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sábado, 26 de dezembro de 2015

O yuan será a terceira moeda mais poderosa na cesta do FMI

By Ariel Noyola Rodríguez
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Apesar da forte oposição do Tesouro dos Estados Unidos, o FMI finalmente aprovou em 30 de novembro a inclusão do yuan nos Direitos Especiais de Saque, uma cesta de moedas criada em 1969 para suplementar as reservas oficiais existentes dos membros do organismo multilateral. Assim, a moeda chinesa se tornará a partir do próximo 1 de outubro de 2016 o quinto integrante da cesta do FMI. E a influência financeira da China a nível mundial continuará crescendo rapidamente: o peso do yuan nos Direitos Especiais de Saque será maior em comparação com o iene japonês e a libra britânica.
Poucos meses atrás, houve muito ceticismo sobre se o Fundo Monetário Internacional (FMI) iria incorporar ou não a “moeda do povo” da China (“renminbi”) em sua cesta de divisas[1]. Finalmente, as dúvidas acabaram: apesar da forte oposição do Tesouro dos Estados Unidos, muito em breve o yuan se tornará o quinto membro da cesta de moedas do FMI[2].
Como chegamos até aqui? Em meio à crise do sistema de taxas de câmbio fixas, que foi estabelecido no ano 1944, em 1969 o FMI criou um ativo de reserva, que chamados de Direitos Especiais de Saque (SDR, ‘Special Drawing Rights’, em inglês). Como o sistema da Reserva Federal (Fed) dos Estados Unidos estava cada vez mais impossibilitado de trocar por ouro uma quantidade excessiva de dólares que os bancos centrais de todo o mundo tinham acumulado, o propósito do SDR foi o de complementar as reservas oficiais existentes dos países que compunham o FMI.
Em um primeiro momento, o valor do SDR foi definido como equivalente a 0,888671 gramas de ouro fino. E numa segunda fase, após o colapso dos acordos de Bretton Woods, o valor do SDR foi estabelecido por referência a uma cesta de moedas das principais economias da época: Estados Unidos, Alemanha, Japão, Reino Unido e França. No fim dos anos 90, a cesta do FMI era composta pelo dólar, euro, iene japonês e libra britânica.
E, a partir de então, não houve mais alterações. Apesar das enormes mudanças no quadro político e econômico mundial ao longo das últimas décadas, a composição da cesta do FMI manteve-se inalterada.
A deterioração da economia dos EUA não impediu que o dólar mantivesse a sua posição dominante: em 2011, ele ficava com quase 42% da carteira do SDR; seguido pelo euro, com 37,4%; a libra esterlina, com 11,3%; e o iene, com 9,4%. No entanto, após o Conselho Executivo do FMI decidir acrescentar a moeda chinesa em 30 de novembro, a composição da cesta finalmente vai mudar[3].
Assim, o yuan será a terceira divisa com maior peso nos SDR, com 10,92% do total, acima do iene japonês (8,33%), e da libra esterlina (8,09%), embora ainda atrás do dólar (41,73%) e do euro (30,93%). Esta decisão entrará em vigor em 11 meses, no próximo 01 de outubro de 2016.
“A inclusão do yuan vai aumentar a representação e o atrativo do SDR e ajudará a melhorar o sistema monetário internacional vigente, uma circunstância que beneficiará tanto a China como o resto do mundo”, declarou o Banco Popular da China em um comunicado[4].
Em 2009, Pequim já tinha deixado claro que aspirava que o yuan se tornasse uma moeda de reserva global. Como observei em meus artigos anteriores, a internacionalização do yuan tem sido baseada no “gradualismo” e apoiada especialmente na força comercial da China.
Nos últimos anos, o Banco Popular da China assinou swaps cambiais com mais de 40 bancos centrais, desde os localizados na Ásia-Pacífico, África e Europa aos do Chile e Canadá, aliados fervorosos dos Estados Unidos. Também não podemos esquecer a instalação de bancos de compensação no exterior para facilitar o uso do renminbi (‘RMB clearing banks’) e concessão de quotas de investimento para participar do programa chinês de Investidores Institucionais Estrangeiros Qualificados em Renminbi (RQFII, ‘Renminbi Qualified Foreign Institutional Investor Program’).
No entanto, essas medidas foram insuficientes para o yuan entrar na ‘primeira divisão’. Era preciso ganhar o reconhecimento de uma instituição decisiva na gestão das finanças, como o FMI. A China começou a ganhar a batalha em agosto, quando o yuan foi desvalorizado. Imediatamente, Pequim insistiu em que esta foi uma ação temporária; isto é, que não haveria desvalorizações prolongadas[5].
Foi então que a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, saiu para acalmar os investidores, neutralizando a propaganda dos EUA que responsabilizava a China pela turbulência econômica global[6].
Enquanto isso, Pequim não voltou atrás em seu programa de “reformas estruturais”; pelo contrário, pretende acelerar a abertura do seu setor financeiro. Tudo aponta no sentido da liberalização da taxa de câmbio e das taxas de juros, assim como do mercado de capitais. Depois de conectar as bolsas de valores de Xangai e Hong Kong em meados de novembro de 2014[7], agora a China contempla o estabelecimento uma ligação com a bolsa de Londres[8].
Em conclusão, embora seja verdade que o yuan ainda tem um longo caminho a percorrer para ser capaz de competir de igual para igual com o dólar, não há dúvida de que a sua próxima inclusão na cesta de moedas do FMI é um marco histórico[9]. O mundo financeiro está mudando…
Ariel Noyola Rodriguez
Artigo em espanhol :
yuan 2
El yuan será la tercera divisa más poderosa dentro de la canasta del FMI
Fonte em espanhol : Russia Today (Rússia). 1 de Dezembro de 2015
Ariel Noyola Rodriguez: Economista graduado pela Universidade Nacional Autônoma do México.


[1] «Incorporar o yuan ao sistema SDR», Ariel Noyola Rodríguez, Tradução Victor Farinelli, Russia Today (Rússia), Rede Voltaire, 3 de Abril de 2015.
[3] «IMF Agrees to Include China’s RMB in SDR Basket», Zou Luxiao, People’s Daily, December 1, 2015.
[5] «La devaluación del yuan pone a prueba el ascenso de China como potencia mundial», por Ariel Noyola Rodríguez, Russia Today (Rusia), Red Voltaire, 29 de agosto de 2015.
[6] «IMF’s Christine Lagarde Tries to Tamp Down China Panic, but Urges Vigilance», Ian Talley, The Wall Street Journal, September 1, 2015.
[7] «Xangai e Hong Kong: a nova dupla do mercado de ações», Ariel Noyola Rodríguez, Tradução Daniella Cambaúva, Rede Voltaire, 24 de Novembro de 2014.
[8] «Yuanización mundial gracias a la City de Londres», por Ariel Noyola Rodríguez, Russia Today (Rusia), Red Voltaire, 5 de noviembre de 2015.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Mísseis contra o gasoduto Turkish Stream

By Manlio Dinucci

Global Research, December 07, 2015

Os mísseis Aim-120 Amraam, lançados pelo F-16 turco (todos dois Made in USA) não foram dirigidos somente contra o caça-bombardeiro russo mobilizado na Síria contra o chamado Estado Islâmico, mas contra um objetivo mais importante: o Turkish Stream, o gasoduto projetado que levaria o gás russo à Turquia e de lá à Grécia e outros países da União Europeia

O Turkish Stream é a resposta de Moscou ao torpedeamento, por Washington, do South Stream, o gasoduto que, contornando a Ucrânia, levaria o gás russo até Tarvisio (na região italiana de Udine) e de lá à União Europeia, com grandes benefícios para a Itália, inclusive em termos de emprego. O projeto, lançado pela empresa russa Gasprom e a italiana ENI depois ampliado à alemã Wintershall e à francesa EDF, já estava em fase avançada de realização (a Saipem da ENI já tinha um contrato de dois bilhões de euros para a construção do gasoduto através do Mar Negro) quando, depois de ter provocado a crise ucraniana, Washington lançou aquilo que o New York Times definiu como “uma estratégia agressiva visando a reduzir fornecimentos russos de gás para a Europa”.
Sob pressão estadunidense, a Bulgária bloqueou em dezembro de 2014 os trabalhos do South Stream, enterrando o projeto. Mas ao mesmo tempo, embora Moscou e Ancara estivessem em campos opostos no que concerne à Síria e ao chamado Estado Islâmico, a Gasprom assinou um acordo preliminar com a companhia turca Botas para a realização de um duplo gasoduto Rússia-Turquia através do Mar Negro. Em 19 de junho Moscou e Atenas assinaram um acordo preliminar sobre a extensão do Turkish Stream (com uma despesa de dois bilhões de dólares a cargo da Rússia) até a Grécia, para torná-la a porta de entrada do novo gasoduto na União Europeia.
Em 22 de julho Obama telefonou a Erdogan, pedindo que a Turquia se retirasse do projeto. Em 16 de novembro, Moscou e Ancara anunciaram, ao contrário, próximos encontros governamentais para lançar o Turkish Stream, com uma envergadura superior à do maior gasoduto através da Ucrânia.
Oito dias mais tarde, a derrubada do caça russo provocou o bloqueio, senão a liquidação, do projeto. Seguramente, em Washington, festejaram o novo acontecimento. A Turquia, que importava da Rússia 55% de seu gás e 30% de seu petróleo, se encontra de fato prejudicada pelas sanções russas e corre o risco de perder o grande negócio do Turkish Stream.
Quem, então, na Turquia, tinha o interesse de abater voluntariamente o caça russo, sabendo quais seriam as consequências? A frase de Erdogan – “Nós não queríamos que isto acontecesse, mas aconteceu, espero que uma coisa desse tipo não acontecerá mais” -, implica um cenário mais complexo do que o oficial. Na Turquia há importantes comandos, bases e radares da Otan sob o comando estadunidense. A ordem de abater o caça russo foi dada dentro desse quadro.
Nesse ponto, qual é a situação na “guerra dos gasodutos”? Os Estados Unidos e a Otan controlam o território ucraniano por onde passam os gasodutos Rússia-União Europeia, mas a Rússia pode hoje contar menos com eles (a quantidade de gás que eles transportam caiu de 90% a 40% da exportação russa de gás para a Europa) graças a esses dois corredores alternativos. O Nord Stream que, no Norte da Ucrânia, leva o gás russo à Alemanha: a Gasprom quer agora duplicar, mas o projeto é contestado na União Europeia pela Polônia e por outros governos do Leste (principalmente os ligados tanto a Washington como a Bruxelas). O Blue Stream, administrado paritariamente pela Gasprom e a ENI, que no sul passa pela Turquia e por este fato não está isento de risco. A União Europeia poderia importar bastante gás a baixo preço do Irã, com um gasoduto já projetado através do Iraque e da Síria, mas o projeto está bloqueado (não por acaso) pela guerra desencadeada nesses países pela estratégia dos Estados Unidos e da Otan.
Manlio Dinucci
Manlio Dinucci : Jornalista, geógrafo e cientista político, colunista do jornal italiano Il Manifesto; tradução de José Reinaldo Carvalho para o Blog da Resistência

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

A LIBERAÇÃO DA MULHER


 Por Valdir Pereira
Hoje, sem muita inspiração, me ocorreu avaliar superficialmente o liberalismo moral que campeia a sociedade moderna.
Costumes rígidos que norteavam a minha geração, mais ou menos comportada, onde relações sexuais se consumavam geralmente nos casamentos, salvo algumas exceções. As molecadas jovens pouco namoravam ou aproveitavam a missa aos domingos para assédios fortuitos as meninas. Vez ou outra participavam de bailinhos, geralmente em casas de amigos, pois salões eram vistos como inadequados. As amizades com as meninas, praticamente não existiam. Nas escolas, nos colégios os gêneros estudavam separados, não se misturavam até nos recreios, não se falavam.
Dois clubes predominavam o clube do bolinha e o da luluzinha.  Homem com homem, mulher com mulher.
 Essa situação imposta pelos costumes, sofre radical mudança com o desenvolvimento social. O trabalho das mulheres nas fábricas. Depois em outras atividades econômicas aproximaram os gêneros e a liberação geral. Se antes nem votar podiam, os novos tempos possibilitaram a mulher ser votada.
A chamada liberação feminina  gerou novos costumes. As baladas servem para encontros fortuitos de sexo, sem qualquer compromisso. Sexo ao acaso, muitas vezes imprudentes, sem proteção. É a nova ordem que manda. É o liberou geral, chegando ao sexo em grupos.
Diante da atual situação me ocorreu citar pequenos trechos da ampla obra de Engels, baseada também nos estudos de Morgam que, pelos estudos que fez, muito contribuiu  na  confecção  do livro A origem da Família, da Propriedade e do Estado. Qualquer semelhança com a atualidade é mera coincidência.

A Família Sindiásmica

A família sindiásmica aparece no limite entre o estado selvagem e a barbárie, no mais das vezes
durante a fase superior do primeiro, apenas em certos lugares durante a fase inferior da segunda. É a forma de família característica da barbárie, como o matrimônio por grupos é a do estado selvagem e a monogamia é a da civilização. Para que a família sindiásmica evoluísse até chegar a uma monogamia estável, foram necessárias causas diversas daquelas cuja ação temos estudado até agora. Na família sindiásmica já o grupo havia ficado reduzido à sua última unidade, à sua molécula biotômica: um homem e uma mulher.
 Faltava apenas uma coisa: a instituição que não só assegurasse as novas riquezas individuais contra as tradições comunistas da constituição gentílica, que não só consagrasse a propriedade privada, antes tão pouco estimada, e fizesse dessa consagração santificadora o objetivo mais elevado da comunidade humana, mas também imprimisse o selo geral do reconhecimento da sociedade às novas formas de aquisição da propriedade, que se desenvolviam umas sobre as outras - a acumulação, portanto, cada vez mais acelerada, das riquezas -; uma instituição que, em uma palavra, não só perpetuasse a nascente divisão da sociedade em classes, mas também o direito de a classe possuidora explorar a não-possuidora e o domínio da primeira sobre a segunda.
             E essa instituição nasceu. Inventou-se o Estado

A GENS ENTRE OS CELTAS E ENTRE OS GERMANOS -
Aqui, vamos nos limitar a umas breves notas sobre a gens entre os celtas e os germanos.
As leis célticas mais antigas que chegaram até nossos dias mostra os a gens ainda em pleno vigor. Na Irlanda ainda sobrevive, na consciência popular, instintivamente, pois os ingleses a destruíram pela violência.
Na Escócia, em meados do século XVIII, estava em pleno florescimento; e só morreu por obra das leis, dos tribunais e das armas inglesas.

               A FORMAÇÃO DO ESTADO ENTRE OS GERMANOS- Se foram capazes de preservar - pelo menos nos três países mais importantes (na Alemanha, na Inglaterra e no norte da França) - uma parte do autêntico regime da gens, transplantando-o ao Estado feudal sob a forma de marcas, dando aos camponeses oprimidos, mesmo durante a mais cruel servidão medieval, uma coesão local e meios de resistência que não tiveram os escravos da antigüidade e não tem o proletariado moderno - a que se deve isso senão à sua barbárie, ao sistema exclusivamente bárbaro de colonização por gens ?
Tudo que era força e vitalidade, naquilo que os germanos infundiram no mundo romano, vinha da barbárie. De fato, só bárbaros poderiam rejuvenescer um mundo senil que padecia de uma civilização moribunda. E a fase superior da barbárie, à qual tinham chegado e na qual estavam vivendo os germanos, era precisamente a mais propícia à promoção deste processo. Isso explica tudo.
A FAMÍLIA MONOGÂMICA
 Nasce, conforme indicado acima, de forma sucinta, da família sindiásmica, no período de transição entre a fase média e a fase superior da barbárie. Seu triunfo definitivo é sintoma da civilização nascente. Baseia-se no predomínio do homem; sua finalidade expressa é a de procriar filhos cuja paternidade seja indiscutível; exigência para assegurar seus direitos de posse dos gens de seu pai.
Ao homem se concede o direito a infidelidade conjugal. Quanto a mulher, por acaso recorda os antigas práticas sexuais e intenta renová-las, é castigada mais rigorosamente do que em qualquer época anterior.
Entre os gregos, encontramos, com toda sua severidade, a nova forma de família. Enquanto a situação das deusas na mitologia, como assinala Marx, que nos fala de um período anterior em que as mulheres ocupavam uma posição mais livres e de maior consideração, nos tempos heróicos já vemos a mulher humilhada.
A existência da escravidão junto a monogamia, a presença de jovens e belas cativas que pertencem, de corpo e alma, ao homem, é o que imprime, desde a origem um caráter especifico á monogamia que é monogamia só para a mulher, e não para o homem. E na atualidade, conserva-se esse caráter.
Outra coisa mais diversa se passava entre os jônios, para os quais é característico o regime de Atenas.
As donzelas aprendiam apenas a fiar, tecer e coser, e quanto muito a ler e escrever. Eram praticamente cativas  e Sá lidavam com outras mulheres. Habitavam um aposento separado, situados no alto ou atrás da casa; os homens não entravam ali com facilidade. Aristófanes fala de cães molossos para espantar adúlteros e vigiar as mulheres, havia eunucos- os quais, desde os tempos de Heródoto, eram fabricados em Quios para serem comerciados e não serviam apenas aos bárbaros.
Apesar do rigor das regras, a infidelidade feminina acontecia virtualmente às escondidas do marido, como ocorre atualmente.
A alavanca que impulsionou o processo até os tempos contemporâneos, alem da divisão social do trabalho e criação do estado, deve-se a formatação do sistema monogâmico da aliança entre famílias, com o casamento, que assegura o direito a herança; a proteção da mulher e dos filhos.
Quanto à liberação do comportamento sexual da mulher, nos dias atuais, no meu entendimento, fatores diversos, entre os quais a poliandria, que vigeu no período de nossa história primitiva, parece ressurgir como um fenômeno contraditório que se aplicam as características do capitalismo, imoral e corrupto.
E, como sempre, o gênero masculino não encontra resistência aos seus apetites, motivados pelo alto grau de testosterona, encontra facilidades consentidas, em nome de uma pseudo- liberdade feminina.
O homem não fica grávido, engravida!


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Editora Abril caminha para o fim


 A editora que cedeu lugar ao mais pernicioso jornalismo de esgoto da história da imprensa brasileira está agonizando.Luís Nassif - Jornal GGN (via Blog do Altamiro Borges)


Aumentam os rumores de que nos próximos dias a Editora Abril deverá entrar na Justiça com pedido de recuperação judicial.

Ingressa, assim, na penúltima fase da agonia um grupo que dominou o mercado editorial brasileiro nas últimas décadas.

Ao lado das Organizações Globo, a Abril foi o primeiro grupo editorial brasileiro a adotar o modelo dos grupos de mídia norte-americanos. Começou no país representando os quadrinhos da Disney e da Marvel. Depois, seguiu o modelo Time-Life, tendo como carros-chefes revistas que seguiam padrão similar: Veja, seguindo o estilo Time; Placar emulando o Sporteds Illustred, Exame copiando a Fortune e Quatro Rodas.

Defensora intransigente do modo de vida norte-americano, do primado da iniciativa privada, em várias fases de sua vida valeu-se da influência política para conquistar as benesses do poder.

Nos governos militares montou a Rede Quatro Rodas de Hotel contando com os benefícios fiscais criados por Delfim Netto. No governo Sarney, conseguiu concessões de TV a cabo. No governo Collor quase conseguiu o monopólio das Listas Telefônicas da Telerj, negociadas pelo então presidente Eduardo Cunha.

A Abril começou a se perder ainda nos anos 90, devido a sucessivos erros estratégicos. Liderada por Roberto Civita, montou um canal de TV, a MTV, entrou na TV a cabo, através da TV A, e saiu na frente com o segundo portal do país, o BOL.

O BOL acabou perdendo a iniciativa para a UOL devido a alguns erros estratégicos – a extrema lentidão em montar a rede de telefonia, na fase pré banda larga e em pretender ser a única provedora de conteúdo. Mas, principalmente, pelo boicote conduzido pelos executivos da área de impressos, preocupados em não perder posição no grupo.

A BOL acabou fundida com a UOL e Roberto Civita passado para trás por Luiz Frias, da UOL. Houve a fusão e a gestão da empresa ficou com o grupo Folha. Luiz acabou aliando-se aos portugueses da Portugal Telecom e montando um aumento de capital inesperado, avisando Civita só na véspera. Civita perdeu o controle compartilhado e, mais tarde, vendeu sua parte para a UOL, por uma fatia do valor que a empresa viria a ter no decorrer dos anos seguintes.

Junto com o velho Otávio Frias, ainda tentou juntar forças para adquirir metade da TV Bandeirantes. Acompanhei de perto essa história pois fui incumbido por Frias de fazer a ponte com João Saad, com quem tinha boas relações.

O caso Naspers

De tentativa em tentativa a Abril foi afundando. Ganhou algum fôlego quando aceitou a sociedade com o grupo sul-africano Naspers, em uma história mal contada. O grupo assumiu 30% do capital, máximo permitido pela legislação brasileira. Outros 20% foram adquiridos por duas holdings sediadas em Delaware, EUA, e representadas no Brasil pelo escritório Mattos-Filho. Mais tarde, quando a Abril vendeu a TV A para a Telefonica, as duas holdings desaparecem da sociedade.

Os anos 2.000 marcam o início da decadência final do grupo. Globalmente, a Internet vitimiza o segmento de revistas. Civita decide, então, importar o estilo Rupert Murdoch. Incorpora o linguajar agressivo da ultradireita, inaugurando o estilo com a campanha contra o desarmamento; passa a vender sua opinião de forma imprudente (como ocorreu com o banco Opportunity), alia-se à organização criminosa de Carlinhos Cachoeira, beneficiando-se da complacência do Ministério Público Federal, e tenta se valer do temor que infundia para se aventurar no mercado de livros didáticos e, mais à frente, de cursos didáticos.

A Abril da coleção Os Pensadores, da revista Realidade, da História da Música Popular e de outros feitos culturais, cede lugar ao mais pernicioso jornalismo de esgoto da história da imprensa brasileira.

Recorre ao discurso macarthista para tentar afastar concorrentes e impor suas publicações. Fecha contratos importantes tanto no MEC (Ministério da Educação) quanto com o governo de São Paulo.

Quando explode a bolha dos cursos universitários – no rastro do FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) – sai imprudentemente à caça de cursos, com total falta de discernimento.

Liderado por um CEO megalomaníaco, a Abril se endivida, adquire cursos superavaliados que não lhe proporcionam retorno financeiro e acaba vendendo a Abril Educacional para um fundo de investimento. Não há indícios de que o dinheiro amealhado tenha sido utilizado para resgatar a Editora Abril do mar de dívidas em que se meteu.

Enquanto isto, o faturamento editorial despencava. Para preservar a publicidade de Veja, a editora recorre ao subterfúgio de turbinar a tiragem com promoções gratuitas, burlando as regras de auditoria do mercado publicitário.

Há quatro anos, o mercado trabalhava com uma hipótese de tiragem de 850 mil exemplares para a Veja, enquanto o IVC (Instituto Verificador de Circulação) apontava ainda mais inexistentes 1,2 milhão de exemplares. Esse fosso deve ter aumentado mais ainda, já que o IVC continua sustentando a tiragem de 1,2 milhão de exemplares.

De lá para cá possivelmente a tiragem caiu mais ainda, tornando mais custosa a operação de turbina-la com assinaturas gratuitas.

Gradativamente começa a se desfazer de seus principais títulos. A crise do mercado publicitário acelerou sua agonia.

Em 31 de dezembro de 2014, a Abril Comunicações apurou prejuízo de R$ 139 milhões no exercício. O patrimônio líquido negativo saltou de R$ 125 milhões em 2013 para R$ 265 milhões, mostrando o fracasso da estratégia implementada a partir de 2013 para salvar a empresa.

Toda a estratégia resumia-se ao enxugamento da empresa, com a venda de títulos, fechamento de revistas e dispensa de funcionários. Conseguiu reduzir um pouco o endividamento – de R$ 995 milhões para R$ 772 milhões com a venda da Abril Radiodifusão e da Elemidia. E renegociou prazos de debentures com bancos. Conseguiu dois anos de carência, mas pagando CDI mais 2,6% ao ano.

Dos quatro grandes grupos de mídia tem-se o seguinte quadro:

1. Editora Abril, com escassa possibilidade de sobrevivência.

2. Estadão, tendo como único produto viável a Agência Estado.

3. Folha, sendo absorvida pela UOL, que torna-se cada vez mais um grupo de datacenter, tendo de concorrer com os gigantes globais. E com o modelo de portal entrando em crise, com a audiência corroída pelas redes sociais, que tornaram-se a porta de entrada principal dos usuários.

4. Globo, que permanecerá com seu enorme poder.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O impeachment e a divisão da oposição


14.12.2015 | Fonte de informações:

Pravda.ru

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Quando ainda se fazia política no país, antes do vale tudo em que se transformou a luta pelo poder nesta Nação, havia um velho homem público mineiro que, no rastro de  Salomão, gostava de dizer que a política é como as estações do ano.

 Mauro Santayana
Há o tempo de semear e o tempo de ceifar.
O tempo de colher e o tempo de moer.
O tempo de misturar e bater a massa.
E o de acender o forno para assar e comer o que se preparou.
O bom da Democracia, é que, a não ser que ocorram tragédias de grandes proporções, ela, como o clima, oferece um calendário próprio,   que pode servir de parâmetro, para os mais argutos e prudentes, no estabelecimento de um necessário e cada vez mais desprezado - como meio - plano de rota, que possa levar ao objetivo que se pretende alcançar.
O aumento da temperatura, ou efeito estufa, na cena política, que pode acabar prejudicando tanto a gregos como troianos, ocorre quando o papel dos partidos - espera-se que cada um tenha sua própria visão e seu próprio projeto para o país - é substituído por uma briga de foice em que um monte de cidadãos, individualmente, acredita que pode alcançar a Presidência da República, não interessando o momento ou o meio que vai utilizar para chegar lá.
Há impeachments e impeachments.
Na época do impedimento do Presidente Fernando Collor, havia um vice-presidente conciliador, em torno do qual se reuniu uma ampla aliança nacional, que era tão correto que se recusou a forjar uma alteração na constituição que lhe permitisse manter-se no poder por mais um mandato, e cujo maior erro - como depois admitiria mais tarde - foi escolher como sucessor um indivíduo que usurparia a maior conquista de seu governo, o Plano Real, e que, no lugar de cumprir o compromisso que tinha com ele de apoiá-lo para o pleito seguinte, tanto fez para não largar a rapadura que chegou até mesmo a ser acusado de comprar votos no Congresso para aprovar a lei que permitiu sua reeleição.
Hoje, em caso do impedimento da Presidente Dilma, não há, como havia à época de Itamar Franco, o mesmo consenso em torno da figura do Vice-Presidente Michel Temer.
O maior partido de oposição - teoricamente o mais interessado na saída de Dilma - apresentou, no TSE, pedido de cassação da chapa Dilma-Temer, vitoriosa nas eleições de um ano atrás, propondo a anulação do resultado e requerendo que se lhe entregue o poder, como coligação mais votada.
Os tucanos querem a saída de Dilma, mas cada um em seu tempo e a seu modo.
Se pudessem, prefeririam evitar a substituição da presidente por um vice que tem tudo para articular rapidamente a simpatia e as boas graças do "mercado".
Que depois poderia ser apresentado, contando com a estrutura de um dos maiores partidos do país, como um fortíssimo candidato nas eleições de 2018.
Para Alckmin, e para José Serra, que estão de olho no Planalto, isso não seria bom.
Alguns jornais informam que Serra pretende ser o Ministro da Fazenda de Temer, e seu candidato a Presidente, pelo PMDB.
Mas aquele que já foi por duas vezes candidato pelo PSDB, como diria Garrincha, ainda não "combinou com os russos", e muita água tende a rolar debaixo das pontes do Tietê antes que isso venha a ocorrer.
Serra teria que vencer a resistência da ala mais nacionalista do partido,  de construir algum tipo de liderança nele, sobrepondo-se a possíveis rivais, além de contar com a recusa de  Michel Temer de continuar ocupando um lugar no qual já estará há algum tempo, com todas as prerrogativas que lhe reserva o cargo mais importante da República.
Temer na Presidência, aliado a Serra, não seria desejável para Aécio Neves, que está na frente nas pesquisas de intenção de voto, entre os eventuais pré-candidatos.
E, muito menos, ainda, para eventuais concorrentes "independentes" que aparentemente correm "por fora", mas que têm um enorme apelo para o voto conservador e de extrema-direita nascido da campanha anti-petista dos últimos anos.
Entre eles, pode-se nomear - por enquanto - Jair Bolsonaro e o próprio Juiz Sérgio Moro, que dividem os apelos "Bolsomito 2018", e "Moro Presidente", no espaço de comentários dos grandes portais nacionais, de onde a militância do PT desapareceu.
Para muitas lideranças anti-petistas, ou com aspirações a sentar na principal cadeira do Palácio do Planalto, ideal seria que o governo Dilma "sangrasse", atacado pela mídia conservadora nacional e estrangeira, pelos internautas fascistas, pela sabotagem econômica e no contexto judicial, pelos entreguistas e privatistas, e pelos oportunistas de todo tipo, até o último dia de seu mandato.
Assim, eles teriam tempo para o fortalecimento de seus respectivos cacifes com vista a 2018, disputando entre si a preferência dos neoliberais, dos neo-anticomunistas, dos anti-petistas, dos anti-"bolivarianos", dos anti-estatistas, dos anti-desenvolvimentistas e dos anti-nacionalistas de plantão.
Um público cada vez mais radical, manipulado e desinformado que tem tudo para crescer como fungo, já que não existe nenhuma oposição ou reação estratégica, judicial, ou na área de comunicação minimamente detectáveis, por parte da esquerda - reunida quase que exclusivamente em seus próprios blogs, grupos e páginas de redes sociais - ou do Partido dos Trabalhadores em portais de maior audiência, como o UOL, o IG, o Terra, o MSN e o G1.
O grande problema do PT no Brasil é a internet, onde perdeu, sem esboçar qualquer reação coordenada - a batalha da comunicação.
De nada adianta o ex-presidente Lula processar na justiça certo "historiador" de oposição por calúnias proferidas em uma entrevista, se dezenas, centenas, de internautas continuam a atirar contra ele os mesmos insultos e as mesmas mentiras, impunemente, todos os dias, sem serem interpelados judicialmente da mesma maneira. Se o primeiro deles tivesse sido impedido, na forma da lei, desde o início, o PT - e a própria Democracia, vilipendiada com pedidos de "intervenção militar" e a defesa pública da volta da ditadura e da tortura - não estariam na situação institucional em que se encontram.+
O grande drama da oposição no Brasil é o que fazer com o impeachment.
Se Dilma sair do Palácio do Planalto agora, ficará difícil manter, contra Temer, a mesma campanha uníssona que existe, hoje, na imprensa e nos maiores portais da internet - por parte dos internautas de direita - contra o PT.
Os ataques sofridos pela Presidência da República tenderiam a diminuir, e a enfraquecer em seu ódio e veneno, já que não daria, simplesmente, para transferir para esse novo Presidente da República, o papel de Geni encarnado pelo PT até agora.
Finalmente, com Dilma fora do Planalto, será praticamente impossível manter a unidade das forças anti-petistas, que tendem a se lançar em uma guerra fratricida pelo Palácio do Planalto, que Michel Temer, do alto da cadeira presidencial, em caso do enfraquecimento de Lula, e de fragmentação da oposição, teria grande chance de vencer em 2018.

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