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quinta-feira, 18 de junho de 2015

Fernando Brito: “Missão Aécio” na Venezuela foi uma patacoada promocional

(http://tijolaco.com.br/blog/?p=27647)
publicado em 18 de junho de 2015 às 21:45
caracas fernando moraes aécio2
“A revista Veja antecipa o fechamento para dar um furo internacional”. Fernando Morais, via Conversa Afiada 
“Missão Aécio” na Venezuela não foi diplomacia, foi patacoada promocional
18 de junho de 2015 | 19:21
Será que alguém vai ter coragem de dizer que Aécio e a “turminha da encrenca” que foi para a Venezuela estão fazendo papel de palhaços em nome do Brasil?
Não, pousaram lépidos e fagueiros em Caracas, a bordo de um jatinho executivo da Força Aérea.
A comitiva de Aécio ficou presa (no bom sentido) num engarrafamento geral e isso foi um “cerceamento” à sua livre movimentação.
Dá pra ver na foto publicada em O Globo que todos os veículos estão parados no acesso à cidade.
Até o “cara de nojo” do senador paulista cooptado por Aécio reconheceu que não foi isso e O Globo registra: ” No Twitter, o senador Aloysio Nunes explicou que houve um acidente, e por isso o trânsito ficou parado”.
A tucaníssima repórter Maria Lima,de O Globo, diz que “já em um ônibus, a cerca de um quilômetro do aeroporto, o veículo ficou parado no trânsito e um grupo de cerca de 50 manifestantes começou a bater na lataria e gritar”.
caracasRealmente, as batidas na lataria são condenáveis, embora aqui tenham feito isso com Sarney, no ano passado, e não vi ninguém da turma do Aécio condenar o cerco dos “Revoltados Online” aos carros de Sarney e de outros parlamentares para os impedir de votar no parlamento.
Ficamos sabendo também que a excursão dos senadores termina hoje à noite e, portanto, em menos de 12 horas eles vão poder observar tudo e deitar falação sobre o que deve ou o que não se deve fazer lá no país dos outros.
E visitar presos (sejam ou não presos políticos, mas detidos por ordem judicial) sem autorização do Judiciário, onde é que isso poderia acontecer?
Que diferença de gente respeitável como o ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, que está com o seu Centro Carter trabalhando há meses na Venezuela para, como já fez de outras vezes, ajudar num processo eleitoral transparente, que é o que todas as pessoas de bem devem fazer.
E o nosso país, dominado por uma onda de histeria inédita em nossa história recente é forçado a dar uma de “babá” de meninos travessos, para não ser acusado de “cúmplice” dos “bolivarianos”.
Eu já estive na Venezuela – e não por 12 horas – e pude ver, já há dez anos – como o clima político é radicalizado.
Tão radicalizado que ocorreu um golpe de Estado, contra Chávez.
Se houver outro, desta vez contra Nicolás Maduro, alguém tem alguma dúvida sobre se Aécio, comitiva e mídia vão se posicionar?
Uma comissão de representantes do parlamento brasileiro jamais poderia deixar de ter uma agenda ouvindo os dois lados, oposição e governo venezuelanos, assim como deveria ter um encontro no parlamento daquele país.
Se foi feita em nome de um dos poderes da República do Brasil deveria ter sido tratada como um assunto de Estado, não como um factóide promocional.
Mas o que foi feito, e ninguém quer dizer, foi uma patacoada.
Aécio Neves está virando um Marcelo Reis, o revoltado, com mandato…
PS: Abaixo, a reprodução do jornal de oposição ao chavismo El Universalreproduzindo a explicação da ex-deputada Maria Corina,inimiga figadal do Governo, sobre o “bloqueio” à “Marcha dos Patetas”.


caracas eluniversalAécio e a turma

sábado, 13 de junho de 2015

O Califado desejado pelos Estados Unidos

By Manlio Dinucci
cia-isis

Enquanto o Estado Islâmico ocupa Ramadi, a segunda cidade do Iraque, e no dia seguinte Palmira, na região central da Síria, assassinando milhares de civis e obrigando dezenas de milhares à fuga, a Casa Branca declara: “Não podemos arrancar os cabelos toda vez que surge uma dificuldade na campanha contra o Isis” (New York Times, de 20 de maio).
A campanha militar “Inherent Resolve” foi lançada no Iraque e na Síria há nove meses, em 8 de agosto de 2014, pelos EUA e seus aliados: França, Reino Unido, Canadá, Austrália, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e outros. Se tivessem usado os seus caças-bombardeiros como fizeram contra a Líbia, em 2011, as forças do Isis, movendo-se em espaços abertos, seriam alvo fácil. No entanto, elas foram capazes de atacar Ramadi com colunas de carros blindados cheios de homens e explosivos.
Os Estados Unidos se tornaram militarmente impotentes? Não. Se o Isis está avançando no Iraque e na Síria, é porque é exatamente isto o que querem em Washington. Confirma isto um documento oficial da Agência de Inteligência do Pentágono, datado de 12 de agosto de 2012, desarquivado em 18 de maio de 2015 por iniciativa do grupo conservador “Judicial Watch” em meio à corrida presidencial. O documento informa que “os países ocidentais, os Estados do Golfo e a Turquia apoiam na Síria as forças de oposição que tentam controlar as áreas orientais, adjacentes às províncias iraquianas ocidentais”, ajudando-as a “criar refúgios seguros sob proteção internacional”.
Existe a “possibilidade de estabelecer um principado salafita na Síria oriental, e isto é exatamente o que desejam as potências que apoiam a oposição, para isolar o regime sírio, retaguarda estratégica da expansão xiita (Iraque e Irã)”. O documento de 2012 confirma que o Isis, cujos primeiros núcleos vêm da guerra na Líbia, foi formado na Síria, recrutando sobretudo militantes salafitas e sunitas que, financiados pela Arábia Saudita e outras monarquias, foram armados através de uma rede da CIA (documentada, além de pelo New York Times, por um informe de “Conflict Armament Research”). Isto explica o encontro em maio de 2013 (documentado fotograficamente) entre o senador estadunidense John McCain, em missão na Síria por conta da Casa Branca, e Ibrahim al-Badri, o “califa” chefe do Isis.
Explica também por que o Isis desencadeou a ofensiva no Iraque no momento em que o governo do xiita Al-Maliki tomava distância de Washington, aproximando-se de Pequim e Moscou. Washington, descarregando a responsabilidade pela queda de Ramadi sobre o exército iraquiano, anuncia agora que quer acelerar no Iraque o adestramento e o armamento das “tribos sunitas”.
O Iraque está caminhando no mesmo rumo que a Iugoslávia, para a desagregação, comenta o ex-secretário da Defesa, Robert Gates. O mesmo ocorre na Síria, onde os EUA e seus aliados continuam a adestrar e armar milicianos para derrubar o governo de Damasco. Com a política de “dividir para dominar”, Washington continua assim a alimentar a guerra que, em 25 anos, provocou tragédia, êxodo, pobreza, tanto que muitos jovens transformaram as armas em sua profissão.
Um terreno social onde as potências ocidentais fazem sua presa as monarquias a elas aliadas, os “califas”, que instrumentalizam o Islã e a divisão entre sunitas e xiitas. Uma frente da guerra, em cujo interior existem divergências táticas (por exemplo, sobre quando e como atacar o Irã), mas não divergências estratégicas. Frente de guerra armada pelos EUA, que anunciam a venda (por 4 bilhões de dólares) à Arábia Saudita de outros 19 helicópteros para a guerra no Iêmen, e a Israel de mais 7.400 mísseis e bombas, entre os quais os anti-bunker para atacar o Irã.
Manlio Dinucci
Jornalista italiano
Traduzido do italiano por José Reinaldo Carvalho, vermelho.org

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Bruno Bauer e o Início do Cristianismo


Friedrich Engels
11 de Maio de 1882

Em Berlim, em 13 de abril, morreu um homem que atuou como
filósofo e teólogo, mas, durante anos, dificilmente se ouvia falar dele,
somente atraindo a atenção pública eventualmente como um "literato
excêntrico". Teólogos oficiais, inclusive Renan, corresponderam-se
com ele e, mesmo assim, mantiveram sobre ele um silêncio de
morte. E ele valia mais do que todos eles e fez mais que todos eles
em uma questão que também interessa a nós, Socialistas: a pergunta
pela origem histórica do Cristianismo.
Por ocasião da sua morte, vamos fazer um breve relato da
situação atual da questão, e da contribuição de Bauer para a sua
solução.
A visão que dominou os livres-pensadores da Idade Média
incluindo os Iluministas do século XVIII, de que todas as religiões
eram obra de enganadores, e, portanto, o Cristianismo também, não
era mais suficiente depois que Hegel fixou para a filosofia a tarefa de
mostrar a evolução racional na história mundial.
É claro que se espontaneamente surgem religiões - como a
adoração de feitiços dos Negros ou a religião comunal dos arianos
primitivos — sem qualquer engodo inicial, entretanto, o engano,
através dos sacerdotes, logo se torna inevitável no seu
desenvolvimento subseqüente. Apesar de toda fé sincera, religiões
artificiais não podem permanecer, desde a sua fundação, sem engano
e falsificação histórica. O Cristianismo, também, pode se gabar de
grandes realizações a este respeito desde o início, como Bauer
mostrou em sua crítica do Novo Testamento. Mas isto somente
confirma um fenômeno geral e não explica o caso particular em
questão.
A religião que subjugou o Império Romano e dominou sem dúvida
a maior parte da humanidade civilizada por 1.800 anos, não pode ser
explicada apenas declarando ser ela uma tolice resultante de fraudes.
Não se pode elucidar esta questão e ter sucesso na explicação da sua
origem e do seu desenvolvimento sem partir das condições históricas
sob as quais surgiu e alcançou o domínio da situação. Isto se aplica
ao Cristianismo. A questão a ser solucionada, então, é: como
aconteceu que as massas populares no Império Romano preferiram
esta tolice — que era aceita, normalmente, pelos escravos e
oprimidos — a todas as outras religiões, e, finalmente porque o
ambicioso Constantino viu na adoção desta religião tola o melhor
meio de elevar a si mesmo ao posto de autocrata do mundo romano.
Bruno Bauer contribuiu mais para a solução desta questão que
qualquer outra pessoa. Não importa quanto os teólogos meio-crentes
do período da reação tenham lutado contra ele desde 1849, ele
irrefutavelmente demonstrou a ordem cronológica dos Evangelhos e
sua interdependência mútua, demonstrada por Wilke do ponto de
vista puramente lingüístico, pelo próprio conteúdo dos Evangelhos.
Ele expôs a carência completa de espírito científico da vaga teoria de
mito de Strauss, de acordo com a qual se pode considerar como
histórico tudo quanto se gosta nas narrações do Evangelho. E, se
quase nada do conteúdo inteiro dos Evangelhos é historicamente
provável — de forma que até a existência histórica de Jesus Cristo
pode ser questionada — Bauer tem, assim, iluminado os fundamentos
para a solução da pergunta: qual é a origem das idéias e
pensamentos que foram tecidos como uma espécie de sistema no
Cristianismo, e como veio ele a dominar o mundo?
Bauer estudou esta pergunta até a sua morte. Sua investigação
alcançou seu ponto alto na conclusão que o judeu de Alexandria,
Filon, que ainda vivia por volta de 40 D.C., mas já era muito velho,
foi o pai verdadeiro do Cristianismo, e que o estóico romano Sêneca
era, por assim dizer, seu tio. A escrita numerosa atribuída a Filon que
nos alcançou tem origem realmente em uma fusão alegórica e
racionalisticamente concebida das tradições judaicas com as gregas,
particularmente a filosofia estóica. Esta conciliação de perspectivas
ocidentais e orientais já encerra todas as idéias essencialmente
Cristãs: o pecado inato do homem, o Logos, a Palavra, que está com
Deus e é Deus e que se torna o mediador entre Deus e homem: a
compensação, não por sacrifícios de animais, mas trazendo-se o
próprio coração a Deus, e finalmente a característica essencial que na
nova filosofia religiosa, invertendo a ordem mundial anterior, busca
seus discípulos entre os pobres, os miseráveis, os escravos, e os
rejeitados, e menospreza o rico, o poderoso e o privilegiado,
originando o preceito para menosprezar todo prazer mundano e
mortificar a carne.
Por outro lado, Augusto via em si mesmo não só o Deus-homem,
mas também a chamada concepção imaculada que se tornou fórmula
imposta oficialmente. Ele não só teve César e ele mesmo idolatrados
como deuses, mas também espalhou a noção que ele, Augustus
Caesar Divus, o Divino, não era filho de um pai humano, mas que sua
mãe o concebeu do deus Apolo. Mas não seria talvez o Apolo citado
na canção de Heinrich Heine? [Referência a Apollgott, de Heine.].
Como vemos, nós precisamos apenas da pedra fundamental e
teremos o conjunto do Cristianismo em suas características básicas:
a encarnação da Palavra se torna homem em uma pessoa definida e
seu sacrifício na cruz traz a redenção da humanidade pecadora.
As fontes mais confiáveis não nos dão certeza sobre quando esta
pedra fundamental foi introduzida nas doutrinas estóico-filônicas. Mas
uma coisa é certa: não foi introduzida por filósofos, nem discípulos de
Filon ou estóicos. As religiões são fundadas por pessoas que
experimentam uma necessidade própria de religião e têm uma
percepção das necessidades religiosas das massas. Como regra, este
não é o caso dos filósofos clássicos. Por outro lado, nós observamos
que em tempos de decadência geral, agora, por exemplo, a filosofia e
o dogmatismo religioso geralmente aparecem em sua forma vulgar e
superficial. Enquanto a filosofia grega clássica em suas últimas
formas — particularmente na escola Epicurista — leva ao
materialismo ateístico, a Filosofia grega vulgar leva à doutrina de um
Deus único e da imortalidade da alma humana. O Judaísmo também,
racionalmente vulgarizado em mistura e intercurso com estrangeiros
e meio-judeus, acaba negligenciando a cerimônia e transforma o
antigo deus judeu exclusivamente nacional, Jahveh, no único Deus
verdadeiro, o criador de céu e Terra, e adota a idéia da imortalidade
da alma, que era estranha ao Judaísmo inicial. Deste modo, a filosofia
vulgar monoteísta entrou em contacto com a religião vulgar, a qual
presenteou com o já elaborado Deus único. Assim, o caminho foi
preparado pela elaboração entre os judeus das também vulgarizadas
noções filônicas, e não dos próprios trabalhos de Filon, das quais o
Cristianismo procede, como está provada pelo quase total descuido
com que foi composta a maior parte do Novo Testamento,
particularmente a interpretação alegórica e filosófica das narrações
do Velho Testamento. Este é um aspecto ao qual Bauer não dedicou
atenção suficiente.
Pode-se ter uma idéia do que era o Cristianismo em sua forma
inicial lendo o chamado Livro do Apocalipse, de São João. Selvageria,
fanatismo confuso, dogmas incipientes, a moral Cristã é apenas a
mortificação da carne, mas há uma multidão de visões e profecias. O
desenvolvimento dos dogmas e doutrinas morais pertence a um
período posterior, no qual os Evangelhos e as chamadas Epístolas dos
Apóstolos foram escritos. Nestas últimas — pelo menos como
consideração moral — a filosofia dos estóicos, de Sêneca em
particular, foi copiada sem qualquer cerimônia. Bauer provou que as
Epístolas, freqüentemente, copiam os antigos palavra-por-palavra; de
fato, qualquer fiel nota isto, mas mesmo assim eles mantêm que
Sêneca copiou o Novo Testamento, embora ele ainda não houvesse
sido escrito naquele tempo. O dogma foi desenvolvido, por um lado
com relação à lenda de Jesus que estava, então, se formando, e, por
outro lado, na luta entre cristãos de origem judaica e de origem
pagã.
Bauer também fornece dados valiosos sobre as causas que
ajudaram o Cristianismo a triunfar e atingir a dominação mundial.
Mas aqui o filósofo alemão é impedido por seu idealismo de ver
claramente e formular precisamente. As frases freqüentemente
substituem a substância em pontos decisivos. Ao invés, então, de
entrar em detalhes sobre as visões de Bauer, daremos a nossa
própria concepção deste ponto, baseados em trabalhos de Bauer, e
também em nosso estudo pessoal.
A Conquista romana dissolveu em todos os países que dominou,
primeiro, diretamente, as condições políticas antigas, e depois,
indiretamente, também as condições sociais de vida.
Primeiramente, substituindo a antiga organização fundamentada
nas propriedades (escravidão à parte) pela distinção simples entre
cidadãos romanos e peregrinos ou vassalos.
Depois, e principalmente, pelo severo tributo em nome do Estado
romano. Se, debaixo do império, era fixado um limite ao interesse do
estado para conter a sede de riqueza dos governadores, aquela sede
foi substituída pela taxação mais efetiva e opressiva em benefício da
tesouraria oficial, cujo efeito era terrivelmente destrutivo.
Em terceiro lugar, a Lei romana era, em última instância,
administrada em toda parte por juízes romanos, enquanto o sistema
social nativo era anulado no caso de conflitos com as prescrições da
lei romana.
Estas três alavancas necessariamente desenvolveram um
tremendo nivelamento de poder, particularmente quando foram
aplicados por centenas de anos a populações — das quais as parcelas
mais vigorosas tinham sido ou eliminadas ou escravizadas nas
batalhas precedentes, acompanhando, e freqüentemente seguindo, a
conquista. As relações sociais nas províncias ficaram cada vez mais
próximas do que dependia da capital e da Itália. A população se
tornou cada vez mais nitidamente dividida em três classes, ignorando
os mais variados elementos e nacionalidades: pessoas ricas, incluindo
alguns escravos emancipados (cf. Petrônio), grandes proprietários de
terras ou agiotas ou ambos de uma só vez, como Sêneca, o tio do
Cristianismo; pessoas livres despossuídas, que, em Roma, eram
alimentadas e divertidas pelo estado — mas nas províncias viviam
como podiam, sem ajuda — e, finalmente, a grande massa, os
escravos. Em face do Estado, isto é, do Imperador, as duas primeiras
classes tinham tão poucos direitos quanto os escravos em face aos
seus senhores. Do tempo de Tibério ao de Nero, em particular, era
uma prática condenar cidadãos romanos ricos à morte a fim de
confiscar sua propriedade. O suporte do governo era —
materialmente, o exército, que era mais um exército de soldados
estrangeiros contratados do que de velhos camponeses romanos, e
moralmente, a visão geral de que não poderia ser de outro modo;
que não era este ou aquele César, mas o império fundamentado na
dominação militar que era uma necessidade imutável. Aqui não é o
lugar para examinar os fatos materiais que justificam esta visão.
A perda geral de direitos e a falta de possibilidades de melhorar
de condição ocasionaram um correspondente afrouxamento e
desmoralização geral. Os poucos Romanos velhos, sobreviventes do
tipo patrício, ou eram removidos ou mortos; Tácito foi o último deles.
Os outros ficavam contentes quando podiam manter-se afastados da
vida pública; toda razão para viver era juntar e desfrutar da riqueza,
e praticar a fofoca e a intriga privada. Os cidadãos livres
despossuídos eram pensionistas em Roma, mas nas províncias sua
condição era infeliz. Tiveram que trabalhar e competir com o trabalho
escravo pelo salário. Mas eram confinados nas cidades. Além deles,
existiam também os camponeses das províncias, livres proprietários
de terras (ambos, provavelmente, com propriedades comunais) ou,
como na Gália, fiadores das dívidas dos grandes proprietários de
terras. Esta classe era a menos afetada pelo motim social; também
era a que resistia mais tempo ao motim religioso. [Nota de Engels:
Conforme Fallmereyer, os camponeses em Main, Peloponeso, ainda
ofereciam sacrifícios a Zeus no século IX.] Finalmente, existiam os
escravos, destituídos de direitos e de si próprios e da possibilidade de
libertação, como a derrota de Spartacus já provara; a maior parte
deles, porém, foram antes cidadãos livres, ou filhos de cidadãos
livres-nascidos. Deveria, então, haver ainda entre eles um ódio
generalizado e vigoroso, entretanto, externamente impotente, por
causa das suas condições de vida.
Devemos encontrar o tipo de ideólogo que correspondia à
situação daquele momento. Os filósofos eram ou professores que
ensinavam por dinheiro ou palhaços pagos para divertir os ricos.
Alguns eram até escravos. Um exemplo do que se tornaram eles sob
boas condições é fornecido por Sêneca. Este estóico, pastor da
virtude e da abstinência, era o primeiro intrigante da corte de Nero, o
que ele não poderia ser sem servilismo; ele assegurou para si
presentes em dinheiro, propriedades, jardins, e palácios — e
enquanto orava pelo pobre Lázaro do Evangelho, ele era, na
realidade, o homem rico da mesma parábola. Até que Nero o fez
solicitar ao imperador que aceitasse a devolução todos os seus
presentes, pois sua filosofia era o bastante para ele. Só os filósofos
completamente isolados, como Persius, tiveram a coragem de brandir
a sátira acima de seus contemporâneos degenerados. Um segundo
tipo de ideólogos, os juristas, eram entusiastas das novas condições
porque a abolição de todas as diferenças entre Estados permitiria a
eles largo escopo na elaboração de seu direito favorito, o privado, em
troca de que eles prepararam para o imperador o sistema oficial de
direito mais vil que já existira.
Assim como fez com as peculiaridades políticas e sociais dos
vários povos, o Império Romano também foi condenado a arruinar
suas religiões particulares. Todas as religiões de Antiguidade eram
espontâneas, tribais, e velhas religiões nacionais, que surgiram da
fusão das condições sociais e políticas dos respectivos povos. Uma
vez que estas bases se romperam, e suas tradicionais formas de
sociedade, suas instituições políticas herdadas e suas independências
nacionais foram destruídas, a religião correspondente a estas
também naturalmente desmoronou. Os deuses nacionais podiam
suportar outros deuses ao lado deles, como era a regra geral da
Antiguidade, mas não acima deles. O transplante de divindades
Orientais para Roma era prejudicial só para a religião romana, não se
verificava decadência das religiões Orientais. Assim que os deuses
nacionais ficaram incapazes de proteger a independência de sua
nação encontraram sua própria destruição. Este foi o caso em todos
lugares (exceto com camponeses, especialmente nas montanhas). O
que o iluminismo filosófico vulgar — eu quase disse Voltairianismo —
fez em Roma e na Grécia, foi feito nas províncias pela opressão
romana e pela substituição de homens orgulhosos de sua liberdade
por submissos desesperados e malandros egoístas.
Tal era a situação material e moral. O presente era insuportável,
a possibilidade do futuro tranqüilo, ameaçada. E nada, além disso. Só
o desespero ou refúgio no prazer sensual comum, pelo menos para
aqueles que podiam dispor disto, e estes eram uma minoria
minúscula. Caso contrário, nada, além de esperar o inevitável. Mas,
em todas as classes existiam necessariamente as pessoas que,
desesperando da salvação material, buscavam em seu lugar uma
salvação espiritual, uma consolação em sua consciência para salvar se do desespero absoluto. Esta consolação não podia ser fornecida
pelos estóicos ou pela escola Epicurista, pela razão de que estes
filósofos não eram voltados para consciência comum e,
secundariamente, porque a conduta de discípulos destas escolas
trouxe o descrédito em suas doutrinas. A consolação era um
substituto, não para a filosofia perdida, mas para a religião perdida;
teve que tomar uma forma religiosa, a mesma que de alguma
maneira, segurou as massas até o século XVII. Precisamos notar
apenas que a maioria daqueles que estavam sensíveis para tal
consolação de sua consciência, para este vôo do mundo externo para
o interno, estavam necessariamente entre os escravos. Foi no meio
desta decadência econômica, política, intelectual e moral que o
Cristianismo apareceu. E entrou como uma antítese resoluta a todas
as religiões anteriores.
Em todas as religiões anteriores, a cerimônia era a coisa
principal. Só tomando parte nos sacrifícios e procissões, e, no
Oriente, observando a dieta mais detalhada e preceitos de limpeza,
podia alguém mostrar a que religião pertencia. Enquanto Roma e a
Grécia eram tolerantes a respeito disto, existia no Oriente uma
revolta contra as proibições religiosas que contribuíram muito para a
sua queda final. Pessoas de duas das religiões diferentes, (Egípcios
Persas, judeus, Caldeus) não podiam comer ou beber juntos,
apresentar-se e agir juntos, ou mesmo falar um com o outro. Era
certamente devido a esta segregação do homem pelo homem que o
Oriente desmoronava. O cristianismo não possuía nenhuma
formalidade distintiva, nem mesmo os sacrifícios e procissões do
mundo clássico. Deste modo, rejeitando todas as religiões nacionais e
suas formalidades comuns, e dirigindo-se diretamente a todas as
pessoas sem distinção, se tornou a primeira religião mundial possível.
O judaísmo também, com seu novo deus universal, fez um começo a
caminho de se tornar uma religião universal; mas os filhos de Israel
sempre permaneceram uma aristocracia separando os crentes e os
circuncidados, e o próprio Cristianismo teve que se livrar da noção da
superioridade dos cristãos judeus (ainda dominante no chamado
Apocalipse, de São João) antes de poder realmente se tornar uma
religião universal. O Islã, por outro lado, preservando a cerimônia
especificamente Oriental, limitou a área de sua propagação ao
Oriente e à África do Norte, conquistada e povoada novamente por
beduínos árabes; ali ele pode se tornar a religião dominante, mas não
no Oeste.
Secundariamente, o Cristianismo atingiu um tom que estava
destinado a ecoar em incontáveis corações. A todas as reclamações
sobre a maldade dos tempos e a angústia moral e material, a
consciência cristã do pecado responde: É assim e não pode ser de
outro modo; tu ardes em culpa, somos todos culpados pela corrupção
do mundo, por nossa própria corrupção interna! E onde estava o
homem que podia negar isto? Mea culpai A admissão da parte de
cada um na responsabilidade pela infelicidade geral era irrefutável e
era a pré-condição para a salvação espiritual que o Cristianismo ao
mesmo tempo anunciava. E esta salvação espiritual estava tão
instituída que podia ser facilmente compreendida por membros de
toda a comunidade religiosa antiga. A idéia do pagamento para
aplacar a deidade ofendida era conhecida em todas as religiões
antigas; como a idéia do auto-sacrifício do mediador pagando de uma
vez por todas os pecados da humanidade não podia ser facilmente
explicada assim? O cristianismo, então, expressou claramente o
sentimento universal de que os próprios homens são culpados da
corrupção geral através da consciência do pecado de cada um; ao
mesmo tempo, providenciou, no sacrifício da morte de seu juiz, uma
saída universalmente esperada — pela salvação interna do mundo
corrupto, a consolação de consciência; assim novamente o
cristianismo provou sua capacidade para se tornar uma religião
mundial e ser, realmente, uma religião adequada ao mundo como ele
era naquele tempo.
Assim aconteceu que, entre os milhares de profetas e pregadores
do deserto que enchiam aquele período de incontáveis inovações
religiosas, só os fundadores do Cristianismo tiveram sucesso. Não só
a Palestina, mas o Oriente inteiro fervilhou com tais fundadores das
religiões, e entre eles travou-se o que pode ser chamado uma luta
darwiniana pela existência ideológica. Usando principalmente os
elementos mencionados acima, o Cristianismo "ganhou o dia". Como
ele gradualmente desenvolveu seu caráter de religião mundial por
seleção natural na luta das seitas umas contra as outras e contra o
mundo pagão é explicado em detalhe pelos primeiros três séculos da
história da Igreja.

Primeira Edição: Sozialdemokrat, de 4-11 de maio de 1882.Fonte: A tradução foi realizada a partir da versão inglesa constante do MIA.T
redução: Wellington de Lucena Moura
HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e

indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

domingo, 7 de junho de 2015

Testamento de Ho Chi Minh

06.06.2015 | Fonte de informações: 

Pravda.ru

Testamento de Ho Chi Minh. 22312.jpeg










No ano em que se comemora o 40º aniversário da vitória do povo vietnamita, odiario.info homenageia Ho Chi Minh publicando o seu Testamento. O grande dirigente revolucionário faleceu antes de a vitória estar inteiramente alcançada. Mas a história confirmou a sua inabalável confiança em que ela chegaria. Nos dias de hoje, em que a ofensiva imperialista avança em todos os continentes, a heroica lição do povo vietnamita é mais actual que nunca. Mesmo um pequeno povo, se unido e dotado de uma firme direção revolucionária, pode não apenas afrontar a maior potência imperialista como pode também derrotá-la.

10 de Maio de 1969 República Democrática do Vietnam
Independência - Liberdade - Felicidade Ainda que a luta de nosso povo contra a agressão dos Estados Unidos pela salvação nacional deva passar por mais dificuldades e sacrifícios, estamos decididos a conquistar a vitória total. Isso é certo.
Pretendo, assim que isso se resolva, viajar tanto ao Norte quanto ao Sul para felicitar os nossos heróicos camponeses, quadros militares e combatentes, assim como visitar os anciãos e as nossas amadas crianças e jovens.
Assim, em nome de nosso povo, irei aos países irmãos do campo socialista e aos países amigos de todo o mundo para agradecer o seu apoio de coração e a ajuda que deram à luta patriótica de nosso povo contra a agressão dos Estados Unidos.
Tu Fu, o famoso poeta do período Tang na China escreveu:
"Em todas as épocas, poucos são os que alcançam setenta anos de idade".
Esse ano, levando em consideração que tenho setenta e nove, posso considerar-me entre esses "poucos". Ainda assim, a minha mente conserva-se perfeitamente lúcida, ainda que a minha saúde se tenha debilitado um pouco em comparação aos últimos anos. Quando alguém vivencia mais de setenta primaveras, a saúde deteriora-se com a idade. Não pode considerar-se Isso uma maravilha.
Mas quem pode dizer quanto tempo mais serei capaz de servir à revolução, à pátria e ao povo?
Portanto, deixo essas linhas antecipando o dia em que irei reunir-me com Karl Marx, V.I. Lénine e outros líderes revolucionários. Assim, o nosso povo em todo o país, os nossos camaradas no Partido e os nossos amigos no mundo não serão tomados de surpresa.
Primeiro, falarei sobre o Partido: graças à sua estreita unidade e dedicação total à classe operária, ao povo e à Pátria, o nosso Partido foi capaz, desde a sua fundação, de unir, organizar e dirigir o nosso povo, de êxito em êxito, numa firme luta.
A unidade é uma tradição extremamente preciosa do nosso Partido e do povo. Todos os camaradas, desde o Comité Central até às células devem preservar a unidade e a união do pensamento no Partido como a menina dos olhos.
No interior do Partido, estabelecer uma ampla democracia e praticar a autocrítica e a crítica de maneira regular e séria é a melhor forma de consolidar e desenvolver a solidariedade e a unidade. O afeto e a camaradagem devem prevalecer.
O nosso partido é um partido no poder. Cada membro do Partido, cada quadro deve estar profundamente inspirado pela moral revolucionária e demonstrar empenho trabalhador, frugalidade, integridade, probidade, dedicação total ao interesse público e completo altruísmo. O nosso Partido deverá preservar a pureza absoluta e provar-se digno do seu papel de condutor e servidor legal do povo.
Os membros da União de Jovens Operários e a nossa juventude em geral são bons, estão sempre preparados para se oferecer, sem temer as dificuldades, ansiosos pelo progresso. O O Partido deve fomentar as suas virtudes revolucionárias e prepará-los para que sejam os nossos sucessores, tanto "vermelhos" como "experientes", na construção do socialismo.
A preparação e a educação das futuras gerações de revolucionários são de grande importância e necessidade.
Os nossos trabalhadores, nas planícies e nas montanhas, resistiram durante gerações a penúrias, opressão e exploração feudal e colonial. Além disso, experimentaram muitos anos de guerra.
Porém, o nosso povo também mostrou grande heroísmo, valor, entusiasmo e trabalho. Seguiu sempre o Partido com lealdade incondicional desde que veio à luz.
O Partido deve levar a cabo planos eficazes para o desenvolvimento econômico e cultural para melhorar constantemente a vida de nosso povo.
A guerra de resistência contra a agressão dos Estados Unidos pode prolongar-se. O nosso povo pode enfrentar novos sacrifícios humanos e materiais. Não importa o que passe, devemos manter a nossa resolução de combater os agressores ianques até alcançarmos a vitória total.
As nossas montanhas sempre existirão, os nossos rios sempre existirão, o nosso povo sempre existirá. Com a derrota dos invasores norte-americanos reconstruiremos a nossa terra até fazê-la dez vezes mais bonita.
Independentemente das dificuldades e dos contratempos que apareçam, o nosso povo está confiante de que obterá a vitória total. Os imperialistas dos Estados Unidos certamente terão que renunciar. A nossa pátria certamente será unificada. Os nossos compatriotas no Sul e no Norte serão certamente reunidos sob o mesmo céu. Nós, que somos uma nação pequena, obtemos a mais honrosa medalha por haver derrotado, através de uma heróica luta, dois grandes imperialismos: o francês e o norte-americano, assim como por termos dado uma valiosa contribuição ao movimento mundial de libertação nacional.
Sobre o movimento comunista mundial, o facto de ter sido um homem que dedicou toda a sua vida à revolução faz-me sentir ainda mais orgulho pelo crescimento do comunismo internacional e dos movimentos operários, ainda que me doa a divergência que hoje existe entre os Partidos irmãos.
Espero que o nosso Partido faça todos os esforços possíveis para contribuir na restauração da unidade entre os Partidos irmãos que têm por base o marxismo-leninismo e o internacionalismo proletário na razão e no sentimento.Confio plenamente que os Partidos e países irmãos se irão unir novamente.
No que diz respeito aos assuntos pessoais, por toda a minha vida servi a minha Pátria, a revolução e o povo com todas as minhas forças e com todo o meu coração. Se agora devo deixar esse mundo, não tenho nada de que me lamentar, excepto de não ter sido capaz de servir mais e melhor.
Quando já tiver ido, para não desperdiçar o tempo e o dinheiro do povo, devem evitar um funeral oneroso.
...
Finalmente, a todo o povo, a todo o Partido, a todo o exército, a meus sobrinhos e sobrinhas, aos jovens e crianças deixo o meu amor ilimitado.
Também transmito as minhas cordiais saudações aos nossos camaradas e amigos, à juventude e à infância de todo o mundo.
O meu maior desejo é que o nosso Partido e o nosso povo, unindo estreitamente os seus esforços, construam um Vietnam pacífico, reunificado, independente, democrático, próspero e que dê uma valiosa contribuição à revolução mundial.

Hanói, 10 de Maio de 1969.

Ho Chi Minh.
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