Publicado em  por marxismo21
 DIREITAS: POLÍTICA & IDEOLOGIA
A atual ofensiva de uma direita ideológica e orgânica no Brasil reitera uma tendência que vem se verificando no mundo desde o final da 1ª Guerra Mundial, a saber, a tentativa de apropriação de aspectos do pensamento e da ação das forças progressistas imprimindo-lhes um selo reacionário. Neste caso, trata-se da construção de uma hegemonia neoconservadora na sociedade civil brasileira através do uso de instrumentos de formação da opinião pública.
O primeiro exemplo desta mimetização foi o fascismo das décadas de 1920 e 1930, que celebrava os valores militaristas mesclando-os com uma “política social” corporativa e combinava a exaltação da hierarquia com a mobilização de massas em torno dos chauvinismos nacional e/ou racial.
Na década de 1950 surgiu o neoconservadorismo estadunidense, que misturou individualismo com defesa de princípios e valores tradicionais e economia de mercado com mobilização das consciências contra os supostos riscos de enfraquecimento ou desintegração do establishment econômico, político e social em vigor naquele país.
Nos anos 1970 e 1980, o neofascismo, em diferentes partes do mundo anglo-saxão e europeu em geral, realizou uma peculiar apropriação das formulações diferencialistas e identitárias típicas da chamada pós-modernidade, juntando a afirmação dos valores comunitários com a defesa do direito à diferença e da liberdade de expressão e manifestação de suas ideias em nome de objetivos racistas, xenófobos e anti-imigratórios.
No Brasil atual, a direita ideológica e orgânica se propõe a fazer algo que as forças de esquerda e centro-esquerda integrantes do bloco político governamental desistiram de fazer: disputar a hegemonia política e cultural na sociedade, cujo efeito direto é a deflagração de uma ofensiva direitista no parlamento, na mídia, nos púlpitos e altares das igrejas e, mais recentemente, nas ruas, em defesa de posições conservadoras e retrógradas.
O acirramento das contradições e dos conflitos é uma decorrência do próprio amadurecimento do capitalismo brasileiro em sua etapa monopolista e de incorporação ao imperialismo mundial, processo este que expressa, no plano das ideias e dos discursos, a centralidade dos conflitos de classe em nossa sociedade, assumindo contornos estruturais.
Em seu esforço de afirmação na sociedade, a direita ideológica levanta bandeiras que lhe permitam delimitar posições e disputar a opinião pública. Com o desgaste das fórmulas e proposições neoliberais, adota ela temas visando reacender, no imaginário das massas, os componentes mais moralistas e conservadores anteriormente adormecidos ou desmobilizados pela influência das forças e dos processos progressistas na sociedade, na política e na cultura.
A recusa das forças de esquerda do atual governo em disputar a hegemonia cultural e política na sociedade e seus sucessivos recuos em face das reações conservadoras facilitam o avanço da direita ideológica e orgânica e pavimentam o caminho para sua ascensão ao poder. Tal processo evidencia o logro da opção do neopetismo no sentido de neutralizar a oposição política empregando os instrumentos de cooptação e clientelismo disponibilizados pelo “presidencialismo de coalizão”. Foge à compreensão desta esquerda que a eficácia de tais instrumentos é possível apenas no trato com a direita fisiológica, uma vez que a aspiração da direita orgânica e ideológica é nada menos que o monopólio do exercício da representação e do poder.
O presente dossiê busca oferecer aos nossos leitores textos de análise do pensamento e práticas das correntes de direita atuantes na contemporaneidade brasileira e mundial, apresentando suas vertentes fundamentais: o autoritarismo militar, o neoconservadorismo, o neoliberalismo, o fundamentalismo e integrismo religiosos, os fascismos e a chamada nova direita.
Nosso objetivo terá sido atingido se esta coletânea contribuir para uma tomada de consciência sobre a necessidade de retomar, em larga escala, a ofensiva contra hegemônica por parte de intelectuais, militantes políticos e ativistas sociais comprometidos com a luta pela transformação socialista da sociedade.
Editoria / abril de 2015
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I. Discussões teóricas
ANDRADE, Guilherme Ignácio Franco de. O desafio teórico metodológico do uso do conceito de fascismo e de extrema direita.
APPLE, Michael W. Podem as pedagogias críticas sustar as políticas de direita?
AUGUSTO, André Guimarães. O que está em jogo no “Mais Mises, menos Marx”
BEAUVOIR, Simone. O pensamento de direita, hoje
BERTONHA, João Fábio. Fascismo de esquerda? Sobre a necessidade de revisão conceitual de um termo perigoso.
CASTRO, Ricardo Figueiredo de. Extrema-direita, pseudohistória e conspiracionismo: o caso do Negacionismo do Holocausto
DAVIES, Peter e LYNCH, Derek. The routledge companion to fascism and the far right
GEERTZ, René. Separatismo e anti-razão. Indicadores Econômicos
GRÜN, Robert. Entre a plutocracia e a legitimação da dominação financeira.
JIMENEZ, Juan Retana. Notas sobre o neoconservadorismo na cultura política e no trabalho profissional.
MANDEL, Ernest. A teoria do fascismo segundo Leon Trotsky
Marxists on fascism: Gramsci, Trotsky etc.
REICH, Wilhelm. Psicologia de massas do fascismo
SEGRILLO, Angelo. A Confusão Esquerda/Direita no Mundo Pós-Muro de Berlim: Uma análise e uma hipótese
SEGRILLO, Angelo. A confusão esquerda-direita no mundo pós-muro de Berlim.
THALHAIMER, August. Sobre o fascismo.
TROTSKY, Leon. La lucha contra el fascismo.
II. Discussões teóricas sobre a direita no Brasil   
ALMEIDA, Ludmila Chaves. PPB: Origem e trajetória de um partido de direita no Brasil.
CASIMIRO, Flávio Henrique C. A construção da hegemonia neoliberal no Brasil da Nova República: o Instituto Liberal e o discurso de “flexibilização” e ataque às propostas de Reforma Agrária.
DIAS, Adriana Abreu. Os argonautas do teutonismo virtual. Neonazismo na internet
GONÇALVES, Rodrigo Mattos. História fetichista: o aparelho de hegemonia filosófico Instituto Brasileiro de Filosofia/Convivium (1964-1985).  
GONÇALVES, Rodrigo Mattos.  A consciência conservadora no Brasil, de Paulo Mercadante, uma obra clássica do conservadorismo brasileiro
KORNIS, Monica. As “revelações” do melodrama, a Rede Globo e a construção de uma memória do regime militar.
LOPES, Vanessa Viegas. A Renovação Carismática Católica (RCC): entre o tradicionalismo e o novo. Anais dos Simpósios da ABHR.
MAGNANINI, Samantha Cintra. Cultura: teoria, neoconservadorismo e mídia brasileira nos novos palcos de disputa simbólica da conjuntura pós 11 de setembro.
MEIRELES, Gabrielle  L. O surgimento da Rede Globo: a partir da legislação das telecomunicações.  
MENDES, Ricardo. Marchando com a família, com Deus e pela liberdade – O “13 de Março” das direitas.
MOREIRA, Fernanda Teixeira. O Que Lembrar e Esquecer? Intelectuais de direita e as disputas pela memória da ditadura civil-militar.
PIERUCCI, Antonio Flavio. As bases da nova Direita.
PLATT, Adreana Dulcina. As políticas da “nova direita”: políticas sociais inclusivas e políticas econômicas excludentes