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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Os donos da mídia expuseram-se. E agora?



panfleto-veja
Ao romper, na campanha eleitoral, todos os limites do jornalismo, Veja expôs oligopólio da comunicação. Que fará governo, além do demorado processo judicial?

Por Venício A. de Lima, no Observatório da Imprensa
Conhecidos os resultados eleitorais, espera-se que, no seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff enfrenta a questão inadiável de um marco regulatório democrático para o setor de comunicações ou “da regulação econômica do setor” como ela mesma tem dito.
O grand finale do processo de construção de uma “linguagem do ódio” (ver “O que será feito do ódio e de sua linguagem?“) e da partidarização da cobertura jornalística – que vinha progressivamente se radicalizando ao longo de toda a campanha – confirmou os graves riscos para o processo eleitoral e, sobretudo, para a própria democracia, de um mercado oligopolizado que favorece a ação desmesurada e articulada de grupos privados de mídia na defesa de interesses inconfessáveis.
Refiro-me, por óbvio, à edição 2397 da revista Veja, do Grupo Abril, à sua circulação antecipada, à sua planejada repercussão em outros meios de comunicação e à sua utilização (capa reproduzida e distribuída como panfleto) no esforço derradeiro de cabos eleitorais do candidato Aécio Neves (ver aqui).
Liberdade de expressão?
A edição 2397, que não foge ao padrão rotineiro praticado pela Veja, abandona princípios elementares do que possa ser chamado de jornalismo, nos termos definidos historicamente pela própria indústria de comunicações.
Um bom exemplo poderia ser “a teoria da responsabilidade social da imprensa”, consagrada pela Hutchins Commission (Estados Unidos, 1947): “Propiciar relatos fiéis e exatos, separando notícias (reportagens objetivas) das opiniões (que deveriam ser restritas às páginas de opinião) e servir como fórum para intercâmbio de comentários e críticas, dando espaço para que pontos de vista contrários sejam publicados” (ver aqui).
Aparentemente Veja não se preocupa mais com sua credibilidade como produtora de notícias e cultiva de forma calculada um tipo de leitor cujas opiniões ela expressa e confirma. De qualquer maneira, em momentos críticos de um processo eleitoral seu poder de fazer circular “informações” no espaço público é inquestionavelmente ampliado por sua cumplicidade de interesses com outros oligopólios da grande mídia.
Acrescente-se que Veja sempre se ampara legalmente em artimanhas jurídicas de profissionais da advocacia e, muitas vezes, em decisões do próprio Poder Judiciário que tudo permite em nome da liberdade de expressão equacionada, sem mais, com a liberdade da imprensa.
Não foi o que aconteceu dessa vez.
A resposta do TSE
Ações judiciais impetradas pelo PT no TSE tentando diminuir as consequências daquilo que a candidata/presidente Dilma chamou de “terrorismo eleitoral” foram objeto de decisões imediatas e impediram que as consequências fossem ainda mais danosas – embora não houvesse mais tempo para “apagar” insinuações e denúncias publicadas sem qualquer comprovação às vésperas das eleições.
As decisões do TSE, claro, foram rotuladas de “censura” pelo Grupo Abril e unanimemente pelas entidades que representam os oligopólios de mídia – ANJ, Abert e Aner – assim como pelo candidato Aécio Neves, diretamente beneficiado.
De qualquer maneira, a reação pública imediata da candidata/presidente Dilma no horário gratuito de propaganda eleitoral e as decisões do TSE reacendem a esperança de que a regulação democrática do setor de comunicações receba a prioridade que merece no próximo governo.
Talvez a edição 2397 de Veja tenha involuntariamente sido a esperada gota d’água que faltava para que finalmente se regulamente e se cumpram as normas da Constituição de 1988 relativas à comunicação social – que, aliás, aguardam por isso há mais de um quarto de século.
Em especial, urge ser regulamentado e cumprido o parágrafo 5º do artigo 220 que reza: “Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio”.
A ver.

Venício A. Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e organizador/autor com Juarez Guimarães e Ana Paola Amorim de Em defesa de uma opinião pública democrática – conceitos, entraves e desafios (Paulus, 2014), entre outros livros

Europa: por que cresce o separatismo


A young boy holding an Independentist Ca
O que leva catalães (e levou muitos escoceses) a desejar independência não é ódio à Espanha ou Grã-Bretanha — mas desespero por escapar das políticas ultra-capitalistas contra direitos sociais 

Por Paul Mason
Há algumas semanas, o parlamento catalão tornou ilegal a homofobia, impondo penas para crimes e discursos de ódio contra gays e lésbicas. Os Membros do Parlamento na Câmara Regional explodiram em aplausos – mas era mais que uma celebração: o alvo do barulho eram os políticos conservadores que governam Madri.
Esse foi o mais recente gesto de Barcelona contra o governo central da Espanha, mas não o maior. Este virá no domingo de 9 de novembro, quando o governo da Catalunha pretende organizar uma consulta a respeito da independência. Embora o Supremo Tribunal da Espanha tenha suspendido as preparações para a votação e o governo espanhol diga que ela é ilegal, os preparativos não oficiais prosseguem em toda a Catalunha.
Assim como na Escócia, agora se trata de mais do que nacionalismo: os movimentos de independência de pequenos países estão sendo alimentados pelo fracasso dos grandes Estados em resolver a crise econômica. Nos países onde as políticas nacionais estão travadas por severos consensos de austeridade – e onde os velhos partidos socialistas parecem sem rumo –, é racional que a resistência corra pelas vias do separatismo e da autonomia.
Se você projetar uma visão de 50 anos para o capitalismo, como a OCDE fez em julho, verá um roteiro desastroso para os países desenvolvidos, mais ou menos assim: suas populações envelhecem, colocando um peso imenso nos gastos públicos; a desigualdade cresce, levando a uma erosão na base tributária; enfim, eles vão à falência, provavelmente encarando uma crise de suprimento de energia no caminho. Aqueles que não quebram transformam-se em lugares feios, pobres e intolerantes.
Existem duas estratégias que poderiam compensar isso, mas os países em crise vão achá-las difíceis de praticar. Primeiro, segundo a OCDE e muitos macroeconomistas imparciais, é necessário receber uma imigração massiva para rebalancear a população entre contribuintes e usuários dos serviços. Depois, é necessário elevado crescimento na produtividade, o que provavelmente significa um programa de inovação dirigido pelo Estado, que idealmente resolveria a questão da energia ao longo do caminho.


Uma vez que os problemas de longo prazo do capitalismo estão postos cruamente, a lógica econômica para a separação de pequenos países se torna mais clara. Não é apenas que os países grandes são pesados, difíceis de manejar. Velhos países desenvolvidos como a Grã-Bretanha e a Espanha têm elites políticas alinhadas com interesses econômicos que não favorecem a inovação financiada pelo Estado, alta imigração ou energia sustentável.
Nesse contexto, se a população de um pequeno país dentro de uma entidade maior suspeita que vai ser a perpétua perdedora em um período de cinquenta anos de austeridade, é lógico para ela buscar a independência. Tanto na Escócia quanto na Catalunha, pude sentir a convicção de que, se o futuro efetivamente envolve a recepção de imigração, eles seriam mais felizes gerenciando isso em um país pequeno com alta coesão social do que em um grande que é uma bagunça.
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Mas no eventual rompimento entre Madri e Barcelona que se aproxima existem diferenças cruciais em relação à Escócia. Diferente da Escócia, a Catalunha é um grande contribuinte líquido de impostos para o centro: em um ano médio, 8% do PIB da região flui em impostos para o resto da Espanha, custando estimadamente 2.055 € a cada catalão em 2011 (o governo central não publica regularmente os valores). Agora em um movimento descrito como “incendiário” pela mídia nacional, o orçamento nacional da Espanha para 2015 destinou à Catalunha a menor parcela de investimento público em 17 anos.
Então, se a separação tornar-se uma realidade, nem o Banco Central Europeu nem o tesouro espanhol teriam muita influência fiscal sobre Barcelona. Em todo caso, o partido nacionalista catalão no poder, o CiU, de centro-direita, fez grandes cortes de gastos desde a crise de 2008. Os catalães declaram-se “a Alemanha da Espanha” e estão confiantes de que o novo país poderia se bancar.
A segunda grande diferença é a esquerda. Os radicais de esquerda da Escócia tiveram grande impacto na campanha do referendo, mas a sua presença em Holyrood – o parlamento escocês – consiste em apenas dois membros do Partido Verde. A esquerda catalã é muito maior e está em alta.
Em 2012, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) surgiu nas eleições para o parlamento regional, tornando-se o segundo maior partido, com 13%. Desde maio, todas as pesquisas de opinião colocam o partido com algo em torno de 23%, a caminho de ganhar a próxima eleição. A ERC já governou a Catalunha no período que precedeu a Guerra Civil Espanhola e – apesar de suas políticas serem basicamente de uma esquerda social-democrata – está pressionando por um confronto com Madri, ao organizar o referendo usando o serviço civil regional, mesmo que isso tenha sido declarado ilegal.
A esquerda foi impulsionada não somente pelos anos de crise econômica, mas por um escândalo de corrupção que atingiu a CiU. Jordi Pujol, político veterano da CiU, admitiu manter uma vasta fortuna em contas no exterior não declaradas. Ainda que ele negue que esse dinheiro tenha sido obtido de forma corrupta, é isto o que alega Madri e, de qualquer forma, trata-se de evasão fiscal. Enquanto isso, dois de seus filhos – um dos quais acaba de renunciar a um cargo importante na atual liderança do partido – também estão enfrentando investigações relacionadas a contas bancárias no exterior.
Embora não haja certezas e os Pujol afirmem que é tudo armação de Madri, entre as massas mais aguerridas da Catalunha o caso levou mais separatistas para a ERC.
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O referendo – caso aconteça – será consultivo, sem efeito mandatório. Além disso, há duas perguntas: “você quer ser um estado” e “você quer ser independente”? Então existe uma boa quantidade de teatro político acontecendo aqui. Mas, quando se adiciona um ingrediente de esquerda-direita numa crise constitucional na Espanha, os riscos de conflitos sociais reais aumentam.
A Escócia e a Catalunha são as birutas que indicam a direção de ventos que sopram em toda a Europa. Na próxima quinta-feira, teremos os mais recentes dados de crescimento da Zona do Euro, que provavelmente mostrarão ainda outro trimestre de estagnação ou crescimento lento. Os economistas vão ralhar com Bruxelas e o BCE por falharem em fazer a Europa mais como a Inglaterra e os EUA. Mas o impulso político contra a reforma de livre mercado está crescendo.
Na França, temos a extrema-direita com 25%. Na Alemanha, mês passado, o partido anti-euro Aliança pela Alemanha (AfD) dobrou seus dígitos em duas eleições regionais. O governo grego – o canário na mina de carvão da crise como um todo, que cairia primeiro alertando para o risco de uma derrocada geral – está lutando para terminar seu mandato, enquanto o maior partido marxista europeu espera na coxia, tendo ganhado as eleições europeias de lá e tomado controle da maior região administrativa.
Existem agora na Europa grandes forças que rejeitam o status quo. Se os políticos da situação controlam todas as forças, isso simplesmente significa que a oposição vai seguir surgindo de formas imprevisíveis, com alguns nacionalismos se tornando de esquerda e alguns partidos de extrema direita propagandeando o estado de bem-estar social.
Com um mercado de títulos globalizado, apenas alguns países enormes têm real controle sobre suas políticas de arrecadação e gastos. Mas a sedução da secessão, de estratégias de saída do euro ou mesmo da UE, continua forte, pela seguinte razão.
Para o mundo desenvolvido readquirir seu dinamismo, algo drástico precisa acontecer. Se acreditarmos na OECD e em outros eminentes comentaristas, então mudanças de mentalidade radicais sobre investimentos, migração, oferta de serviços públicos e inovação precisam acontecer.
Na Catalunha e na Escócia, grandes parcelas da população prefeririam gerenciar essa situação livres de um Estado central no qual elas não confiam mais.

Fonte: OUTRASPALAVRAS

A questão do Estado operário no marxismo





O texto de György Lukács, "O Estado como arma"  , entra, de forma seminal, no debate sobre os conselhos operários apresentando uma posição: o cenário da luta de classes cresce e compreende o conjunto desbloqueado dos espaços onde ela pode se revelar, contribuindo, assim, para explodir as cidadelas do Estado e suas fronteiras. Na posição de Lukács, agora se luta contra o Estado, mas também o Estado se manifesta enquanto "arma da luta de classes".


Por Milton Pinheiro

O filósofo húngaro localiza em Marx e Engels, distanciando-os dos oportunistas da Segunda Internacional, a tese de que a questão do Estado é extremamente relevante para as possibilidades da revolução proletária, utilizando-se dessa abordagem como referencial para enfrentar a "essência revolucionária" de sua época. Lukács qualificou os pensadores reformistas do período em questão como sendo aqueles que capitularam ao modelo de Estado desenvolvido na sociedade burguesa, e essa crítica se dirige essencialmente a Kautsky e a Bernstein.

Neste texto inédito encontramos, ainda, a notável influência de Lênin. Lukács reconhece a relação teórica daquele com Marx na interpretação de uma "posição proletário-revolucionária sobre o problema do Estado", salientando que Lênin não fez uma abstração sobre a questão, mas levantou o problema a partir das tarefas dos trabalhadores que faziam o enfrentamento na luta de classes, tendo como eixo central a direção da tomada do poder.
Na interpretação de Lukács, Lênin rompeu com o programa de uma teoria geral do Estado baseada em postulados diletantes e, pautado pelas análises concretas feitas por Marx sobre a Comuna de Paris, avançou no debate sobre a questão do Estado, como afirmei, a partir das contradições do momento histórico em que as lutas do proletariado se projetavam em um cenário em aberto. Transparece nos estudos de Marx, Engels e, principalmente, em Lênin - chamado à atenção por Lukács - que a questão do Estado é o objetivo que deve movimentar os trabalhadores nas tarefas cotidianas, e não apenas quando se apresentar o "objetivo final".

Para Lukács, Lênin deu a importância devida ao papel do Estado no tempo presente, o que contribuía para educar os trabalhadores em sua luta pelo poder. Mas isso ocorria, principalmente, porque ele acentuava em suas análises o papel do "Estado como arma da luta de classes". Nessa contenda sobre o Estado, Lukács avança, antecipando um grande debate contemporâneo, ao sinalizar que os instrumentos de luta em curso (partido, sindicato e cooperativas) são, já naquele momento, "insuficientes para a luta revolucionária do proletariado". A perspectiva projetada pelo autor é a construção de uma representação que unifique todo o proletariado às amplas massas, ainda dentro da sociedade burguesa, para pôr a revolução "na ordem do dia" - e, para ele, esse instrumento seria os conselhos operários.

Nas formulações de G. Lukács, os conselhos aparecem como "organização de toda a classe". Eles devem agir para desorganizar "o aparelho de Estado burguês". Nessa conjuntura de desorganização, eles, enquanto representação de classe, deverão entrar em choque com a possível tentativa da burguesia de impor uma ampla repressão para recompor seu poder.
É diante desse cenário que os conselhos operários se apresentam como aparelhos de Estado na perspectiva da "organização da luta de classes". A partir de sua análise sobre a Rússia em 1905, os conselhos "são um contra governo" que enfrenta o "poder estatal da burguesia".

É importante salientar ainda a crítica de Lukács a Martov: este último compreende os conselhos "como um órgão de luta", sem necessariamente transformar-se em aparelho de Estado, enquanto, para o primeiro, essa posição afastaria os trabalhadores da revolução e da "real conquista do poder pelo proletariado".

Nesse debate, surge uma polêmica sobre o papel do sindicato e do partido. Lukács criticou aqueles que queriam substituir de forma permanente esses dois instrumentos pelos conselhos, confundindo o entendimento do que seja, ou não, uma situação revolucionária. Ele afirma que o conselho operário, enquanto aparelho de Estado, "é o Estado como arma na luta de classes do proletariado".
Mas, para fazer a defesa dessa posição leninista, Lukács ataca o reformismo oportunista e sua "capitulação ideológica à burguesia". Ainda nesse debate, critica a idéia de democracia da social-democracia e seu projeto de "agitação pacífica" para a modificação da sociedade de forma não revolucionária, ao considerar que, para se chegar ao socialismo, as idéias dos trabalhadores irão num crescendo até a conquista do poder.

Os reformistas se mantêm no campo da "democracia pura, formal", e se iludem com o voto do cidadão abstrato, considerado por Lukács como "átomos isolados do todo estatal", na contramão das pessoas concretas, "que assumem um lugar na produção social, que seu ser social (que articula o seu pensamento etc.) é determinado por essa posição".
Dentro dessa temática (democracia), o crítico húngaro identifica o "domínio minoritário da burguesia" na "desorganização ideológica" para transformar a democracia pura e formal em um instrumento de regulação da vida social. Para responder a essa situação (desorganização), os conselhos devem ser reconhecidos como o "poder de Estado do proletariado", ao passo que avançam para destruir "a influência material e ideológica da burguesia" sobre as massas. Garantir o contra fogo ideológico é contribuir para o surgimento de condições de direção do proletariado "no período de transição". Agora o proletariado, tendo os conselhos como sistema de Estado, deve marchar para continuar destruindo a burguesia em todas as suas frentes.

Neste sentido, o sistema de conselhos, agindo de forma educativa e autônoma, deve incentivar uma participação que articule "uma unidade indivisível entre economia e política, ligando, desse modo, a existência imediata das pessoas, os seus interesses cotidianos etc. com as questões decisivas da totalidade" e contribuindo assim para evitar a burocratização. Para Lukács, esse movimento do sistema de conselhos e do Estado proletário "é um fator decisivo na organização do proletariado em classe", permitindo que, agora, o tornar-se consciente e classe para si se efetive.

Para Lukács, com base em Lênin, o Estado proletário é aber¬tamente um Estado de classe, sem a farsa montada pela burguesia para transformar seu Estado em Estado de todos. Mais uma vez, esse debate teórico demonstra que a atualidade da revolução ainda hoje passa pela problemática do Estado e do socialismo. Portanto, os conselhos operários estão na gênese dessas possibilidades.


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Advogado de doleiro: Veja mentiu sobre Dilma


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A VERDADE SOBRE O PORTO CUBANO MARIEL



Investimento beneficiou mais de 400 empresas brasileiras e gerou 156 mil empregos aqui, segundo a Fiesp
Blog Pedro Porfírio 23/10/2014
"Se o porto de Mariel será de grande importância para o socialismo cubano, foi o capitalismo brasileiro que mais ganhou até agora".

Em sua deliberada má fé, Aécio Neves e alguns manipuladores da direita costumam dizer na maior cara de pau que o governo brasileiro está construindo um porto para Cuba só para ajudar o governo cubano, como se estivesse desviando dinheiro para a ilha que derrotou o império com a sua revolução invicta.
Os idiotas da fauna obscurantista podem até se compensarem psicologicamente quando repassam essa mentirada pela internet. Mas o tucano, que não é um idiota, mas pretende enganar os menos informados, exerce o mandato de senador e já foi até presidente da Câmara Federal.

Ele sabe que o BNDES não pode repassar um centavo para governos estrangeiros: quem a ele recorre é a empresa nacional que vai ganhar em dólares em obras por dezenas de países.

Foi o que explicou didaticamente o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em audiência na Comissão de Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados, em 27 de maio deste ano.
Segundo o presidente do BNDES, não houve empréstimo ao governo cubano e sim para uma empresa brasileira, no caso, o Grupo Odebrecht. Ele lembrou que o BNDES é impedido por lei de emprestar dinheiro para empresas ou governos estrangeiros. “O BNDES libera recursos apenas para empresas brasileiras que tenham sido encarregadas de realizar um serviço no exterior. Nossa relação é com a empresa nacional, para gerar empregos no Brasil.”
Luciano Coutinho lembrou que o investimento foi feito na exportação de serviços de engenharia e que esse tipo de mercado é muito disputado. Destacou que, na América Latina, o Brasil responde hoje por quase 18% da exportação de serviços de engenharia para a região, perdendo apenas para a Espanha, e à frente dos Estados Unidos e da China.“Prestamos serviços a países como Argentina, Venezuela, República Dominicana, Cuba, Peru e Equador”, informou o presidente do BNDES aos deputados.
Num mercado muito disputado, o Brasil é o oitavo maior exportador de serviços de engenharia do mundo. A China desembolsou entre 2008 e 2012 um total de US$ 45,2 bilhões; os Estados Unidos, 18,6 bilhões; a Alemanha, US$ 15,6; e a França, US$ 14,6 bilhões, enquanto o Brasil financiou US$ 2,24 bilhões, ficando atrás ainda da Índia, do Japão e da Inglaterra.
Cuba paga em dia, segundo construtora brasileira: "a exportação de serviços suporta hoje 1,7 milhão de postos de trabalho no Brasil".
O presidente da Odebrecht, Marcelo, foi mais além. Sua empresa, que tem serviços em23 países e emprega 200 mil pessoas, está muito feliz com Cuba, onde o porto, com um custo enxuto inferior a US$ 1 bilhão (lá não rola propina:não faz muito, em 2011 o ministro Alejandro Roca pegou 15 anos de cadeia por ter recebido um jabá de uma empresa chilena de sucos).
Os pagamentos estão sendo feitos rigorosamente em dia, como escreveu no site 247: o risco de inadimplência apontado por alguns críticos não pode ser contaminado pelo viés ideológico; "para quem está questionando os riscos quanto ao pagamento, é importante saber que a ocorrência de calotes não está relacionada a alinhamentos ideológicos: os maiores "defaults" recentemente enfrentados pelo Brasil vieram dos Estados Unidos e do Chile".
Ao ponderar que em 2013, a Odebrecht Infraestrutura faturou US$ 8 bilhões no exterior, o presidente do grupo, que completou 60 anos de serviços de engenharia este ano escreveu:
"O BNDES não investiu em Mariel. O BNDES financiou as exportações de cerca de 400 empresas brasileiras, lideradas pela Odebrecht, no valor equivalente a 70% do projeto. Se o porto será de grande importância para o socialismo cubano, foi o capitalismo brasileiro que mais ganhou até agora.
País que não exporta não cresce, não adquire divisas e não se insere na economia internacional. A exportação de serviços suporta hoje 1,7 milhão de postos de trabalho no Brasil, na interação com vários setores produtivos. Promove a inovação e estimula a capacitação de mão de obra altamente especializada.
Entretanto, lemos e ouvimos que o financiamento brasileiro gera empregos no exterior; que os contratos são sigilosos, talvez para encobrir negócios escusos; que drena recursos da nossa infraestrutura; e que o TCU (Tribunal de Contas da União) não fiscaliza.
Nada disso é verdade.
Primeiro: o financiamento à exportação gera empregos no Brasil, porque não há remessa de dinheiro para o exterior. Os recursos são desembolsados aqui, em reais, para a aquisição de 85% dos bens e serviços produzidos e prestados por trabalhadores brasileiros (os demais 15% são pagos à vista pelo importador).
Segundo: informações como o valor, destino e objeto do financiamento sempre foram públicas, como pudemos ouvir e ler em todos os meios que trataram de Mariel. As únicas informações que não são públicas são as usuais das operações bancárias, como o valor do seguro, eventuais contragarantias e as taxas que compõem a operação.
Nos financiamentos feitos pelos chineses, alemães, americanos, enfim, por todos os países, essas informações também são confidenciais. Não foram o Brasil e Cuba que inventaram essa regra.
Terceiro: os recursos que financiam exportações não concorrem com os destinados a projetos no Brasil e são providos por fontes diferentes. Os números falam por si: em 2012, o BNDES destinou cerca de US$ 7 bilhões para apoiar o comércio exterior e US$ 173 bilhões para o mercado interno.
O porto de Cuba não impediu a construção de nenhum projeto no Brasil. Aliás, até ajudou.
Por meio da exportação de serviços, como a de Mariel, a Odebrecht se capacita e gera resultados que aplica aqui, como fez no terminal de contêineres da Embraport, em Santos. É o maior do Brasil e foi construído pela Odebrecht, simultaneamente a Mariel, com investimento próprio de R$ 1,8 bilhão".
Já Mauro Hueb, diretor-superintendente em Cuba da Odebrecht, destacou em outra entrevista:
“É importante ressaltar que US$ 800 milhões foram gastos integralmente no Brasil para financiar exportação de bens e serviços brasileiros para construção do porto e, como consequência disso, gerando algo em torno de 156 mil empregos diretos, indiretos e induzidos, quando se analisa que a partir de cada US$ 100 milhões de bens e serviços exportados do Brasil, por empresas brasileiras, geram-se algo em torno de 19,2 mil empregos diretos, indiretos e induzidos”. (Veja o vídeo em com 3 depoimentos a respeito)
Vendas a Cuba foram incrementadas a partir do governo FHC
A bem da verdade, os primeiros negócios dessa natureza com Cuba foram iniciados ainda no governo Fernando Henrique, como ressaltou o diretor do departamento de relações internacionais e comércio exterior da Fiesp, Thomaz Zanotto, em entrevista ao Record News em 31 de janeiro de 2014.

No caso do porto de Mariel, a principal garantia é a sua própria receita. Toda a operação lá é gerenciada por uma empresa de Cingapura, que faz o mesmo em outros países do mundo. Segundo o diretor da Fiesp, como você verá no vídeo da Record, desde o tempo de FHC Cuba vem pagando os financiamentos brasileiros rigorosamente em dia. Nesses mais de 16 anos, o Brasil somou US$ 1,8 bilhão em investimentos em Cuba, sem nenhum problema registrado.

Ao inaugurar a obra da empresa brasileira, no início deste ano, a presidenta Dilma Rousseff observou:
"É um processo ganha-ganha, Cuba ganha e o Brasil também ganha. É um bom negócio (…) Nós continuamos fazendo investimentos na área de portos no Brasil. O Brasil hoje é um país líder na América Latina e tem suas responsabilidades. Assim como a gente saúda países desenvolvidos que, ao fazer investimentos, financiam o fornecimento de suas empresas nacionais, por exemplo, o Brasil financiou o Porto de Mariel, agora, no acordo, quem forneceu os equipamentos, os bens e os serviços foram empresas brasileiras. Mais de 400 empresas brasileiras participaram desse esforço, gerando emprego e renda”.
Para entender melhor a importância das exportações de serviços na economia de qualquer país, vale dar uma lida no artigo da superintendente da Área de Comércio Exterior, Luciene Machado, e do chefe do Departamento de Comércio Exterior do BNDES, Luiz de Castro Neves, sobre o apoio do BNDES a projetos de infraestrutura no exterior, publicado no jornal Valor Econômico em 17 de abril de 2014. " Os principais benefícios da internacionalização são sentidos no Brasil. Para as empresas, a inserção internacional representa não só a oportunidade de ampliar sua produção e obter economias de escala, mas também de diversificar sua carteira de clientes e mitigar riscos. Obter sucesso no mercado externo, onde a competição é mais acirrada requer produtos de qualidade e preços competitivos e capacidade de absorver e desenvolver novas tecnologias. Já o mercado interno se beneficia não só dos impactos favoráveis sobre emprego e renda, mas também dos ganhos na qualidade dos bens e serviços disponíveis aos consumidores, usualmente a preços decrescentes. Basta lembrar dos automóveis comercializados pelo país na década de 80".
Como se vê, age de má fé quem critica uma política de exportação de serviços altamente benéfica para a economia brasileira, movido apenas pela mais obsoleta intolerância ideológica.

Fonte:  PÁTRIALATINA

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Pólo euro-asiático configura novo centro econômico

Escrito por Camila Carduz

Moscou (Prensa Latina) A futura União Econômica Euro-asiática (UEE) em poucos meses se converterá no maior mercado de bens e serviços da Comunidade de Estados Independentes (CEI) e em importante pólo econômico.
Depois da União Europeia, a UEE é o segundo bloco regional, com três das economias mais forte: Rússia, Bielorrússia e Cazaquistão, mais um quarto sócio recente,a Armênia.

O espaço euro-asiático, considerado o patamar superior do processo de integração na CEI desde a década de 1990, entrará em pleno vigor em 1 de janeiro de 2015.

Durante a recém realizada cúpula de chefes de Estado da CEI -10 países- em Minsk, a chamada deu um apoio inequívoco à formação de um centro de influência econômica global.

Os presidentes Vladimir Putin, Alexander Lukashenko e Nursultán Nazarbáev assinaram a entrada da Armênia à União Alfandegária e ao Espaço Único Econômico, como mecanismos necessários de integração escalonada, a um mercado comum de bens, serviços e de força de trabalho.

Para alguns analistas, a adesão de Ereván ao formato natural da CEI, significa uma vitória geopolítica da Rússia.

Durante quatro anos, a Armênia negociou um acordo de associação comercial com a União Europeia, na mesma onda na qual se moveram Moldova e Ucrânia, dentro do formato da chamada Associação Oriental.

Sem espaço para especulação, o presidente armênio Serzh Sargsyan se retirou da cúpula de Vilnius em novembro do 2013, depois de anunciar o rumo de seu país para laços mais estreitos com seus vizinhos da CEI.

Em Minsk, Sargsyan disse perante seus sócios que a opção de seu país de participação da UEE se sustenta no formato previsível e vantajoso que essa estrutura regional oferece para as relações entre nossos estados, baseadas nos princípios de livre circulação de mercadorias, serviços, capital e força de trabalho.

O governante disse que o nascimento da UEE marca uma meta na integração regional comunitária e expressou estar consciente da responsabilidade que assumem como primeiro estado incorporado a esse projeto.

É um acontecimento significativo, devido a que pela primeira vez a UEE se amplia, manifestou o mandatário cazaque, Nursultán Nazarbáev, ao saludar a incorporação de Ereván.

Agregou que todas as controvérsias ao redor da entrada da Armênia foram resolvidas, principalmente no que se refere aos limites de sua fronteira, ao parecer associado à disputa com Azerbaijão por Nagorny-Karabaj.

NOTAS DISCORDANTES: A OPÇÃO EUROPEIA DE MOLDÁVIA, GEORGIA E UCRÂNIA

Quase antonomásia para as leis da natureza, o espaço pós-soviético tem sido um laboratório aberto de interação das forças centrífugas e centrípetas no processo de integração.

Assim, simultaneamente aos mecanismos criados na última década como a CEI, algumas ex-repúblicas soviéticas como a Georgia -saída em 2009-, a Moldóvia e a Ucrânia miraram a bússola para a Europa.

As três nações assinaram um acordo comercial com o bloco dos 28 durante a cúpula comunitária realizada no final de junho. Nessa ocasião, Kiev só assinou a parte econômica do tratado, pois a política tinha sido assinada em março deste ano.

Na cúpula de Minsk, o presidente moldavo, Nikolae Timofti, condenou a Rússia pelo pacote de medidas protecionistas implementadas que, segundo ele, restringem o acesso ao mercado russo das mercadorias de seu país.

Segundo o presidente Putin, a origem dos problemas não foram as medidas protecionistas de Moscou, mas a falta de visão dos riscos que representaria, para as economias de todos os sócios, uma zona de livre comércio com outros grupos fora desse espaço comum.

Nunca fomos contrários a uma aproximação com a UE, de fato nós mesmos queremos nos aproximar, o assunto passa pelas condições de nossa cooperação, expôs o governante russo, ao responder a seu homólogo moldavo.

Putin mostrou em cifras como se contraiu o intercâmbio comercial dentro da CEI no primeiro semestre de 2014 (9,0% até os 111 bilhões de dólares), tendência que associou a causas externas e à reorientação de alguns membros para outros mercados.

As cifras se explicam - apontou - não só pela conjuntura externa desfavorável, mas como efeito de uma mudança nas prioridades econômicas de alguns sócios da CEI.

Comparativamente, o saldo comercial no primeiro semestre de 2013 foi de 123 bilhões de dólares e ao fechamento de ano totalizou cerca de 235 bilhões de dólares.

Antes das restrições aplicadas pela Rússia em resposta a sanções da Europa, o mercado russo recebia 80% de frutas e hortaliças vindas da Moldávia.

Isto poderia não ter acontecido se tivessem considerado os interesses russos, afirmou o mandatário.

Por enquanto, Moscou conseguiu que a implementação do acordo de associação da Ucrânia com o bloco da UE fosse adiada para 31 de dezembro de 2015.

Em relação à situação da Ucrânia como membro, apesar das declarações escandalosas de ruptura feitas por alguns políticos, Kiev não oficializou sua saída do esquema, surgido depois da desintegração da União Soviética.

UNIÃO ECONÔMICA EURO-ASIÁTICA: UM NOVO CENTRO ECONÔMICO

O processo de integração econômica no espaço pós-soviético percorreu várias etapas desde o final dos anos 90 do passado século, mas foi quase no limiar do século XXI que os mecanismos intrarregionais ganharam vigor, depois do impulso à União Alfandegária e do Espaço Único Econômico.

Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia e Tajiquistão assinaram o protocolo correspondente em 26 de fevereiro de 1999.

No ano 2000, começou a funcionar a Comunidade Econômica Euro-asiática, considerada a premissa fundacional da União Econômica Euro-asiática (UEE). Em 2010, começou a União Alfandegária entre Minsk, Moscou e Astana, seguida da criação em 2012 de um espaço único alfandegário.

E sobre esse fundamento se levantará a UEE em 1 de janeiro de 2015, como a locomotiva de um grande polo econômico nesta parte do planeta, com uma população superior aos 170 milhões de habitantes e um território de 20 milhões de quilômetros quadrados, sem contar a Armênia.

Abarcará também um produto interno global de quase 2,7 trilhões de dólares.

Com esses projetos de integração, ganham em primeiro lugar as pequenas economias e os mercados se enriquecem com uma variedade de produtos e qualidade, sustentou Tatiana Valovaya, ministra de integração e macroeconomia da Comissão Econômica Euro-asiática.

Citou como exemplo que, como resultado do levantamento dos impostos de exportação, o custo do gás russo para a Armênia caiu em 30%.

De maneira progressiva no espaço da UEE surgirá uma pasta comum de hidrocarbonetos e derivados de petróleo, um mercado comum de serviços, de eletricidade, transporte, medicamentos e livre circulação de força de trabalho.

Pode ser que, antes do fim do ano, a União se amplie a cinco países com a entrada do Quirguistão, que negocia uma folha de rota desde 2013, durante a cúpula que Moscou acolherá em dezembro.

O interesse de sócios de outras regiões como Índia, Vietnã e Egito em uma zona de livre comércio, e as forças centrípetas favoráveis à integração compõe o perfil sem dúvida da União Euro-asiática como um polo econômico forte nesta parte do mundo.

*Correspondente em chefe da Prensa Latina na Rússia.

sábado, 18 de outubro de 2014

EUA: Guerra ao ISIL é cortina de fumaça para guerra contra Síria e Irã


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DN-SC-83-08192
A chamada “ameaça” do ISIL [ing. para "Estado Islâmico no Iraque e Levante"], ou Estado Islâmico (EI) é cortina de fumaça. A força doISIL foi deliberadamente inflada para conquistar apoio público para o Pentágono e justificar o bombardeio ilegal contra a Síria. Está também sendo usada para justificar a mobilização do que a cada dia mais claramente se vê que é montagem de ataque militar de grande escala liderado pelos EUA no Oriente Médio. O poder de fato e contingentes militares que estão sendo mobilizados excedem em muito o que seria necessário para combater simplesmente os esquadrões da morte do ISIL.
26/9/2014, Mahdi Darius NAZEMROAYA, Strategic Culture Foundation (Фонд Стратегической Культуры)
Por mais que os EUA tentem convencer seus cidadãos e o mundo de que não haverá tropas em solo, é muito improvável que assim seja. É muito improvável, em primeiro lugar, porque é indispensável que haja coturnos em solo para monitorar e selecionar alvos. Além do mais, Washington vê a campanha contra os combatentes do ISIL como guerra que durará anos. É puro duplifalar. O que está sendo imposto à opinião pública norte-americana e mundial é deslocamento militar permanente; no caso do Iraque é redeslocamento para lugar que os EUA já invadiram e ocuparam em 2003. A força militar que está sendo mobilizada nesse caso pode, em todos os casos, ser convertida em forças de assalto gigante contra Síria, Irã e Líbano.
Diálogo de segurança EUA-Síria e EUA-Irã?
Antes do início dos bombardeios dos EUA na Síria, circularam boatos não confirmados de que Washington teria iniciado um diálogo com Damasco, através de canais russos e iraquianos, para discutir coordenação militar e a campanha do Pentágono de bombardeio em território sírio. Ideia absolutamente impensável e completamente improvável. Agentes de confusão operavam em tempo integral para tentar dar qualquer legitimidade ao bombardeio contra a República Árabe Síria.
As ‘notícias’ de cooperação EUA-Síria com intermediação de russos e iraquianos são parte de uma série sinistra de desinformação e contrainformação. Antes de surgirem as ‘notícias’ sobre cooperação entre EUA e Síria, circularam ‘notícias’ sobre cooperação EUA-Irã no Iraque.
Mais cedo, Washington e a mídia norte-americana haviam tentado dar a impressão de que haveria algum acordo para cooperação militar entre os EUA e Teerã, para combater contra o ISIL e cooperarem dentro do Iraque. As ‘notícias’ foram amplamente refutadas nos termos mais incisivos por vários membros doestablishment político iraniano e também por comandantes iranianos de alta patente, como simples campanha de desinformação.
Depois que os iranianos indicaram claramente que as declarações de Washington não passavam de ficção, os EUA começaram a dizer que não seria adequado para o Irã unir-se à coalizão anti-ISIL. O Irã retrucou. Washington estava outra vez distorcendo os fatos; a verdade é que funcionários dos EUA várias vezes pediram que Teerã se integrasse à coalizão anti-ISIL.
Ainda antes de deixar o hospital depois de passar por uma cirurgia na próstata, o Aiatolá Ali Khamenei, o mais alto governante do Irã, disse à televisão iraniana, dia 9/9/2014, que os EUA haviam solicitado em três diferentes ocasiões, que Teerã cooperasse com Washington. Explicou que o embaixador dos EUA no Iraque fizera chegar mensagem ao embaixador do Irã no Iraque, solicitando que o Irã se unisse aos EUA naquele momento. Depois – palavras do Aiatolá Khamenei – “o mesmo [John Kerry] – que havia dito frente às câmeras e aos olhos de todo o mundo, que os EUA não queriam a cooperação do Irã – pediram através do Dr. Zarif que o Irã cooperasse com os EUA nessa questão. O Dr. Zarif negou-se a atender o pedido.” E o pedido foi repetido pela vez pela subsecretária norte-americana Wendy Sherman, ao vice-ministro de Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi.
Khamenei também disse que já descartara categórica e absolutamente qualquer cooperação com Washington nessa questão. “Absolutamente não cooperaremos com os EUA, especialmente porque as mãos dos EUA estão sujas” – repetiu o Aiatolá publicamente, ao explicar que não havia qualquer dúvida de que Washington tem as intenções mais perversas no Iraque e na Síria.
Como a Rússia, o Irã já apoia a Síria e o Iraque contra o ISIL. Também como Moscou, Teerã luta contra os terroristas, mas não se integrará a coalizão anti-ISIL de Washington.
Nova(s) invasão(ões) e golpe(s) para Mudança de Regime no em torno do óleogasoduto?
Como se disse dia 20/6/2014, aos olhos de Washington era indispensável remover o governo federal de Nouri Al-Malaki em Bagdá, porque se recusava a unir-se ao cerco contra os sírios comandando pelos EUA; porque se mantinha aliado ao Irã; porque continuava a vender petróleo aos chineses; e a comprar armas da Federação Russa. A decisão do Iraque de Al-Maliki de integrar-se ao óleogasoduto Irã-Iraque-Síria também criava dificuldades contra os objetivos dos EUA e aliados, de (i) controlarem todo o fluxo de energia no Oriente Médio; e (ii) impedir a integração da Eurásia. [1]
O governo de Al-Maliki cometeu também dois outros pecados capitais em Bagdá, pela avaliação dos EUA. Mas essas ofensas, para serem bem compreendidas, têm de ser postas em contexto geopolítico.
Ninguém esqueceu a frase de propaganda criada no governo de Bush Filho depois do 11/9 e no início de suas guerras seriais: “Qualquer um vai para Bagdá; homem que é homem vai para Teerã”. O xis da questão dessa frase belicista, construída como slogan de propaganda, é que Bagdá e Damasco já então eram vistas pelo Pentágono como rotas possíveis que levariam a Teerã. [2]
Como no caso da Síria, os pecados mortais de Al-Maliki também estavam relacionados a impedir o caminho dos EUA até Teerã. Primeiro, o governo do Iraque expulsou o Pentágono do Iraque no final de 2011, com o que removeu as tropas norte-americanas plantadas exatamente na fronteira oeste do Irã. Segundo, o governo federal iraquiano trabalhava para expulsar do Iraque militantes iranianos que se opõem ao governo iraniano e para fechar o Camp Ashraf, que sempre poderia ser usado em guerra ou em operações para mudança de regime contra o Irã.
Ashraf serviu como base para a ala militar dos Mujahidin-e-Khalq  (MEK/MOK/MKO) com base no Iraque. O grupo MEK é organização de iranianos antigoverno, que trabalha a favor do golpe para mudança de regime em Teerã. Já declarou apoio aos ataques liderados pelos EUA contra Irã e Síria.
Embora oficialmente o governo dos EUA classifique os MEK como organização terrorista, Washington já começara a aprofundar os contatos com os MEK quando norte-americanos e britânicos invadiram o Iraque. Ironicamente (e mal intencionados) EUA e Grã-Bretanha usaram o apoio aos MEK para rotular o Iraque como estado patrocinador de terroristas (?!) e, também, para justificar a invasão anglo-norte-americana ao Iraque. Desde essa época, os EUA ‘alimentam’ e mantêm os terroristas do MEK.
Desde 2003, os EUA financiam os MEK. Washington lhes dá proteção, porque quer conservá-los como instrumento a ser usado contra Teerã, ou para manter a opção de, algum dia, instalar o MEK no poder em Teerã, como parte de um golpe para mudança de regime contra o Irã. O MEK já foi, literalmente, incorporado na caixa de ferramentas do Pentágono e da CIA contra Teerã. Mesmo quando os EUA transferiram o controle do Camp Ashraf para o governo de Bagdá, o Pentágono manteve forças suas entre os MEK.
Eventualmente, as forças do MEK seriam, na maioria, realocadas em 2012 para a antiga base dos EUA conhecida como Acampamento Liberty. Esse Acampamento Liberty é hoje mais conhecido por um nome árabe, Acampamento Hurriya.
Scott Peterson, diretor da sucursal de Istanbul do Christian Science Monitor, explica como funcionários dos EUA começaram a realmente apoiar os MEK no início da “Primavera Árabe” de 2011. É projeto também ligado aos sonhos de Washington, de golpe para mudança de regime. Peterson escreveu que funcionários do governo dos EUA “raramente mencionam o passado violentamente anti-EUA dos MEK, e falam do grupo não como terroristas, mas como combatentes da liberdade com “valores iguais aos nossos”, como ‘democratas à espera’ de poderem servir como uma vanguarda para mudança de regime no Irã.” [3]
Washington não abandonou os sonhos de golpe para mudança de regime em Teerã. Seria coincidência que esteja aumentando o apoio que EUA e União Europeia dão hoje aos MEK, sobretudo quando a ameaça doISIL dentro do Iraque começa a ser comentada e noticiada publicamente?
600 deputados e políticos de quase todos os países da OTAN foram levados para participar de uma grande reunião dos MEK dia 27/6/2014, no nordeste da capital francesa, no subúrbio de Villepinte, que convocou para o golpe de mudança de regime no Irã. Os tipos mais conhecidos pela dedicação com que trabalham pró mais e mais guerras no mundo (o ex-senador dos EUA Joseph Lieberman; o porta-voz e apologista de Israel Alan Dershowhitz; ex-funcionário do governo de Bush Filho e ‘especialista’ contratado da Fox News John Bolton; o ex-prefeito de New York Rudy Giuliani; o ex-ministro francês e chefe da Missão Provisória da ONU para governo do Kosovo (UNIMIK) Bernard Kouchner, todos esses se reuniram com o MEK para promover o golpe para mudança de regime no Irã, e, claro, mais guerra.
Segundo o MEK, mais de 80 mil pessoas compareceram ao comício para promover a mudança de regime no Irã. Lá estavam também militantes da oposição no Iraque e Síria; todos, a pedir ‘mudança de regime’ também no Irã.
A ironia do ‘evento’ é que o dinheiro foi fornecido, praticamente todo, pelos EUA, com alguma contribuição dos aliados. Os gastos foram, sobretudo, para as iniciativas de lobby desse MEK no Congresso dos EUA e no Departamento de Estado, o que, de fato, não passa de ‘reciclagem’ de dinheiro. Gente como Ruddy Giuliani – provavelmente um dos mais odiados prefeitos da história da cidade de New York, até que usou a favor da própria imagem os eventos trágicos do 11/9/2001 – trabalham hoje, de fato, como lobbyistas para o MEK. “Muitos desses ex-altos funcionários do governo dos EUA – que representam todo o pleno espectro político – têm recebido dezenas de milhares de dólares só para falar bem do MEK“, segundo o Christian Science Monitor. [4]
Giuliani vive a discursar em eventos pró MEK pelo menos desde 2010. Em 2011, falou num comício do MEKque promovia o golpe para mudança de regime em Teerã e Damasco. “E se fizéssemos, depois de uma Primavera Árabe, um Verão Persa?”, perguntou Giuliani, retórico. [5] E a sentença seguinte de Giuliani, na mesma ocasião, nada esconde sobre o que é, de fato, a iniciativa dos EUA de apoiar o MEK: “Precisamos de mudança de regime no Irã, ainda mais do que no Egito ou na Líbia, e tanto quanto na Síria.” [6]
Joseph Lieberman, amigo e parceiro na propaganda e promoção de guerras e mais guerras do senador John McCain não pôde viajar até o subúrbio parisiense em Seine-Saint-Denis, mas falou por vídeo, na reunião para mudança de regime. O Deputado Edward Royce, presidente da Comissão de Assuntos Externos da Câmara de Deputados dos EUA, também falou por videoconferência a favor de mudança de regime no Irã. E o mesmo fizeram os senadores Carl Levin e Robert Menendez.

Estavam presentes grandes delegações de EUA, França, Espanha, Canadá e Albânia. Além dos já mencionados, outros norte-americanos notáveis também participaram do comício de 27/6/2014, além de vários franceses e espanhóis igualmente notáveis, e de muito notáveis euro-atlanticistas.
Nomes em: (1) Newt Gingrich; (2) John Dennis Hastert; (3) George William Casey; (4) Hugh Shelton; (5) James Conway; (6) Louis Freeh; (7) Lloyd Poe; (8) Daniel Davis; (9) Loretta Sánchez; (10) Michael B. Mukasey; (11) Howard Dean; (12) William Richardson; (13) Robert Torricelli; (14) Francis Townsend; (15) Linda Chavez; (16) Robert Joseph; (17) Philip Crowley; (18) David Phillips; (19) Marc Ginsberg; (20) Michèle Alliot-Marie; (21) Rama Yade; (22) Gilbert Mitterrand; (23) Martin Vallton; (24) Pedro Agramunt Font de Mora; (25) Jordi Xucla; (26) Alejo Vidal-Quadras; (27) José Luis Rodriguez Zapatero; (28) Sonsoles Espinosa Díaz); (29) Pandli Majko; (30) Kim Campbell; (31) Geir Haarde; (32) Ingrid Betancourt; (33) Alexander Carile; (34) Giulio Maria Terzi; e (35) Adrianus Melkert.
 E não se falou só de golpe para mudança de regime; fala-se também da crise nas regiões de fronteira no Iraque e na Síria. Fox News deu cobertura especial àquele evento do MEK. Em julho, a liderança do MEKhavia condenado o apoio do Irã ao governo federal do Iraque em sua luta contra o ISIL; depois que os EUA começaram a falar de combater ISIL, calaram-se.Antes do comício para promoção do golpe de mudança de regime, a líder dos MEK, Maryam Rajavi - que osMEK indicaram presidenta do Irã desde 1993 – até se encontrou com o líder-fantoche do Conselho Nacional Sírio Ahmed Jarba em Paris, dia 23/5/2014, para discutirem cooperação.

Golpe para mudança de regime em Damasco mediante ‘extensão-distorção’ da ‘missão’ na Síria

A campanha de bombardeio que os EUA iniciaram na Síria é ilegal e viola a Carta da ONU. Por isso o Pentágono tomou a providência de ‘declarar’ que a campanha de bombardeio liderada pelos EUA seria necessária, por causa de ameaça de um ataque “iminente” que estaria sendo planejado contra o território dos EUA. Isso foi feito para dar alguma cobertura pseudo legal ao bombardeio contra território sírio, servindo-se do argumento, distorcido, de que o Artigo 51 da Carta da ONU permite que estado membro ataque legalmente outro estado, se houver ameaça de ataque iminente, por aquele país, contra membro da ONU.
Barack Obama e o governo dos EUA fizeram o possível para confundir encobrir a realidade mediante alguns passos tomados para fazer crer que seria legítimo violar a lei internacional e bombardear a Síria sem autorização de Damasco. A embaixadora dos EUA Samantha Powers deu conhecimento ao representante permanente da Síria na ONU que os EUA atacariam o Governato de Al-Raqqa, informando Bashar Al-Jaafari mediante uma notificação unilateral, que absolutamente não significa que os EUA tivessem obtido o consentimento legal da Síria.
Os ataques norte-americanos contra a Síria não têm tampouco o apoio do Conselho de Segurança da ONU. Mas o governo dos EUA tentou fazer-crer que a reunião do Conselho de Segurança da ONU do dia 19/9/2014, que foi presidida por John Kerry seria sinal de que o Conselho de Segurança da ONU e a comunidade internacional estariam apoiando a campanha de bombardeamento contra a Síria.
Não foi tampouco por coincidência que, exatamente quando os EUA montavam sua coalizão multinacional para dar combate ao ISIL e àquele pseudo Califato, John Kerry mencione, convenientemente, que a Síria teria violado a Convenção das Armas Químicas (CAQ) [orig. Chemical Weapons Convention (CWC)]. Ao mesmo tempo em que admitia que a Síria não usou qualquer material proibido pela CAQ, Kerry, muito incoerentemente disse aos deputados, dia 18/9/2014, que Damasco teria desrespeitado a CAQ.
Em resumo, Washington já está dizendo absolutamente qualquer coisa, não importa o quando seja absurdo ou inverossímil, para dar início ao golpe para mudança de regime em Damasco. Se o já exposto até aqui não bastar para mostrar isso, o fato de que os EUA usarão território da Arábia Saudita para treinar ainda mais forças antigoverno sírio com certeza o mostra. [7]
Os EUA têm em vista uma campanha de bombardeio de longa duração, que também ameaça o Líbano e o Irã. Segundo o Aiatolá Ali Khamenei, os EUA planejam bombardear Iraque e Síria servindo-se do ISIL como cortina de fumaça, seguindo o modelo já usado no Paquistão. Mais corretamente, seguindo o modelo do que os EUA chamavam “AfPak”. Os EUA usaram os efeitos da instabilidade que extravasaram do Afeganistão para o Paquistão, e a expansão dos Talibã, como pretexto para bombardearem o Paquistão. Iraque e Síria também já estão ‘unidos’ numa só zona de conflito, para o qual Ibrahim Al-Marashi criou a neologia “Siriaque” [ing. "Syraq"].
O objetivo mais amplo: impedir a integração da Eurásia
Enquanto os EUA estão ocupados fingindo que combatem os mesmos esquadrões da morte e terroristas que criaram e armaram, os chineses e seu parceiros trabalhavam muito para integrar a Eurásia. Enquanto os EUA faziam sua Guerra Global ao Terror (GGaT), a Eurásia assistia à reconstrução da Rota da Seda. Isso, afinal, é a história de fundo e o verdadeiro motivo da insistência de Washington, que não para de manter guerras em cursos e criar mais e mais novas guerras e remobilizar todo o Oriente Médio. É a razão também pela qual os EUA só fazem empurrar a Ucrânia para um confronto com a Rússia; e é também a razão para as sanções da União Europeia contra a Federação Russa.
Os EUA tentam impedir a re-emergência da Rota da Seda e a expansão dessa rede comercial. Ao mesmo tempo em que Kerry só faz tentar apavorar as pessoas com ameaças do ISIL e suas atrocidades, os chineses só fizeram ampliar seus mapas com negócios e mais negócios por toda a Ásia e o Oceano Índico. É parte da marcha para o oeste, do dragão chinês.
Paralelamente às viagens de Kerry, o presidente da China Xi Jinping visitou o Sri Lanka e foi às Maldivas. Sri Lanka já é parte do projeto chinês da Rota Marítima da Seda. As Maldivas são mais recentemente chegadas ao mesmo projeto; construíram-se acordos para incluir a ilha-nação também na rede e na infraestrutura da Rota Marítima da Seda que a China dedica-se a construir para expandir o comércio marítimo entre o Leste da Ásia, o Oriente Médio, a África e a Europa. Também não é coincidência que os dois destroieres chineses ancorados no porto iraniano de Bandar Abbas no Golfo Persa estejam fazendo manobras conjuntas com naves de guerra iranianas no Golfo Persa.
Paralela à rede leste-oeste, uma rede de comércio e transporte norte-sul está sendo também desenvolvida. O presidente Hassan Rouhani do Irã esteve no Cazaquistão recentemente, onde, com seu contraparte cazaque, Nursultan Nazarbayev, confirmaram que haverá desdobramentos comerciais importantes. Aguarda-se também a conclusão da estrada de ferro Cazaquistão-Turcomenistão-Irã, que criará uma rota de trânsito norte sul. E os dois presidentes também discutiram a cooperação entre Teerã e a União Eurasiana. Do lado ocidental do Mar Cáspio, planeja-se também um corredor paralelo norte-sul, da Rússia ao Irã atravessando a República do Azerbaijão.
As sanções anti-Rússia já começam a causar mal-estar na União Europeia, quem mais perde no processo. A Rússia já mostrou que tem opções. Moscou já começou a construir o mega gasoduto para gás natural Yakutia-Khabarovsk-Vladivostok (também chamado gasoduto Poder da Sibéria) para entregar gás à China. E a África do Sul, parceira da Rússia nos grupo BRICS, assinou acordo histórico de energia nuclear com a empresa russa Rosatom.
A importância da Rússia no cenário mundial é bem clara e vem aumentando no Oriente Médio e na América Latina. Até mesmo no Afeganistão, feudo da OTAN, a influência russa está crescendo. O governo russo compilou recentemente uma lista de mais de 100 antigos projetos soviéticos de construção, que lhe parecem importantes para serem recuperados.
Alternativa às sanções de EUA e União Europeia começa a emergir na Eurásia. Além do acordo para troca de petróleo-por-produtos que Teerã e Moscou assinaram, o ministro de Energia da Rússia Alexander Novak anunciou que Irã e Rússia já têm novos acordos no total de 70 bilhões de euros. Em breve se verá que as sanções só isolarão os EUA e a União Europeia. Os iranianos também anunciaram que estão trabalhando com seus parceiros chineses e russos para superar o regime de sanções de EUA e União Europeia.
Os EUA estão tendo de se recolher. Não podem ‘pivotear-se’ para o Pacífico Asiático, enquanto não resolverem as coisas no Oriente Médio e no leste da Europa, onde estão em guerra contra Rússia, Irã, Síria e seus aliados. Por isso Washington dedica-se em tempo integral a fraturar, dividir, intrigar, chantagear e corromper, no esforço para co-optar. Assim, afinal, se pode entender que os EUA não estão absolutamente preocupados em dar combate ao ISIL, que sempre serviu aos interesses dos EUA no Oriente Médio. Os EUA só têm duas principais preocupações: tentar impedir que seu império desmonte-se aos pedaços e tentar impedir a integração eurasiana.
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Mahdi Darius Nazemroaya é Investigador Associado do Centro de Investigação da Globalização/Centre for Research on Globalization (CRG) especializado em assuntos geopolíticos e estratégicos.
Original inglês: The March to War: Fighting ISIL is a Smokescreen for US Mobilization against Syria, Iran
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NOTAS
[1] Mahdi Darius Nazemroaya, “America pursuing regime change in Iraq again”, 20/6/2014.
[2] Mahdi Darius Nazemroaya, “The Síria Endgame: Strategic Stage in the Pentagon’s Covert War on Iran”, Global Research, 7/1/2013.
[3] Scott Peterson, “Iranian group’s big-money push to get off US terrorist list”, Christian Science Monitor, 8/8/2011.
[4] Ibid.
[5] Ibid.
[6] Scott Peterson, “Iranian group’s big-money push to get off US terrorist list”, Christian Science Monitor, 8/8/2011.
[7] Matt Spetalnick, Jeff Mason e Julia Edwards, “Saudi Arabia agrees to host training of moderate Syria rebels”, Caren Bohan, Grant McCool, and Eric Walsh (eds.), Reuters, 10/9/2014.

Contra o ebola, Fidel oferece ajuda a Obama


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Fidel Castro: O que não poderá ser esquecido nunca

 


Domingo, dia 12 de outubro, pela manhã, a edição dominical na internet do New York Times – órgão de imprensa que em determinadas circunstâncias traça pautas sobre a linha política mais conveniente aos interesses de seu país, publicou um artigo que intitulou "Tempo de acabar o embargo a Cuba"; com opiniões do que a seu julgamento, deve seguir o país.
Há momentos em que tais artigos são assinados por algum prestigiado jornalista, como alguém a quem tive o privilégio de conhecer pessoalmente nos primeiros dias de nossa luta em Sierra Maestra com os restos de uma força que tinha sido quase totalmente eliminada pela aviação e pelo exército de Batista. Éramos então bastante inexperientes; nem sequer concebíamos que dar essa impressão de fortaleza à imprensa constituía algo que pudesse merecer uma crítica.
Não era bem como pensava aquele valente correspondente de guerra com uma história que lhe deu nome nos tempos difíceis da luta contra o fascismo: Herbert Matthews.

Nossa suposta capacidade de luta em fevereiro de 1957 era um pouco menor, porém mais que suficiente para desgastar e derrotar o regime.
Carlos Rafael Rodríguez, dirigente do Partido Socialista Popular, foi testemunha do que, após a Batalha de Jigüe, em que uma unidade completa de tropas seletas foi obrigada a capitular depois de 10 dias de combate, expressei sobre meu temor de que as forças do regime fossem se render em julho de 1958, quando suas tropas de elite se retiravam precipitadamente de Sierra Maestra, apesar de treinadas e assessoradas pelos vizinhos do norte. Tínhamos encontrado a forma adequada para derrotá-las.
Era inevitável estender-me um pouco neste ponto se desejasse explicar o ânimo com que li o mencionado artigo do jornal norte-americano no domingo passado. Citarei suas partes essenciais que irão entre aspas: 
"... o Presidente Obama deve sentir angústia ao contemplar o lamentável estado das relações bilaterais que sua administração tem tentado consertar. Seria sensato que o líder estadunidense reflita seriamente sobre Cuba, onde uma virada política poderia representar uma grande vitória para seu governo." 

"Pela primeira vez, em mais de meio século, mudanças na opinião pública estadunidense e uma série de reformas em Cuba, têm feito que seja politicamente viável retomar relações diplomáticas e acabar com um embargo insensato. O regime dos Castro tem utilizado o referido embargo para justificar suas falhas e tem mantido o seu povo bastante isolado do resto do mundo. Obama deve aproveitar a oportunidade para dar fim a uma longa era de inimizade, e ajudar um povo que tem sofrido enormemente desde que Washington cortou relações diplomáticas em 1961, dois anos após Fidel Castro chegar ao poder." 

"...o deplorável estado de sua economia tem obrigado Cuba a implementar reformas. O processo tornou-se mais urgente a raiz da crise financeira na Venezuela, dado que Caracas proporciona-lhe petróleo subsidiado. Com o temor de que a Venezuela tenha que cortar sua ajuda, líderes na ilha dão passos importantes para liberar e diversificar uma economia que historicamente tem controles rígidos." 

"...o governo cubano começou a permitir que seus cidadãos se empreguem no setor privado e que vendam propriedades como automóveis e casas. Em março, a Assembleia Nacional de Cuba aprovou uma lei com o fim de atrair investimento estrangeiro. (...) Em abril, diplomatas cubanos começaram a negociar os termos de um tratado de cooperação que esperam assinar com a União Europeia. Participam das primeiras reuniões preparados, ansiosos e conscientes de que os europeus vão pedir maiores reformas e liberdades civis.

"O governo autoritário segue perseguindo dissidentes, que frequentemente são detidos por períodos curtos. Havana não explicou a suspeita morte do ativista político Oswaldo Payá”. 

Como pode ser apreciada uma acusação caluniosa e gratuita.

"No ano passado flexibilizaram as restrições de viagem para os cubanos, o que permitiu que dissidentes proeminentes viajassem ao exterior. Na atualidade, existe um ambiente de maior tolerância para aqueles que criticam seus líderes na ilha, mas muitos ainda temem as repercussões de falar abertamente e exigir maiores direitos". 

"O processo das reformas tem sido lento e tido reveses. Mas em conjunto, estas mudanças demonstram que Cuba está se preparando para uma era pós-embargo. O governo afirma que retomaria com gosto as relações diplomáticas com os Estados Unidos sem condições prévias". 

"Como primeiro passo, a Casa Branca deve retirar Cuba da lista que mantém o Departamento de Estado para penalizar países que respaldam grupos terroristas. Atualmente, as únicas outras nações na lista são Sudão, Irã e Síria. Cuba foi incluída em 1982 por seu apoio a movimentos rebeldes na América Latina, ainda que esse tipo de vínculo já não exista. Atualmente, o governo estadunidense reconhece que Havana está jogando um papel construtivo no processo de paz na Colômbia, servindo de anfitrião para os diálogos entre o governo colombiano e líderes da guerrilha”.

"As sanções por parte dos Estados Unidos à ilha começaram em 1961 com o objetivo de expulsar Fidel Castro do poder. Através dos anos, vários líderes estadunidenses têm concluído que o embargo tem sido um erro. Apesar disso, qualquer iniciativa para eliminá-lo traz consigo o risco de enfurecer membros do exílio cubano, um grupo eleitoral que tem sido decisivo nas eleições nacionais. (...) a geração de cubanos que defendem o bloqueio está desaparecendo. Membros das novas gerações têm diferentes pontos de vista, e muitos sentem que o embargo tem sido contraproducente para fomentar uma mudança política. Segundo uma recente pesquisa, 52% de norte-americanos de origem cubana em Miami pensam que deve terminar o bloqueio. Uma ampla maioria quer que os países voltem a ter relações diplomáticas, uma posição que compartilha o eleitorado norte-americano em geral". 

"Cuba e Estados Unidos têm sedes diplomáticas em suas capitais, conhecidas como seções de interesse, que desempenham as funções de uma embaixada. No entanto, os diplomatas estadunidenses têm poucas oportunidades de sair da capital para interagir com o povo cubano e seu acesso aos dirigentes da ilha é muito limitado". 

"Em 2009, a administração Obama tomou uma série de passos importantes para flexibilizar o embargo, facilitando o envio de remessas à ilha e autorizando um maior número de cubanos radicados nos Estados Unidos a viajar à ilha. Também criou planos que permitiriam ampliar o acesso à telefonia celular e internet na ilha. Mesmo assim, seria possível fazer mais. Por exemplo, se poderia eliminar as restrições às remessas, autorizar mecanismos de investimento nas novas microempresas cubanas e expandir as oportunidades para norte-americanos que desejem viajar à ilha." 

"Washington poderia fazer mais para respaldar as empresas norte-americanas que têm interesse em desenvolver o setor de telecomunicações em Cuba. Poucas se atreveram por temor às possíveis repercussões legais e políticas." 

"Por não fazer, os Estados Unidos estaria cedendo o mercado cubano a seus rivais. Os presidentes da China e da Rússia viajaram a Cuba em julho tendo em vista ampliar os vínculos". 

"O nível e envergadura da relação poderia crescer significativamente, dando a Washington mais ferramentas para respaldar reformas democráticas. É factível que ajude a frear uma nova onda migratória de cubanos sem esperança que estão viajando para os Estados Unidos em balsas". 

"Uma relação mais saudável poderia ajudar a resolver o caso de Alan Gross, um especialista em desenvolvimento que está há quase cinco anos detido na ilha. E mais ainda, criaria novas oportunidades para fortalecer a sociedade civil, com as quais gradualmente se diminuiria o controle que exerce o Estado sobre a vida dos cubanos. Se bem que a Casa Branca pode tomar certos passos unilateralmente, desmantelar o embargo requereria uma ação legislativa em Washington".

"... vários líderes do hemisfério se reunirão na Cidade do Panamá por ocasião da sétima Cimeira das Américas. Vários governos da América Latina fizeram questão de convidar Cuba, rompendo assim com a tradição de excluir a ilha por exigência de Washington." 

"Dada a quantidade de crises a nível mundial, é possível que a Casa Branca considere que dar uma virada substancial em sua política em relação a Cuba não é uma prioridade. Todavia, uma aproximação com a ilha mais povoada do Caribe que incentive o desbloqueio do potencial dos cidadãos de uma das sociedades mais educadas do hemisfério, poderia representar um importante legado para a administração. Também ajudaria a melhorar as relações dos Estados Unidos com vários países da América Latina e a impulsionar iniciativas regionais que sofrem como consequência do antagonismo entre Washington e Havana." 

"... Após o convite a Cuba para a cúpula, a Casa Branca não confirmou se Obama participará." 

"Tem que fazê-lo. Seria importante que se fizesse presente e considerasse como uma oportunidade para desencadear uma conquista histórica". 
Uma das sociedades mais educadas do hemisfério!!!! Isso sim que é um reconhecimento. Mas, por que não diz de uma vez, que em nada se parece ao que nos legou Harry S. Truman quando seu aliado e grande saqueador do tesouro público Fulgêncio Batista assaltou o poder em 10 de março de 1952, a somente 50 dias das eleições gerais. Aquilo não poderá ser esquecido nunca.
O artigo está escrito, como pode ser apreciado, com grande habilidade, buscando o maior benefício para a política norte-americana na complexa situação, quando se acrescentam os problemas políticos, econômicos, financeiros e comerciais. A isso se somam os derivados da mudança climática acelerada; a concorrência comercial; a velocidade, precisão e poder destrutivo de armas que ameaçam a sobrevivência da humanidade. O que hoje se escreve tem uma conotação muito diferente do que divulgavam há apenas 40 anos, quando nosso planeta se via já obrigado a albergar e abastecer de água e alimentos ao equivalente da metade da população mundial atual. Isto sem mencionar a luta contra o Ebola que ameaça a saúde de milhões de pessoas.
Acrescente-se que dentro de alguns dias a comunidade mundial irá expor ante as Nações Unidas se está de acordo ou não com o bloqueio a Cuba.

13 de outubro de 2004

Fidel Castro.