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sábado, 31 de dezembro de 2016

A farsa da modernização trabalhista

A pretexto de tirar o país da crise, empresários buscam alterar a legislação para retirar direitos dos trabalhadores
Colaboração | Brasil de Fato, 
Campanha "Não Vou Pagar o Pato", apoiada pela Fiesp / Lucio Bernardo Jr./ Câmara dos Deputados
Não foi contra a corrupção e o aumento de impostos que os empresários da Fiesp inflaram aquele pato amarelo na Avenida Paulista e em frente ao Congresso Nacional, durante o golpe do impeachment, apoiados pelos batedores de panelas vestidos com a camiseta da CBF.
Os empresários que atropelaram a democracia e financiaram o afastamento da presidenta Dilma possuem outros interesses, cuja fatura já foi devidamente cobrada do presidente ilegítimo Michel Temer. Não existe almoço grátis.
A pretexto de tirar o país da crise, eles buscam alterar a legislação para retirar direitos dos trabalhadores. Direitos, aliás, que nunca foram empecilho para que as empresas crescessem e o Brasil se tornasse uma potência mundial.
Além de patrocinar o golpe, a Fiesp e outras federações empresariais querem tirar proveito da composição mais favorável no Congresso para aprovar projetos que certamente, se apresentados em campanha eleitoral, não renderiam votos. Querem fazer o trabalhador pagar o pato!
O projeto de lei ainda não foi enviado por Temer ao Congresso, mas o que foi anunciado às vésperas do Natal, sem qualquer participação da CUT, já é suficiente para revelar que se trata da maior reforma trabalhista na história do país, pois visa flexibilizar a CLT e a Constituição de 1988. Por exemplo, com o negociado sobre o legislado, em plena recessão, com 12 milhões de desempregados, o governo propõe a precarização do trabalho, o que vai gerar menos renda, menor consumo e produção, comprometendo a retomada do crescimento econômico.
Ao invés de avanço trabalhista, como propagandeiam golpistas de plantão, existem retrocessos inegáveis. Dizer que é uma proposta de modernização na legislação é uma farsa. É uma reforma feita sob medida para empresários gananciosos, que desrespeitam leis e querem se livrar de ações trabalhistas. Segurança jurídica é cumprir a legislação vigente. Legalizar fraudes é roubar direitos dos trabalhadores.

Temos agora mais uma frente de resistência em defesa dos direitos, ao lado do combate à reforma da Previdência que visa tirar da maioria dos trabalhadores o direito de se aposentar. Estamos diante da volta aos tempos da escravidão.
O que o Brasil precisa é de redução dos juros, reformas tributária e política, combate à sonegação, revisão das renúncias fiscais, geração de empregos com trabalho decente, e qualificação dos serviços públicos com valorização dos servidores. O caminho é a retomada da democracia com eleições diretas, já! Nenhum direito a menos!



Claudir Nespolo é metalúrgico e presidente da CUT-RS (presidencia@cutrs.org.br).

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Relações Rússia-EUA: Escalada das Tensões sob Risco de Guerra Nuclear


15.12.2016

Ampla reportagem com importantes entrevistas: Peter Kuznick, diretor do Instituto de Pesquisas Nucleares da Universidade Americana (Washington); Annie Machon, ex-oficial autodemitida do serviço de inteligência britânico MI5; Timo Kivimäki, professor da Faculdade de Relações Internacionais da Universidade de Bath (Inglaterra); e Catherine Shakdam, analista do sítio norte-americano de notícias Mint Press, e diretora-adjunta do Beirut Center for Middle Eastern Studies (Líbano)
por Edu Montesanti

A principal evidência observada nos discursos de Obama, e especialmente no caso da Guerra Civil síria desde o inicio de setembro de 2013 quando os EUA tiveram de recuar diante de uma Rússia que, interferindo imediatamente buscando soluções diplomáticas conforme prevê a Carta das Nações Unidas, impediu mais uma "intervenção humanitária" do governo norte-americano que deseja repetir na Síria a dose iraquiana, líbia e afegã, é que as relações internacionais já não estão completamente rendidas à hegemonia de Washington, pelo contrário: afirma-se um mundo multipolar que Tio Sam tenta, a todo custo, evitar - ainda que seus métodos imperialistas contrariem a própria Constituição (que desautorizam guerras de agressão), e todas as leis internacionais. Em outubro deste ano, Washington manifestou a disposição de impor uma zona de exclusão aérea na Síria, o que fatalmente entraria em choque com as forças russas que atuam em conjunto com as do exército sírio. Novamente, teve de recuar. O Kremlin advertiu: aquilo seria considerado "clara ameaça" aos militares russos, que derrubariam os jatos da OTAN. Segundo os russos, os arquitetos do plano deveriam "considerar seriamente as possíveis consequências" de suas ações, disse então o Major-General Igor Konashenkov. Em ambos os casos, o mundo pareceu na iminência de um confronto entre Estados e Rússia, as maiores potências nucleares do planeta."Podemos atacar [a Síria] quando quisermos. Eu decidi que os Estados Unidos devem tomar ação militar contra alvos do regime sírio". Estas afirmações do presidente norte-americano Barack Obama, proferidas em 31 de agosto de 2013, apontam hoje à mudança que vai além da guinada radical do Prêmio Nobel da Paz de 2009 em relação ao discurso de sua primeira campanha presidencial, em 2008: "Nenhum presidente deve ter o poder de iniciar um ataque, quando não existe ameaça direta contra os Estados Unidos". Obama decepcionou ao adotar, em geral, a mesma "política externa" (eufemismo para crimes internacionais) coercitivo-expansionista de seu antecessor na Casa Branca, George W. Bush, que falava "como o dono do mundo" como dizia Hugo Chávez. E em alguns aspectos, Obama foi além: nestes oito anos na Casa Branca, tem superado, em muito, os ataques com drones de seu antecessor republicano. Ele mesmo havia dito, ainda em 2013: "Alguns, certamente, vão discordar de mim, mas acho que os Estados Unidos são excepcionais".
Essa sucessão de revés norte-americano, somada ao fato de que os EUA - autores das únicas bombas atômicas lançadas na história - e seu sistema excludente e dominador precisam desesperadamente de inimigos a fim de justificar expansão global à base da força militar, tem acentuado a nova Guerra Fria. De acordo com todos os procurados pela reportagem para analisar a escalada das tensões entre Estados Unidos e Rússia cujo epicentro é a Síria, a Guerra Fria hoje - acirrada pela grande mídia ocidental, estende-se da Ásia ao Leste Europeu - é ainda mais perigosa que a do século passado mesmo em seus momentos ais críticos, com o agravante do risco ainda maior de um confronto nuclear em comparação ao período anterior. Diversos outros especialistas e centros de pesquisas internacionais apontam no mesmo sentido hoje. E embora seja muito elogiado pelas promessas de campanha de se aproximar da Rússia e reverter este sombrio cenário global, o presidente norte-americano recentemente eleito, Donald Trump, traz em seu histórico, no contexto de seus discursos, na equipe de governo que tem montado e na própria realidade politicamente histórica de seu país, sérias dúvidas se realmente seguirá por esse caminho. 
Nova (Velha) Guerra Fria: Epicentro e 'Conflitos Congelados'
Pela primeira vez desde a crise dos "euro-foguetes" de 26 de setembro de 1983, o "dia em que o mundo quase morreu" segundo palavras do escritor britânico e ex-editor do jornal The Sunday Times, os próprios EUA e Rússia reconhecem oficialmente o risco de que o atual conflito diplomático possa se transformar em um choque armado. No entanto, pode-se dizer ainda que a Guerra Civil síria é muito mais perigosa que qualquer momento da Guerra Fria, incluindo a famosa Crise de Mísseis de Cuba de 1962. Hoje, o potencial de conflito nas relações russo-americanas é maior do que na segunda metade do século passado.
Em 2011, Obama e Dmitri Anatolievitch  Medvedev, então presidente russo, assinaram o Tratado START 3 a fim de conter o avanço da OTAN e das armas nucleares. Ainda assim, continuou a expansão da NATO, aumentaram as tensões sobre a Síria e teve início a crise na Ucrânia, levando ao agravamento das relações entre ambos os países e à introdução de sanções económicas e políticas contra a Rússia. Em fins de julho de 2014, os EUA e a União Europeia (UE) impuseram diversas sanções que afetam tanto indivíduos quanto empresas e setores inteiros da economia russa., pela crise ucraniana. Já a Rússia decidiu manter as sanções contra os produtores agropecuários da Europa, e elaborou uma lista de mais de 200 pessoas da UE e dos EUA para recusar-lhes de vistos de entrada.
Para o historiador norte-americano Peter Kuznick, diretor do Instituto de Pesquisas Nucleares da Universidade Americana de Washington D.C., Obama adotou uma política confusa, com acertos em importantes questões como no caso do acordo nuclear com o Irã e, por outro lado como nas relações com a Rússia, tem tido uma mentalidade retrógrada. "Ele e outros políticos pensam que podem tratar a Rússia como Bush pai e Bill Clinton fizeram na década de 1990. Levou algum tempo para que percebesse que Vladimir Putin não é Boris Yeltsin. Yeltsin se dispunha a conceder quase tudo em favor dos EUA, incluindo a perigosa expansão da OTAN mesmo que altos funcionários dos EUA tivessem prometido a Gorbachev que não expandiriam a OTAN nem sequer um polegar para o leste europeu. A OTAN agora se expandiu para mais 12 nações, as duas últimas durante a administração de Obama". O acordo estabelecia que, em contrapartida, a então União Soviética retiraria suas 260 mil tropas da Alemanha Oriental para a reunificação da Alemanha, o que efetivamente ocorreu.
Perguntado se vivemos uma nova Guerra Fria, Kuznick é categórico na resposta: Há, sim, uma nova Guerra Fria e a situação é muito perigosa agora. Ela tem sido impulsionada em grande parte por Obama, Clinton e John Kerry, e esta Guerra Fria está ativa há muitos anos". Talvez tenha começado em 2003 com a invasão dos EUA ao Iraque. Talvez, em 2008 com o anúncio de Bush de que desejava expandir a OTAN rumo à Geórgia e à Ucrânia. A Líbia foi um grande golpe. Piorou em 2014 com o golpe em Kiev, seguido pela anexação da Criméia e a guerra civil em Donbass". Para o historiador, esta atual Guerra Fria é ainda mais perigosa que a vivida no século passado devido ao fato que, naquela ocasião, ambas as partes respeitavam determinados limites, o que não ocorre agora.
Annie Machon, ex-oficial do serviço de inteligência britânico MI5, quem se demitiu nos anos de 1990 pelos excessos em espionagem da entidade, acrescenta que a nova Guerra Fria é produzida pelos Estados Unidos, pois o regime de Washington precisa de inimigos "para justificar o enriquecimento de seu complexo militar-industrial que está afundando o país e brutalizando o mundo, enquanto enriquece as oligarquias dos Estados Unidos em detrimento da sociedade civil em todo o mundo". A afirmação de Annie de que aos Estados Unidos interessam uma nova Guerra Fria com os russos, é também ratificada pelo fato de que o documento intitulado "Estratégia Militar Nacional" dos Estados Unidos de 1995, pela primeira vez, explicava o conceito de futuros conflitos com Rússia e China, bem antes que Putin chegasse ao Kremlin. Para a ex-funcionária da inteligência britânica, a atual Guerra Fria começa na Internet. "Agências de espionagem ocidentais perceberam o potencial para o domínio total da internet, criando um sistema de vigilância que a KGB ou Stasi [inteligência da Alemanha Oriental] nem sonhava em ter. Graças a Edward Snowden, estamos começando agora a nos dar conta do horror cheio da vigilância sob a qual vivemos hoje".
Para Catherine Shakdam, analista do sítio norte-americano de notícias Mint Press e diretora-adjunta do Beirut Center for Middle Eastern Studies, no Líbano, é inevitável uma nova Guerra Fria dado que os EUA fazem valer seus interesses econômicos à base da força militar em todo o mundo. "A realidade dos EUA que devemos perceber atua para alinhar nações de acordo com seu próprio paradigma, de modo que todos os povos venham a  reconhecer o país como uma matriz sócio-política excepcional. O excepcionalismo dos Estados Unidos, há muito, transcendeu as leis e o sistema político: tornou-se uma perigosa  forma de fascismo". Para Catherine, o país é hoje muito mais perigoso que em várias décadas. "Antes, sua fome de poder era menor, sua arrogância ainda estava retida, seu excepcionalismo ainda não havia sido institucionalizado".
Kuznick considera que a Guerra Fria hoje tem três principais frentes: a da Urânia e da Crimeia, que para ele não se trata de conflitos esquecidos mas sim "congelados", que devem voltar a ser "quentes" a qualquer momento, e os outros dois ainda mais perigosos, o da própria Síria e o dos Estados bálticos e da Polônia. No primeiro caso, a grande dificuldade em se encontrar solução, segundo o historiador, reside na recusa de Kiev em implementar o Protocolo de Mink que, assinado por lideranças russas, ucranianas e as da República de Donetsk (região ucraniana pró-Rússia, falante da língua russa), visa cessar fogo e descentralizar o poder na região, entre outras importantes medidas em busca de soluções pacíficas. No segundo, vê com preocupação o fato de que Washington insista em fornecer armas a grupos terroristas como a Al-Nusra, afiliada local da Al-Qaeda. "Essas armas acabam parando nas mãos de membros do Estado Islamita e da própria Al-Qaeda", pontua Kuznick. No terceiro caso, ele observa o quanto é preocupante o fato de que a OTAN tenha colocado tropas, tanques e outros equipamentos militares na fronteira da Rússia. "A Rússia respondeu colocando seu sistema anti-mísseis S-400 ,e seu sistema de mísseis nuclear de Iksander em Kaliningrado, um pequeno enclave entre a Polônia e a Lituânia".
Neste sentido, enquanto lideranças da União Europeia recentemente acusaram o Kremlin de ser "assertivo" e que, por esta razão, deveria ser punido através de sanções econômicas, Annie responde: "Sim, a Rússia tem retaliado e realizado tarefas fronteiriças. A liderança deve ser vista como atuante, de outra maneira parecerá fraca e que não protege seu próprio povo. Portanto, a postura russa pode ser 'assertiva', mas não 'agressiva'". Catherine concorda: "O único 'crime' da Rússia tem sido o de resistir aos Estados Unidos, mestres na arte de enganar quando o assunto é guerra!".
Diversos analistas internacionais afirmam que a retórica anti-russa e anti-Putin de hoje por parte de Washington e dos grandes meios de comunicação norte-americanos, ultrapassam o discurso de ódio da era de McCarthy. "No entanto, as máquinas de propaganda habilitadas pelos meios de comunicação dos EUA justificam tudo isso e demonizam outro país, criando mais um novo bicho-papão para justificar ainda mais gastos com 'defesa'", diz Annie. Kuznick destaca que"o New York Times, o Washington Post e as elites de política externa dos Estados Unidos, neoconservadoras e neoliberais, estão pressionando para o confronto com a Rússia".
Bombas Químicas na Síria: Made in USA
A Síria, epicentro da atual Guerra Fria, já era durante os primeiros anos da administração de Bush filho um dos países que faziam parte dos planos de 'intervenção humanitária" Estados Unidos a fim de efetuar uma "troca de regime", o que é proibido pela Convenção de Genebra. O general norte-americano Wesley Clark, comandante da OTAN durante a Guerra de 1999 na Iugoslávia, revelou à rede de notícias norte-americana Democracy Now! que Washington planejava invadir sete países em cinco anos, cuja lista era esta, pela ordem: Iraque, depois a Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão e, por fim, o Irã.
Na mesma época, dava-se a infiltração secreta e bilionária da CIA em solo sírio. Segundo cabo secreto liberado por WikiLeaks emitido em abril de 2009 por Maura Connelly, então embaixada dos EUA na Síria, d2005 a 2010 os EUA enviaram, secretamente, 12 bilhões de dólares à oposição síria, e financiou instalação de canal de TV via satélite, transmitindo dentro do país programas contra o regime de Bashar al-Assad. Em determinado trecho, o cabo diz que com o financiamento, "realizou-se várias oficinas para um seleto grupo de ativistas sírios, sobre 'mobilização estratégica'".
Pois a questão mais controversa para se encontrar saídas para o genocídio na Síria hoje é: para derrotar o Estado Islamita é necessário derrubar o presidente Bashar al-Assad? Os Estados Unidos, a OTAN e a mídia predominante garantem que sim, em contraposição à Rússia, a diversos outros países e a analistas internacionais. Pois os fatos a seguir respondem esta questão.
Em maio de 2013, Carla del Ponte, uma das inspetora da ONU na Síria, afirmou que terroristas locais denominados "rebeldes moderados" pelos Estados Unidos e pela OTAN, estavam fazendo uso de armamentos químicos em território sírio. No documento de 11 de dezembro de 2012, intitulado Terrorist Designations of the al-Nusrah Front as an Alias for al-Qa'ida in Iraq, o Departamento de Estado dos Estados Unidos reconhece que os "rebeldes moderados" incluem terroristas da Al-Nusra.
Em 9 de dezembro do mesmo ano, a CNN havia reportado: "Os Estados Unidos e alguns aliados europeus estão usando empreiteiros da defesa para treinar rebeldes sírios na proteção dos estoques de armas químicas na Síria, disseram à CNN um alto oficial dos EUA e vários diplomatas" (reportagem intitulada Sources: U.S. helping underwrite Syrian rebel training on securing chemical weapons).
Posteriormente, diversos jornais internacionais e agências de notícias como a Associated Press divulgariam tal fato, para logo se esquecer. A Associated Press noticiou em 31 de agosto de 2013 que "há muitas brechas na Inteligência dos EUA, incluindo quem ordenou o uso de armas químicas e onde elas podem estar agora". O britânico The Guardian reportou no mesmo dia que "os EUA agem baseados na Inteligência israelense, a qual, supostamente, interceptou comunicações na Síria. Israel é inimigo declarado da Síria, importante peça nos interesses regionais sionistas".
Essas armas são fornecidas secretamente pelos EUA por meio de países como Jordânia, Turquia, Catar e Arábia Saudita, revelada por alguns meios, entre eles o New York Times em 24 de março daquele ano (Arms Airlift to Syria Rebels Expands, With Aid From C.I.A.). Em 8 de dezembro de 2012, o mesmo New York Times já havia publicado que tais "rebeldes" pertencem à Al-Nusra (Syrian Rebels Tied to Al Qaeda Play Key Role in War).
Sobre isto, Catherine lembra que "o fato de que Washington se sente com o direito de se alinhar a esses poderes para acelerar sua agenda no Oriente Médio, demonstra o quanto os EUA têm aumentado sua periculosidade". Para Timo Kivimäki, professor de Relações Internacionais da Universidade de Bath na Inglaterra, deter a alegada "proteção de civis" que, sob pretexto de "efeito colateral" acabou matando até agora mais de 400 mil pessoas na Síria,  depende "unicamente do enfraquecimento da justificativa humanitária do intervencionismo norte-americano".
As acusações das grandes potências ocidentais, de que Assad ataca com armas químicas, nunca foi comprovada.
Possibilidades e Consequências de Confronto Nuclear
Segundo recente estudo do instituto norte-americano Bulletin of the Atomic Scientists divulgado em setembro de 2016, "mais de quatro-quintos dos republicanos e quase metade dos democratas entrevistados disseram que apoiariam a destruição nuclear de Teerã, se o Irã atacar um porta-aviões dos EUA matando seus mais de 2 mil tripulantes. Os entrevistados apoiaram esta ação, mesmo considerando que ela mataria 20 milhões de iranianos". O Bulletin possui em seu sítio na Internet um medidor do risco de ataque nuclear, chamado Doomsday Clock (Cronômetro do Dia do Juízo). Neste ano, o cronômetro apresentou o índice mais grave desde 1953. Risco igual, apenas em 1984. "A probabilidade de catástrofe global é muito alta, e as ações necessárias para reduzir os riscos de desastre devem ser tomadas muito em breve. Essa probabilidade não foi reduzida. O cronômetro marca. O perigo global perturba. Os líderes sábios devem agir imediatamente", diz o indicador.
Para Kuznick concorda que é muito sério o risco de confronto nuclear entre EUA e Rússia, cujas tensões são as piores em 54 anos. "O que Kennedy e Khrushchev aprenderam durante a Crise de Mísseis de Cuba [1962] é que, uma vez que uma crise se desenvolve, ela rapidamente perde o controle. Apesar do fato de que ambos estavam tentando desesperadamente evitar uma guerra nuclear em 1962, eles perceberam que tinham perdido o controle. Não foi um estado de espírito brilhante que nos salvou, mas sim uma pura e estúpida sorte. Eles se moveram, depois disso, para eliminar qualquer conflito que pudesse causar outra crise. Essa foi a iniciativa de Khrushchev, e Kennedy finalmente respondeu positivamente. Existem agora várias situações que poderiam sair do controle. Se isso acontecer, elas podem aumentar sem que ninguém queira. Quem retrocede? Quem aceita a derrota? Putin? Trump? Precisamos desarmar todas as crises antes de chegarem a esse ponto".
Kuznick lembra que das 15.300 armas nucleares no mundo, 95% ou mais são controlados pelos EUA e pela Rússia. É estimado que os russos possuam arsenal maior e mais potente, embora tais valores sejam sempre muito ocultados pelos possuidores de tais armas. O diretor do Instituto de Pesquisas Nucleares da Universidade Americana, quem tem dado palestras e concedido entrevistas em todo o mundo sobre os riscos de guerra nuclear, observa ainda que "a maioria das armas nucleares hoje são de 8 a 80 vezes mais poderosa que a bomba lançada sobre Hiroshima". Kuznick questiona: "O que aconteceria se houvesse uma guerra nuclear relativamente pequena? Sabemos que, se as cidades fossem queimadas, produziriam tanta fumaça que os raios solares seriam bloqueados e os temperaturas cairiam abaixo de zero por muitos anos. Humanos e grandes animais morreriam já que a agricultura seria destroçada. Toda a vida no planeta estaria ameaçada".

"A teoria do inverno nuclear que os cientistas desenvolveram nos anos de 1980 foi atacada e amplamente ridicularizada. Mas os últimos estudos mostram que os cientistas estavam apenas errados em subestimar a enormidade dos danos". Peter Kuznick mostra que a destruição causada por um confronto nuclear é pior do que se pensava na década de 1980. "Embora haja muito menos armas nucleares agora do que as 70 mil que já existiram, há muito mais que o suficiente para causar o inverno nuclear. Esse é o desafio para a nossa espécie. Devemos evitar conflitos e guerras que possam levar à guerra nuclear. Trump entende isso? Espero que sim".
Diante deste cenário, a analista internacional, Catherine Shakdam, afirma: "Eu diria que, enquanto Washington tem feito birras internacionalmente, Moscou tem sido um estrategista brilhante".
Trump e Putin: Perspectivas de Paz?
Putin e Trump tem trocado elogios bem antes da vitória do republicano nas eleições presidenciais de novembro deste ano. No dia 16, pouco mais de uma semana após a vitória, Trump e Putin falaram-se por telefone visando a uma cooperação construtiva durante entre ambos os países nos próximos anos. O senador republicano John McCain, congressista mais financiado pela indústria armamentista, afirmou seguindo a retórica midiática e dos altos escalões da política de seu país: "Devemos depositar tanta fé em declarações como aquelas feitas por um ex-agente da KGB que mergulhou seu país na tirania, assassinou seus oponentes políticos, invadiu seus vizinhos, ameaçou os aliados dos Estados Unidos e tentou minar as eleições americanas". 

Londres afirma que pressionará Trump até que assuma a presidência em janeiro, para que não se aproxime de Putin. A conversa de ambos gerou crise diplomática entre o país europeu e o norte-americano. Políticos locais admitiram que os britânicos travarão conversas "muito difíceis" com o presidente eleito nos próximos meses sobre sua abordagem à Rússia. Londres também critica as considerações de Trump, de que "a OTAN não é um presente que os Estados Unidos possam continuar dando à Europa", afirmando que os aliados europeus deveriam aumentar a participação financeira. O Ministério das Relações Exteriores britânico, Philip Hammond, passará os próximos dois meses tentando convencer os altos responsáveis da equipe de Donald Trump a não priorizar a luta contra os terroristas islamitas na Síria. Em 13 de novembro, em resposta a Trump, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, escreveu artigo no jorna britânico The Observer ressaltando a importância da aliança que representa, a fim de fazer frente à "ameaça" russa.
Kuznick diz que concorda com o novo presidente eleito de seu país, que a OTAN tem sobrevivido em cima da inutilidade. "De fato, o mundo teria sido melhor se [Harry] Truman [presidente norte-americano de 1945 a 1953] nunca tivesse criado a OTAN. No mínimo, a OTAN hoje precisa reverter a recente expansão militar, e abandonar os planos de enviar milhares de soldados para os países bálticos". Por outro lado, não surpreende que exatamente o governo britânico, maior aliado de Washington em todas as empreitadas belicistas, seja o maior cliente da indústria armamentista local, de propriedade privada. Conforme estudo recente do Stockholm International Peace Research Institute, o apoio de Londres à produção e ao comércio de armas, através do subsídio direto e indireto, é muito desproporcional em relação à sua importância econômica.
Boas relações dos Estados Unidos com a Rússia dependem de se levantar as sanções econômicas ocidentais contra os russos, retirar as tropas de zonas provocativas (o arco de antigos parceiros soviéticos que se estende dos Estados Bálticos ao Mar Negro), abandonar o escudo antimísseis balísticos no Leste Europeu (Romênia, e construindo atualmente na Polônia), reconhecer o referendo popular da Crimeia, neutralizar a Ucrânia, e estabelecer um grupo de trabalho russo-norte-americano a fim de resolver os conflitos na Ossétia, Transnítria, Abecásia e no Alto Carabaque.
No Oriente Médio, particularmente na Síria, para manter as promessas de se aliar à Rússia no combate aos terroristas (até agora armados também pelos próprios Estados Unidos e aliados) Trump terá que contrariar diversos parceiros importantes, entre eles Israel e Arábia Saudita. O presidente Bashar al-Assad tem se mostrado animado com apoio dos Estados Unidos, prometido por Trump."Está "pronto" a cooperar com o Presidente eleito dos EUA Donald Trump", disse Bouthaina Shaaban, assessora do presidente sírio para a National Public Radio dos Estados Unidos no dia em que Trump foi eleito presidente, em 8 de novembro deste ano.
Trump não tem experiência política, nunca ocupou nenhum cargo político, apresenta inúmeras contradições em seus discursos (cujo contexto possui essência claramente imperialista) e não tem conhecimento de política externa, devendo contar para isso com seus assessores. Os nomes de escolhidos por ele para a equipe de governo são ultraconservadores e defensores de sanções contra a Rússia (como Jeff Sessions, escolhido para ser procurador geral), além daquilo que se costuma denominar de hawks, isto é, defensores da continuação da "política" imperialista dos Estados Unidos apoiando-se no uso da força militar a fim de impor seus interesses econômicos e geoestratégicos. "Ninguém sabe o que Trump vai fazer - e provavelmente, nem ele mesmo", afirma Kuznick. "Ele adotou o uso da tortura. Expressou o desejo de manter a prisão de Guantánamo. Ameaçou não apenas matar terroristas, mas também suas famílias. Tudo isso violaria o direito internacional", completa. 
Annie não vê perspectivas animadoras enquanto o mundo não se afirmar como multipolar, ao que a Rússia tem desempenhado papel fundamental. "As economias dos Estados Unidos e do Reino Unido dependem fortemente do comércio de armas, pelo que requerem um estado de guerra perpétua. O terrorismo internacional, de alguma forma, contribui com isso, mas para a construção de uma figura do inimigo, a Rússia é a melhor aposta histórica, daí a demonização de Putin". Realmente, nada indica que Trump, por inaptidão ou falta de vontade política, mudará este cenário de III Guerra Mundial sob sério risco de ataques nucleares.+

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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Quem Venceu e Quem Perdeu na Melhor Democracia que o Dinheiro Pode Comprar


10.11.2016
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"Se eu tiver que concorrer [à Presidência dos EUA], concorreria pelo Partido Republicano. Eles são o grupo de votantes mais burro do País. Acreditam em qualquer coisa da Fox News. Eu poderia mentir, e eles engoliriam. Aposto que meus números [de votação] seriam fantásticos", Donald J. Trump, outubro de 2015
por Edu Montesanti
Pouco depois da metade das apurações, quando já se desenhava a arrasadora vitória do candidato republicano à Casa Branca, Donald J. Trump, os grandes meios de comunicação norte-americanos, panfletários da candidata Hillary Clinton, claramente perdiam o entusiasmo: podia-se ler em meios como CNN e The New York TimesMercados globais afundaram, moedas  se hostilizam e o ouro sobe, e Mercados em turbulência por causa da forte exibição do Republicano, respectivamente.

Se já não bastassem a profunda ausência de propostas concretas e a baixaria pessoal que marcou (na realidade, acentuou-se) nesta nesta "campanha", as "pesquisas" acabaram também se mostrando rendidas ás leis do mercado na República de Bananas, que se autodenomina "berço da democracia global". Acrescente-se também: se não bastassem as evidências históricas de que o próprio sistema eleitoral, nas últimas décadas computadorizado, é tão vendável quanto a melhor democracia que o dinheiro pode comprar em pleno Império dos aloprados.O mesmo mercado financeiro que aumentou nos últimos meses "doações" aos meios de comunicação e à própria "campanha" de Clinton estão alarmados. Os mesmos meios que ressoavam "pesquisas eleitorais" apontando a ex-secretária de Estado do atual presidente Barack Obama como vencedora com folga durante toda a "campanha presidencial", diziam-se surpresos por vitórias já consolidadas, e previsões de mais vitórias do candidato republicano especialmente nos chamados battleground states, ou estados de batalha campal (aqueles que são historicamente decisivos pelo tamanho do Colégio Eleitoral).
"Trump surpreendeu o mundo!", tem sido as manchetes. Pois quem questiona a "democracia" e o "avanço" do moribundo Tio Sam evidenciados em mais este grotesco "equivoco" das "pesquisas" eleitorais"?
Quem Venceu e Quem Perdeu, Dentro e Fora do Império dos Aloprados
A gravidade da crise política norte-americana, que se atreve a enviar observadores a eleições ao redor do mundo, vai muito além do sexo oral de Monica Lewinsky ao esposo da presidenciável democrata derrotada neste dia 8 de novembro em plena Casa Branca (em hora de serviço), ou das afirmações de Trump que, a contragosto das mulheres (ainda que ilustres desconhecidas), as cumprimenta com um "toque" em suas partes mais íntimas.
A maioria dos próprios norte-americanos se diz avessa a ambos os candidatos, votando em um ou outro muito mais por apatia ao adversário. Quem é o menos nocivo no Império em decadência? Pois é.
Trump traz a seu favor disposição ao dialogo com a historicamente temida Rússia, ao invés de confronto como pretendia a rival e contrariando o terror psicológico provocado pela mídia de imbecilização das massas globais na tentativa de demonizar o presidente russo Vladimir Putin, através das velhas manipulações de sempre que ainda insistem em embaralhar a consciência dos mais desavisados.
Ao menos retoricamente, Trump também promete diminuir gastos militares do Império mais belicista e genocida da história, que retira dos investimentos sociais tais como moradia, saúde e educação para espalhar bases militares e despejar armas aos seus fantoches mundo afora, além de revisão da utilização norte-americana da OTAN a fim de intervir e guerrear internacionalmente. Tudo isso - ao menos retoricamente e o futuro aguarda confirmar ou desmentir o imprevisível magnata - em contraposição à "democrata" dos Estados Unidos da América, quem liderou a invasão à Líbia, apoiou aumento dos confrontos na Síria e, na década de 2000 como senadora, votou a favor da invasão ao Iraque, que, criminosa, sanguinária e apoderadora dos recursos naturais e das empresas locais, contrariou decisão da ONU e de todas as evidências de que Saddam Hussien não possuía bombas de destruição em massa, e que nada o ligava à Al-Qaeda como afirmavam os esquizofrênicos xerifes do planeta, tomadores de decisão de Washington.
Por outro lado, certamente venceram o racismo e do preconceito indiscriminado - evidenciado no combate à imigração (cuja histeria garante construção de grande muro separando os EUA do México, aos muçulmanos na promessa de proibir entrada dos religiosos ao País e ainda aumentar a vigilância e mesmo expulsar os que já habitam entre fronteiras norte-americanas) e ao próprio sexo feminino -, venceu a violência interna através do próprio racismo contra negros, latinos e ativistas por direitos humanos cujo apoio ao uso da repressão amentará a dose de Estado policialesco que impera no Império dos "mais ingênuos" (para dizer o mínimo).
Tal conteúdo de péssimo gosto, que retrata o ódio e a histeria levados à últimas consequência na América "livre e próspera", também contraria o de Clinton - sobre esta, tampouco se sabe o quanto foi sincera dado o contexto de suas "ideias" e as próprias mudanças oportunistas em seus discursos, uma infinidade de contradições, certamente, a fim de ganhar maior eleitorado.
Trump também aposta na diminuição do Estado: promete desfazer o Obamacare (programas de saúde mais acessíveis às classes menos favorecidas); Estado que a adversária, contrariando seu próprio discurso histórico e os interesses de seus principais doadores milionários de campanha como Wall Street, colocava na agenda fortalecer. O que é "curioso", para não dizer mesmo mais uma entre as calamitosas contradições desta "campanha", é o fato que Trump promete atingir os mesquinhos e corruptos interesses das grandes corporações, por exemplo taxando grandes fortunas.
No caso do fortalecimento da indústria bélica que leva a "política" exterior (para se utilizar dos eufemismos midiáticos para crimes internacionais) coercitivo-expansionista norte-americana, há fortes motivos para desconfiar do novo ocupante da Casa Branca: tudo isso também contraria o contexto de seu discurso e de sua personalidade.
Uma coisa parece certa: longe de ser psicopata decidido, frio e calculista como a adversária, abertamente belicista, o tão fanfarrão quanto ambíguo, completamente imprevisível Trump parece ser o homem perfeito para pavimentar o caminho rumo ao declínio ainda maior da hegemonia global dos Estados Unidos - má notícia à classes dominantes locais e as elites-fantoches internacionais, comedoras de migalhas de Tio Sam.
O menos catastrófico venceu, ao menos pela imprevisibilidade de sua agenda em comparação à bem conhecida da opositora. Neste ponto, por ira venceu especialmente considerando as sociedades globais que têm sofrido histórico boicote às democracias locais como o próprio Brasil. E menos catastrófico para os próprios norte-americanos, se considerados aqueles que acreditam que o mundo não precisa da imposição da força em nome da defesa de interesses dos Estados Unidos, como dizia a própria Hillary Clinton: "Sem nós, o mundo não pode fazer nada!". 
Por isso tudo, o mais catastrófico para a tentativa de salvação da hegemonia global dos Estados Unidos pode também ter vencido neste dia 8 de novembro.  Wall Street e seus patéticos porta-vozes da grande mídia de desinformação sabem bem disso. Mas qualquer dos dois seria, em geral, grande golpe à democracia local que precisaria, desesperadamente, desfazer-se do Estado policialesco, da intolerância e do ódio. Eis o grande momento para a afirmação do mundo multipolar, lamentavelmente sobre a acentuação da desgraça democrática norte-americana.


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domingo, 6 de novembro de 2016

Milhares de sul-coreanos marcham pedindo a renuncia da Presidente

 

Actualizado 2016-11-06 14:53:01 | Spanish. xinhuanet. com



SEUL, novembro 5, 2016 (Xinhua) -- Milhares de pessoas participam de um protesto pedindo a renuncia da Presidente da República da Corea do Sul, Park Geun-hye, em Seul, no dia 5 de novembro de 2016. (Xinhua/Yao Qilin)

sábado, 5 de novembro de 2016

Farsa eleitoral dos EUA acontece na próxima terça-feira


                                                  Miséria em Detroit


Apesar de toda a propaganda – feita através de filmes de hollywood e do monopólio midiático -que pinta os Estados Unidos como o paraíso da liberdade, as eleições nos EUA são uma das mais manipuladas e antidemocráticas entre todos os países ditos democráticos. Na próxima terça-feira, 8 de novembro, essa farsa eleitoral se repete para eleger, de maneira indireta, a chefatura do poder executivo nos próximos quatro anos, além de vários senadores e deputados.
A manipulação eleitoral se inicia logo na definição da data da eleição, que ocorre em uma terça-feira, dia normal de trabalho para a grande maioria dos estadunidenses. Para votar, os trabalhadores dos EUA, que tem longas jornadas e são obrigados muitas vezes a assumirem dois empregos para pagar suas contas, têm que perder o dia de trabalho e, portanto, ter seu salário descontado.
Impor a data da eleição fora de um feriado é uma forma de dar amplos poderes aos patrões nas eleições. Os capitalistas podem, dessa maneira, decidir quando e como liberar seus funcionários para votar, desde que isso represente uma vantagem para o candidato que os patrões apoiam. Existe a possibilidade de votar antecipadamente em alguns estados, mas as regras do voto antecipado são obscuras, casuístas e inacessível para grande parte da população.
Outra forma de manipular as eleições nos EUA são as diferentes regras de registro do eleitor. Diferente de muitos países que fazem eleições regulares, os EUA não têm um único órgão eleitoral nacional, separado do poder executivo.  De acordo com a União pelas Liberdades Civis na América (ACLU, por sua sigla em inglês, www.aclu.org): “Na ausência de diretrizes de elegibilidade claros, muitos norte-americanos – sem saber se estão autorizados a votar – vão optar por não se registrar, por medo de registrar-se de forma inadequada (o que constitui um crime em muitos estados); outros são deixados vulneráveis a uma inscrição indevida. O resultado é, na prática, – ou de fato – a cassação de inúmeros eleitores, e a possibilidade de que os eleitores inelegíveis equivocadamente se registrem. Essa confusão é agravada por formas de registro de eleitores que, em muitos estados, não conseguem comunicar adequadamente a política cassação do título de eleitor”.
Essa confusão no registro de eleitores evidencia, ao mesmo tempo, todo o racismo que está contido nessas eleições. Em quase todos os Estados (48, menos Maine e Vermont) o eleitor pode ter seu direito a voto cassado se houver algum registro de crime ou delito contra ele. Essa regra atinge principalmente os eleitores negros vítimas da violência policial que, como se sabe, é crescente nos EUA. Advogados do Partido Republicano fazem plantão nos locais de votação de maioria negra para cassar o direito ao voto de eleitores que possam ter algum registro policial.
Situação parecida ocorre com os eleitores de origem latina. As regras do registro eleitoral dificilmente são comunicadas em espanhol e muitos eleitores de origem migrante são impedidos de votar. Nas eleições que elegeram Barack Obama, em 2008 – uma das eleições com maior participação na história recente do país – foram as urnas apenas 131 milhões de eleitores, bem menos da metade dos 304 milhões de habitantes que tinha os EUA no período.
Mas os absurdos das regras eleitorais não terminam por aí. A julgar pelas notícias que aparecem nos órgãos de imprensa do Brasil e do próprio EUA, a eleição estadunidense tem apenas dois candidatos, Hilary Clinton (Partido Democrata) e Donald Trump (Partido Republicano). Mas, na verdade, 21 outros partidos e seus candidatos concorrem nas eleições. Mas os eleitores de muitos estados não são livres para escolher esses candidatos por que os nomes deles não aparecem nas cédulas eleitorais. As regras para figurar na cédula de eleição variam de estado para estado.
Por fim, não é demais lembrar que a eleição presidencial nos EUA não é direta, mas indireta. Ao votar para presidente, na verdade o eleitor está escolhendo um conjunto de delegados representante dos partidos em cada estado que vai eleger o presidente em um colégio eleitoral. Nas eleições do ano 2000, George W. Bush teve 50,5 milhões de votos, menos votos que seu adversário Al Gore, que teve 50,9 milhões (400 mil votos a mais). No entanto, Bush foi eleito presidente no colégio eleitoral e não Al Gore. Isso sem contar o grande número de denúncias de fraude que rondam este e outros pleitos.
Uma vez eleitos, o presidente, senadores e deputados convivem e aprovam leis no que talvez seja a capital mais corrupta de todo o mundo, Washington. Em Washington, o lobby é legalizado e mais de 10 mil lobystas estão cadastrados pelo governo para “convencer” os políticos a votarem de acordo com os interesses dos monopólios. Esses lobystas gastaram, apenas no ano passado, US$ 3 bilhões financiando os deputados e senadores.
É importante ter claro que tudo que foi feito no Brasil e agora está sendo denunciado como crime na operação lava-jato é, nos EUA, perfeitamente legal. Lá, os políticos são autorizados a receber propina em forma de financiamento eleitoral em troca de aprovar projetos do interesse da indústria de armas, de remédios, de alimentos, dos banqueiros, etc. O governo dos EUA resolveu o problema da corrupção de forma muito criativa: tornou a corrupção uma prática legal.
Diante desse quadro, não há muito o que esperar do resultado que for divulgado após a votação do dia 8. Sejam eleitos Trump ou Hilary, os povos do mundo podem prever novas guerras, violações de direitos humanos, financiamento de golpes e de grupos terroristas, seja na América, África, Oriente Médio, Ásia ou mesmo na Europa.
No interior dos EUA, tanto Trump quanto Hilary garantirão o domínio dos bancos de Wall Street sobre a economia e a política de aprofundamento das desigualdades sociais, em vigor no país desde a década de 1970.
Cabe a quem defende a democracia, os direitos humanos e a justiça social, fortalecer a denúncia dos crimes cometidos pelo imperialismo estadunidense e apoiar o crescente movimento social naquele país que luta por direitos, moradia, por educação gratuita e contra o racismo do Estado. É preciso desmascarar a hipocrisia do regime que se legitima por eleições manipuladas, que têm uma das maiores populações carcerárias do mundo – inclusive com vários presos políticos torturados em Guantánamo e outras prisões -, que assassina o povo negro cotidianamente através de sua polícia, e ainda quer, por cima de tudo isso, posar como paladino da democracia e defensor dos direitos humanos sobre outras nações.
Jorge Batista, São Paulo.
Fonte: Jornal AVERDADE

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Tudo que você precisa saber para entender a força-tarefa naval russa ao largo do litoral sírio

02.11.2016 | Fonte de informações: 

Pravda.ru

 
Tudo que você precisa saber para entender a força-tarefa naval russa ao largo do litoral sírio. 25376.jpeg










Tudo que você precisa saber para entender a força-tarefa naval russa ao largo do litoral sírio 

A máquina de propaganda do Império Anglo-sionista, codinome "mídia-empresa", enfrentou graves dificuldades para decidir o que devia publicar sobre a força-tarefa naval russa enviada para a Síria.

Afinal, os norte-americanos decidiram manifestar o desprezo de sempre por qualquer coisa que sugira Rússia e descreveram essa força como se construída em torno do porta-aviões "geriátrico" Almirante Kuznetsov; os britânicos optaram por descrevê-la como uma formidável "armada" a ponto de dar cabo, para sempre, dos terroristas moderados que há na Síria.

Meu amigo Alexander Mercouris recentemente escreveu análise soberba, explicando que, na realidade, essa força-tarefa não é nem geriátrica nem formidável. Em vez de repetir tudo aqui, prefiro escrever o que entendo que possa ser uma 'atualização' daquele excelente artigo, com uns poucos detalhes acrescentados. Primeiro passo: desmontar algumas concepções básicas erradas.

Comecemos pelo porta-aviões russo.

O "Cruzador Pesado Porta-aviões Almirante da Frota Soviética Kuznetsov"

Fiquem sabendo que os russos sequer chamam o Almirante Kuznetsov de porta-aviões. A designação oficial do Kuznetsov é Cruzador Pesado Porta-aviões". É importante entender por quê.

O que, na opinião de vocês, é um porta-aviões? Ou, dito de outro modo: por que os EUA mantêm uma força de 10-12 porta-aviões pesados? A acreditar-se no que dizia Ronald Reagan, seria para "posicionar adiante" [ing. "forward deploy"] e levar a guerra aos sovietes (essa era, então, a justificativa para haver 600 navios de guerra e porta-aviões dos EUA no Atlântico Norte). Nada poderia ser mais distante da verdade. De fato, porta-aviões de EUA, britânicos e franceses são ferramenta para impor o mando colonial. Você estaciona um ou dois grupos de combate naval em torno de um porta-aviões a umas poucas milhas de colônia desobediente, e bombardeia até cansar, ou até que a colônia se renda. Essa é, de fato, a única justificativa para tais descomunais estruturas. A beleza da coisa é que você pode ameaçar todo o planeta e que você não depende de aliados que concordem com sua missão. Assim sendo, pode-se dizer que porta-aviões dos EUA e de outros países ocidentais são uma projeção de capacidade de poder de longo alcance usados contra países pobres e fracamente defendidos.

Por que pobres e por que fracamente defendidos?

Aqui se chega ao feio segredo que todos sabem: porta-aviões não podem ser defendidos de ataque de inimigo sofisticado. Se a Guerra Fria tivesse esquentado, os soviéticos teriam atacado simultaneamente qualquer porta-aviões que vissem pela frente em todo o Atlântico norte, com um combo de:
  • Mísseis cruzadores lançados do ar;
  • Mísseis cruzadores lançados de submarinos;
  • Mísseis cruzadores lançados de navios de superfície;
  • Torpedos lançados de submarinos.

Não posso provar o que digo a seguir, mas posso dar o testemunho de incontáveis amigos nas forças armadas dos EUA, inclusive vários que serviram em porta-aviões dos EUA, e todos eles compreendiam claramente que os porta-aviões dos EUA jamais sobreviveriam a ataque soviético de saturação, e que em caso de guerra de verdade teriam de ficar bem longe de litorais soviéticos. Acrescento apenas que os chineses, ao que parece, desenvolveram mísseis balísticos especializados, projetados para destruir grupos de combate de porta-aviões. Isso há tempos, no início dos anos 1990s. Hoje, até países como o Irã já começam a desenvolver capacidades para enfrentar e destruir com sucesso porta-aviões dos EUA.

Os soviéticos jamais construíram qualquer verdadeiro porta-aviões. Tinham "cruzadores" com capacidade muito limitada para transportar aeronaves de decolagem vertical e, claro, helicópteros. Esses cruzadores tinham dois principais objetivos: ampliar o alcance das defesas aéreas soviéticas e apoiar o desembarque de força vinda do mar. Um traço muito especial desses cruzadores para transporte de aviões é que transportam mísseis cruzadores muito grandes (4,5-7 toneladas) projetados para atacar naves inimigas de alto valor, inclusive porta-aviões dos EUA. Podem ler aqui sobre o cruzador "da classe Kiev" para transporte de aeronaves. Outra característica chave desses cruzadores soviéticos transportadores de aeronaves é que transportavam uma aeronave cheia de problemas, aYak-38 que seria alvo fácil para os F-14, F-15, F-16 ou F-18 dos EUA. Por essa razão, as defesas aéreas de classe-Kiev centraram-se em seus mísseis terra-ar, não no complemento de outras aeronaves. Quando o Kuznetsov foi construído, os soviéticos haviam desenvolvido aeronaves que eram no mínimo iguais, se não superiores, às contrapartes ocidentais: o MiG-29 e, especialmente, o SU-27. E isso deu a alguns soviéticos a ideia de construírem um porta-aviões "de verdade".

A decisão de construir o Kuznetsov foi extremamente controversa e enfrentou muita oposição. Os 'pontos de venda' do Kuznetsov eram a plataforma de defesa aérea muito superior; o fato de que podia transportar aeronaves muito superiores e por fim, mas não sem importância, que podia competir, em termos de prestígio, com os pesados porta-aviões norte-americanos, especialmente o planejado mas jamais construído porta-aviões movido a energia nuclear de uma geração futura. Considero esse argumento completamente não convincente; hoje já confio que a maioria dos planejadores da força naval russa concordariam comigo: a Rússia não precisa de porta-aviões de estilo norte-americanos, e se precisar de porta-aviões, mesmo de outro tipo, eles terão de ser projetados segundo padrões russos, para missões concebidas pelos russos, não como cópia dos norte-americanos.

[Barra lateral: Eu adoraria pegar minha canastrinha de ideias e contar a vocês tudo que penso, de ruim, sobre porta-aviões em geral, e por que penso que a Marinha Russa devia ser centrada em submarinos e fragatas, mas isso tomaria todo meu espaço. Direi só que sempre preferirei ter muitas fragatas ou corveta, a ter uns poucos cruzadores pesados].

Assim o Kuznetsov acabou por ser uma mega concessão e, em matéria de concessão, uma bastante interessante. Pensem: transporta 12 mísseis massivos antinavios da classeGranit, e tem também, potencialmente, um complemento em aeronaves maior que o francês Charles de Gaulle (50 contra 40). Inicialmente, o Kuznetsov transportava 12 ar-ar puros SU-33, mas agora foram gradualmente substituídos por 20 MiG-29K muito mais modernos e seus 24 helicópteros Ka-27 serão substituídos pelos helicópteros de reconhecimento e ataque mais avançados do planeta hoje, o Ka-52K. O Kuznetsov mesmo assim tem dois grandes pontos fracos: uma propulsão sem dúvida datada (vejam o artigo de Mercouris) e a falta a bordo de um sistema AWACs. Esse último ponto fraco é consequência da filosofia de projeto do Kuznetsov, que nunca foi pensado para operar a distâncias acima de 500-1.000km das fronteiras russas (mais uma vez, a filosofia de planejamento da força russa, sempre para menos de 1.000km).
Resumindo tudo isso: o Kuznetsov é ótimo transportador de aviões que ainda assim reflete uma filosofia de projeto datada, que jamais considerou projetar o poder russo para longas distâncias, como acontece com os porta-aviões ocidentais, especialmente dos EUA.

Agora, consideremos o restante da força-tarefa naval russa.

O restante da força-tarefa naval russa em torno do Kuznetsov.

Um grande nome imediatamente se destaca: o Cruzador Pesado Movido a Energia Nuclear Pedro O Grande.

Esse é força da pesada e atualmente é a nave de guerra mais pesadamente armada de todo o planeta. Nem vou entrar em detalhes aqui. Os interessados encontram aqui uma lista de armas ali transportadas. Basta dizer que esse cruzador de combate pode fazer de tudo: antiaéreo, antinavios, antissubmarino. Está armado com sensores top de linha e comunicações avançadas. Sendo a nave madrinha da Frota do norte, é, na verdade, a nave madrinha de toda a Marinha Russa. Por último, mas não menos importante, o Pedro O Grande transporta carga formidável de 20 mísseis Granit antinavios. Vejam, por favor, que o poder de fogo combinado dos mísseis antinavios Granit do Kuznetsov e do Pedro O Grande é 12+20, num total de 32. Adiante explicarei por que isso é importante.

O restante da força-tarefa é composta de duas Grandes Naves Antissubmarino ("destroieres", na terminologia ocidental), mais o Vice-almirante Kulakov e o Severomorsk, mais vários navios de apoio. O Kulakov e o Severomorsk são baseados no design Udaloye são naves de combate modernas e de alta capacidade. Todas essas naves logo serão reunidas numa força, incluindo dois pequenos navios mísseis (corvetas, na terminologia ocidental) armados com os famosos mísseis cruzadores Kalibr especializados em ataques a navios de superfície. Por fim, embora nada disso venha a ser anunciado, creio que essa força-tarefa incluirá dois submarinos nucleares de ataque da classe Akula; um submarino míssil cruzador Oscar-II (armado com outros 12 mísseis cruzadores Granit) e vários submarinos elétricos-a-diesel da classe Kilo.

Em resumo, o que ficou dito até aqui.

A força-tarefa naval russa é tentativa, pelos russos, de reunir vários navios que jamais foram projetados para operar como uma única força-tarefa naval muito longe de território russo. Se quiserem, foi "sacada" muito esperta dos russos. Eu diria também que é sacada muito bem-sucedida, dado que essa força-tarefa é toda ela muito impressionante. Não, não pode 'dar conta' de toda a OTAN, sequer da Marinha dos EUA, mas pode fazer muitas coisas com muita efetividade.

Agora, a grande pergunta: O que a força-tarefa naval russa na Síria pode realmente fazer?

Antes de considerarmos o grande quadro, há um detalhe que acho que merece ser mencionado aqui. Praticamente tudo que leio sobre o míssil cruzador Granit diz que é míssil cruzador antinavios. Também escrevi isso, para manter as coisas em nível bem simples. Mas agora tenho de dizer que o Granit provavelmente sempre teve um modo "B" (B de beregovoy ou, se preferirem, modo "costeiro" ou "de terra"). Não sei se esse modo existiu sempre, desde o primeiro dia, ou se foi acrescentado depois, mas hoje já é absolutamente certo que o Granit tem esse modo. Foi provavelmente uma capacidade bem minimalista, sem auto-orientação e outros truques (que o Granit tem em seu modo principal antinavios), mas os russos revelaram recentemente que os Granits atualizados têm agora capacidade *real* ("complexa") de ataque em terra. E isso exige que se reexamine o que essa novidade significa para essa força-tarefa. Eis o que sabemos do Granit novo e aprimorado (ao qual os russos referem-se como 3M45):

Granit P-700 (3M45) de 7 toneladas
  • Massa: 7 toneladas;
  • Velocidade: Mach 1,5-2;
  • Alcance: 500-600 km; e
  • Ogiva: 750 kg (pode ser convencional e nuclear).

O Granit também é capaz de coisas muito avançadas, inclusive um míssil que voa a 500m ou mais, para detectar o alvo e o restante da arma que parte rasante sobre a superfície ao mesmo tempo em que recebe dados do que voa acima. Esses mísseis também são capazes de atacar automaticamente de diferentes direções, para desnortear as defesas. Podem voar baixo, a 25m; e alto, a mais de 17 mil metros. Tudo isso significa que esses mísseis Granits são mísseis de alta capacidade tático-operacional. E considerando que há, no mínimo, 32 desses na força-tarefa russa (46, se houver ali um submarino classe Oscar-II), significa que a força-tarefa tem poder tático para tiros de míssil similar ao de uma brigada completa de foguetes!

Se as coisas ficarem realmente feias, essa força-tarefa pode não só ameaçar seriamente qualquer nave de superfície da Marinha dos EUA/OTAN a 500 km de distância da Síria, mas, também, qualquer cidade ou base militar nessa distância.

Muito me surpreende que os doidos-por-guerras ocidentais tenham deixado passar esse detalhe, porque, sim, é coisa para assustar a OTAN muito, muito mesmo :-)

Para ser honesto, alguns especialistas têm manifestado muitas dúvidas sobre as capacidades do Granit para ataque em terra. Todos sabem que são mísseis relativamente velhos e muito caros, mas ninguém sabe a quantidade de trabalho investido para modernizá-los. Mas ainda que tenham capacidades muito mais reduzidas do que foi anunciado, o fato de haver entre 32 e 46 desses mísseis ali perto, ao largo da costa da Síria, é formidável fator de contenção, porque ninguém jamais saberá o que esses mísseis podem fazer, até que tenham já feito.

Assim sendo,

As capacidades combinadas da força-tarefa naval russa e dos mísseis S-300/S-400 dispostos na Síria dão aos russos capacidade de defesa aérea de categoria mundial. Se preciso, os russos podem até lançar em combate os A-50 AWACs a partir da Rússia protegidos por MiG-31BMs. O que a maioria dos observadores não percebem é que aquele SA-N-6 "Grumble" que constitui o núcleo duro do Pedro O Grande é um S-300FM, a variante naval modernizada do S-300. Também é capaz de velocidade considerável (Mach 6), tem alcance de 150 km, capacidade acrescentada de um terminal infravermelho, um sistema de míssil-guia que lhe permite atacar mísseis balísticos e altitude 'envelope' de 27km. Além disso, adivinhem - o Pedro O Grande tem 48 desses mísseis (em 20 plataformas de lançamento) o equivalente a 12 baterias S-300 (considerando quatro lançadores por bateria).

Uma das maiores fragilidades da força que os russos alocaram na Síria é o número relativamente baixo de mísseis que podem ser disparados ao mesmo tempo. As forças de EUA/OTAN podem simplesmente saturar as defesas russas com grande número de mísseis. É verdade que, sim, continuam a poder fazer isso. Mas agora a coisa está muito, muito mais difícil.

Os russos podem fazer parar um ataque dos EUA contra a Síria?

Provavelmente, não.

Mas podem torná-lo muito mais difícil e dramaticamente menos efetivo.

Primeiro, logo que os EUA disparem os russos verão o disparo e alertarão as forças sírias e russas. Dado que os russos têm meios para rastrear todos e quaisquer mísseis dos EUA, podem passar os dados para todas as suas tripulações de defesa, que estarão a postos quando os mísseis chegarem. Além disso, quando os mísseis estiverem próximos, os russos com certeza derrubarão vários deles, obrigando os norte-americanos a calcular (do espaço) os danos e re-atacar os mesmos alvos muitas e muitas repetidas vezes.

Segundo, com tecnologia stealth [invisíveis aos radares] ou sem, não acredito que a Marinha dos EUA ou a Força Aérea dos EUA se arriscarão a voar para dentro de espaço aéreo controlado pelos russos ou, se se arriscarem, será experimento de vida curta. Acredito que a presença dos russos na Síria tornará qualquer ataque contra a Síria um ataque "de um só míssil". A menos que os norte-americanos derrubem as defesas aéreas russas - o que só conseguirão fazer se quiserem iniciar a 3ª Guerra Mundial, a aviação norte-americana terá de se manter fora dos céus sírios. E isso significa que (i) os russos terão implantado, basicamente, sua própria zona aérea de exclusão sobre a Síria, e que (ii) toda e qualquer 'no fly zone' dos EUA tornou-se empreitada impossível de concretizar.

Na sequência, o Kuznetsov terá, saindo do forno, um número de aeronaves (asas fixas e rotatórias) incluindo helicópteros 15-20 Ka-27 e Ka-52K, e 15-20 SU-33K e MiG-29K (acho que não se divulgaram números oficiais). O que os russos disseram foi que as aeronaves de asas fixas serão upgraded para poderem atacar alvos em solo. Fará alguma diferença? Talvez sim, marginalmente. Sem dúvida ajudará a lidar com o fluxo esperado de terroristas moderados vindos de Mosul (cortesia da operação dos EUA para encaminhá-los para a Síria), mas os russos podem simplesmente ter movido mais SU-25 ou até SU-34 para Khmeimin ou Irã, a custo muito mais baixo. Assim, em termos de asas, concordo integralmente com Mercouris - será mais ocasião para treino em condições de luta real, não alguma oportunidade para virar o jogo.

Conclusão

Esse deslocamento de forças é altamente não típico do que os russos sempre treinaram para fazer. Basicamente encontraram um meio para reforçar o contingente russo na Síria, especialmente contra o pesadelo da tal "no fly zone" de Hillary. Mas também é caso de extrair proveito da necessidade: a operação na Síria sempre foi distante demais da fronteira russa, e a força russa na Síria sempre foi pequena para sua tarefa. Além do mais, esse deslocamento não é sustentável no longo prazo, e os russos sabem disso. Conseguiram impor com sucesso sobre a Síria uma "zona aérea de exclusão de ianques" por tempo suficiente para que os sírios retomassem Aleppo, e para que os norte-americanos elegessem o próximo presidente.

Depois disso, ou a coisa melhorará dramaticamente (com Trump), ou piorará dramaticamente (com Hillary). De um modo ou de outro, a situação seguinte requererá dos russos estratégia completamente diferente.+
25/10/2016, The Saker, Unz Review e The Vineyard of the Saker

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Qual o futuro do PT e das esquerdas no Brasil


31.10.2016
Qual o futuro do PT e das esquerdas no Brasil. 25371.jpeg















O fato político mais importante da semana não foi a eleição de Marchezan para a Prefeitura de Porto Alegre, que isso significa apenas mais um passo atrás numa cidade que já pretendeu estar na vanguarda nacional, mas sim a divulgação do manifesto do PT do Rio Grande do Sul em favor de uma reformulação do partido, numa assembleia da qual participaram todos os seus principais nomes no Estado.
Diz o manifesto: "Estamos submetidos e no auge de uma poderosa operação de cerco e tentativa do aniquilamento do PT. Operação que impôs o impeachment, a maior derrota eleitoral da nossa história e - se não a detivermos - buscará prender Lula e destruir o Partido".
Mais adiante, o manifesto aponta para as causas dessa situação: "O golpe decorre, em alguma medida, de nossos erros e/ou do atraso em tomarmos determinadas decisões, da ausência de uma estratégia adequada ao período, de uma política de alianças superada, do que fizemos ou deixamos de fazer na política econômica e nas chamadas reformas estruturais, no atrasou ou na ausência de reação à altura da ofensiva inimiga".
O manifesto termina por propor o que considera o fundamental para mudar a situação: a escolha de uma nova direção nacional do PT e a realização imediata de um congresso nacional do partido.
"Neste contexto, o Partido precisa debater o que fazer e escolher uma nova direção. Precisamos realizar imediatamente um congresso partidário. Um congresso que tenha início nas bases, no encontro de nossa militância consigo mesma. Um congresso que discuta como recuperar o apoio do PT na classe trabalhadora brasileira, razão de nossa existência como organização e partido político".
Se estas medidas serão suficientes para inverter a tendência que aponta para o esvaziamento do partido e mais, se elas terão guarida junto as demais secções estaduais do PT, que sempre estiveram mais à direita do que a gaúcha, são questões em aberto.
O que pretendemos aqui é propor mais alguns pontos à uma discussão, que não deveria ser exclusiva do PT, mas de todos os representantes da esquerda brasileira e principalmente de todos nossos intelectuais progressistas.
As duas maiores lideranças do partido no Estado, falaram sobre o passado e o futuro do partido.
Olívio Dutra: ""O PT nasceu de um processo de lutas do povo brasileiro no final da década de 1970 que não tinha por objetivo apenas enfrentar a ditadura, mas também as políticas da elite brasileira. Uma ferramenta política com essa história não se esgota assim. O teto da casa caiu, mas não o seu alicerce e os seus fundamentos".
Tarso Genro: "Somos um partido em crise porque reduzimos nosso eleitorado, porque perdemos referenciais éticos e políticos e também porque perdemos centralidade programática. Precisamos de um congresso profundo que não rejeite enfrentar nenhum tema. Autocrítica não é autoflagelação nem transformar o partido em delegacia de polícia, ma s sim verificar que condições trouxeram o partido para o ponto em que está".
Esta é a primeira e grande questão.
O partido não pode aceitar discutir uma pauta imposta pela mídia. Não é uma questão ética ou moral que deve ser objeto de discussão, mas sim, uma questão política.
Como Tarso disse com precisão, não se pode transformar o partido em delegacia de polícia, nem seus membros devem partir para uma autoflagelação. O PT tem regras de comportamento para seus membros e quem não tiver agido com correção, deve ser punido, da advertência à expulsão.
Tudo muito simples.
O que precisa ser discutido é quais são as propostas do PT para o futuro e para se olhar o futuro, não se pode esquecer o passado, para que não se use em relação a ele aquela célebre frase de Marx sobre o 18 Brumário de Louis Bonaparte de que " a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda, como farsa.  
Quando Tarso fala e ele há muito fala nisso, em se refundar o PT, precisa ficar claro como seria esse novo partido.
Em 1989, quando enfrentou Fernando Collor no segundo turno das eleições, Lula, a partir do apoio de Leonel Brizola, uniu toda a esquerda na mais importante campanha política do Brasil republicano.
Naquela ocasião, os dois campos estavam claramente definidos.
Era a esquerda contra a direita, sem quaisquer nuances.
De um lado, Lula, um líder sindical, até então, não só aceito pelo establishment, mas promovido como uma alternativa mais palatável do que o brizolismo, visto como o grande inimigo e que agora se unia à esquerda mais radical.
Do outro, Collor, um aventureiro político, representante das oligarquias nordestinas, vestido como uma capa de moralidade administrativa (o caçador de marajás) e que se encaminharia, no decorrer da disputa eleitoral, para um autoritarismo quase fascista.
Lula chegou àquela final embalado numa proposta socializante que, se vencedora, teria força suficiente para mudar radicalmente o Brasil.
O esforço desesperado do empresariado e da grande mídia, representada claramente pela ação deletéria da Rede Globo na manipulação do debate final entre Lula e Collor, mostra como as elites brasileiras se mobilizaram para derrotar a esquerda.
A derrota naquela ocasião abalou quase tanto a unidade das esquerdas como foi a do golpe militar de 1964.
Nas eleições seguintes, contra Fernando Henrique, o PT jamais conseguiu uma mobilização semelhante à disputa contra Collor e foi facilmente derrotado.
Já a eleição de Lula em 2002 teve dois novos componentes bastante claros: o descalabro do último governo de Fernando Henrique, que praticamente quebrou o País e desarticulou as forças partidárias que o sustentaram e as políticas de aliança do PT com partidos de centro, num movimento que o levaria cada vez mais em direção à direita.
A questão que se coloca hoje para os que defendem a refundação do PT, é qual partido que eles querem de volta: o de 1989, que enfrentou Collor ou o de 2002, que derrotou Serra?
A resposta a esta pergunta é que vai determinar o seu futuro.
Quando surgiu, o PT foi visto com simpatia até mesmo por segmentos mais à direita da sociedade e apontado pela mídia, inclusive pela Veja, como uma novidade positiva, principalmente pela sua preocupação em desvincular o sindicalismo brasileiro do apoio governamental.
Brizola, na sua história de amor e ódio ao PT, disse que ele era a esquerda que a direita gostava e tinha um pouco de razão no que afirmava.
Os inimigos então, eram Brizola, os comunistas e os sindicatos dominados pelos "pelegos".
O PT era como os pequenos times de futebol, sempre simpáticos, até crescerem o bastante para se tornarem inimigos.
Hoje o PT é o inimigo principal a ser batido, como foram Brizola e os comunistas no passado.
A outra importante questão é de que forma ele pretende interagir com os demais segmentos da esquerda brasileira no futuro.
Se com aquela soberba de quem se sente o único portador da verdade, como foi sua marca, muitas vezes, no passado ou como mais uma força - talvez ainda a principal - num grande movimento que lute por avanços fundamentais para a nossa sociedade?
Essa é a questão crucial para o partido e para o Brasil.
O que ele pretende ser dentro de uma nova frente de esquerda?
Um partido com viés sindicalista interessado mais em conquistas pontuais para favorecer a classe trabalhadora, como foi no seu início ou partido socialista, que compreende e aceita a existência da luta de classes e age dentro dela sem concessões à burguesia?
Se o caminho for o segundo, o PT poderá ser a principal força dirigente de um grande movimento que, se ainda não coloca como meta a erradicação do capitalismo, não olha para este objetivo apenas como uma utopia distante.

 Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS