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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Governo da venezuelano divulga áudios que comprovariam tentativa de golpe contra Maduro; oposição nega



Jovem morto em protesto na terça-feira (24/02) Agência Efe


Vídeos exibidos pela TV estatal revelaram suposta participação de partido opositor Copei no plano para derrubar presidente
O governo da Venezuela divulgou na noite desta quarta-feira (25/02) imagens que mostrariam a relação do Copei, partido de oposição do país, com o suposto plano golpista para derrubar o presidente Nicolás Maduro do cargo. Além disso, outro áudio exibido pela TV estatal mostra um militar retirado também detalhando como seria o ataque a Caracas em 12 de fevereiro. O presidente do Copei, Antonio Eccari, negou as acusações nesta quinta-feira (26/02).
O áudio com uma suposta conversa entre Ecarri e o secretário-geral do Copei, Rogelio Díaz, foi apresentado pelo presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello. Nos áudios fornecidos por um dirigente do partido e revelados por Cabello, correligionários do partido afirmam que um golpe de Estado é o caminho para uma mudança radical na Venezuela e reconhecem que o chamado “Acordo para a Transição” era um chamado ao golpe.
O prefeito de Caracas, Jorge Rodríguez, por sua vez, apresentou uma série de vídeos com declarações do primeiro tenente retirado da Aviação Luis Hernando Lugo Calderón, nos quais o militar detalha o plano que seria realizado em 12 de fevereiro, mas foi desmantelado pela inteligência do país.
Trechos da conversa dos líderes do Copei
Copei
O plano, assinado pela ex-deputada María Corina Machado, Antonio Ledezma – que foi detido na última semana – e Leopoldo López, preso desde 2014, após as manifestações violentas que deixaram 43 mortos e mais de três mil pessoas detidas.

A gravação diz ainda que o primeiro vice-presidente do Copei no estado de Lara, José Cassany, e o dirigente nacional do partido, Antonio Sotillo, conheciam o golpe de Estado supostamente planejado para ocorrer em 12 de fevereiro.
"Isso não tem sentido. É evidente que os áudios foram editados e manipulados", disse Eccari, e, declarações ao jornal Folha de S. Paulo.
Íntegra com todas as denúncias:
O plano foi assinado pela ex-deputada María Corina Machado, Antonio Ledezma – que foi detido na última semana – e Leopoldo López, preso desde 2014, após as manifestações violentas que deixaram 43 mortos e mais de 3.000 detidos. Na última segunda (23/02), o partido disse que, “como rebeldia cívica, todo o Copei assinaria o acordo para transição".
O ataque
De acordo com o militar retirado, tal plano, chamado de “Jericó” incluía, além do ataque a alvos estratégicos em Caracas, a gravação de um vídeo pedindo a renúncia de Maduro, que seria a chave para o início dos bombardeios. Ele disse também que o planejamento estava sendo gestado desde o ano passado. Sete funcionários da Força Aérea Venezuela foram detidos por terem supostamente colaborado.
Já o prefeito Rodríguez disse que o general detido Oswaldo Hernández apontou a participação do deputado do partido Primero Justicia Julio Borges como colaborador no bombardeio. A pedido de deputados chavistas, o congresso venezuelano analisará a quebra da imunidade parlamentar de Borges para que possa ser investigado e eventualmente punido. 

Rússia entra na corrida das armas hipersônicas


















Criação de míssil hipersônico deve levar de oito a dez anos Foto: TASS

Aleksandr Korolkov, especial para Gazeta Russa

Imprensa russa noticiou a criação de um combustível especial para mísseis e aparelhos hipersônicos, bem como o desenvolvimento do caça PAK FA com motor que funciona sem oxigênio. Paralelamente, joint venture russo-indiana anunciou ter entrado na fase final dos trabalhos de um míssil de velocidade hipersônica.
Na semana passada, o diretor-geral da holding Aviatsionoe Oborudovanie (que faz parte da corporação estatal Rostec), Maksim Kuziuk, anunciou um novo motor para o PAK FA que pode trabalhar sem oxigênio.
“Ao criarmos o PAK FA tínhamos como tarefa garantir o funcionamento do motor sem necessidade de oxigênio. O sistema de plasma da ignição foi instalado na câmara principal de combustão e pós-combustão”, disse Kuziuk, ressaltando se tratar de um sistema sem análogos no mundo. “A novidade está no injetor com sistema de plasma: a formação do arco de plasma se dá em paralelo com o fornecimento do querosene.”
A inovação deve gerar uma economia significativa em termos de custo. No entanto, o lançamento do novo motor não tem apenas caráter econômico. É também mais um passo para a criação de aparelhos hipersônicos, nos quais essa tecnologia é vital.
Corrida contra os EUA
Enquanto o mundo inteiro assiste aos testes do míssil norte-americano hipersônico X-51, que nos últimos ensaios apresentou um voo estável e atingiu velocidade de Mach 5,1, trabalhos semelhantes estão sendo conduzidos na Rússia, ainda que sob absoluto segredo. Não se sabe sequer o suposto nome ou código do futuro produto.
O míssil Kh-90, cuja maquete foi apresentada em uma série de exposições no início dos anos 2000, foi descartado há três anos pelos seus criadores da MKB Raduga. Segundo eles, os trabalhos haviam sido interrompidos e sequer tinham conhecimento de qualquer outro projeto da mesma área.
Por outro lado, ainda em 2013, o vice-primeiro-ministro russo, Dmítri Rogózin, disse que “os testes prosseguiam” e que eles “eram completamente secretos, mas a Rússia não estava atrasada em relação aos EUA”.
Projetos confirmados
Já na semana passada, o vice-ministro da Defesa, o general Dmítri Bulgákov, disse que os cientistas russos desenvolveram uma receita de combustível que proporciona a futuros motores hipersônicos uma velocidade superior a Mach 5.
Mas a notícia mais concreta sobre trabalhos da Rússia no que diz respeito a armas hipersônicas foi relatada na Índia. Durante a última semana da feira aeronáutica Aero India 2015, o CEO da BrahMos Aerospace Ltd, Sudhir Mishra, disse que a criação de um míssil hipersônico levará de oito a dez anos. “Esse será o primeiro míssil hipersônico do mundo”, acrescentou.
http://br.rbth.com/ciencia/2015/02/25/russia_entra_na_corrida_das_armas_hipersonicas_29521.html

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Tsipras: “Demos um passo decisivo”

       Alexis Tsipras afirma: “ Demos um passo decisivo, deixando para trás a austeridade, o Memorando e a Troika”, numa declaração internacional. Na televisão grega, o primeiro-ministro do governo grego salientou: "Ganhámos uma batalha, mas não a guerra".


O primeiro-ministro grego afirmou numa declaração feita neste sábado na televisão grega: “O acordo de ontem com o Eurogrupo (...) cancela os compromissos dos governos anteriores para cortes nos salários e nas pensões, para despedimentos no sector público, para subidas do IVA na alimentação , na saúde”.
Tsipras sublinhou também, segundo o jornal “Público”: “Ganhámos uma batalha mas não a guerra […] as dificuldades reais estão à nossa frente”.
“Com o decisivo apoio do povo grego, conservámos a dignidade da Grécia, no dia que foi talvez o mais importante desde que está na União Europeia”, declarou ainda o primeiro-ministro do Governo do Syriza, salientando: “Herdámos um país à beira do abismo, com os cofres vazios e frustrámos o plano de forças conservadoras cegas, tanto no interior como no exterior do país, que queriam asfixiar-nos.”
Em declaração internacional divulgada em inglês, que transcrevemos na íntegra traduzida para português, Alexis Tsipras refere que a Grécia alcançou “um resultado importante e positivo nas negociações com a Europa”, que foi dado um “passo decisivo” para deixar para trás a austeridade, que enfrentarão desafios, “mas o governo Grego está empenhado em abordar as negociações, que terão lugar entre agora e junho, com ainda maior determinação”.
Declaração internacional de Alexis Tsipras
Ontem a Grécia conseguiu um resultado importante e positivo nas negociações com a Europa. A Grécia mantém-se de pé - e com a sua dignidade intacta. Provámos que a Europa defende compromissos mutuamente benéficos e não a distribuição de castigos. E neste sentido, os resultados de ontem podem ser ainda mais importantes para a Europa do que para a própria Grécia.
A declaração conjunta do Eurogrupo estabelece o quadro do acordo que faz a ponte entre o Memorando e o nosso plano de crescimento. O acordo cria o quadro institucional para as tão necessárias reformas progressistas no que respeita à luta contra a corrupção e a fuga ao fisco, bem como reformar os Estado e a administração pública, e evidentemente ultrapassar a crise humanitária, o que consideramos ser a nossa principal responsabilidade.
Ontem demos um passo decisivo, deixando para trás a austeridade, o Memorando e a Troika. Um passo decisivo que permitirá mudanças na zona euro. Ontem não foi o fim das negociações. Entraremos numa nova fase das negociações até chegarmos a um acordo final para a transição das políticas catastróficas do Memorando para políticas concentradas no desenvolvimento, emprego e coesão social.
Claro que enfrentaremos desafios. Mas o governo Grego está empenhado em abordar as negociações, que terão lugar entre agora e junho, com ainda maior determinação. Comprometemo-nos a repor a nossa soberania nacional e popular. Juntamente com o apoio do povo Grego, a quem cabe o julgamento final das nossas ações. Enquanto apoiantes e participantes ativos, o povo Grego vai ajudar-nos nos nossos esforços para alcançar a mudança política.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Golpismo entra na fase de mentiras e boatos, com ajuda do governo



"Aproveitando-se da tolice do governo de ter desmontado praticamente todo esquema de comunicação que havia sido organizado durante a campanha eleitoral, a oposição continua espalhando boatos e mentiras, como esse, mais recente, de que Dilma irá promover um confisco da poupança.

É a mesma fonte que, às vésperas da votação no segundo turno, espalhou boatos, via whatsapp e facebook, e redes sociais em geral, sobre a morte do doleiro Alberto Youssef, acusando Dilma Rousseff.

Se alguém tinha dúvida de onde veio a mentira: ela foi publicada, com ares de verdade absoluta, no site do PSDB.

Naquele momento, porém, o governo ainda se beneficiava de uma estrutura de campanha, e havia uma postura pró-ativa de todo o governo e seu eleitorado para desmentir boatos.

Esses boatos, mesmo desmentidos, geram mal estar e desconfiança, na população, em relação ao governo, sobretudo quando este permanece em silêncio.

Quer dizer, houve uma novidade. O blog do Planalto respondeu, pela primeira vez, uma mentira da Globo, sobre uma modificação em verbete do Wikipédia.

Bom sinal, mas ainda extremamente tímido, e ineficaz, porque é preciso antes construir uma audiência para o blog do Planalto.

De que adianta publicar um desmentido que ninguém lê? De que adianta, se o blog do Planalto não entrevista a própria presidenta, e se esta não faz propaganda dele em seus discursos?

Dilma não poderia, em seus pronunciamentos na TV aberta, pedir aos brasileiros para acessarem o seu blog? Com isso, pavimentaria uma comunicação mais direta entre ela e o público, reduzindo o poder da mídia como intermediária.

Por que essa dependência voluntária da TV aberta, um meio em declínio, e onde o governo sofre uma profunda desvantagem política?

A mídia, conforme o blog da Cidadania já denunciou, publica os desmentidos de boatos de um jeito tão dúbio que o resultado é o leitor continuar desconfiado. Parece até que a intenção não é esclarecer.

Por enquanto, a resposta do Blog do Planalto à matéria mentirosa do Globo, sobre a alteração no Wikipédia, é como um cachorrinho pequeno latindo para um imenso pitbull.

Não adianta mostrar coragem se não há força.

A produção de imagens, por exemplo: charges, memes, etc, por parte da oposição e da direita, culpando o governo e o PT por todos os males, continua com força total. E isso é um processo cumulativo, porque se cria um gigantesco banco de imagens na internet.

Suponho que o PT ache que está produzindo um material de comunicação espetacular. Não está. Seus responsáveis por comunicação contam número de visitas, como se todos os visitantes lhes fossem simpáticos. Não são.

O PT nunca esteve tão por baixo, em décadas. Sua comunicação é um completo fiasco.

PT e governo acham que comunicação política é falar bem de si mesmo, é repetir, ad infinitum, que tirou tantos milhões da miséria, etc.

Comunicação política não é isso, mas dialogar, ouvir críticas, trocar ideias sobre o futuro, estar disposto a mudar, falar sobre os problemas do país.

Mesmo com centenas de parlamentares, todos com verbas altas de gabinete, ninguém pensou em reunir uma estratégia unificada para produzir uma comunicação de alta qualidade, eficaz, não partidarizada, crítica.
Quer dizer, alguém pensou sim: Lula, ao lembrar que um gabinete de deputado tem mais verba que um diretório partidário.

O mundo universitário e científico está repleto de cérebros simpáticos à esquerda, que não são contatados ou usados pelo PT. Dá-se a impressão que o PT não tem quadros, que o partido é dominado pela mais absoluta mediocridade intelectual.

Onde estão os contrapontos e os contra-ataques na forma de mensagens simples, apartidárias, bem humoradas, com produção de vídeos, charges, histórias em quadrinho, músicas?

No passado, o partido comunista, com muito menos verba, patrocinava cinema e literatura. Jorge Amado recebeu, em toda a sua vida, ajuda do partido para escrever, e se tornou o escritor brasileiro mais conhecido no mundo inteiro.

É preciso produzir material para fora do PT, para outros partidos, para a sociedade, para que esta leia conteúdo num espaço minimamente imparcial, sem estrelas vermelhas enormes por trás.

O governo tem ministros com grande capacidade oratória, coragem e experiência para enfrentar a mídia, como Jacques Wagner, Berzoini, Miguel Rosseto e Mercadante.

Ao que parece, porém, a presidenta não os deixa fazerem a batalha da comunicação.

A presidenta não transfere poder para o responsável pela Secom, Thomas Traumann, que permanece amarrado a uma situação constrangedora, quase decorativa.

Sem liderança política na comunicação do governo, esta acaba, automaticamente, em mãos de agências privadas de publicidade, que fazem um serviço apenas protocolar, até porque, possivelmente, elas tem mais afinidade com a Globo e com a oposição do que com o governo.

Enquanto isso, o golpismo midiático abandona todos os escrúpulos.

Cúmplice dessas campanhas de mentira, oriundas de fontes apócrifas (mas notoriamente ligadas à oposição), o golpismo midiático pode causar estragos devastadores na popularidade da presidenta e de seu partido (como já causou), desestabilizar o governo (como já desestabilizou) e provocar danos à economia (já provocou).

Para piorar, o governo promove um combate às distorções fiscais e as chama de “ajuste fiscal”, num pacotão que mistura medidas saneadoras com outras quiçá desnecessárias, mas sobretudo sem promover uma campanha de esclarecimento.

E tudo para quê? Para posar de durão e malvado perante o mercado?

Sem comunicação inteligente, qualquer medida minimamente saneadora do governo será pintada facilmente como uma traição de classe ou estelionato eleitoral.

O governo conseguiu a proeza de jogar fora todo o prestígio que havia acumulado no segundo turno da campanha eleitoral.

Tenho uma suspeita crescente de que a maior parte da perda de popularidade de Dilma vem da cegueira do governo e da presidenta em relação à disposição progressista de grande parte da sociedade brasileira. Querem agradar uma minoria conservadora, e perdem a maior parte da sociedade, que esperava um governo mais combativo, mais criativo, mais valente na defesa de posições progressistas.

Mas sem comunicação, não há criatividade. O máximo que se consegue parir são nomes bizarros como “Pátria Educadora”.

A estratégia já está dada: desconstruir o PT e Dilma, durante o primeiro ano de governo, preparando o terreno para um impeachment no segundo ano.

Estão conseguindo, com ajuda do governo e do PT."

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Medicina: as alternativas cubanas

 Cuba desenvolveu há sessenta anos uma medicina única no mundo, que alia a medicina moderna à medicina natural e tradicional. A ilha caribenha obtém hoje os melhores resultados do continente em matéria de saúde


Por Alves
Por Anne Vigna e Gabriela Ordonez no Le Monde Diplomatique
Após o restabelecimento das relações diplomáticas com Cuba, os Estados Unidos não poderão mais ignorar que a ilha obteve durante os 52 anos de isolamento diplomático e econômico resultados “espantosos” em matéria de saúde. “Espantosos” porque o país, que não abriga nenhuma das grandes indústrias farmacêuticas mundiais, obtém os melhores resultados do continente americano em matéria de saúde: a expectativa de vida (76 anos para os homens, 81 anos para as mulheres) é a melhor do continente e a mortalidade infantil é a mais reduzida: 4,8 mortes para cada 1.000 nascimentos em Cuba, contra 12 no Brasil e 6 nos Estados Unidos.1 Durante uma visita a Havana em julho de 2014, Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), se mostrou muito impressionada pelas conquistas na área. “Desejamos ardentemente que todos os habitantes do planeta possam ter acesso aos serviços médicos de qualidade, como em Cuba”, declarou. E, com efeito, qual país pode se gabar hoje de oferecer gratuitamente à sua população uma medicina alopática, claro, mas também a opção “medicina natural e tradicional”? É preciso reconhecer... nenhum... e sobretudo seu poderoso vizinho, que nessa área fracassou tremendamente.
Então o que aconteceu para que Cuba provoque hoje as grandes potências com resultados tão indecentes? Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a saúde e a educação são os dois objetivos principais da Revolução. Os cubanos investiram os meios que tinham, mas fizeram isso de maneira inteligente para alcançar esse objetivo custe o que custar. Che era médico, Fidel Castro sempre foi apaixonado por medicina e, como veremos, Raúl Castro é um fervoroso defensor da “medicina natural e tradicional”. Cuba primeiro formou um número recorde de médicos, enviados pelo mundo em missões, primeiro numa função humanitária e depois por diversos anos em uma função econômica, para auxiliar as deficiências dos sistemas de saúde. O Brasil, por exemplo, “emprega” cerca de 10 mil médicos cubanos (dos 14 mil médicos do Programa Mais Médicos) via Organização Pan-Americana da Saúde para oferecer um serviço de saúde a uma população que até então estava privada dele, e onde os médicos brasileiros não desejavam se estabelecer. Hoje o mundo descobre surpreso que a maior brigada médica contra o vírus ebola na África é cubana...

No entanto, o mundo ficaria ainda mais espantado se passeasse pelo sistema de saúde cubano, em particular o formado há cerca de vinte anos, reagrupado sob o termo de “medicina natural e tradicional”, ou MNT. Mais uma vez, é preciso voltar no tempo para entender o que aconteceu. Quando Cuba se tornou um parceiro do bloco comunista nos anos 1960, as trocas se multiplicaram entre “países comunistas” em diversas áreas, principalmente no que se refere às Forças Armadas e à saúde. Foi assim que os cubanos aprenderam com os militares vietnamitas e chineses que a acupuntura pode salvar quando não se tem mais nada à mão. “É sempre surpreendente perceber que as experiências em matéria de saúde natural foram levadas a sério nos hospitais militares em Cuba. É por isso que, quando Raúl Castro se tornou presidente, ele oficializou a medicina natural, pois conhece os resultados e avanços nessa área. Para nós, ter um apoio no mais alto escalão do Estado sempre foi uma grande sorte”, explica Concepción Campa, diretora do Instituto Finlay em Havana, o maior instituto de vacinas da ilha e um dos maiores da América Latina. Quem diz “vacinas” não pensa geralmente em “medicina natural”. No entanto, o instituto realiza, paralelamente à sua produção de vacinas, há cerca de quinze anos, experiências inéditas para tentar encontrar soluções para patologias. Entre essas experiências, desenvolveu a fitoterapia, a homeopatia e a macrobiótica. Foi assim que a organização, que procurava desenvolver estudos sobre a alimentação no início dos anos 2000, abriu suas portas para a associação italiana de macrobiótica Un Punto Macrobiótico, de Mario Pianesi. Os italianos enviaram a Cuba especialistas em macrobiótica e o Instituto Finlay realizou os testes clínicos que depois iriam validar o método. Primeiro, trataram um grupo de crianças autistas: ainda que a patologia não seja muito frequente em Cuba, ela está cada vez mais ligada a uma má alimentação. “Os resultados foram muito encorajadores para o autismo, então continuamos com um grupo de crianças que sofria de doenças autoimunes crônicas”, acrescentou a diretora. Foi esse grupo que encontramos em um sábado de manhã para uma sessão de ioga: todas as oito crianças presentes têm dores articulares agudas. Além da alimentação macrobiótica, a ioga faz parte de sua terapia. Pais e crianças seguem o curso como fazem com a macrobiótica. Christopher Hernandez Infante, de apenas 12 anos, sofre há um ano de artrite crônica na perna. Sua mãe o levou a diversos especialistas antes de se dirigir a Finlay. “Há alguns meses totalmente sem açúcar, devo reconhecer que ele vai bem melhor. Ele tem bem menos dor, consegue se mexer de novo, quase como antes”, conta sua mãe. A traumatologista Santa Gomez, chefe do Serviço Nacional de Traumatologia de Cuba, só conheceu a macrobiótica há cinco anos. Desde então, está convencida da eficiência do método: “A alimentação é realmente a chave. A maioria das crianças chega aqui mal alimentada, com uma alimentação pobre demais ou rica demais. Com a dieta macrobiótica, conseguimos reduzir sua dor e, depois, os remédios esteroides e citostáticos que elas têm de tomar”, explica. O instituto recomenda a macrobiótica para uma série de patologias crônicas, entre as quais as mais evidentes são a diabetes, a hipertensão e a obesidade, mas também contra hepatite, câncer, doenças renais e problemas dermatológicos. Como a política de Cuba em matéria de saúde é pautada na prevenção das doenças, o instituto organiza a cada mês cursos de descoberta da macrobiótica em um espaço anexo. O método ainda é o dos italianos e o conceito parece, com efeito, evidente: “Se melhoramos a alimentação, as chances de ficar doente se reduzem amplamente”, explica Talaine González, nutricionista e responsável pelos cursos.
É assim que a macrobiótica, englobada no conceito de “orientação alimentar naturista”, faz parte dos dez métodos de medicina natural e tradicional reconhecidos e praticados em Cuba. Ao lado das dietas alimentares encontram-se a acupuntura e suas diferentes técnicas, a fitoterapia, a apiterapia, quer dizer, a utilização dos produtos das abelhas, a homeopatia, a terapia floral de Bach, os exercícios terapêuticos tradicionais (o qi gong, o tai chi chuan, a ioga), a hidrologia médica, ou seja, a utilização das águas minerais e da argila, a talassoterapia (os benefícios do meio marinho) e, por fim, a terapia de ozônio, ou ozonoterapia. Trata-se de terapias naturais que o resto do mundo conhece mal ou pouco: algumas foram herdadas das tradições asiáticas (acupuntura, qi gong etc.), outras vieram da Europa (florais de Bach, homeopatia) e outras ainda se desenvolveram em Cuba, uma ilha cujos habitantes viram que o mar, o sol, o lodo, a argila e as algas poderiam ser terapêuticos (hidrologia, talassoterapia). “Desde 1995 temos em Cuba uma especialidade em medicina natural, mas também diplomas para cada terapia. Por exemplo, um psiquiatra pode cursar uma formação em ‘terapia de Bach’, ou um pediatra, um módulo de ‘homeopatia’. Agora todos os estudantes de medicina recebem uma formação em MNT, pois para nós não existe nenhum antagonismo entre MNT e a medicina moderna. As duas se completam e uma é mais adaptada que a outra em função das patologias e dos desejos do paciente. Alguns pacientes reclamam dos métodos naturais; outros, por sua vez, não suportam as agulhas. Cabe a nossos médicos se adaptarem”, conta Johan Pedromo, médico especialista em MNT e responsável por esse setor no Ministério da Saúde em Havana.
Concretamente, a medicina natural está em todos os lugares e é acessível a todos os cubanos: basta se dirigir a uma clínica de bairro para se dar conta. No bairro de Alamar, a 10 quilômetros de Havana, o consultório de medicina natural não fica mais vazio. Um médico especialista recebe os pacientes em consulta, enquanto a enfermeira administra os tratamentos. “Os cuidados são muito diferentes: esta manhã recebi uma mulher muito deprimida, para quem administrei a terapia de Bach. Na maior parte do tempo, porém, trato de dores com terapias chinesas: acupuntura, ventosas, massagens. Sem essas terapias, seria preciso administrar analgésicos”, explica a especialista Irma Plasencia Fellové. Ao lado dos pacientes, um homem de 60 anos recebe esta manhã sua terceira sessão de eletroacupuntura para uma inflamação no ombro: “Já me tratei aqui diversas vezes e confesso que estava desconfiado no começo se iria funcionar, mas, de fato, me faz bem”. A medicina natural também é muito utilizada no hospital. O especialista em MNT Jorge Luis Campistrous atende, em seu consultório no hospital universitário Comandante Manuel Fajardo, em Havana, a consultas externas. Na verdade, a medicina natural está presente em todos os serviços e em todos os andares: desde as urgências até a geriatria. “Na semana passada, de 640 pacientes recebidos nas urgências, 240 foram tratados com medicina natural, mas também 30% dos pacientes que estão em terapia intensiva, 32% em cirurgia, 50% que tiveram um infarto, e eu poderia continuar falando sobre todos os serviços”, explica o médico. Além das terapias naturais, o hospital utiliza produtos naturais fabricados em Cuba. Aí também a lista é longa... Primeiro uma linha de produtos homeopáticos do Instituto Finlay, óleos à base de ozônio e toda uma série de produtos à base de plantas: para tratar a asma e os problemas respiratórios, cuidar de micoses e feridas, contra a anemia, o colesterol, os problemas de circulação etc. Alho, goiaba, laranja, xaropes de orégano ou Aloe vera e os produtos das abelhas, como o própolis. Todos esses produtos não dependem do Ministério da Saúde, e sim do da Agricultura. São produzidos segundo regras estritas para obter uma eficiência máxima. “Primeira regra: nenhum produto químico, tanto no cultivo quanto no controle microbiológico. Aqui produzimos catorze plantas exclusivamente para a medicina verde. Segunda regra: devemos respeitar o ciclo natural das plantas. Por exemplo, a Aloe vera só pode ser colhida ao final de dois anos na terra, para que a planta tenha todos os seus princípios ativos”, explica Alberto Martinez, engenheiro agrícola na fazenda de plantas medicinais UEB, em Jovellanos, na província de Santa Clara. A alguns quilômetros dessa plantação, Isabel Maria Perez Vasquez, professora da Universidade de Jovellanos, mostra o que resta da “unidade agrobotânica experimental Ciro Redondo”, criada por Che no fim da Revolução e a qual a universidade espera restaurar. “Che tinha entendido a importância das plantas para o futuro. O objetivo da fazenda era principalmente pesquisá-las para conhecer suas propriedades curativas. Ele tinha enviado uma missão para buscar plantas na Amazônia brasileira, principalmente a moringa, que o Instituto Finlay comercializa hoje como complemento alimentar”, explica a professora de Economia. Concepción Campa sorri diante dessa evocação de Che: “É verdade que a moringa é uma planta excepcional e que Che nos deu um grande presente”. Suas folhas são muito ricas em elementos nutritivos (vitaminas, minerais e proteínas) e seus grãos purificam a água – dois aspectos fundamentais no mundo atual. A medicina natural, que o Che vanguardista tinha imaginado nos anos 1960, só conheceu um forte desenvolvimento em Cuba a partir do “período especial”, os anos 1990 e o afundamento do bloco comunista, uma época de penúria em Cuba, tanto em alimentos quanto em medicina. Em 2011, durante o sexto congresso do Partido Comunista Cubano, uma diretiva indicava “dar a máxima atenção ao desenvolvimento da medicina natural e tradicional”. “É a única que recebeu essa menção de ‘máxima atenção’, o que dá uma ideia da importância desse tema para o governo. Eu acho, porém, que seu desenvolvimento vai acontecer principalmente graças à população. É uma tendência geral hoje procurar o natural. Eu entendo que isso preocupe a indústria farmacêutica, pois é uma medicina muito eficiente”, conclui com um sorriso Concepción Campa, ao mesmo tempo que lembra que o desenvolvimento das vacinas homeopáticas foi efetivamente uma má operação financeira para o Finlay, mas a saúde contou mais do que o aspecto financeiro. Cuba não realizou estudos econômicos sobre a medicina natural, mas parece evidente que seu custo é bem menos elevado do que o da medicina dita moderna: um chá de alho parece menos caro do que um medicamento. Para o doutor Johan Pedromo, é evidente que essa medicina previne um dos problemas que teria um custo para o sistema de saúde: “Tomem o exemplo do qi gong, uma ginástica tradicional chinesa. Hoje sabemos que essa atividade melhora o estado emocional, a coordenação e a estabilidade das pessoas idosas. Então, ao praticá-lo vamos diminuir a taxa de suicídio e de depressão ligada à velhice, mas vamos também melhorar a coordenação e o equilíbrio, diminuir o risco de quedas e, por consequência, o número de fraturas da bacia. Mais amplamente, é reconhecido atualmente que essas técnicas de medicina natural melhoram a qualidade de vida dos pacientes. E isso não tem preço!”. No mesmo bairro de Alamar, cerca de vinte pessoas idosas praticam duas vezes por semana o qi gong. No final da prática, saúdam a professora com um “saúde e vida, uma arma da Revolução”. Um dos praticantes tem 88 anos... mas parece ter 70. E é fato: a saúde foi uma arma tão eficaz da Revolução Cubana que o país deve hoje cuidar de uma população idosa. Como em um país rico...
Nota:
1- Fonte: Estatísticas da Organização Mundial da Saúde e do Banco Mundial (2013).
Anne Vigna é jornalista e Gabriela Ordonez é acupunturista.


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Metade da riqueza do mundo está nas mãos de 80 pessoas

 

Metade da riqueza do mundo está nas mãos de 80 pessoas. 21668.jpeg














LONDRES/INGLATERRA - Apenas 80 pessoas detêm a mesma riqueza que metade da população mundial, ou 3,5 bilhões de pessoas, aponta relatório DA ONG britânica Oxfam. Os dados, de 2014, mostram um aumento da desigualdade, já que em 2013 eram 85 bilionários.

Por ANTONIO CARLOS LACERDA

Em 2009, o número era de 388. Por outro lado, a parcela do 1% mais rico da população mundial está perto de controlar a maior parte da riqueza global. O grupo detinha 48% de toda a riqueza mundial no ano passado, frente a uma fatia de 44% em 2009.

A previsão da organização é de que a participação deve passar de 50% em 2016. O alerta é direcionado aos participantes do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.

"A escala da desigualdade global está simplesmente excessiva. A diferença entre os ricos e os demais está aumentando em velocidade muito rápida", afirmou, em comunicado, a diretora-executiva da Oxfam, Winnie Byanyima.

Segundo a Oxfam, a crescente desigualdade está restringindo a luta contra a pobreza global e que, apesar do tema estar na agenda mundial, as diferenças estão aumentando. Winnie ressaltou que, embora líderes globais como o presidente dos Estados Unidos Barack Obama e a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) venham defendendo a luta contra a extrema desigualdade econômica mundial, "ainda vemos muitos apenas falando".

"Queremos realmente viver em um mundo onde um por cento é dono de mais do que o resto de nós combinado? Manter os negócios como de costume para a elite não é uma opção sem custos. O fracasso em lidar com a desigualdade vai atrasar a luta contra a pobreza em décadas. Os pobres são atingidos duas vezes com a desigualdade crescente: eles recebem uma fatia menor do bolo econômico e, porque a extrema desigualdade prejudica o crescimento, há um bolo menor para ser compartilhado", disse Winnie.

A Oxfam informou que iria pedir durante o encontro realizado em Davos, este ano, que sejam tomadas atitudes para se lidar com a desigualdade crescente, incluindo a repressão contra a evasão fiscal por corporações e o avanço em direção a um acordo global sobre as mudanças climáticas.

De acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg, os mais ricos do mundo adicionaram US$ 92 bilhões a suas fortunas em 2014. O maior ganhador foi o fundador do site de e-commerce chinês Alibaba, Jack Ma, ao lado de outros ganhadores, como o megainvestidor Warren Buffett e o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg.

ANTONIO CARLOS LACERDA é Correspondente Internacional do PRAVDA.RU

RÚSSIA : “NÃO HAVERÁ DUAS UCRANIAS























Por : Pettersen Filho

Espécie de “Gerentona” dos Americanos, para a sua Porção Europeia, desde que os EUA sagraram-se vencedores, pelo Ocidente, da Segunda Grande Guerra Mundial, quando teve o seu País, a Alemanha, dividida em Quatro Partes, como despojo de Guerra, entre França, Inglaterra, EUA e Rússia, essa ultima, quem realmente retrocedeu Hitler dos Montes Urais, na antiga URSS, passando pela Iugoslávia, Tchecoslováquia, Hungria, Polônia, até a própria Berlim, antes que os EUA disparassem um só tiro no Continente Europeu, Angela Merkel, até hoje “Mandatária” de um País Ocupado, se não, por Bases Norte-americanas, Inglesas e Francesas, exceto Russas, essas ultimas já desmobilizadas desde a entrega da Alemanha Oriental e a Europa de Leste, efetivamente, “Estacionamento” de Tropas da OTAN – Aliança do Atlântico Norte, formada para deter o Comunismo, hoje totalmente sem sentido, mesmo sendo uma das Três maiores Economias do Planeta, “Nave Capitania” da União Europeia, preocupada com as recentes declarações do Presidente Obama em “Armar” Kiev, na Ucrânia, contra os Rebeldes Pró-russos, do Leste, após realizar reuniões de emergência com Holande, da França, e Putin, na Rússia, acaba de arrumar as suas malas, rumo à Washington, nos EUA, para consenso com Obama.
Assentado em sua reconfortante Cadeira Aveludada na Casa Branca, assim como sempre o fizeram os “Mandatários de Washington”, protegidos pelo Oceano Atlântico, e por uma “Fronteira Subserviente”, representada pelo México, ao Sul, e Canadá, ao Norte, enquanto invariavelmente a US Navy Bombardeia um Califado qualquer no Oriente Médio, ou os Dedos Ágeis da CIA Pilotam mais um Drone, na África ou América Central, para combates invisíveis com Traficantes, ou Insurgentes, que lhes desinteressem, Obama, ora de Plantão no Pentágono, na sua “Salinha de Guerra”, pouco se lixa com o que, de fato, pode ocorrer no Continente Europeu, distante que está, ao contrário de Alemanha, ou, por exemplo, a Polônia, dos Foguetes de Defesa Russos, estacionados próximos à contestada Ucrânia, desde os Tempos dos Kzares, “Possessão Russa”, até que mero “Ato Administrativo” da Burocracia Soviética a transferisse para a República Soviética da Ucrânia, então pertencente a mesma URSS, na verdade, Ultima, e inarredável Fronteira, antes que os Tanques da própria OTAN, após capitularem a Polônia, Iugoslávia, enfim, a Europa de Leste, alcancem, finalmente, o Coração do Território Russo.
Acometida de um certo despautério, o mesmo que, talvez, através da História, tenha acometido Napoleão e Hitler, ao cometerem o “Erro” de invadirem a Rússia, a União Europeia, aparentemente, esquecendo-se dos anos da Guerra Fria, entendendo como “Fragilidade Permanente” a derrocada da URSS, e da própria Rússia, ora tratada, via Boicote e Sanções Econômicas excludentes, absolutamente preconceituosas, como uma “Republiqueta de Bananas”, à moda América Central, compelida pelos EUA, ao contrário do que evidencia enxergar Merkel, ao deparar-se com a Resistência de Putim, às Sanções, absolutamente compreendendo, esse ultimo, que as “Concessões” feitas pela antiga URSS, em troca do “Liberalismo Econômico” e do “Convívio Democrático”, nada trouxeram de bom a Rússia atual, a não ser o atual “Confronto”, ante aos rufar dos tambores, porquanto a Resistência ocupa novos Territórios de Kiev- Pró-ocidente, apressa-se por um “Acordo”, já celebrado antes, entre Oriente e Ocidente, em “dividir” a Ucrânia, conforme fizeram, outrora, em Duas Alemanhas, Dois Vietnans e Duas Coreias, coisa que, por certo, enquanto ganha tempo, e fortalece as suas Unidades, a Rússia, estrategicamente, não pode concordar.
Prejudicada maior com o possível confronto, somente interessante à Casa Branca, enquanto assiste, do outro lado do Oceano, como o fizera na Primeira e Segunda Guerras Mundiais, até que fosse inevitável, entrassem no Conflito, a Alemanha, Parceira Economica maior da Rússia, e é o que quer, verdadeiramente, romper Obama, encontra-se entre o possível “Fogo Amigo” dos EUA, e suas Bases no País, e o “Fogo Inimigo” da Rússia, em caso de Conflito, que, de resto, pode abarcar o Mundo.
Perigo Nuclear que emerge de tal Embate, encorajados os EUA pela possível fragilidade da Rússia em Forças Convencionais, não sendo o caso de Forças Atômicas, ainda que a “Guerra da Ucrânia” se torne um “Palco” limitado de Guerrilhas, no caso, tão próximo a Varsóvia, Berlim França ou Londres, ainda assim, parece ser uma aposta temerária para os próprios Americanos, que, por certo, caso imprevidentes, terão saudade da “Guerra Fria”, ante a atual “Guerra Fresca”, no melhor sentido da “Palavra” (fresca, sem motivo), que promovem, incautamente, contra os Russos, por pura vaidade e preciosismo
Quanto a Europa: “ “Ela que se Fod....”
Crônica também postada em www.paralerepensar.com.br
*Antuérpio Petterson Filho, membro da IWA – International Writers and Artists Association, é advogado militante e assessor jurídico da ABDIC – Associação Brasileira de Defesa do Individuo e da Cidadania, que ora escreve na qualidade de editor do periódico eletrônico “Jornal Grito do Cidadã”, sendo a atual crônica sua mera opinião pessoal, não significando necessariamente a posição da Associação, nem do assessor jurídico da ABDIC..

IRÃ: 36 ANOS DE REVOLUÇÃO NACIONALISTA




Batalhão de mulheres nas Forças Armadas do Irã




Beto Almeida*
Os iranianos, herdeiros dos persas, povo altivo e forte, construíram nação mediante palavra de ordem nacionalista, para se salvarem do jugo imperialista anglo-saxão há 35 anos. Desde então, têm sofrido ataques imperialistas que tentam reverter o curso da história traçado pela consciência transformadora do povo. Mas, a determinação política dada pelo nacionalismo no Irã ergueu-se como barreira intransponível para aqueles desejosos de uma volta ao passado. Hoje, a indústria nacional iraniana é fonte de formação de mão de obra altamente especializada engajada na defesa de estrutura produtiva competitiva a partir da transformação da riqueza nacional, o petróleo, em agregação de valor diferenciado, tornando o Irã fonte de transformações quantitativas e qualitativas capazes de colocar o País no cenário internacional como ator de primeira grandeza responsável por impor sua própria agenda desenvolvimentista ancorada no interesse nacional. A revolução foi fundo, dotou os iranianos de uma autoestima e uma autoconsciencia que resistiram e continuarão a resistir a todas as tentativas de subjugá-los. Por conta dessa postura independente, o Irã virou o jogo a seu favor e colocou os Estados Unidos diante da necessidade de mudar seu discurso e sua postura na tentativa de fazer com que os iranianos se subordinassem aos ditames de jogo de poder das potências imperiais no sentido de impedir o país de alcançar sua autosuficiência energética e seu desenvolvimento do ciclo nuclear. O Irã hoje completa o ciclo do processo industrial, culminando coma produção bélica e espacial sem a qual as inovações de ponta não se realizam, para serem posteriormente transformadas em bens e serviços no mercado de consumo, com patentes próprias, dotando o país de fonte de recursos advindos das conquistas científicas e tecnológicas. Tamanha desenvoltura e firmeza política, conquistada por meio de determinação política que somente a revolução nacionalista confere, representa exemplo significativos para os povos que lutam pela sua independência como, por exemplo, os da América do Sul.
Já que estamos todos falando, diuturnamente, de petróleo e Petrobras, falemos hoje de um país petroleiro, o Irã, que neste dia 11 de fevereiro festeja os 35 anos de sua Revolução, comemorada com gesto de resistência daquele povo na defesa de sua soberania, que envia mensagens importantes a todos os países, mas muito especialmente ao Brasil, também ameaçado, em razão, entre outras, da grandeza dos mananciais petrolíferos que possui e da importante, eficiente e potente empresa estatal petroleira que construiu.
Tal como o Irã , em 1953, alvo de um golpe de estado patrocinado pelo imperialismo inglês que veio a derrubar o presidente Mossadeg, um nacionalista que corajosamente havia nacionalizado o petróleo iraniano, também o Brasil veio a sofrer, em 1954, um ano após a criação da Petrobras, um processo de desestabilização golpista que levou à morte o igualmente nacionalista e popular presidente Getúlio Vargas. Tal como ocorreu no Irã, o imperialismo também não aceitou, nem respeitou a soberana decisão do povo brasileiro que, por meio de uma campanha popular “O petróleo é nosso!”, que uniu militares, trabalhadores, estudantes e donas de casa, e, nas ruas, conquistou a criação da Petrobras, sancionada por Vargas em outubro de 1953. Essa mesma mídia que hoje afirma que a Petrobrás precisa ser privatizada, que não tem sentido a presença da estatal na exploração e produção do petróleo pré-sal, é a mesma mídia que dizia, em 1953, que Vargas era louco por “criar uma empresa de petróleo num país que não o possui”.
É esta mesma mídia, teleguiada pelas grandes corporações internacionais, que busca desconstituir a imagem da grande Nação Persa que ora, sob vento e tempestade , envia ao mundo a suprema mensagem de ter sido capaz de resistir por 35 anos às mais sórdidas agressões, sabotagens, sanções e boicotes praticados pelos países imperiais derrotados com a nacionalização do petróleo iraniano, uma das primeiras decisões da Revolução de 11 de fevereiro de 1979.
Mesquitas e revolução
Aquela revolução surpreendeu o mundo por seu enraizamento popular, convocando homens, mulheres, transformando criativa e inteligentemente as mesquitas, além de local sagrado para as preces, também em sagrado local para cultuar a libertação, para projetar a transformação, para sonhar e organizar a independência. Tal como Chávez e seu movimento bolivariano e os Capitães da Revolução dos Cravos em Portugal transformaram os quartéis em espaços libertários, também o povo persa enriqueceu as mesquitas com o local de conquistar o futuro.
Hoje o futuro chegou para a Nação Persa. A indústria petroleira iraniana é totalmente nacionalizada. Aqui começam as mensagens que a Revolução Iraniana, nos seus 35 anos de edificação e resistência, envia ao mundo, particularmente ao Brasil, que viu tenebrosa transação para desnacionalizar boa parte das ações da Petrobras, a preços indecentemente desvalorizados, na Bolsa de Nova York, em 1997. O Irã prova que é possível resistir e que mesmo agredido, cercado, sabotado, sancionado, pode-se avançar, progredir e ter uma indústria de petróleo sem um único técnico que não seja iraniano (antes de 1979, os técnicos eram ingleses em sua maioria), além de possuir uma importantíssima capacidade de refino.
Como esta mídia que está tentando demolir a Petrobras e também o governo que ampliou sua presença na economia petroleira não informa, vale dizer que a refinaria de Shazand, próxima à cidade de Arak, será a primeira no Iran com capacidade processar 4 mil barris diários, convertendo mais de 90 por cento do óleo cru que recebe em gasolina, gás liquefeito, propano, querosene, diesel , óleo e alcatrão. A maior do mundo! É impossível não notar o contraste desta informação com declaração da ex-presidente da Petrobras, Graça Foster, de que a estatal brasileira não teria condições de construir sozinha, ou seja, sem capital externo, novas refinarias, propagando com isto uma nuvem de dúvidas e interrogações. Se o Brasil é a quinta ou sexta economia do mundo e não tem capacidade para construir novas refinarias, como é que o Iran que nacionalizou praticamente toda sua economia petroleira tem? Esta seria apenas um delas, claro…
Quem é ameaça?
Nestes 35 anos, o Iran realizou regularmente 8 eleições presidenciais pelo voto direto. Os EUA, nenhuma! O Iran não atacou, não agrediu, não invadiu nenhum país em todo este período. Já os EUA intervieram militarmente em Granada, Panamá, Somália, Irak, Afeganistão, Líbia, apoiam oficialmente a agressão contra a Síria, a ação imperialista da França contra o Mali, as sanguinárias intervenções militares de Israel contra a Palestina, contra o Líbano (onde foi derrotado), instalaram prisões e centros de tortura em 54 países do mundo e mantiveram o bloqueio ilegal contra Cuba. Mas, graças ao controle do fluxo midiático internacional, uma avalanche diária de mentiras apregoa que o Iran seria supostamente uma ditadura, um perigo para a humanidade, inclusive por pretender ter acesso pleno ao desenvolvimento da tecnologia nuclear. Afinal, os EUA não têm tecnologia nuclear e não foi o único país a usar a bomba atômica contra o povo japonês, no maior atentado terrorista registrado na era moderna?
As mensagens iranianas ao mundo, e ao Brasil, não param por aí. A primeira reação dos EUA ante a Revolução Iraniana foi bloquear os depósitos bancários do Irã, de 100 bilhões de dólares, nos bancos internacionais. Obviamente, uma ilegalidade. Os EUA são, porém, apresentados como “democráticos”, enquanto o Irã estaria fora da legalidade por nacionalizar seu petróleo, escolher seu próprio caminho, realizar eleições diretas em todos os níveis, algo proibido na ditadura do Xá Reza Pahlevi, apoiado pelo imperialismo anglo-saxônico.
Comparemos: desde os anos 50, na Era Vargas, o Brasil possui um programa nuclear, pelo qual teve sequestradas, por comandos militares dos EUA , em pleno porto de Hamburgo, as centrífugas que importara da Alemanha. O Irã, na época do Xá, recebia apoio para desenvolver seu programa nuclear, com apoio da Inglaterra e dos EUA. Após a Revolução Iraniana, estes países imperiais comandaram a imposição de sanções contra o Irã por pretender ter pleno acesso a esta tecnologia nuclear. Hipocrisia sem limites, com apoio da mídia que rotula a nação persa como ameaça, quando na realidade, quem sempre esteve e continua envolvido em guerras e em intervenções militares ilegais sobre outros povos são os EUA e a Inglaterra.
Sabotagens
Desde os anos 60 o Brasil possui um Programa Espacial, mas ele andou muito devagar nestas 5 décadas, apesar das enormes vantagens comparativas para desenvolvermos, na base de Alcântara, intensa atividade espacial. Para esta lentidão concorre, conforme já denunciou o Wikelikis, sabotagens especialmente organizadas pelos EUA contra o nosso programa espacial. Assim, enquanto até hoje estamos sem um esclarecimento cabal acerca da estranhíssima explosão em Alcântara que, no primeiro ano do governo Lula, matou os mais experimentados técnicos do Programa Espacial Brasileiro, o Irã já lançou sua primeira nave tripulada ao espaço sideral. Toda tecnologia é nacional, apesar do boicote imposto, das agressões militares constantes, das sanções econômicas, que proíbem aos persas, por exemplo, acesso a peças de reposição para sua indústria aeronáutica, ferroviária etc
Qualquer discussão em torno da experiência iraniana é sempre motivo para um dilúvio de preconceitos e desinformações, além de acusações completamente estapafúrdias. As mulheres iranianas são apresentadas pela mídia ocidental como se fossem culturalmente atrasadas, reprimidas, sem protagonismo social, quando as estatísticas indicam que elas ocupam posição majoritária nas profissões mais especializadas, tais como medicina, engenharia espacial, indústria de medicamentos. Mas isso nunca é revelado, tampouco que a decisão de manter o uso do chador (véu), foi adotada em plebiscito nacional por mais de 90 por cento dos votos. Trata-se de uma cultura, um costume milenar.
Intolerância
Tenta-se apresentar o regime iraniano como o mais brutal, o mais cruel, o mais intolerante, sobretudo com relação às mulheres e aos homossexuais. Mas, aqui mesmo no Brasil há estatísticas estarrecedoras indicando o assassinato de pelo menos um homossexual por dia, mulheres idem, e de mais de 50 mil jovens negros e pobres por ano, uma estatística de guerra. Reflitamos, também, sobre o assassinato e violação aos direitos dos negros e hispânicos nos EUA, país possuidor da maior população carcerária do mundo. Reflitamos sobre a brutalidade, a crueldade, a intolerância dos EUA contra o povo vietnamita, iraquiano, panamenho. Reflitamos sobre a brutalidade e a intolerância da “democrática” França contra o povo da Argélia, onde deixou pelo menos 1 milhão de mortos! Reflitamos sobre crueldade e intolerância à luz das estatísticas que apontam que quase metade da população carcerária na França é de emigrantes, dos quais , metade é de muçulmanos!
Crescer sob ataque e sanções
O que não se informa é sobre o reduzido índice de analfabetos no Iran, sobre indicadores muito baixos de mortalidade infantil, além de ser possuidor de um cinema de altíssima qualidade, premiado no mundo inteiro, cinema estatal que reflete sobre os principais problemas da sociedade persa, dotado de tocante grau de humanismo na abordagem dos temas, sem concessões apelativas ao sensacionalismo rebaixado que se nota em outras partes. Assim como tem intensa atividade cinematográfica nacional, possui também indústria bélica moderníssima, com tecnologia totalmente nacional, única opção que lhe restou quando o país sofreu o boicote imperial e, depois, teve que defender-se da guerra lançada pelo Irak, por 8 anos, quando Sadam era manipulado por Donald Rumsfeld., ex-secretário de defesa de Bush, aquele que depois disse que era preciso invadir o Irak porque lá havia armas de destruição em massa, jamais comprovado.O Irã venceu a guerra.O Iraque foi invadido pelo seu antigo apoiador….
Imagine se um país como o Irã, com a tremenda riqueza petroleira que possui, não tivesse sido capaz - graças ao impulso de sua revolução, que mobilizou o melhor da energia de sua juventude- de desenvolver uma extraordinária capacidade de defesa que, além de defender o povo persa, defende como política de estado a Causa Palestina, tendo se transformado em um dos principais aliados da Síria? A reflexão é desconcertante para o Brasil que viu sua indústria bélica ser desmantelada sem resistência, juntamente com a internacionalização de sua telefonia, mineração, indústria de seguros e resseguros, medicamentos, fertilizantes, além da indústria naval e aeronáutica. Só agora, graças à mudança de rumo dos últimos 12 anos, com Lula, a indústria naval retoma novamente o caminho do desenvolvimento para voltar ocupar, em breve, a posição de ser uma das maiores do mundo.
Aposentando o dólar
Finalmente, a mensagem da política econômica e financeira do Irã. O País tem desenvolvido intensos e expansivos acordos econômicos e militares com a Rússia e a China, com a qual já comercializa petróleo e gás sem a presença de dólar, o que fortalece a soberania financeira da nação persa. O Irã é um verdadeiro eixo na região e tanto o Irak como a Síria mantêm com os persas relações econômicas, políticas e militares de alto nível.
Certamente, o processo sofre tensões internas, sabotagens externas, registra avanços e detenções, linhas políticas por vezes injustificavelmente esperançosas, como a tentativa de um acordo nuclear com os países que são potências nucleares e, simplesmente, não querem admitir que o seleto e fechado clube abra suas portas para uma Nação com tamanha independência frente aos ditames imperiais de qualquer tipo.
Unidade anti-imperialista
Nesses 35 anos, o desfile de comemoração, que normalmente registra presença de mais de 6 milhões de pessoas em Teerã, foi precedido de uma inesperada tentativa do prefeito da capital persa de vetar a sua realização.. O que teria levado o ex-presidente Mahmud Ahmadinejad, amigo de Chávez, de Lula e de Evo Morales, a publicar um contundente artigo intitulado “Por que fizemos a revolução?” Não sem tensões, a manifestação foi convocada e liberada, apesar de intenções e vontades contrárias à sua realização. Uma tensão que pode estar sinalizando que mudanças políticas podem estar em curso. Não sendo cogitada nenhuma medida que não seja para consolidar o ideal revolucionário vitorioso há 35 anos, sob a liderança do Aiatolá Khomeini, que continua a lançar mensagens instigantes e encorajadoras ao mundo, especialmente às nações que percebem a urgente necessidade de formar uma ampla aliança de povos e países que comungam do ideal anti-imperialista, já que são visíveis as ações imperiais montadas como ameaças a humanidade e seu futuro!
*Beto Almeida
Jornalista, membro do Diretório da Telesur

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Os 18 motivos da mudança de postura dos EUA em relação a Cuba

 


Por Nazanín Armanian na Carta Maior
Ninguém estava pressionando um Barack Obama debilitado e exausto para que rompesse o tabu de restabelecer relações diplomáticas com Cuba, lançando-se para os falcões belicosos. Neste mercado da política e da realpolitik, no qual reina a lógica do custo-benefício, o pequeno tamanho do mercado cubano e seus insignificantes recursos naturais não explicam essa histórica decisão de Obama. Que sejam bem-vindas essas nove reuniões em 18 meses com representantes de Cuba, e logo a confissão da derrota, do triunfo do povo cubano e de todas as forças progressistas do mundo que denunciavam o meio século de cruéis e inúteis sanções, atentados, sabotagens, e outros atos de guerra contra a ilha socialista, que se negou a se transformar em outro “estado falido”.
“Não podemos continuar fazendo a mesma coisa e esperar um resultado diferente”. Este é o argumento oficial do Presidente para justificar a nova política. Trata-se, portanto, de mudar as táticas para conseguir o mesmo objetivo, que é provocar a mudança no sistema político cubano a favor de seus interesses, desta vez mediante o uso do poder brando: relações políticas, econômicas, sociais e culturais para “conquistar o castelo de dentro”. Desde a queda da URSS até pouco tempo atrás, Washington já não podia tratar Cuba como uma ameaça à sua segurança nacional.
As coisas mudam quando a Rússia e a China  reencontram os velhos companheiros cubanos e começam a ampliar seus laços em todos os níveis, e diante do olhar atento do Conjunto de Operações Especiais do Pentágono, com sede na Flórida. O fato de não impor a Cuba qualquer condição para dar esse passo (ao contrário das exigências feiras a Irã ou Rússia para retirar sanções) se deve a essa preocupação e também ao fato de que Havana não morria de vontade e de necessidade para se ver obrigada a aceitá-lo, ainda que a imprensa democrática – com a finalidade de acalmar as críticas – afirme que haja um compromisso dos cubanos para restaurar o capitalismo, como o preço a pagar pelo fim do bloqueio.
Os três níveis das razões “não oficiais”

A. No contexto da política interna dos EUA, os seguintes fatores contaram na tomada de decisão por Obama:
1. O fato de o próprio presidente pertencer à corrente de políticos que admite a decadência do império e a existência de uma nova ordem multipolar, opondo-se aos falcões vestidos de armadura e presos à ficção de se ver como a única e todo-poderosa superpotência. Já em 2004, como senador, ele criticou o embargo.
2. O fato de ter feito isso a pouco tempo de deixar seu cargo, e não durante os seis primeiros anos de mandato, é porque não tem nada a perder: entrará para a história sem pagar qualquer custo político.
3. A impossibilidade de encontrar ou criar um líder carismático entre os opositores exilados capaz de provocar um levante em Cuba: pois as rebeliões populares surgem e triunfam sobre fundamentos objetivos e não pela eloquência de salvadores de todo tipo. Além disso, as sanções incrementavam os sentimentos anti-EUA do povo cubano, e também quanto à legitimidade de seu governo. As medidas tomadas por Washington estão sendo apoiadas inclusive pela maioria dos exilados cubanos, que assim poderiam ampliar seus laços com a ilha.
4. Os EUA pretendem estar presente em Havana quando houver a mudança geracional de seus líderes para poder influir sobre eles de dentro.
5. Para a opinião pública norte-americana, esse gesto em relação ao vizinho cubano é mais importante que os desastres deixados por Obama no Iraque, Afeganistão, Paquistão, Iêmen, Ucrânia ou Síria. Além disso, alivia a decepção dos eleitores democratas pelo descumprimento de suas promessas eleitorais na política exterior.

B. No contexto da política regional:
1. Após o fracasso da estratégia de “Regresso à Ásia” para conter a China, de ter sido arrastado às guerras do Oriente Próximo, e do surgimento de governos de esquerda em vários países da região, Obama decidiu “Regressar à América” para recuperar a influência debilitada sobre os centenas de milhões de almas da América. Vai desenterrar a Doutrina Monroe para aplicá-la à sua maneira, apesar de que John Kerry ter dito no ano passado que essa doutrina havia morrido (mas também disseram “saímos do Iraque, do Afeganistão, e fecharemos Guantánamo”).
2. As fortes e contínuas pressões dos países latino-americanos sobre Washington deram frutos: por fim, conseguiram que Cuba estivesse presente na Cúpula das Américas.
3. A necessidade de recuperar a projeção hegemônica em uma região no auge econômico, e fazer isso com o controle dos grandes projetos de infraestrutura, como o da ampliação do Canal do Panamá e das explorações petrolíferas no Golfo do México.
4. Recuperar a Venezuela, e não apenas mediante o “dumping” dos preços do petróleo (planejado com a cumplicidade da Arábia Saudita) ou com provocações internas; mas sobretudo gerando distanciamento entre Havana e Caracas. Cuba continua representando a resistência diante do imperialismo, e há quem, inclusive na esquerda, chame de “vacilo” a acertada política de Havana.
5. Trazer o Brasil para perto de si e tirá-lo dos Brics. Para os estrategistas da Casa Branca, é inadmissível que se desfaça do dólar em suas transações e, além disso, equipe seu exército com bilhões de dólares de armas russas.
C. No contexto internacional:
1. Cuba em troca da Crimeia? Ainda que não tenham nada a ver, essa iniciativa foi, sem dúvida, a jogada mais magistral de Obama contra a China e a Rússia, que se atreveram a entrar de cheio no quintal dos EUA. Passou despercebida a Resolução 758, aprovada em dezembro pelo Congresso dos EUA, e que insta o governo e os países aliados não só a armar a Ucrânia, mas a tomar medidas militares contra a Rússia.
Moscou, que se sente acurralada, em manobras sem precedentes, exibiu no dia 31 de outubro o voo de seus quatro aviões Tu-95 (equivalente aos B-52 americanos) no céu da OTAN, desde o Báltico até Portugal.
2. Não é motivo de preocupação para os EUA que a China, o principal inimigo do império para Obama, tenha se transformado no segundo sócio comercial de Cuba (e de outros países latinos) depois de ninguém menos que a Venezuela?
3. O temor de que o aumento das relações de China e Rússia com a região inclua também sua presença militar. Por isso, resgatam a memória da crise dos mísseis de 1962 para justificar a difusão do medo. A imprensa do dia 12 de novembro ressaltou que o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, organizou patrulhas nas águas do Golfo do México, ainda que tenha desmentido que a Rússia fosse reativar as instalações de espionagem eletrônica de Lourdes (Cuba), o mais potente centro de escutas da URSS no exterior para monitorar as comunicações dos EUA. Lourdes foi fechada em 2001 por problemas financeiros e também pela pressão de Washington.
4. Os EUA, que agora dedicam poucos recursos na defesa de suas fronteiras (enquanto investe quantidades absurdas para desestabilizar as fronteiras dos demais, recorrendo à excepcionalidade dos EUA), se verão forçados a investir dinheiro nisso e aumentar a militarização da região. Este é um fator contraproducente para atrair a confiança de estados que ele pretende iludir.
5. Obviamente, o peso do temor de perder a América Latina é muito maior que o de fazer negócio com um pequeno e pobre país como Cuba (não se trata de um Irã, de 80 milhões de consumidores e suas imensas reservas de petróleo). Foi casual o fato de, um dia antes de anunciar a boa notícia, Obama ameaçar Moscou com novas sanções?
6. Há cinco meses, quando houve a queda do avião malaio sobre a Ucrânia, passou despercebida a notícia da visita de Vladimir Putin na América Latina; poucos perceberam que Moscou havia perdoado 90% dos 26 bilhões de euros da dívida que Cuba havia contraído com a União Soviética. Putin também assinou com Cuba importantes contratos de investimento na indústria petrolífera da ilha, a construção do novo aeroporto da capital, a criação de uma empresa aérea russo-cubana, e a cooperação na produção de produtos farmacêuticos, agrícolas, de transporte, mineração e turismo. Mas agora que a Rússia (assim como a Venezuela) foi tocada pela queda dos preços do petróleo e pelas sanções econômicas (e dificilmente possa cumprir os acordos), Mr. Marshall pensa em chegar com seus milhões ao país que empobreceu previamente.
7. Para os russos, Cuba é mais do que uma questão geopolítica ou de reputação. É uma questão sentimental. E acreditam que arranha a imagem russa o fato de que agora os norte-americanos queiram ocupar seu lugar na Ilha.
Moscou e Pequim opinam
Dmitry Rogozin, vice-primeiro-ministro russo, considera que a tática calculada do novo enfoque da Casa Branca, mesmo sendo positivo para os cubanos, não é mais do que um “abraço de urso” para estrangular Cuba.
A China elogia Obama por demonstrar que é um estadista que soube transformar “um jogo de nenhum ganhador em um no qual todos ganham”, e o vê como o “legado mais memorável de sua presidência”.
Os EUA não aprendem com seus erros
Reconhecer que o bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba não provocou um levante popular contra o governo socialista não significa que Washington vá deixar de utilizar essa tática – que, segundo o direito internacional, é uma declaração ilegal de guerra contra uma nação. Nem sequer funcionou contra o governo impopular de Saddam Husein no Iraque, e é improvável que provoque mudanças nas políticas de Putin.
Cuba, que se beneficia com a entrada de tecnologia e capital norte-americanos – agora que a Rússia e a Venezuela estão sofrendo com a sabotagem petrolífera –, não poderia nem deveria perder essa oportunidade com o governo Obama: afinal, os mais belicosos ameaçam ocupar o Salão Oval em 2016. Para além de toda a especulação sobre o futuro de Cuba, hoje, vendo as nações inteiras que ardem no fogo das guerras, o primordial é a defesa da diplomacia nos conflitos entre os estados. A paz é a condição prévia para qualquer ação democrática.
É possível que o presidente Obama, com esse “pequeno” passo que deu com Cuba, esteja dando um passo gigante para conseguir o grande prêmio de sua política externa: Irã (e este é o 18º motivo). Ele conseguirá?