Treinamento de Intercâmbio Conjunto e Combinado (EICC), que durará ao menos até julho próximo, em cinco nações de Europa do Leste.

O EICC tem como objetivo reforçar as ações dos Boinas Verdes do Exército, os Seals da Marinha e outros elementos que integram ditas unidades elites do Pentágono.

Também, outros agrupamentos das FOE realizarão no final de maio o exercício Flaming Sword 2014 em Letônia, no que participarão sete nações e estará destinado a familiarizar as tropas com suas homólogas locais.

Unidades alocadas ao Comando Europeu das FOE (Soceur), com sede em Stuttgart, Alemanha, iniciaram em 7 de maio exercício Spring Storm em Estônia, como parte do plano para manter uma presença persistente na zona, assinala uma nota de imprensa do Pentágono.

Segundo um porta-voz de Soceur "sempre temos feito este tipo de exercícios, mas o que há de novo é que estas unidades agora estarão ali de forma ininterrupta" como resposta à posição da Rússia com respeito ao conflito em Ucrânia.

No final de abril passado, Estados Unidos enviou a Letônia, Lituânia e Estônia uns 600 para-quedistas da 173 Brigada Aerotransportada, com sede em Vincenza, Itália, para participar em exercícios bélicos.

O Pentágono despregou, também, 18 aviões caça FA16 na base de Lask, na Polônia desde Spangdahlem, Alemanha, com o objetivo de participar em manobras militares conjuntas e combinadas Baltops, no mar Báltico.

Nas últimas semanas, o comando militar estadunidense também enviou aviões de combate FA15 e aeronaves cisterna KCA135 para incrementar as missões de patrulha nas cercanias das fronteiras de nações de Europa Oriental com Rússia.

Desde finais de abril, o presidente de Estados Unidos, Barack Obama, enfrenta fortes pressões de grupos conservadores que exigem uma postura mais agressiva contra Moscou diante o agravamento da crise na Ucrânia.

Os republicanos no Congresso pedem ao presidente acione concretas para implementar a estratégia subversiva de Washington e seus aliados ocidentais em apoio às autoridades estabelecidas em Kiev, depois do golpe de estado de fevereiro.

Para a senadora republicana Kelly Ayotte, as medidas punitivas da Casa Branca contra Moscou, depois da adesão de Crimeia a Rússia, "resultam insuficientes" e não produzem os efeitos desejados.

Por sua vez, seu correligionário Luke Messer, membro do Comitê de Relações Exteriores da Câmera de Representantes, sugeriu que Washington deve ser preparado para enviar ajuda militar a Ucrânia, incluindo armas antitanques.

Os aliados europeus preferem não impor medidas punitivas de grande envergadura no plano financeiro, pois temem que Rússia interrompa o fluxo de gás natural a seus respectivos países ou que ditas represálias molestem aos empresários russos que vivem e gastam seus capitais em bancos europeus, assinala um artigo recente do diário The Hill.

O debate sobre a crise ucraniana também atinge o Pentágono, em particular ao chefe das tropas estadunidenses na Europa, general Philip Breedlove, que é partidário de elevar a níveis sem precedentes a presença militar no Velho Continente.

De acordo com um comentário do lugar digital The Daily Beast, a atitude do general rebate as expectativas de Obama e do secretário de Defesa, Charles Hagel, que preferem o envio limitado de tropas a esse teatro de operações.

A publicação dimensiona que alguns membros do Congresso, seus assessores e servidores públicos do Pentágono disseram que Breedlove propõe em um encontro com os legisladores, um intercâmbio mais extenso de informação de inteligência com o governo de Kiev a respeito dos planos e movimentos das forças armadas russas.

Em tanto, Hagel intensificou nas últimas semanas os contatos com seus aliados da Europa do Leste diante o que porta-vozes de seu despacho qualificaram como a "ameaça" da presença de tropas russas na fronteira este e sul de Ucrânia.

*Jornalista da redação estadunidense da Prensa Latina.