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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A canalhice do golpe



Por Danilo Fischer

O impeachment e a bestialidade do campo progressista que, provavelmente, você faz parte.
O PT surgiu em um contexto específico da história, quando havia um esgotamento da ditadura cívico-militar, uma vez que a segunda crise do petróleo perturbava o Ocidente e fragilizava as incipientes economias periféricas.
Para os militares e as elites dominantes, ficava difícil convencer a classe média de ser possível haver uma saída e, com isso, movimentos sufocados pelos anos de chumbo encontraram campo fértil para arrefecer as bandeiras, entre elas, as que diziam respeito à democracia.
Nessa luta, o PT, partido aguerrido, formado pelo proletariado urbano e rural, e os que persistiam à margem dessa relação, como efeitos colaterais do modelo hegemônico (exemplo os sem-terra), além de intelectuais orgânicos e teólogos da libertação, entrou em campo na luta pelas “diretas já”.
Fato despercebido, mas que deve ser evidenciado, pois explica o processo contemporâneo de nossa política, as “diretas já” não atingiu o resultado almejado, o que mostrou que quem estava no controle ainda eram as elites que, por sua vez, entendiam que “largar o osso” era o mais inteligente, já que “faltava carne” e, o arrefecimento dos ânimos criaria problemas desnecessários e, por isso mesmo, era melhor confiar nos frutos dos seus 21 anos de repressão.
A eleição do governo Collor, por sua vez, mostrava que muito deveria ser feito para a consciência de classe ser forjada, para ter espaço um desenvolvimento de país, pautado na implantação de direitos sociais, pois, como sabemos, ele representava algo que até hoje nos caracteriza enquanto cultura política: personalismo, poder econômico, influência midiática etc., ou seja, um governo da burguesia.
Ainda no governo Collor, compreenderíamos a possibilidade da mídia encontrar bodes expiatórios para a população para, logo em seguida, vir com medidas ainda piores: o governo Collor que arrebentava nossa economia com sua ânsia em negociar o país era perigoso, poderia fortalecer o campo representado pelo PT de Lula e, por isso mesmo, impedir Collor seria a saída mais inteligente para não desgastar ainda mais o plano neoliberal.
Entra Itamar, um governo morno e, novamente, a democracia burguesa mostra porque veio, elegendo FHC, com nova derrota ao campo petista, mostrando que o pensado para o impeachment de Collor de fato se concretizava.
Neoliberalismo: privatizações em troca de migalhas, desemprego, inflação, miséria.... Corrupção! Reeleição é comprada.
Para não dizer que tudo foi ruim, Plano Real vem e estabiliza a economia.
Em 2002, diante de um fraco candidato tutelado por FHC, Lula (após a “carta à burguesia”) é eleito. Contexto favorável, economia crescendo, inflação baixa, investimentos na construção civil, indústria automobilística, geração de emprego, programas sociais, cotas, universidades, prouni, ciências sem fronteiras (me ajudem a lembrar de todos os programas) e Lula faz o melhor governo que o Brasil já teve e, não podemos tirar os méritos, pois, com toda certeza, um governo tucano, por exemplo, mesmo com o contexto favorável, não teria realizado e ido em direção das demandas populares.
Pois bem, Lula faz sua sucessora, Dilma. Um governo com pouca habilidade e carisma, crise internacional, elite raivosa, manifestações de julho de 2013, eleição polarizada, mídia e elite sem aceitar a derrota, congresso mais conservador desde 64: crise política! Impeachment.
Afinal, o que significa? Sim, significa o fim de investimentos nas áreas sociais, significa privatizações, significa subserviência ao mercado etc. UM RETROCESSO TREMENDO!
Mas, amigos e amigas, choramingar, culpar o outro, resmungar, achar que é o fim do mundo etc., acho que é forçar a barra. Primeiramente, quem criou essa imagem do PT como salvador da pátria, como um partido acima de críticas, que expurgava os que discordavam do caminho adotado? Lembremos que, enquanto teve o povo do lado, o PT, ao invés de sinalizar para mudanças estruturais, como taxação de grandes fortunas e reforma agrária, essenciais para criar um desenvolvimento interno com mais autonomia, apostou na expansão do consumo, sem nunca tocar nos interesses elitistas e, vale lembrar, deixando de lado o papel de briga ideológica, renovando concessões para seus algozes, estimulando os movimentos sociais para que “guardassem a bandeira”. Ou seja, pela manutenção do poder, foi necessário entrar no jogo burguês, para conseguir governabilidade, sem radicalizar, sem se apoiar em que lá os colocou. Resumindo: aceitou o jogo democrático burguês! Reforma política? Nem discutiram.
Ou seja, na crise econômica global, a mídia e as elites (não aprendemos nada com a história!) mostra seu poder: cria a crise política, o PT e Dilma são postos como seus bodes expiatórios e, cá estamos com um governo que representa todo o retrocesso possível.
Desculpe a frase embolada, mas esforce-se para entender: o PT do PMDB do Cunha substituído por Maia com voto do PT da lei antiterrorismo contra os movimentos sociais formado pelo povo que engolia e queria luta contra a lei da terceirização.... É golpe? É golpe! Profundo, dolorido, pois, engendrou-se com os “companheiros e camaradas”, que aceitam o discurso de união de classes, de diálogo, na mesa de negociação que sempre pende para as elites.
Infelizmente, diante da lama que a história do PT foi jogada, o impeachment de Dilma tenha sido uma saída para não termos visto esse mesmo governo petista fazendo as reformas antipopulares que já haviam sido iniciadas, ainda no governo Dilma.
O que estou querendo dizer com isso? Não estou descartando a tese da elite subserviente, da mídia golpista, do poder estadunidense etc., pelo contrário, estou reafirmando-a e mostrando que, entre os caminhos possíveis, dentro da dialética, nós erramos, enquanto movimento social, enquanto partidários ou adeptos do PT, enquanto cidadãos e cidadãs conscientes. Escolhemos o caminho errado!
Arcaremos com isso. E, o desabafo que me fez iniciar esse texto, fica em tom de conclusão, para reflexão: você amiga, amigo, estudante, intelectual, trabalhadora e trabalhador, mas, principalmente você, jovem “cult”, descolado, que odeia o sistema, mas que vê a luta dos camaradas e não fortalece; que quando é convidado pro debate nunca pode; que quando é chamado pra manifestação nunca pode; que quando é chamado pra ocupação nunca pode; que quando é chamado pra reunião nunca pode etc., infelizmente lhe digo: a sua indignação, sua irritabilidade, sua tristeza, também é culpa sua, mais sua do que da direita. Que suas palavras reflitam-se em atos a partir de agora! Ser socialista, comunista, progressista, não pode ser mera retórica, não pode ser estética, superficialidade. Tem que ser postura, consciência, construção coletiva ou, eternamente, nesse simples jogo entre nós e os algozes, nós sempre perderemos.
Talvez seja triste, pois lembra um contexto parecido, levanta uma frustração, uma sensação de “poderíamos ter evitado”, mas o que lembro agora é daquela música: “vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe, faz a hora e não espera acontecer”. E, completo o trecho com outro: “muita gente se esqueceu, que a verdade não mudou”. A real democracia só existe em um governo que se paute numa construção socialista, de enfrentamento, reconhecendo que é vida ou morte pois, para muitos de nós pode não ser, o impeachment será mais uma página virada... mas, para muitos, significará a fome, a dor e a morte.

A China e a Síria

31.08.2016 | Fonte de informações:




Muito embora a visita à Síria do Almirante Guan Youfei (o chefe do novo Departamento de cooperação militar internacional chinês) se situe no quadro de uma tomada de contacto com o conjunto de países da região, ela causou inquietação no Ocidente. De momento, segundo o acordo assinado, o Exército chinês apenas se comprometeu a formar na China os militares sírios do serviço de saúde. No entanto, todos perceberam muito bem que este acordo esconde mais, porque há já quatro anos que metade dos médicos militares são formados na China. Embora se ignore o que foi realmente decidido, a existência deste acordo marca, por si só, uma mudança estratégica.
Thierry Meyssan
Com efeito, no decurso dos últimos cinco anos a China Popular inibiu-se de qualquer forma de cooperação que pudesse ser interpretada por Washington como ajuda militar. Portanto, ela não só recusou fornecer armas mas também materiais civis essenciais durante esta guerra, tal como detectores de túneis.
Independentemente da importantíssima assistência económica de Pequim, todos se lembram que a Rússia tinha identicamente concluído um acordo com a Síria no início de 2012, prenunciando a sua assistência militar três anos e meio mais tarde. Prepara-se, pois, a China para se instalar ali também?
É provável que a resposta dependa de rapidez da instalação norte-americana no mar da China, e das provocações dos aliados de Washington nesta região.
O interesse da China pela Síria data da Antiguidade e da Idade Média. A Rota da Seda atravessava a Ásia Central para passar por Palmira e Damasco antes de bifurcar em direcção a Tiro e Antioquia. Poucas coisas restam desta longínqua cooperação comercial, a não ser o Pagode visível nos mosaicos da Mesquita dos Omíadas. O Presidente Xi fez da restauração desta via de comunicação (e da criação de uma segunda através da Sibéria e da Europa) o objetivo principal do seu mandato.
O outro grande interesse de Pequim é a luta contra o Partido islamista do Turquestão que se juntou à Al-Qaida, depois ao Daesh (E.I.). Existe actualmente um quarteirão uigur em Rakka e o Daesh (E.I.) publica um jornal especialmente para os seus membros.
Os membros deste grupo estão ligados à Ordem dos Naqchbandis, uma congregação Sufista, da qual o antigo Grande mufti da Síria, Ahmad Kuftaru foi mestre. As lojas desta Ordem aproximaram-se dos Irmãos Muçulmanos, em 1961, por influência do serviços secretos anglo-saxónicos, CIA e MI6. Eles participaram na criação da Liga Islâmica Mundial pela Arábia Saudita, em 1962. No Iraque, agruparam-se em torno de Izzat Ibrahim al-Douri, e apoiaram a tentativa de golpe de Estado dos Irmãos Muçulmanos sírios, em 1982. Em 2014, eles forneceram 80. 000 combatentes ao Daesh (E.I.). Na Turquia, os Naqchbandis criaram a Milli Goruş, da qual Recep Tayyip Erdoğan foi um dos líderes. Foram eles ainda que, nos anos 90, organizaram os movimentos islamistas tanto no Cáucaso russo como no Xinjiang chinês.
Mais ainda que os Russos, os Chineses precisam de informações sobre esta organização e sobre a maneira como Washington e Londres a controlam. Eles acreditaram erroneamente, em 2001, que os Anglo-saxónicos tinham mudado após os atentados de 11-de Setembro, e que iriam colaborar com a Organização de Cooperação de Xangai no combate ao terrorismo. Actualmente estão cientes que a Síria é uma verdadeira defensora da paz.
Thierry Meyssan
Tradução
Alva
Fonte
Al-Watan (Síria)

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terça-feira, 30 de agosto de 2016

Brasil: Uma republica de bananas


30.08.2016 | Fonte de informações:

Brasil: Uma republica de bananas - Um povo midiotizado e as instituições nada democráticas
Constantemente me encontro com diplomatas dos mais diversos países em Brasília e a pergunta é uma só.
"Valter como isso pode acontecer no Brasil? Porque o povo não reage?  No meu país temos uma oposição rigorosa contra  o governo, mas se alguém ou instituições ousarem darem um golpe, de imediato as oposições e o povo estarão ao lado do governo em defesa da democracia".
Valter Xéu*
E assim, vou ouvindo e na maioria das vezes sem nenhuma resposta para dár, pois não precisa e tudo esta ai bem visível.
Confesso que aquele orgulho de ser brasileiro já não me acalenta mais.
Imaginava que o meu país, uma das sete maiores economias do planeta, respeitado e admirado em todo mundo e que restávamos a caminho de nos tornarmos uma verdadeira potência, pois temos tudo no Brasil para fazer dele um dos países mais ricos do mundo, com uma democracia plena e suas instituições funcionando normalmente e formando aquilo que chamamos de os guardiões da democracia.
Ledo Ivo Engano.
De repente acordei do meu estado de alegria e mim vi em um país  onde o que eu imaginava ser os guardiões, não passa de uma corja de vermes e que de há muito vinha tramando nos bastidores para tomar o país de assalto.
Sinto-me como brasileiro envergonhado perante o mundo e aquele país que eu imaginava caminhando aceleradamente rumo ao progresso e ao desenvolvimento pleno, não passa de uma republiqueta de bananas, onde a mídia cuida de refrear as medidas de reação do povo, povo esse completamente midiotizado por uma informação falsa e manipulada e que só visa favorecer aos vermes  que se instalaram no poder com anuência dos ratos do congresso e respaldado por um judiciário que tem facilidades de transformar membros do antigo governo em réus, levando à execração pública enquanto o outro lado, que todos conhecem muito bem, apesar das inúmeras acusações nas delações, nada lhes acontece e nesse assunto, o braço da lei não é curto e sim inexistente.
Vemos (imaginem um palavrão qualquer) que tudo foi armado de jeito que levasse a população às ruas para protestar contra um governo legitimamente eleito pelo povo com denúncias de corrupção, e ai o papel da mídia foi fundamental onde qualquer denúncia era logo ampliada em rede nacional.
Arrumaram o crime de responsabilidade fiscal para condenar uma presidente, quando nos últimos trinta anos, todos os que passaram pelo Palácio do Planalto fizeram o mesmo e que governadores e prefeitos continuam a praticar por todo o pais. Com as mesmas empreiteiras das obras faraônicas da ditadura militar.
Os golpistas com o apoio do judiciário, desmontou o governo levando-o  a um empastelamento onde qualquer ato da presidenta era derrubado no STF com o argumento de que eram institucionais como a nomeação de Lula para a Casa Civil que foi barrada pelo supremo com alegações do ex-presidente estar sendo investigado pela Lava Jato, mas esse mesmo supremo simplesmente fechou os olhos para a indicação pelo interino de sete ministros envolvidos com a Lava Jato além dele próprio.(outro palavrão aqui cairia bem).
Pensa que a mídia chiou? Nada disso aconteceu e até mesmo aqueles que foram as ruas pedir a saída de um governo eleito, não voltaram a se manifestar, o que vem demonstrar que como perdedores na eleição presidencial, queriam mesmo era o afastamento daquela que foi eleita democraticamente.
Assistimos impavidamente, ladrões de carteirinha sendo acusados de desvio de recursos públicos e nada lhes acontecem, pois eles todos estão firmes e fortes do lado das instituições nada democrática e que estão ai prontas para as suas defesas.
O atual governo do interino, tenta desqualificar o SUS, acabar com o programa Mais Médicos, redução do programa minha casa minha vida, achatamento de salários (menos os das castas) aposentadoria com 70 anos, venda do nosso petróleo a preço de banana - faz sentido em um pais bananeiro - anúncios de que as universidades públicas poderão serem vendidas a grupos econômicos estrangeiros e para isso, com a ajuda da mídia já colocou em prática a desqualificação da qualidade do ensino.

Desmonte da Petrobras, a caminho de se desfazer do nosso manancial de água subterrânea onde temos os aquíferos mais volumosos do planeta, destruição de todas as conquistas sociais desde Vargas até aqui e assistimos tudo isso passivamente.
O maior erro de Dilma foi ter ganho uma eleição democrática e logo após a derrota, o bloco oposicionista resolveu que era hora de ir para às ruas não deixando de contar com aquela "preciosa" ajuda externa que deve ter enchido os bolsos de muita gente para financiar as passeatas, a mídia, os ratos congressistas e toda a camarilha que navega no barco do golpe.
Os Estados Unidos querem o nosso petróleo, e todas as nossas riquezas e o país fora dos BRICS ou enfraquecido dentro dele.

O exemplo turco
Na Turquia houve uma tentativa de golpe pelas forças armadas contra o presidente Erdogan (que não é flor que se cheire) e vimos o povo ir para as ruas e peitar as forças golpistas, retirando soldados dentro dos tanques e veículos militares e na maioria das vezes lhes enchendo de porrada em plena via pública.
Vimos partidos perseguidos por Erdogan como o partido curdo e o partido comunista, adversários históricos do governo a se posicionarem contra o golpe e apoiando o governo.
O partido comunista divulgou nota de que era adversário de Erdogan, não podia compactuar com o golpe, pois o presidente tinha sido eleito pelo voto direto dos turcos e isso tinha de ser respeitado.
No Brasil aconteceu o contrário.
Perdedores e até mesmo alguns que ganharam a eleição ao lado governo Dilma como o PMDB, uniram-se e sacramentaram o golpe, que com certeza contou com o apoio em todas as instâncias como Forças Armadas que se autoproclama guardião dos interesses da nação e que não levantou a sua voz contra a implosão da democracia e passando por cima da constituição nacional, coisa que os militares sempre gostam de fazer.
Assim vemos um pais hoje desacreditado no mundo, um povo imbecilizado, oportunista, corrupto e querendo levar também a sua parte na roubalheira do espolio Brasil e um mundo perplexo com tudo isso e a se perguntar o que de fato aconteceu com o Brasil, cujo desenvolvimento apesar da recessão lá fora, sua economia se mostrava sólida, emprestou até dinheiro para o FMI quando no governo de FHC foi lá três vezes mendigar empréstimos, nossas grandes empresas, principalmente as empreiteiras com obras em todo mundo e de repente, tudo isso desmorona, quebraram as empresas, milhões de desempregados, crise forjada aqui e mostrando que o inferno era aqui e o paraíso lá fora, martelando que os 11 milhões de desempregados eram por culpa do governo, quando a Espanha com 46 milhões de habitantes tem mais de dez milhões desempregados, que toda União Européia com exceção da Alemanha esta completamente falida, que a China teve que rever sua projeção de PIB para baixo e que sacudiu a economia mundial, tudo isso foi descaradamente escondido por uma mídia que cuidava de tão corrupta quanto os vermes do poder e hoje, não se vê como antes estampada na mídia denúncias de corrupção apesar dela continuar agora mais aceleradamente, não se fala mais em crise e sim na destruição pura e simples de um país que ousou nesses últimos 14 anos ser grande e respeitado no mundo.

Mas que foi esquecido de um simples detalhe.
As tais instituições daqui não estão e nunca estiveram a serviço do país.
E o povo, o povo daqui não é o povo de alhures que pega golpista a mão e lhe cobre de porrada quando não pratica outros fins.
*Valter Xéu é diretor e editor de Pátria Latina e Irã News


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quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A NED, vitrina legal da CIA



17.08.2016 | Fonte de informações:

Desde há 30 anos, a National Endowment for Democracy (NED) sub-contrata a parte legal das operações ilegais da CIA. Sem levantar suspeitas, ela colocou em funcionamento a mais vasta rede de corrupção do mundo, comprando sindicatos operários e patronais, partidos políticos de esquerda e de direita, para que defendam os interesses dos Estados Unidos em vez dos dos seus afiliados. Thierry Meyssan descreve aqui o estendal deste dispositivo.
 2006, o Kremlin denunciava a proliferação de associações estrangeiras na Rússia, das quais algumas teriam participado num plano secreto de desestabilização do país orquestrado pela Fundação Americana para a Democracia (National Endowment for Democracy - NED). Afim de prevenir uma «revolução colorida», Vladislav Surkov elaborou uma estrita regulamentação destas «organizações não-governamentais (ONG)». No Ocidente, este enquadramento administrativo foi descrito como um novo ataque do «ditador» Putin e do seu conselheiro contra a liberdade de associação.
Esta política foi seguida por outros Estados que, por sua vez, foram apresentados pela imprensa internacional como «ditaduras».
O governo dos Estados Unidos assegura que se empenha «na promoção da democracia pelo mundo». Ele reivindica que o Congresso subvencione a NED e que esta possa, por sua vez e com toda a independência, ajudar directa ou indirectamente associações, partidos políticos ou sindicatos, operando neste sentido em qualquer parte do mundo. As ONGs sendo, como o seu nome indica, «não-governamentais» podem assumir iniciativas políticas que as embaixadas não poderiam assumir sem violar a soberania dos Estados que as albergam. O busílis da questão reside pois aqui: a NED e a rede de ONGs que ela financia são iniciativas da sociedade civil, injustamente reprimidas pelo Kremlin, ou biombos dos serviços secretos dos Estados Unidos apanhadas em flagrante delito de ingerência?2
Para responder a esta questão, nós iremos rever a origem e o funcionamento da National Endowment for Democracy. Mas, antes de mais devemos analisar o que significa o projecto oficial dos Estados Unidos de «exportação da democracia».

Os puritanos que fundaram os Estados Unidos queriam fundar aí uma «cidade de luz», iluminando o mundo. Eles consideravam-se como missionários de um modelo político.
Que democracia ?
Os Norte-americanos, enquanto povo, acreditam na ideologia dos seus pais fundadores. Eles veem-se como uma colónia vinda da Europa para fundar uma cidade obediente a Deus. Eles concebem o seu país como «uma luz na montanha» segundo a expressão de São Mateus, retomada durante dois séculos pela maior parte dos seus presidentes nos seus discursos políticos. Os Estados Unidos seriam uma nação modelo, brilhando no topo de uma colina, iluminando o mundo. E todos os outros povos da Terra iriam copiar esse modelo afim de alcançar a salvação.
Para os Norte-americanos, esta crença ingénua implica, por si própria, que o seu país é uma democracia exemplar e que eles têm um dever messiânico de a estender ao resto do mundo. Enquanto São Mateus encarava a propagação da fé apenas pelo exemplo de uma vida piedosa, os pais fundadores dos Estados Unidos idealizavam a luz da sua tocha e a sua propagação como uma mudança de regime. Os puritanos ingleses decapitaram Carlos I antes de fugir para os Países-Baixos e para as Américas, depois os patriotas do Novo Mundo rejeitaram a autoridade do Rei Jorge III da Inglaterra e proclamaram a independência dos Estados Unidos.
Impregnados desta mitologia nacional, os Norte-americanos não entendem a política externa do seu governo como um imperialismo. Aos seus olhos, é tanto mais legítimo derrubar um governo quanto mais este ambiciona encarnar num modelo diferente do seu, logo maléfico. Da mesma forma, estão convencidos que investidos na sua missão messiânica, eles conseguiram impôr pela força a democracia nos países que ocuparam. Eles aprendem nas suas escolas, por exemplo, que os G.Is levaram a democracia à Alemanha. Eles ignoram que a história é exactamente inversa: o seu governo ajudou Hitler a derrubar a República de Weimar e a instaurar um regime militar para combater os Soviéticos.
Esta ideologia irracional impede-os de se interrogarem sobre a natureza das suas instituições, e quanto ao absurdo do conceito de «democracia forçada».
Ora, segundo a fórmula do presidente Abraham Lincoln, «a democracia, é o governo do povo, pelo povo, para o povo».
Deste ponto de vista, os Estados Unidos não são uma democracia, mas sim um sistema híbrido, no qual o poder executivo repousa numa oligarquia, enquanto o povo limita o arbítrio do mesmo graças aos contra-poderes legislativo e judicial. Com efeito, se o povo elege o Congresso e certos juízes, são os Estados federados quem elege o poder executivo e este último quem designa os altos magistrados. Muito embora os cidadãos sejam chamados a pronunciar-se sobre a escolha do seu presidente o seu voto na matéria é apenas consultivo, tal como o lembrou o Supremo Tribunal, em 2000, na disputa Gore contra Bush. A Constituição dos Estados Unidos não reconhece a soberania do povo, já que o poder é partilhado entre ele e os Estados federados, ou seja os caciques locais.
De passagem, deverá notar-se que a Constituição da Federação da Rússia é, pelo contrário, democrática -- pelo menos no papel--- quando afirma : «o detentor da soberania e a única fonte de poder na Federação da Rússia é o seu povo multinacional».(Título I, Ch. 1, art.3).
Este contexto intelectual explica porque os Norte-americanos apoiam o seu governo quando ele anuncia querer «exportar a democracia», quando o seu próprio país não o é , constitucionalmente. Mas, não se vê como eles poderiam exportar o que não têm, e não querem ter em sua própria casa.
No decurso dos trinta últimos anos, esta contradição foi carregada pela NED e concretizou-se pela desestabilização de numerosos Estados. Milhares de militantes e ONGs crédulas violaram a soberania dos povos com o sorriso beato da boa consciência.1

Uma Fundação pluralista e independente
No seu célebre discurso de 8 de junho de 1982, diante do Parlamento britânico, o presidente Reagan denunciou a União Soviética como o «Império do mal» e propôs vir em ajuda dos dissidentes de lá e arredores. «Trata-se de contribuir para criar a infra-estrutura necessária à democracia : à liberdade de imprensa, de sindicatos, de partidos políticos, de universidades: assim os povos serão livres para escolher a via que lhes convier, afim de desenvolver a sua cultura e resolver os seus diferendos por meios pacíficos», declarou ele.
Sobre esta base consensual da luta contra a tirania, uma comissão de reflexão bipartidária preconizou em Washington a criação da Fundação Nacional para a Democracia (NED). Esta foi instituída pelo Congresso em Novembro de 1983, e financiada de imediato.1
A Fundação subvenciona quatro estruturas autónomas, que redistribuem no estrangeiro o dinheiro disponível a associações, sindicatos operários e patronais, e partidos de direita e de esquerda. Trata-se de :
 O Instituto de Sindicatos Livres (Free Trade Union Institute - FTUI), actualmente renomeado Centro Americano para a Solidariedade dos Trabalhadores (American Center for International Labor Solidarity - ACILS), gerido pelo sindicato operário AFL-CIO ;
 O Centro para a Empresa Privada Internacional (Center for International Private Entreprise - CIPE), gerido pela Câmara de Comércio dos Estados Unidos ;
 O Instituto Republicano Internacional (International Republican Institute - IRI), gerido pelo Partido republicano ;
 E o Instituto Nacional Democrático para os Assuntos Internacionais (National Democratic Institute for International Affairs - NDI), gerido pelo Partido Democrata.
Apresentado desta forma a NED e os seus quatro pseudópodes parecem baseados na sociedade civil, da qual eles reflectiriam a diversidade social e o pluralismo político. Financiados pelo povo norte-americano, via Congresso, operariam por um ideal universal. Eles seriam completamente independentes da administração presidencial. E, a sua acção transparente não poderia mascarar operações secretas servindo interesses nacionais inconfessáveis.
A realidade é completamente diferente.

Em 1982, Ronald Reagan criou a NED, em parceria com o Reino Unido e a Austrália, para derrubar «o Império do Mal».
Uma encenação da CIA, do MI6 e do ASIS
O discurso de Ronald Reagan em Londres ocorre após os escândalos, em torno da revelação por comissões parlamentares de inquérito, sobre os golpes sujos da CIA. O Congresso interdita à Agência a organização de novos golpes de Estado para conquistar mercados. Na Casa Branca, o Conselho de Segurança Nacional procura, pois, implementar outras ferramentas para contornar esta interdição.
A Comissão de reflexão bipartidária fora formada antes do discurso de Ronald Reagan, embora só tenha recebido oficialmente mandato da Casa Branca depois. Ela não surge, portanto, como resposta à grandiloquente ambição presidencial, mas, antes, precede-a. Por consequência, o discurso não passou de uma cobertura retórica de decisões já traçadas, nas suas grandes linhas, e destinadas a ser encenadas pela Comissão bipartidária.
Esta era presidida pelo representante especial dos Estados Unidos para o Comércio, o que indica que ela não visava a promoção da democracia, mas, segundo uma terminologia consagrada, a «democracia de mercado». Este conceito estranho corresponde ao modelo norte-americano: uma oligarquia económica e financeira impõe as suas escolhas políticas através dos mercados e do Estado federal, enquanto os parlamentares e os juízes eleitos pelo povo protegem os indivíduos contra a arbitrariedade da administração.
Três dos quatro organismos periféricos da NED foram formadas para a ocasião. No entanto não foi necessário criar o quarto, a organismo sindical (ACILS). Este já existia, desde o fim da Segunda Guerra mundial, muito embora tenha mudado de nome em 1978, quando se soube da sua subordinação à CIA. De onde se pode inferir que a CIPE, o IRI e a NDI não nasceram por geração espontânea mas, igualmente, sob a batuta da CIA.
Além disso, embora a NED seja uma associação no Direito americano, ela não é uma ferramenta apenas da CIA mas, também, um dispositivo em comum com os serviços secretos britânicos (foi por isso que ela foi anunciada por Reagan em Londres) e com o australiano. Este ponto fundamental é sempre passado em claro. É, no entanto, confirmado pelas mensagens de felicitações enviadas pelos primeiros-ministros Tony Blair e John Howard aquando do 20º aniversário da suposta «ONG». A NED e as suas extensões são órgãos do pacto militar anglo-saxónico entre Londres, Washington e Camberra, tal e qual como a rede de intercepção electrónica Echelon. Este dispositivo, pode ser utilizado não só pela CIA como também pelo MI6 britânico e pelo ASIS australiano.
Para dissimular esta realidade, a NED suscitou a criação entre os aliados de organizações análogas que trabalham com ela. Em 1988, o Canadá dotou-se de um Centro Direitos & Democracia, o qual se focou sobretudo sobre o Haiti, depois sobre o Afeganistão. Em 1991, o Reino Unido instituiu a Westminster Foundation for Democracy (WFD). O funcionamento deste organismo público é decalcado sobre o da NED: a sua administração é confiada aos partidos políticos (oito delegados: três pelo Partido Conservador, três pelo Partido Trabalhista, um pelo Partido Liberal, e um último pelos outros Partidos representados no Parlamento). A WFD trabalhou extensivamente na Europa Oriental. Finalmente, em 2001, a União Europeia dotou-se do European Instrument for Democracy and Human Rights (IEDDH), a qual suscita menos suspeitas que as suas homólogas. Este gabinete reporta à EuropeAid, dirigida por um alto-funcionário tão poderoso quanto desconhecido, o Neerlandês Jacobus Richelle.
A directiva presidencial 77
Ao votar pela fundação da NED, a 22 de Novembro de 1983, os parlamentares EU ignoravam que ela existia já em segredo, em virtude de uma directiva presidencial datada de 14 de Janeiro [1].
Este documento, que só foi desclassificado duas décadas mais tarde, organiza a «diplomacia pública», expressão politicamente correcta para designar a propaganda. Ele institui na Casa Branca grupos de trabalho, no seio do Conselho de Segurança Nacional, dos quais um encarregue de dirigir a NED.

Henry Kissinger, administrador da NED. Um «representante da sociedade civil»?
Por conseguinte, o Conselho de administração da Fundação não é mais que uma correia de transmissão do Conselho de Segurança Nacional. Para manter as aparências, foi acordado que, de modo geral, os agentes e antigos agentes da CIA não poderiam ser nomeados administradores.
No entanto, as coisas são transparentes. A maior parte dos altos funcionários que tiveram um papel central no Conselho de Segurança Nacional foram administradores da NED. É por exemplo o caso de Henry Kissinger, Franck Carlucci, Zbigniew Brzezinski, ou ainda Paul Wolfowitz; personalidades que não ficarão na História como idealistas da democracia, mas, sim como estrategas cínicos da violência.
O orçamento da Fundação não pode ser interpretado isoladamente, uma vez que ele recebe as suas directivas do Conselho de Segurança Nacional para realizar ações que se inscrevem nas vastas operações inter-agências. Fundos, nomeadamente quando provêm da Agência de Ajuda Internacional (USAID), transitam pela NED sem aparecer no seu orçamento, simplesmente para as «não-governamentalizar». Além disso, a Fundação recebe indirectamente dinheiro da CIA, depois de ele ter sido branqueado por intermediários privados como a Smith Richardson Foundation, a John M. Olin Foundation ou ainda a Lynde and Harry Bradley Foundation.
Para avaliar a amplitude deste programa, era preciso cumular o orçamento da NED com os os sub-orçamentos correspondentes do Departamento de Estado, da USAID, da CIA e do Departamento da Defesa. Ora, uma tal estimativa é hoje em dia impossível.
Alguns elementos conhecidos permitem, no entanto, dispôr de uma estimativa de valor. Os Estados Unidos despenderam no decurso dos cinco últimos anos mais de 1 bilião de dólares(mil milhões-ndT) para associações e partidos no Líbano, um pequeno Estado de 4 milhões de pessoas. Globalmente metade deste maná foi distribuído publicamente pelo Departamento de Estado, pela USAID e pela NED, a outra metade foi vertida secretamente pela CIA e pelo Departamento da Defesa. Este exemplo permite extrapolar que o orçamento geral da corrupção institucional pelos Estados Unidos conta-se em dezenas de milhar de milhões de dólares anuais. De passagem, o programa equivalente da União Europeia, que é inteiramente público e fornece um reforço às ações norte-americanas, é de 7 mil milhões(bilhões-br) de euros por ano.
Em resumo, a estrutura jurídica da NED e o volume do seu orçamento oficial não são mais que iscos. Na essência ela não é um organismo independente encarregue de acções legais outrora da alçada da CIA, ela é, sim, uma vitrine que o Conselho de Segurança Nacional encarrega de concretizar os elementos legais de operações ilegais.
A estratégia trotskista
No decurso da sua fase de implementação (1984), a NED foi presidida por Allen Weinstein, depois durante quatro anos por John Richardson (1984-88), finalmente por Carl Gershman (desde 1998).
Estes três homens têm três pontos em comum. São judeus, militaram no seio do Partido trotskista, Social Democrats USA, e trabalharam na Freedom House (Casa da Liberdade-ndT). Há uma lógica nisso : por ódio ao stalinismo, certos trotskistas juntaram-se à CIA para lutar contra os soviéticos. Trouxeram com eles a teoria de tomada do poder mundial, transpondo-a para as «revoluções coloridas» e a «democratização». Eles simplesmente deslocaram a vulgata trotskista, aplicando-a ao combate cultural analisado por Antonio Gramsci: o poder exerce-se nas mentes mais do que pela força. Para governar as massas uma elite deve, primeiro, inculcar-lhes uma ideologia que programe a sua aceitação pelo poder que as domina.
Le Centro americano para a solidariedade com os trabalhadores (ACILS)

Conhecido sob o nome de Solidarity Center, o ACILS, ramo sindical da NED, é de bem longe o seu canal principal. Ele distribui mais de metade dos donativos da Fundação. Ele sucedeu aos organismos anteriores que serviram durante toda a Guerra Fria para estruturar os sindicatos não-comunistas no mundo, do Vietname a Angola, passando pela França e pelo Chile.
O facto de escolher os sindicalistas para cobrir este programa da CIA é de uma rara perversidade. Longe do slogan marxista «Proletários de todos os países, uni-vos», o ACILS associa os sindicatos operários norte-americanos ao imperialismo que esmaga os trabalhadores de outros países.
Este ramo era dirigido por um personagem extravagante, Irving Brown, de 1948 até à sua morte em 1989.

Em 1981, Irving Brown coloca Jean-Claude Mailly como assistente do secretário-geral da Force Ouvrière, André Bergeron. Este último reconhecerá financiar a sua actividade graças à CIA. Mailly torna-se secretário-geral da FO em 2004.
Alguns autores asseguram que Brown era o filho de um Russo Branco, companheiro de Alexandre Kerensky. O que é certo, é que ele foi agente da OSS, o serviço de inteligência dos EU durante a Segunda Guerra mundial e participou na criação da CIA e da rede Gladio da OTAN. Ele recusou tomar conta da liderança, preferindo concentrar-se na sua especialidade, os sindicatos. Foi colocado em Roma, depois em Paris, e não em Washington, de tal maneira que exerceu uma influência especial na vida pública italiana e francesa. No fim da sua vida, ele gabava-se assim de ter sempre dirigirido, secretamente, o sindicato francês Force Ouvrière, de ter mexido os pauzinhos no sindicato estudantil UNI (onde militaram Nicolas Sarkozy e os seus ministros François Fillon, Xavier Darcos, Hervé Morin e Michèle Alliot-Marie, assim como o Presidente da Assembleia Nacional, Bernard Accoyer, e o Presidente do Grupo parlamentar da maioria, Jean-François Copé) e de ter, pessoalmente, formado à Esquerda membros de um grupúsculo trotskista, entre os quais Jean-Christophe Cambadelis e o futuro Primeiro-ministro Lionel Jospin.
No fim dos anos 90, os aderentes da Confederação, AFL-CIO exigiram contas sobre as reais actividades da ACILS, quando tinha sido abundantemente documentado o seu carácter criminoso em muitos países. Poderia imaginar-se que as coisas teriam mudado após esta grande revelação. Nem pensar. Em 2002 e 2004, o ACILS participou activamente no golpe de Estado falhado na Venezuela, contra o Presidente Hugo Chávez e, ao bem sucedido, no Haiti, derrubando o Presidente Jean-Bertrand Aristide.
Hoje em dia o ACILS é liderado por John Sweeney, antigo presidente da Confederação AFL-CIO, que também originário do Partido Trotskista Social Democrats USA.
O Centro para a empresa privada internacional (CIPE)

O Centro para a empresa privada internacional (CIPE) focaliza-se sobre a divulgação da ideologia capitalista liberal e a luta contra a corrupção.1
O primeiro êxito do CIPE, é a transformação, em 1987, do Europan Management Forum --um clube dos grandes patrões europeus--- em World Economic Forum --o clube da classe dirigente transnacional---. O grande encontro anual do supra-sumo económico e político global, na estância de esqui suíça de Davos, contribuiu para forjar uma pertença de classe para além das identidades nacionais.
O CIPE vela para não ter nenhum laço estrutural com o Fórum de Davos, e não é possível -de momento--- provar que o World Economic Forum é instrumentalizado pela CIA. Por outro lado, os responsáveis de Davos teriam muita dificuldade em explicar por que certos dirigentes políticos escolhem o seu Fórum económico para aí jogar cartadas da maior importância se não se tratasse de operações planificadas(planejadas-br) pelo Conselho de Segurança Nacional dos EUA. Por exemplo, em 1988, foi em Davos --e não na ONU--- que a Grécia e a Turquia fizeram a paz. Em 1989, é em Davos que as duas Coreias por um lado, e as duas Alemanhas por outro, realizam a sua primeira cimeira a nível ministerial, para uns, e a sua primeira cimeira sobre a reunificação para os outros. Em 1992, é ainda em Davos que Frederik de Klerk e Nelson Mandela, livre, vêm em conjunto apresentar, pela primeira vez no estrangeiro, o seu projeto comum para a África do Sul. Ainda mais inverosímil, é em Davos que em 1994, após o acordo de Oslo, Shimon Peres e Yasser Arafat, vêm negociar e assinar o seu roteiro para Gaza e Jericó.
O contacto entre o Fórum e Washington passa notoriamente por Susan K. Reardon, a antiga directora da associação profissional dos empregados do Departamento de Estado feita directora da Fundação da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, que gere a CIPE.
O outro êxito do Centro para a empresa privada internacional, é a Transparency International. Esta «ONG» foi oficialmente criada por um oficial das informações militares dos EU, Michael J. Hershman, que é também administrador do CIPE, e hoje em dia um dos responsáveis pelo recrutamento de informadores do FBI, bem como o CEO da Agência de inteligência privada Fairfax Group.
A Transparency International é antes de tudo uma fachada para as actividades de inteligência económica da CIA. É também uma ferramenta de comunicação para coagir os Estados a modificar as suas legislações no sentido da abertura dos seus mercados.
Para mascarar a origem da Transparency International, a CIPE apelou à capacidade do antigo director de imprensa do Banco Mundial, o neo-conservador Frank Vogl. Este último colocou em acção um Comité de personalidades que contribuíram para dar a impressão de uma associação saída da sociedade civil. Este comité de fachada é animado por Peter Eigen, antigo director do Banco Mundial para a África Oriental, cuja esposa foi em 2004 e 2009 a candidata do SPD à Presidência da República Federal da Alemanha.
O trabalho da Transparency International serve os interesses dos EU e não é de modo algum fiável. Assim, em 2008, a pseudo ONG denunciava a corrupção da PDVSA, a empresa pública de petróleos da Venezuela e, com base nas informações falsificadas, colocava-a na última posição da sua tabela mundial de Empresas Públicas. O objectivo era evidentemente sabotar a reputação de uma empresa que constitui a base económica da política anti-imperialista do presidente Hugo Chávez. Apanhada em flagrante delito de intoxicação, a Transparency International recusou responder às perguntas da imprensa latino-americana e corrigir o seu relatório. Nada de espantar, diga-se de passagem, quando nos lembramos que o correspondente à CIPE na Venezuela, Pedro Carmona, havia sido brevemente colocado no poder pelos Estados Unidos, aquando do golpe de Estado falhado de 2002 contra Hugo Chávez.
De uma certa maneira, ao focar a atenção dos média sobre a corrupção económica, a Transparency International mascara a actividade da NED: a corrupção política das elites dominantes em proveito dos Anglo-Saxões.
O Instituto Republicano Internacional (IRI) e o Instituto Nacional Democrático para os assuntos internacionais (NDI)

O Instituto Republicano Internacional (IRI) tem por vocação corromper os Partidos de Direita, enquanto o Instituto Democrático Nacional para Assuntos Internacionais (NDI) trata dos Partidos de Esquerda. O primeiro é presidido por John McCain, o segundo por Madeleine Albright. Estas duas personalidades não devem, no entanto, ser tomadas como políticos vulgares, um é líder da oposição e outra uma perita aposentada, mas, sim como mentores activos de programas do Conselho de Segurança Nacional.

Para enquadrar os principais partidos políticos do mundo, o IRI e o NDI renunciaram a controlar a Internacional Liberal e a Internacional Socialista. Eles criaram, pois, organizações rivais, a União Democrática Internacional(UDI) e a Aliança dos Democratas (AD). A primeira é presidida pelo australiano John Howard. O russo Leonid Gozman da causa justa (Правое дело) é o vice-presidente. A segunda é dirigida pelo italiano Gianni Vernetti e co-presidida pelo francês François Bayrou.
O IRI e o NDI apoiam-se também em fundações políticas ligadas aos grandes partidos europeus (seis na Alemanha, duas na França, um nos Países Baixos e ainda uma outra na Suécia). Além disso, certas operações foram sub-contratadas a misteriosas sociedades privadas, como a Democracy International Inc. que organizou as últimas eleições manipuladas no Afeganistão.

Antigo adjunto de Rahm Emanuel e actual responsável do NDI, Tom McMahon veio para a França para organizar as primárias do Partido Socialista.
Tudo isso deixa um gosto amargo. Os Estados Unidos têm corrompido a maior parte dos grandes partidos políticos e sindicatos no mundo. Em última análise, a «democracia» que eles promovem consiste em discutir questões locais em cada país --a ver, questões sociais como os direitos das mulheres ou dos gays--- e a alinhar-se com Washington em todos os assuntos internacionais. As campanhas eleitorais tornaram-se espectáculos nas quais a NED escolhe o elenco fornecendo para tal a certos, e não para outros, os recursos financeiros que eles precisam. Mesmo a noção de alternância perdeu o seu significado, uma vez que a NED promove alternadamente um campo ou outro desde que estes prossigam a mesma política externa e de defesa.
Hoje em dia na União Europeia, e por outros lados, ouvem-se lamentos sobre a crise da Democracia. Esta tem como responsáveis claros a NED e os Estados Unidos. E, como qualificar um regime, como o dos Estados Unidos, onde o principal líder da oposição, John McCain, é na realidade um empregado do Conselho de Segurança Nacional? Seguramente não como uma democracia.
O balanço de um sistema
A USAID, a NED, os seus institutos satélites e as suas fundações intermediárias, deram origem, ao longo dos tempos, a uma vasta e insaciável burocracia. Anualmente a votação sobre o orçamento da NED pelo Congresso dá lugar a vivos debates sobre a ineficácia deste sistema tentacular e a rumores de desvios de fundos em proveito personalidades políticas norte-americanos encarregues de a administrar.
Com a preocupação de boa gestão, inúmeros estudos tem sido encomendados para medir o impacto destes fluxos financeiros. Peritos compararam as somas alocadas em cada Estado e a classificação democrática destes Estados pela Freedom House. Depois, calcularam quanto era preciso gastar em dólares por habitante para melhorar num ponto a nota democrática de um Estado.

Tomicah Tillemann, conselheiro de Hillary Clinton para a socieddae civil e as democracias emergentes, supervisiona o dispositivo da NED no Departamento de Estado.
Claro, tudo isso não é mais que uma tentativa de auto-justificação. A ideia de estabelecer uma classificação democrática nada tem de científico. De maneira totalitária, ela supõe que só existe um modelo de instituições democráticas. E, de maneira infantil, ela estabelece uma lista de critérios díspares que pondera com coeficientes imaginários para transformar a complexidade social num único número.
Já agora, a grande maioria destes estudos concluem pelo falhanço : embora o número de democracias cresça no mundo, não haveria nenhuma conexão entre os progressos ou os recuos por um lado, e as somas gastas pelo Conselho de Segurança Nacional. Pelo contrário, isto confirma que os objectivos reais não têm nenhuma relação com os que são anunciados. Os responsáveis da USAID citam entretanto um estudo, pela Universidade Vanderbilt, segundo o qual várias operações da NED, co-financiadas pela USAID, têm sido eficazes porque a USAID tem uma gestão rigorosa do seu orçamento. Sem surpresa, este estudo singular foi financiado pela... USAID.
Seja como fôr, em 2003, por ocasião do seu vigésimo aniversário, a NED traçou um balanço político da sua ação, de onde ressalta que financiava então mais de 6.000 organizações políticas e sociais no mundo, um número que não cessou de crescer desde aí. Ela reivindicava ter criado de raiz o sindicato Solidarnosc, na Polónia, a Carta 77, na Checoslováquia, e o Otpor na Sérvia. Ela congratulava-se por ter criado, a partir do zero, a Rádio B92, ou o diário Oslobodjenje, na ex-Jugoslávia e uma série de novos média independentes no Iraque «libertado».

Em Dezembro de 2011, as autoridades egípcias revistam as sedes do National Democratic Institute e do International Republican Institute no Cairo. Os documentos apreendidos foram os mais importantes para compreender a ingerência US desde a tomada do «ninho de espiões» de Terã, em 1979. Acusados de espionagem, os responsáveis da NED são entregues à Justiça. Aqui : Robert Becker (director do NDI no Cairo) na abertura do seu processo. Os documentos provam que a NED suscitou totalmente e manipulou a pseudo-revolução da praça Tahrir que provocou mais de 4.000 mortos para alçar os Irmãos Muçulmanos ao poder.
Mudar de cobertura
Depois de ter conhecido um sucesso mundial, a retórica da democratização não convence mais. Ao utilizá-la em todas as circunstâncias, o presidente George W. Bush esgotou-a. Ninguém pode seriamente apoiar que as subvenções dispensadas pela NED farão desaparecer o terrorismo internacional. Tanto como não se pode pretender a posteriori que as tropas dos EU teriam deposto Saddam Hussein para oferecer a democracia aos Iraquianos.
Além do mais, os cidadãos que em todo o mundo militam pela democracia tornaram-se desconfiados. Compreenderam que a ajuda oferecida pela NED e os seus pseudópodes visam, na realidade, manipulá-los e armadilhar os seus países. Eles recusam pois, cada vez mais, os «desinteressados» donativos que lhes são propostos. Assim os responsáveis norte-americanos dos diferentes canais de corrupção encararam fazer a mudar o sistema mais uma vez. Depois das golpadas completas da CIA e da transparência da NED, eles encaram a criação de uma nova estrutura que faria a substituição de um conjunto desacreditado. Ela não seria mais gerida pelos sindicatos, pelo patronato e os dois grandes partidos, mas por multinacionais de acordo com o modelo da Asia Foundation.
Nos anos 80, a imprensa revelou que esta organização era uma cobertura da CIA para lutar contra o comunismo na Ásia. Ela foi então reformado e a sua gestão foi confiada a multinacionais (Boeing, Chevron, Coca-Cola, Levis Strauss etc....). Esta mudança de aparência foi suficiente para dar uma aparência não-governamental e respeitável a uma estrutura que jamais deixou de servir a CIA. Após a dissolução da URSS, Soviética, ela foi copiada com uma outra, a Eurasia Foundation, encarregue de estender a acção secreta aos novos Estados asiáticos.
Uma outra questão discutida é de saber se as doações para a «promoção da democracia» devem assumir, unicamente, a forma de contratos para a realização de projectos específicos, ou a de subvenções sem obrigação de resultado. A primeira fórmula oferece uma melhor cobertura legal, mas a segunda é muito mais eficaz para corromper.
Em vista deste panorama, a exigência de Vladimir Putin e Vladislav Surkov de regulamentar o financiamento das ONGs na Rússia é legítima, mesmo se a burocracia que eles desenvolveram para isso é ultrajante e picuinhas. O dispositivo da NED, posto em marcha sob a autoridade do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, não só não promove os esforços democráticos no mundo mas, pelo contrário, envenena-os.
Thierry Meyssan

Tradução Alva
Fonte Odnako (Rússia)
     
 in
http://www.voltairenet.org/article192989.html
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