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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Trava estadunidenses afetam com força ao turismo cubano


Havana, 30 ago (Prensa Latina) O bloqueio econômico comercial e financeiro dos Estados Unidos contra Cuba mantido por mais de 50 anos afeta sobremaneira o desenvolvimento do turismo na ilha, indica um relatório especializado.

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Rússia confirma ensaio exitoso de novo míssil interceptor

Moscou, 30 ago (Prensa Latina) A Rússia confirmou o lançamento exitoso do novo míssil interceptor PRS-1M capaz de destruir objetivos a 350 quilômetros de distância, e a uma altitude de 40 a 50 quilômetros, informou hoje uma fonte militar.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

A IGREJA SE MANIFESTA: PARTICIPE, VOTE, EXIJA DEMOCRACIA

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Pedro Augusto Pinho*
Papa Francisco (Evangelii Gaudium, 283) exortou os católicos a se preocuparem com “a saúde das instituições da sociedade civil” e não se omitirem, mas emitirem “pronunciamentos sobre os acontecimentos que interessam a todos os cidadãos”.
Os bispos da Regional Leste 1, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançaram, nesta semana (19 a 25 de agosto de 2018), as “Orientações para as eleições de 2018”.
Entendem os prelados, após ouvirem padres e leigos, que o voto é direito e dever, responsabilidade e missão. Reconhecem que os desvios que se observam nas instituições, como ocorrem entre nós, podem conduzir ao desânimo e à descrença. Mas que isso deve motivar o comparecimento à urna e à manifestação clara e insofismável do seu desacordo e inconformismo.
Incentivam que os católicos conversem sobre política, que “se uma amizade se abalar por causa de questões políticas e eleitorais, o que deve se rever é a amizade”, que “não restrinja sua escolha à questão da segurança no sentido restrito da palavra”, e “rejeite candidaturas cujas campanhas mostrem grandes recursos econômicos”.
Façamos breve reflexão sobre esta manifestação episcopal.
Ninguém mais tem dúvida que nem foi a corrupção nem a “pedalada fiscal” que impuseram a quebra democrática, em 2016, no Brasil. Foram interesses econômicos e geopolíticos das estruturas de dominação estrangeiras e, muito especialmente, do sistema financeiro internacional, a banca.
Ao mencionarem explicitamente os “grandes recursos econômicos”, os bispos chamam nossa atenção para o poder que se transformou na maior força dominadora do ocidente: o poder do capital estéril, não produtivo, meramente especulativo e concentrador de renda e fortuna.
Ao colocarem a segurança, num sentido lato, mais amplo do que a segurança pública e a repressão policial-militar, os representantes da Regional Leste 1, plenamente identificados com as orientações da CNBB e do Papa Francisco (que se sobressai como um dos maiores estadistas de nosso tempo) mostram a importância da segurança dos direitos sociais e humanos.
Mais, muito mais falha do que a segurança pública, é conviver com a insegurança do emprego, da garantia dos direitos, da possibilidade de se manter, os filhos, os idosos, que os golpista de 2016 estão retirando, cancelando e excluindo da vida de todos nós. É a ausência do Estado, por questão da ideologia excludente – o neoliberalismo – que penetra na mente das pessoas pela massificante e mistificadora comunicação de massa, das televisões, das rádios, das imprensas escrita e virtual, pertencente a meia dúzia de famílias.
É preciso dar um basta. Um basta que fortaleça o poder do voto, onde “se corrigem erros, superam-se vícios e se avança na democracia e no efetivo respeito aos cidadãos, em especial os mais pobres e vulneráveis”.
Impossível não ler, nestas palavras, a crítica acerba ao judiciário, instrumento golpista, avesso ao poder da manifestação popular e contrário aos interesses nacionais. Judiciário que procura encaminhar o voto a seus correligionários, impedindo a candidatura do mais popular líder brasileiro deste século.
Pedem, no documento, que os católicos das dioceses, a quem dirigem estas orientações, não as conheçam de modo egoísta. Propaguem-nas a todos pois “a realidade eleitoral é um dever humano, que onera a todos e, por isso, o discernimento em comum precisa ser feito, envolvendo a todos, em especial os que, por frustração e descrença, preferem se abster”.
A ditadura prefere a indiferença, a rejeição à participação, a transferência para outro de um encargo de consciência.
Nunca, nestes muitos anos que acompanho, nos estudos, nos trabalhos, na vida cotidiana, o desenvolvimento de nossa história, de nossa construção civilizatória, conheci um momento tão difícil, uma crise tão grave quanto a que vivemos atualmente. E não é por outro motivo que os bispos, ecoando a voz de todo universo dos católicos e de todos nacionalistas e patriotas, pede como “urgente e necessária” a reforma política.
Reforma que se estende pelas degradadas e carcomidas instituições brasileiras, tomadas pelo controle da corruptíssima banca, dos corruptíssimos interesses antinacionais, que se exemplificam nos salários dos ministros e magistrados e procuradores da república, na entrega do petróleo do pré-sal, da base de lançamento de foguetes em Alcântara (Maranhão) e de nossa altamente competitiva fabricante de aviões, a Embraer.
Reforma que restabeleça o atendimento completo e universal, preventivo e corretivo da saúde do SUS, o Sistema Único de Saúde, os recursos necessários para o ensino, para ampliação das redes públicas de educação e pesquisa e divulgação da cultura nacional, ao invés do congelamento destas despesas por 20 anos.
Que coloque como prioridade investimentos produtivos, geradores de emprego e renda, ao invés de pagamentos de juros ao sistema financeiro, à banca.
A CNBB convida a todos que se associem, se movimentem, que transformem com estas eleições no Brasil justo, humano e protetor das famílias e das riquezas nacionais.
Pela divulgação.
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

Fonte; pátrialatina.com.br

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

"Ciência e tecnologia como o caminho para o progresso econômico da RPDC"



09/08/2018


Introdução
A Coreia do Norte é comprovadamente o país mais sancionado da terra. As sanções estadunidenses contra a Coreia do Norte têm estado em vigor desde a década de 1950 e uma série de resoluções da ONU na última década proibiu, entre outras coisas, a exportação de carvão, ferro e marisco, proibindo ainda de exportar têxteis, petróleo e efectuar empreendimentos conjuntos (joint ventures), assim como os norte-coreanos de trabalharem em outros países. Por que, então, o país até agora não entrou em colapso?

Há apenas duas décadas, imagens de macilentas crianças norte-coreanas inundavam a Internet e a maior parte dos observadores previa a morte iminente do país. Mas relatos recentes de pessoas que viajaram ali – antes da proibição de viagens feita por Trump – descrevem um quadro de crescimento económico implausível: altos edifícios de apartamentos, supermercados plenamente abastecidos e norte-coreanos a descansarem em praias ensolaradas, parques aquáticos e estações de esqui.

Como é que o país foi capaz de desafiar o labirinto das sanções internacionais e dos EUA para prosseguir a sua "linha Byungjin", a política de buscar progresso paralelo da dissuasão nuclear e do desenvolvimento económico?

A maior parte dos sabichões aponta a China como resposta. Se os Estados Unidos pudessem persuadir a China a honrar as sanções internacionais, queixam-se ele, então poderia controlar a beligerante Coreia do Norte. Mas essa lógica assume que a China possui retém todos os cordéis da economia norte-coreana e passa por alto o engenho e os sacrifícios do povo norte-coreano na sua luta para construir um sistema económico que possa aguentar as sanções.

A investigação de Kim Soobok sobre a ciência e a tecnologia na Coreia do Norte – baseada em múltiplas viagens ali efectuadas entre 2012 e 2015, além de entrevistas com académicos e peritos norte-coreanos – dá-nos um vislumbre do recente desenvolvimento económico do país e da proeminência dada à ciência e tecnologia nesse processo. As descobertas de Kim também nos dão uma perspectiva sobre a Coreia do Norte que é impossível alcançar do retrato uni-dimensional do país como pária internacional, apresentado pelos media corporativos.

Kim apresenta a sua investigação numa série de quatro partes. A primeira discute o período de grave adversidade na Coreia do Norte nas décadas de 1990 e 2000, habitualmente mencionada pelos norte-coreanos como a "Marcha Árdua" e a importância que o país atribuiu à ciência e tecnologia para reconstruir a sua economia. A parte dois discute a solução inovadora da Coreia do Norte para a sua crise energética e a sua luta de duas décadas para irrigar suas terras agrícolas com consumo elétrico significativamente menor do que na era anterior. A parte três discute os avanços do país na produção de fertilizantes e a sua correlação direta com o progresso para alcançar a autossuficiência alimentar. E a parte quatro discute avanços na hidropônica e na utilização da energia solar e geotérmica para construir estufas colectivas a fim de alcançar autossuficiência alimentar e toda a sociedade.

Mas em primeiro lugar, uma palavra acerca do autor. Kim Soobok reside em Nova Jersey e propõe desde há muito a reunificação pacífica da península coreana. O seu interesse na ciência e tecnologia da Coreia do Norte começou em 2009 quando fez parte de um grupo de estudo sobre a história coreana. Ele e vários amigos participam da divisão local do Comité 15 de Junho para a Reunificação Pacífica e encontram-se de modo informal nas casas uns dos outros para se conhecerem e reaprenderem a história coreana. A primeira coisa que leram em conjunto foi "Duas Coreias, um futuro" ("Two Koreas, One Future"), um relatório publicado em 1986 pelo American Friends Service Committee com capítulos dos historiadores Bruce Cumings e Jon Halliday. Kim recorda-se de alcançar a compreensão do relatório, escrito em inglês – que não é a sua língua mãe – como um processo laborioso pois ele e os seus amigos tinham de procurar praticamente cada palavra no dicionário inglês-coreano.

Depois de um ano de encontros regulares, o grupo esgotou sua lista de leituras e não conseguir encontrar novo material para estudar. Assim, decidiram que cada pessoa deveria escolher uma área de interesse e fazer a sua própria investigação sobre esse tópico a fim de apresenta-la ao resto do grupo. Kim sabia o que queria estudar: a crise alimentar e energética da Coreia do Norte.

A Coreia do Norte acaba de sair do período conhecido como a "Marcha Árdua", marcado por escassez alimentar em massa. Muitos no ocidente familiarizaram-se com as imagens de norte-coreanos famélicos que circularam amplamente na Internet. "Naquele tempo, vídeos com testemunhos de desertores norte-coreanos estavam a circular no Youtube", explicou Kim. "Eles falavam acerca de famélicos norte-coreanos a comerem carne humana e coisas assim. Não acrediteis naquelas narrativas mas não sabia o que era verdade". Assim, ele decidiu investigar mais profundamente e descobrir o que a Coreia do Norte estava a fazer para alimentar o seu povo e gerar energia.

Kim pesquisou intensamente na Internet e acabou por saber do famoso químico norte-coreano Ri Sung-gi, mais conhecido por inventar o tecido sintético Vinalon.

"O entendimento do trabalho de Ri Sung-gi sobre o "têxtil juche" abriu os meus olhos para a filosofia da auto-confiança", disse Kim Soobok. Ele queria aprender mais e começou então a sua trajectória de estudo da ciência e tecnologia na Coreia do Norte.

Kim visitou a Coreia do Norte múltiplas vezes de 2012 a 2015 e viajou por muitas regiões, incluindo Nampo, Pyongsong, Anju, Namhung, Wonsan, Geumgangsan, Gaesong e a municipalidade de Saepo County, ao norte da DMZ [zona desmilitarizada]. Ali, ele visitou o Instituto de Ciência Vegetal Pyongyang, o Complexo Siderúrgico Chollima, o Complexo Químico da Juventude Namhung, a Fábrica de Telhas Chollima, os Pomares do Rio Daedong, o departamento de biologia da Academia Nacional de Ciências, a Rua dos Cientistas de Satélites e um centro de pecuária na Municipalidade de Saepo. A cada ida visitou também a feira internacional de comércio efectuada duas vezes por ano em Pyongyang e entrevistou peritos da Grande Sala de Estudos do Povo e da Academia Nacional de Ciências, bem como várias universidades, para aprender acerca dos sectores alimentar e energético da Coreia do Norte.

"Podem-se encontrar vídeos na Internet acerca destes lugares, mas aprendi muito mais por realmente estar ali pessoalmente e conversar directamente com as pessoas", diz Kim. "Cada dia era tão interessante que o tempo voava". Kim nunca estudou ciência, a qual sempre considerou como campo especializado reservado a peritos. Mas na Coreia do Norte ele descobriu que a ciência não é algo fora do alcance de pessoas comuns e ficou surpreendido pelo modo como aplicavam conhecimento científico simples para melhorar suas vidas quotidianas. "Se cientistas fossem à Coreia do Norte teriam muito a aprender e a fazer ali", afirmou. "Quero partilhar o que vi com pessoas daqui e ampliar o nosso entendimento do país".

Devido à proibição de viagens de Trump, Kim já não pode mais viajar à Coreia do Norte. No ano passado ele planeara comparecer à Feira Comercial Internacional de Rason e à Feira Comercial Internacional de Pyongyang e desejara aprender mais acerca do "fluxo em canais naturais" (os quais discute em profundidade na parte um desta série). Ele também planear comparecer ao Chuseok, o feriado nacional que celebra o fim da colheita, juntamente com os prisioneiros políticos repatriados que sofreram longas penas (os quais haviam sido aprisionados na Coreia do Sul durante as ditaduras de Syngman Rhee, Park Chung-hee e Chun Doo-hwan, sendo libertados e repatriados para o norte por ocasião da histórica cimerica Kim Dae-jung-Kim Jong-il, em 15 de Junho de 2000).

O mais recente conjunto de sanções de Trump à Coreia do Norte impediu Kim de estudar o país sob outros aspectos. Relatos no Youtube de vídeos educacionais sobre a Coreia do Norte foram encerrados. "Dois anos de colecta de vídeos desapareceram da noite para o dia", disse Kim. Ele arrepende-se de não ter tido a previdência de guardar os ficheiros no seu disco duro.

As descobertas que Kim apresenta nesta série de artigos fazem parte de um trabalho que estava em andamento quando a proibição de viagens de Trump o forçou a pô-lo em suspenso por tempo indefinido. Embora incompleta, a sua investigação, espera ele, pode contribuir para um melhor entendimento da Coreia do Norte e do seu povo.
06 de fevereiro de 2018
               
Ciência e tecnologia como o caminho para o progresso econômico
Após o colapso da União Soviética e do Bloco do Leste, na década de 1990, a Coreia do Norte perdeu oitenta por cento do seu comércio e assistiu a um declínio drástico na sua capacidade de importar petróleo. Imagine tentar sobreviver após uma queda súbita de oitenta por cento do seu próprio rendimento. É uma analogia imperfeita mas pode nos dar uma ideia da situação pavorosa do país naquele tempo.

Em Julho de 1994, em meio a esta crise, Kim Il-sung, o líder supremo do povo norte-coreano desde os tempos da luta armada anti-japonesa, faleceu subitamente. Para coroar tudo isto, nos Verões de 1995 e 1997 uma série de grandes inundações devastou o país numa escala sem precedentes.

Oitenta por cento da Coreia do Norte é montanhosa e a extração do carvão e minerais subterrâneos é a artéria vital da indústria norte-coreana. Era preciso bombear para fora rapidamente a água a fim de restaurar suas milhares de minas subterrâneas devastadas pelas inundações, mas a crise energética do país atingia o máximo e não havia eletricidade para operar as bombas.

A fibra sintética vinalon, extraída do carvão, era a base material para a maior parte do vestuário da Coreia do Norte, mas sem o carvão o país já não podia produzir têxteis. Com o minério de ferro também submerso, a produção de aço chegou a um impasse. Mas a maior dificuldade era a incapacidade da agricultura para alimentar o povo. Sem combustível, o país não podia bombear água para irrigar os campos de arroz. E o declínio nas importações de petróleo significava que a Coreia do Norte já não podia produzir fertilizantes baseados na nafta, um subproduto da refinação de petróleo. Esta agricultura devastada e o congelamento da produção de cereais marcaram o início do período conhecido como "Marcha Árdua". Levou muitos anos para a Coreia do Norte restaurar suas minas de carvão e normalizar a produção.

Os leitores nos Estados Unidos recordam-se do Furacão Sandy, o qual varreu partes de Nova Jersey e Nova York em Outubro de 2012. Ele derrubou ramos de árvores que já estavam sobrecarregadas por uma queda de neve anterior. Um ramo arrancado caiu sobre numa linha de transporte de eletricidade e isto provocou uma explosão numa subestação, a qual levou a um apagão numa vasta região que perdurou durante vários dias. A minha casa ficou sem eletricidade durante onze dias. Não podíamos cozinhar e não tínhamos calor, de modo que todos na minha família ficaram doentes. Acendemos velas e passámos noites a tiritar debaixo de cobertores. Os postos de gasolina não tinham eletricidade para operar as bombas. Os poucos que tinham geradores para ficarem abertos tinham filas infindáveis de pessoas.

Isto aconteceu nos Estados Unidos, os quais se consideram o país mais avançado, devido a um ramo de árvore caído após alguns dias de ventos fortes. Imagine o dano sofrido pelos norte-coreanos quando todo o país ficou submerso. Sem alimentos nem calor num país onde os invernos são longos e cruéis, o que terá experimentado o povo norte-coreano?

Enquanto isso, a Coreia do Sul ostentava o seu status como um dos dez países mais ricos do mundo e o seu povo gastava de maneira frívola seu rendimento disponível em férias além-mar. Os novos-ricos da Coreia do Sul deleitavam-se no laser ocioso em campos de golfe e bares na região autónoma coreana de Yanbian, na China. A administração do sul dessa época, de Kim Young-sam, aplicou todos os meios de pressão sobre o Japão para que abandonasse seu compromisso de enviar ao norte 50 mil toneladas de arroz como ajuda humanitária. Os Estados Unidos e a Coreia do Sul preparavam-se para o colapso da Coreia do Norte através dos seus numerosos exercícios militares conjuntos e os serviços de inteligência sul-coreanos encorajavam os media a divulgarem a previsão de que a Coreia do Norte entraria em colapso dentro de três semanas ou três meses, no máximo três anos.

Os norte-coreanos não falam muito acerca das suas dificuldades durante a Marcha Árdua. O que eles sofreram é inimaginável para o resto do mundo, mas têm grande orgulho no facto de que sobreviveram à beira do colapso e alcançaram o que consideram uma ressurreição tal como a fênix, através do próprio esforço e da adesão à sua filosofia nacional da autoconfiança. Eles têm grande fé na sua liderança e encaram a vitória na luta armada contra o Japão colonial, da geração anterior, como uma inspiração para a sua luta atual.

Após dezesseis longos anos de dificuldades, em 2008-2009 a Coreia do Norte finalmente começou a normalizar a produção em todas as indústrias nacionais. Ela declarou 2012, o qual assinalou o centenário do nascimento de Kim Il-sung, como o ano da "abertura da porta rumo a uma nação forte e próspera".

A aparentemente miraculosa recuperação da Coreia do Norte quando estava à beira do colapso resultou de decisões políticas chave tomadas pelo então líder norte-coreano Kim Jong-il o qual, em meio à sua própria batalha com o câncer, dirigiu o país no sentido de centrar-se no desenvolvimento da ciência e tecnologia na reconstrução das suas indústrias com base na filosofia da auto-confiança. Mesmo na altura da sua crise econômica, a Coreia do Norte, pensando à frente, decidiu apertar o cinto e atribuir seus recursos limitados ao desenvolvimento tecnológico a invés de compras de alimentos a curto prazo. Numa inspecção local a uma fábrica subterrânea de tornos automáticos, em 1995, Kim anteviu não apenas a restauração das fábricas aflitas do país como também o seu redesenho e reequipamento com tecnologia de vanguarda.

A auto-confiança e a importância da Ciência e Tecnologia
O princípio da autoconfiança – de que se pode e deve resolver os problemas utilizando seus próprios recursos e aptidões e não se tornar dependente de potências estrangeiras – foi a filosofia condutora do líder fundador da Coreia do Norte, Kim Il-sung, desde a luta anticolonial do povo coreano contra os japoneses. E esta tem sido a filosofia condutora do país desde então. A experiência da Coreia do Norte durante a Guerra Coreana – quando países que haviam prometido apoiá-la não cumpriram o fornecimento de armamentos no seu momento de necessidade desesperada – reafirmou a sua crença de que para garantir a sua sobrevivência ela não pode confiar em outros e precisa desenvolver os seus próprios recursos.

Kim Jong-un, seguindo os passos do seu pai e do seu avô, dá a mais alta prioridade ao desenvolvimento da ciência e tecnologia como o motor por trás da construção de uma "forte nação socialista" e encara os projectos dos cientistas como a chave para melhorar o sustento económico do povo. Em 2013, o comité central do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte anunciou um esboço dos seus planos para o "desenvolvimento da ciência e tecnologia na era de Kim Jong-un" e sua "Linha Byungjin", isto é, o desenvolvimento simultâneo da sua dissuasão nuclear e da economia. Esta delineou as seguintes prioridades principais que o país deveria resolver através da ciência e da tecnologia:

Aumentar a produção de cereais; Atender as necessidades energéticas do país; Utilizar recursos e know-how internos para criar uma "economia popular auto-susentada"; Modernizar a economia popular e alcançar a automação e integração da produção utilizando tecnologia de controle numérico por computador; e Fazer da ciência a base de todos os aspectos da sociedade, tais como gestão económica, educação, cuidados de saúde, atletismo, administração da terra, etc.

O objectivo declarado da Coreia do Norte é tornar-se uma sociedade em que o povo não mais de suor e trabalho para conseguir um escasso mínimo mas sim para viver confortavelmente através dos frutos do avanço científico e tecnológico. Kim Jong-un, mantendo o lema do seu pai, "Ponha os pé na sua terra e os olhos sobre o mundo", instruiu os membros do partido a elevarem a ciência e tecnologia da nação a um "nível globalmente competitivo" e a adquirir know-how avançado em indústrias de alta tecnologia, tais como as da informação, nanotecnologia e bio-engenharia.

Os cientistas na Coreia do Norte são altamente valorizados pelo serviço que prestam ao país e recebem tratamento preferencial. Sob a liderança de Kim Jong-un, a Coreia do Norte construiu complexos residenciais completamente novas para o pessoal de ensino da Universidade Kim Il-sung e para o Instituto de Tecnologia Kim Chaek, tendo destinado ruas inteiras com complexos de apartamento a cientistas envolvidos no Unha Rocket e nos programas de lançamento de satélites. O país também construiu uma área de lazer reservada unicamente a cientistas no Lago Yeonpung, próximo da cidade de Gaechon.

"Tornar todo o povo em talentos científicos e técnicos" é uma palavra de ordem nacional na Coreia do Norte. O partido estimula todo o povo, incluindo trabalhadores e agricultores, a tornarem-se pensados e inovadores científicos nos seus respectivos campos. A Academia Nacional de Ciência, a Academia Nacional de Ciência da Agricultura e a Academia Nacional de Ciência Médica trabalham em estreita colaboração com produtores em indústrias básicas e essenciais para promoverem as suas capacidades tecnológicas e capacitarem trabalhadores e agricultores a inovar novas tecnologias.

Nas próximas três partes discutirei o papel da ciência no aumento da produção de cereais na Coreia do Norte. Os requisitos chave para a produção cerealífera são fertilizantes, água, sementes e terra. Realmente, a pessoa que cultiva a terra é a mais importante, mas isso é outra discussão. A parte dois centra-se na luta de duas décadas da Coreia do Norte para obter água para os campos e a parte três acerca de avanços na produção de fertilizante. Sementes e terra são assuntos para nova investigação se no futuro eu tiver a oportunidade de viajar à Coreia do Norte no futuro.

Hidráulica na Coreia do Norte

Irrigar os campos – uma luta de duas décadas
Durante a ocupação da Coreia pelo Japão (1910-1945), o governo colonial retirava todo o arroz da Coreia em benefício do Japão, deixando quase nada para os coreanos. Ter arroz com caldo de carne naquela época era um luxo pelo qual toda a gente ansiava. Assim, imediatamente após a libertação, o aumento da produção de arroz tornou-se a principal prioridade agrícola da Coreia do Norte.

Segundo Jo Byeong-heon, sul-coreano perito em assuntos norte-coreanos, a Coreia do Norte construiu 40 mil quilómetros de canais de irrigação, bem como cerca de 1700 reservatórios e 25 mil estações de bombagem no período a seguir à libertação. No princípio da década de 1960, o país construiu mais 50 mil estações de bombagem nas áreas agrícolas e irrigou completamente toda a sua agricultura.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a Coreia do Norte sistematicamente produziu 3,5 a 4,3 milhões de toneladas de cereais por ano durante a década de 1960, bem como 5 a 6,5 milhões de toneladas nas décadas de 1970 e 1980. Esse número ascendeu firmemente para as 9 milhões de toneladas/ano em 1993, mas decaiu para 2,6 milhões em 1996, na altura da Marcha Árdua.

Quando a alta súbita nas importações de combustíveis e a escassez de eletricidade no princípio da década de 1990 paralisaram as estações de bombagem e a água já não podia chegar às terras agrícolas, a Coreia do Norte procurou respostas na ciência. Ela precisava de meios de irrigar sua agricultura sem depender da eletricidade e chegou a uma ideia simples mas radical. A ideia baseou-se no princípio da gravidade. Oitenta por cento da terra da Coreia do Norte é constituída por montanhas e terras altas onde a água da chuva se acumula naturalmente. Assim, os seus cientistas consideraram: se se puder conduzir a água dos cumes das montanhas para que fluam até as áreas agrícolas, já não serão mais precisas as estações de bombagem que consomem tanta eletricidade.

Assim, a Coreia do Norte começou a construir barragens em cotas altas, nas montanhas, e escavou centenas de quilômetros de canais a fim de conduzir a água para as planícies. Sem combustíveis para alimentar equipamento pesado, a construção, sobretudo em terreno montanhoso acidentado, foi toda feita por trabalho humano. Unidades voluntárias de dezenas de milhares de trabalhadores, agricultores, jovens e mulheres das províncias e cidades de todo o país vieram participar juntos neste projeto massivo de construção.

A construção principiou em 1999 e um novo projeto de canal foi completado em média a cada três anos. Transportar betão e equipamentos por centenas de quilómetros para o local da construção através de estradas más e com tempo inclemente não foi uma façanha fácil. E alimentar, vestir e abrigar dezenas de milhares de voluntários exigiu um nível de organização notável.

As equipes de construção, sobretudo jovens, aguentaram condições penosas nas montanhas, onde as temperaturas facilmente caem para 40º Celsius negativos nos meses mais frios do inverno. Elas cavaram túneis, centímetro a centímetro, para conduzir a água através das montanhas. Empurraram vagonetas cheias de entulho e rochas através de caminhos longos e estreitos, muitas vezes em subida, e transportaram materiais pesados com água até à cintura. Um vídeo norte-coreano de locais de construção recentes mostra pessoas que parecem sólidas e bem equipadas, mas em vídeos anteriores a maior parte dos trabalhadores parecia esquelética e estava de mãos nuas. Muito longe das suas famílias, eles cuidavam-se uns aos outros quando ficavam doentes.

O Estado cuidou dos filhos dos homens e mulheres que se voluntariaram para a construção dos canais nos seus muitos infantários por todo o país e nos centros de cuidados infantis próximos dos estaleiros de construção. Também estabeleceu áreas de descanso e recreação para os tempos livres das equipes de trabalho. Canções dedicadas à construção de canais descreviam-nos como heróis nacionais e o governo central homenageou aqueles que morreram a trabalhar nos canais como mártires revolucionários, concedendo as mais altas honras às suas famílias.

Se realmente entendermos o que custou ao povo da Coreia do Norte construir os "canais de fluxo natural" sob as mais amargas condições durante a Marcha Árdua, então entenderemos a resiliência que hoje fortalece a sociedade norte-coreana.

Eis alguns dos canais que a Coreia do Norte completou nas últimas décadas ou que estão atualmente em construção:

A construção do canal Gaechon-Lago Taesong começou em Novembro de 1999 e foi completada em Outubro de 2002. Ele estende-se por 100 milhas [160,9 km] e consiste de 90 canais em túnel e 21 reservatórios.

Milhares de trabalhadores voluntários construíram uma barragem maciça em Daegak-ri na Cidade de Gaechon e escavaram canais através de Sunchon, Pyongwon, Daedong e Jeungsan até o Lago Taesong na Cidade Nampo. A barragem em Daegak-ri eleva o nível da água do Rio Daedong e, deste modo, a água pode fluir naturalmente para várias regiões na Província Pyongan Sul, a jusante, através de canais feitos pelo homem, sem a utilização de energia eléctrica

O canal irriga 245 mil acres [99.147 hectares]. A província já não precisa das 380 estações de bombagem e 530 bombas de água que utilizava anteriormente e pode portanto poupar 60 megawatts-hora de electricidade por ano. O canal também proporciona água potável e ajuda a província a cumprir seus objectivos gerais de gestão da água, incluindo a prevenção de inundações na bacia do Rio Jaeryong. A província também construiu numerosas pequenas e médias hidroeléctricas ao longo do canal.

O canal Baekma-Cholsan é constituído por uma barragem em Baekma no Município Pihyun, Sinuiju e 174 milhas [280 km] de canais (ver Figura 1). A construção começou em Maio de 2003 e foi completada em Maio de 2005. O canal irriga aproximadamente 112 mil acres [45.325 hectares] e aumentou a produção anual de cereais em 100 mil toneladas por ano.

A construção começou em Fevereiro de 2016 e ainda está em curso. Ele começa no Lago Yeonpung, bem conhecido como área de repouso para os cientistas do país, próximo da Cidade de Gaechon, 65 milhas [105 km] a norte de Pyongyang. Ele conduzirá a água da região superior do Rio Chongchon para regiões não alcançadas pelo canal Gaechon-Lago Taesong: Gaechon, Sonam, Dokchon, etc (ver figura 1).

Canal Mirubol
A região Mirubol costumava bombar água do Rio Namgang, um afluente do Rio Daedong, e do Rio Ryesong. Mas dizem que a terra nesta região era tão estéril que os seus aldeões estavam sempre a adiar o seu cultivo. Assim, o lugar é chamado Mirubol, o que significa "adiar". Isso agora mudou com a construção do Canal Mirubol, uma formidável conduta de 137 milhas [220 km] construída para redireccionar o caudal das cabeceiras do lendário Rio Rimjin e criar canais em túnel através das vastas e escarpadas Montanhas Ahobiryong. Ele conduz a água do Reservatório Risang, de onde flui para várias regiões a fim de irrigar 63 mil acres [25.495 ha] em três municípios – Goksan, Singye e Suan (ver Figura 2). Foram eliminadas 80 das 106 bombas de água anteriormente usadas para irrigar a região e assim o canal poupa 27 MWh de eletricidade por ano.

O canal começa no Lago Jangsu e flui através de Haeju, Gangryong e Byoksong, acabando então em Ongjin. A construção começou em Janeiro de 2012 e foi completada em Novembro de 2016. O canal estende-se por 76 milhas [122 km] e consiste de 30 túneis de água e mais de 400 estruturas, tais como pontes de condutas subterrâneas. Irriga mais de 24 mil acres [9.712 ha].

Atualmente em construção, o Canal 2 a Sul da Província Hwanghae começa em Cheongdan e acabará em Yonan.

Outros projetos de gestão da água
Os veios de água subterrâneos escoam entre camadas de rocha. A Academia Nacional de Ciências da Coreia do Norte desenvolveu um aparelho que pode detectar veios de água a 300 metros abaixo do solo. Graças à localização destas fontes de água profundas a Coreia do Norte construiu centenas de cisternas por todo o país a fim de armazenar água para a prevenção de secas.

Cientistas norte-coreanos também desenvolveram métodos agrícolas que consomem menos água. Exemplo: utilizando canteiros secos para arroz; plantando menos plantas mas com maiores espaços entre sementes – o que realmente rende mais grãos; e transformando arrozais (paddies) onde a água é inacessível em campos para culturas de sequeiro. Além da gestão da água, a Coreia do Norte está também a reorganizar explorações agrícolas com o objectivo de mecanizar a agricultura.

Graças a estes esforços, a Coreia do Norte recuperou-se decididamente da sua crise alimentar da década de 1990 e está a progredir ano a ano rumo ao seu objetivo da autossuficiência alimentar. O país agora voltou sua atenção para a melhoria da qualidade da dieta popular através da diversificação de fontes de proteína, vegetais frescos e laticínios.

Na parte 3 apresentarei o progresso da Coreia do Norte na produção de fertilizantes e a sua correlação direta com o aumento da produção alimentar.

Enriquecer o solo – produzir para além da subsistência
Junto ao Rio Chongchon, em Namhung, Província de Pyongan Sul, está o grandioso Complexo Quimico da Juventude. Estabelecido em 1979, é uma das maiores instalações produtoras de fertilizantes da Coreia do Norte. Antes do período da Marcha Árdua , 1990-2000, a base material para a produção de fertilizantes era a nafta, um subproduto residual da refinação de petróleo. O Complexo de Namhung, bem situado próximo da Fábrica Química Bonghwa em Sinuiju, uma das duas refinarias de petróleo da Coreia do Norte, tinha assim acesso a uma fonte de nafta abundante. Também está próximo de Kaechon, o centro da produção de carvão da Coreia do Norte e fornecedor de combustível para o complexo, bem como do Rio Chongchon, fonte de água industrial. O complexo costumava produzir 360 mil toneladas de ureia fertilizante, 25 mil toneladas de polietileno e 10 mil toneladas de acrílico por ano.

Contudo, na década de 1990, o colapso da União Soviética e o sufocamento económico imposto pelas sanções levaram a um declínio drástico da capacidade da Coreia do Norte para importar petróleo bruto. Com o fim do acesso à nafta, a produção de fertilizantes estagnou. Foi então que o líder norte-coreano Kim Jong-il propôs a produção de um novo tipo de fertilizante a partir da antracite, abundantemente disponível naquele país montanhoso.

Entretanto, uma série de inundações catastróficas em 1995 e 1997 paralisou indústrias extractivas da Coreia do Norte e a tarefa de transformar carvão em fertilizante foi adiada indefinidamente. O país levou muitos anos para se recuperar plenamente dos danos das inundações e restaurar suas minas encharcadas em água. Só em 2009, a RDPC foi capaz de restaurar suas indústrias básicas, tais como o vinalon e a produção de aço. Animada pelos avanços tecnológicos que permitiram uma produção acelerada, a Coreia do Norte estabeleceu como objectivo tornar-se uma "nação forte e próspera". Aumentar a produção de fertilizantes a fim de promover a produção de cereais era um ponto crítico para o cumprimento deste objectivo.

Cientistas e engenheiros norte-coreano, incluindo peritos da Universidade de Tecnologia Kimchaek, finalmente tiveram êxito em gaseificar a antracite e, em 2009, o país pôde começar a produção em massa de fertilizantes a base de carvão. Trata-se de um processo complicado que envolve pelo menos nove passos, incluindo a gaseificação, a purificação do gás, a sua compressão e a síntese do amoníaco. Eles também construíram um separador de oxigénio de grande porte, componente essencial no processo de gaseificação, e fornalhas alimentadas a carvão pulverizado para aumentar a eficiência da produção.

De acordo com as notas que tomei na minha visita de Setembro de 2012, o Complexo Namhung produziu 350 mil toneladas de ureia fertilizante em 2011-2012. E de acordo com registos da Academia Nacional de Ciências da RDPC, em Maio de 2015, todo o país produziu 700 mil toneladas de ureia, 300 mil de fertilizante com fósforo e 300 mil de fertilizante com potássio, num total de 1,3 milhão de toneladas de fertilizante naquele ano. Cientistas e engenheiros no Complexo Namhung continuam a investigar meios para aumentar a produtividade e a eficiência enquanto reduzem o custo de produção. E mais de quatro centenas de subprodutos químicos do processo de produção de fertilizantes são reciclados pela indústria química do país como base para um vasto conjunto de produtos, incluindo tintas, fibra de polipropileno e matérias-primas farmacêuticas.

Biotecnologia e fertilizantes orgânicos
A super-utilização de fertilizantes químicos pode devastar o ambiente microbiótico natural do solo e torná-lo dependente para sempre da fertilização artificial. Portanto, a Coreia do Norte está agora a voltar o seu foco para a biotecnologia a fim de produzir fertilizantes orgânicos que ajudem os agricultores a revitalizar micro-organismos e reconstruir o conteúdo orgânico do solo.

O nitrogénio, o fósforo e o potássio – macronutrientes essenciais para as plantas – podem estar presentes no solo mas em formas que as plantas não os podem absorver facilmente. Os fertilizantes orgânicos introduzem micro-organismos que transformam os nutrientes em formas acessíveis às plantas. A Fábrica Patriota de Fertilizante Microbiano Composto é um instituto de investigação que utiliza nova tecnologia bioquímica para a produção em massa de fertilizantes microbianos compostos que fazem exatamente isso. O instituto tem instalações manufatureiras em todos os municípios do país para produzir fertilizantes com micro-organismos nativos nos solos locais. Agricultores locais também são estimulados a produzir localmente o seu próprio fertilizante orgânico utilizando métodos de baixa energia. Eles fazem compostagem de resíduos de plantas e esterco animal, a seguir por vezes aumentam o material composto com alguma forma de fertilizante químico.

A Fábrica Patriota de Fertilizante Microbiano Composto também é louvada pelo seu desenvolvimento de um acelerador inteiramente natural do crescimento de plantas , o Bonghwasan 1, fabricado através da extracção de componentes bioactivos de uma vasta variedade de plantas nativas da Coreia do Nortes. Em tempos de seca, as raízes das plantas precisam aprofundar-se no solo em busca de humidade e nutrientes. O Bonghwasan 1 promove o crescimento das raízes e promove a fotosíntese. O tratamento de sementes com Bonghwasan 1 antes da semeadura permite às plantas aguentarem secas através do aumento do comprimento das raízes em mais de 16 polegadas [41 cm] o que lhes permite absorver humidade e nutrientes no subsolo profundo. Raízes mais fortes e mais profundas também permitem às plantas suportarem chuvas e ventos fortes durante a época das monções.

A Cooperativa Agrícola Ryongjin, no município de Kaechon, que reforçou a fertilidade do solo com a adição de algas azuis ao composto químico, informou que depois de acrescentar Bonghwasan 1 ao tratamento das sementes as suas colheitas mal foram afectadas pela seca. Ela agora depende menos de fertilizantes químicos e é capaz de aumentar ainda mais o rendimento das colheitas. A Cooperativa Agrícola Gwanbong, no município Chunghwa, que sofria de crónica escassez de água devido à distância a que se encontrava do reservatório mais próximo, também relatou colheitas com êxito após a utilização do Bonghwasan 1. O seu milho não é afectado pela seca, informaram os agricultores, permanece saudável e intacto. A cooperativa antecipa um aumento no rendimento de 50 a 100 por cento.

A nova inovação da Fábrica Patriota de Fertilizante Microbiano Composto também está a revolucionar a produção de fertilizante orgânico. O processo de decomposição habitualmente envolve a perda de 80 a 90 por cento do resíduo orgânico na forma de dióxido de carbono e água. Portanto, produzir uma tonelada de composto normalmente exige dez toneladas de resíduo orgânico. Mas o instituto criou um novo tipo de catalisador bio-orgânico com resíduos de farelo de arroz e leguminosas como substrato que impede a perda de resíduos orgânicos no processo de decomposição e aumenta significativamente o rendimento do composto. Segundo Kim Seon-ok, o engenheiro-chefe da Cooperativa Agrícola Boseong, no Distrito Rangrang de Pyongyang, com a utilização deste novo catalisador "o que costumava exigir vinte toneladas de inputs agora exige apenas cinco".

Rumo à auto-suficiência alimentar
Graças a avanços na produção de fertilizantes, a cada ano a Coreia do Norte progride mais no rumo do seu objectivo da auto-suficiência alimentar. Segundo estimativa da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) das Nações Unidas, a produção de cereais da Coreia do Norte, a qual afundara-se para menos de 3 milhões de toneladas em meados da década de 1990, tem estado a aumentar constantemente. Em 2013 e 2014, o país produziu anualmente cerca de 5,3 milhões de toneladas de cereais – o suficiente para alimentar toda a população norte-coreana em níveis básicos de subsistência.

Outros indicadores também assinalam melhorias na qualidade de vida da Coreia do Norte. Segundo o Banco Mundial, a taxa de mortalidade infantil da Coreia da Norte, a qual ascenderá a quase 60 mortes por milhar de nascidos vivos no período da Marcha Árdua, caiu gradualmente e agora aproxima-se das 20 por mil, muito mais baixo do que a média mundial e apenas ligeiramente mais alta do que a dos seus vizinhos no Extremo Oriente e no Pacífico.

A esperança de vida na Coreia do Norte, a qual caira para menos de 65 anos no período da Marcha Árdua, também aumentou firmemente. Segundo o Banco Mundial, agora está a par da média mundial de 70 anos.

Diversificar a dieta da nação
Tendo cumprido seu objectivo de aumentar a produção cerealífera, a Coreia do Norte agora é capaz de voltar sua atenção para a melhoria da dieta nacional através da diversificação das suas fontes de proteína, lacticínios e vegetais. A Colina Sepo, na região norte da província Gangwon, por exemplo, está a ser transformada num complexo agro-pecuário para o fornecimento de lacticínios a todo o país. Ela abrange 122 mil acres [49,3 mil hectares] em três municípios – Saepo, Ichon e Pyonggang – mas antes era um deserto, terras incultas inférteis com solos ácidos provocados pelas cinzas de uma erupção vulcânica.

Em 2012, o recém empossado líder norte-coreano Kim Jong Un começou a executar a visão do seu pai e avô de transformar a área numa "exploração de classe mundial" e instruiu responsáveis do partido a elaborarem um plano. Depois de efectuar análises dos solos das terras ácidas, o país começou a transformá-las em pastos. Membros do Comité Central do Partido dos Trabalhadores, do Exército Popular e do Gabinete lideraram o esforço e pessoas com todos os estilos de vida, incluindo responsáveis do partido, funcionários do governo, barbeiros, recepcionistas e donas de casa, de todos os cantos do país, responderam ao apelo de apoiar Sepo Mound. Soldados puseram de lado suas armas e empunharam pás ao juntarem-se ao projecto.

Milhares de voluntários araram e cultivaram 122 mil acres. A terra fora abandonada durante tanto tempo que eles ainda encontraram fragmentos de bombas, granadas e minas da guerra de 65 anos atrás. Depois de limpar a terra de entulho e arrancar ervas daninhas, acrescentaram 60 mil toneladas de calcáreo e fertilizante Hukbosan para melhorar o solo. Eles descobriram turfa na base de reservatórios congelados e fizeram dezenas de milhares de correcções do solo, às quais aplicaram o precioso tónico para solos danificados. A seguir plantaram sementes de trevo e capins ricos em outros nutrientes que produzem boa forragem para animais de pasto. Quando novos brotos emergiram no ano seguinte, provocaram lágrimas de alegria.

As equipes também construíram todas as instalações necessárias para o pleno funcionamento do complexo:   milhares de residências, cercados para animais domésticos, um centro de investigação científica, um centro de processamento de animais, uma instalação de quarentena para animais doentes, centenas de instalações de produção de gás metano, instalações para forragens e manufactura de aditivos para forragens, bem como um quarteirão residencial para 50 peritos em pecuária do Instituto de Investigação Agrícola da Coreia do Norte. Graças a estes esforços, Sepo Mound é agora um vasto pasto fértil onde agricultores começaram a criar animais de pastoreio para produzir queijo e leite para distribuição por todo o país.

A Coreia do Norte também dispõe de pomares em grande escala, como o Pomar do Rio Daedong e o Pomar Gosan. O de Daedong tem uma instalação manufactureira automatizada para a produção de sumo de maçã e uma loja de retalho que vende uma grande variedade de produtos das macieiras, tais como sumo, champô e sabonetes.

Instalações de grande escala para o processamento de cereais e fábricas regionais produzem o essencial da cozinha coreana, tal como molho de soja, pasta de soja, pasta de pimenta vermelha, xarope maltado de arroz e fécula, bem como uma grande variedade de confeitarias. Empresas tais como as da Cerveja Rio Daedong, Cerveja Ryongsong e Cerveja Rason produzem a bebida com sabores que são característicos das suas respectivas regiões. Tornou-se habitual ver trabalhadores desfrutarem um copo de cerveja a caminho do trabalho – uma cena que não seria possível sem suficiente produção de cereais.

O mais impressionante é que agora quase todas as unidades da sociedade norte-coreana – cooperativas, unidades agrícolas, fábricas, negócios, etc – já são auto-suficientes na produção da carne e verduras para seu consumo. Com base no princípio da auto-suficiência, elas produzem gado em pequena escala e possuem cooperativas com jardins e estufas para a produção de legume destinados ao consumo próprio. Isto será analisado na próxima parte, a última, desta série.


Avanços na agricultura sustentável e nas energias renováveis
Na minha visita ao Complexo Químico da Juventude Namhung, em 2012, informaram-me que se tratava de uma fábrica de fertilizantes químicos e produtos plásticos. O número de pessoas no complexo era então de 12 mil, mas disseram que só uma parte deles – 3000 a 4000 – eram trabalhadores da fábrica e o resto fazia "outro trabalho". Naquele momento não entendi e não sabia o suficiente para perguntar o que significava isso. Só depois de aprender acerca dos métodos que a Coreia do Norte estava a introduzir para encorajar a autossuficiência alimentar a nível local é que entendi que as restantes 8000 pessoas não envolvidas diretamente na produção do complexo químico faziam parte do que eles chamam "operação de retaguarda". Elas são responsáveis pelo trabalho reprodutivo de criar porcos, galinhas e patos bem como plantar arroz e verduras para alimentar os trabalhadores da fábrica e suas famílias.

No sítio da construção da Central Hidrelétrica de vários níveis do Rio Chongchon, também, trabalhadores da "operação na retaguarda" criavam porcos e galinha e investigavam o melhor meio de plantar tomates e pepinos em estufas enquanto o ruído surdo da construção podia ser ouvido do outro lado da instalação. A equipe de "operação na retaguarda" é responsável pelo trabalho regenerativo de alimentar e sustentar os trabalhadores da central hidrelétrica em construção.

Analogamente, todas as unidades da sociedade norte-coreana – cooperativas agrícolas, fábricas, negócios, unidades militares, universidades, sítios de grandes construções, complexos de apartamentos, etc – têm equipes de "operação na retaguarda" que criam animais e plantam verduras para cuidar autonomamente das suas próprias necessidades alimentares. E a maior parte adotou um método de agricultura orgânica chamado "sistema de produção em circuito fechado" ("closed-loop production system"), um meio energeticamente eficiente de produzir alimentos pela reciclagem de resíduos a fim de minimizar inputs de recursos.

O melhor exemplo do sistema de produção em circuito fechado que testemunhei foi o Complexo Residencial para Cientistas de Satélites em Pyongyang – um complexo de 1,3 km2 de instalações residenciais para cientistas envolvidos no programa de lançamento dos satélites da Coreia do Norte. Foi construído em 2014 junto à Academia de Ciências do Estado e é dedicado aos cientistas do país como apreciação do seu serviço e para encorajar a investigação de alta tecnologia e a inovação.

Um milhar de famílias de cientistas residem em 24 edifícios de apartamentos e cada um deles tem um jardim comunal onde os residentes plantas verduras e colhem o que precisam para suas famílias. O complexo também tem quatro estufas onde plantam tomates, pepinos, cebolinhas e outras verduras frescas ao longo de todo o ano.

Na minha visita ali em Maio de 2015 fiquei contente por descobrir que a pessoa responsável pelas estufas do Complexo Residencial de Cientistas de Satélites era Ryang Hae-ok, esposa do bisneto do eminente químico norte-coreano Ri Sung-gi (ver a introdução desta série para uma breve descrição da vida e obra de Ri Sung-gi). Quando contei a Ryang que foi o trabalho de Ri no desenvolvimento do têxtil juche vinalon que inspirou minha jornada de estudo da ciência e tecnologia da Coreia do Norte ela ficou eufórica e deu-me uma saudação calorosa e acompanhou-me numa visita pessoal às estufas.

No interior da estufa há uma pocilga, por trás da qual está um pequeno tanque com plantas ricas em nutrientes a que chamam "erva proteica". Entre as raízes da erva proteica flutuante vivem peixes de águas lamacentas. Os resíduos dos peixes proporcionam nutrientes para as plantas, as quais por sua vez actuam como um sistema de filtro que pode ser colhido, limpando a água de modo a que possa ser reciclada continuamente. A erva é um sistema rico em proteínas que é misturada com o alimento para os porcos. As pessoas capturam e comem o peixe e alimentam o resto dos porcos. Os resíduos dos porcos e os restos dos vegetais são fermentados para produzir gás metano utilizado para cozinhar. O resíduo de um torna-se alimento para o outro e, deste modo, há uma reciclagem circular, um sistema sustentável.

O Instituto de Ciência Vegetal de Pyongyang
O Instituto de Ciência Vegetal de Pyongyang faz parte da Academia Nacional de Ciência Agrícola. É uma estufa hidropônica maciça localizada nos arrabaldes de Pyongyang.

Em 2008-2009 a Coreia do Norte, confiante na sua capacidade de aumentar a produção de cereais, depois de finalmente ultrapassar o período da Marcha Árdua e normalizar a produção de fertilizantes químicos baseados no carvão, estabeleceu um novo objectivo nacional: aumentar os vegetais e frutos na dieta do país. Para aumentar a produção frutícola, construiu o Pomar do Rio Daedong com 991 hectares e o Pomar de Gosan com 2974 hectares.

Para o aumento da produção o Instituto de Ciência Vegetal de Pyongyang foi estabelecido como modelo para investigar e desenvolver tecnologia de vanguarda no cultivo e partilhar suas realizações com cooperativas de todo o país.

Levou apenas um ano para as forças combinadas de instrutores e estudantes da Universidade Kim Il-sung e a unidade de construção do exército norte-coreano construírem o instituto como uma instalação de investigação no estado da arte. O instituto, que abriu as portas em Março de 2011, produz vegetais frescos, como tomates, pepinos, pimentos, rábanos e alfaces o ano todo. A área edificada com 600 mil metros quadrados abriga uma estufa com 300 mil metros quadrados e uma estufa hidropônica com 100 mil metros quadrados, bem como um laboratório de biologia no estado da arte. Inicialmente foi utilizada uma caldeira alimentada a carvão para aquecer a estufa, mas agora o instituto utiliza geotermia, vento e energia solar a fim de manter temperaturas óptimas em todas as estufas sem precisar de combustível fóssil.

O instituto efetua investigação para a melhoria da quantidade e qualidade das culturas do país. Seu objetivo declarado é aumentar os rendimentos das plantações para 2965 toneladas por hectare.

Algumas das investigações exemplares que o instituto faz atualmente incluem:

Cultivo de tomates e vegetais anuais na forma de uma árvore que pode produzir durante dez anos; Cultivo e aclimatação de novas variedades de vegetais ricos em nutrientes, tais como beterrabas amarelas, salsa, alho-cebola (combinação de alho e cebola), ginseng azul e "proteína vegetal" (vegetais folhados moldados como alface, ricos em proteínas); Ciência das estufas, tais como temperaturas e exposição à luz solar ótimas, tecnologia de irrigação e análise precoce do conteúdo de vegetais.

A estufa hidropônica do instituto utiliza cascas de cereais como meio de crescimento para agricultura aquática de uma variedade de vegetais. Mais de dez tipos de nutrientes de plantas são distribuídos por toda a estufa através de um sistemas de canalizações e o instituto investiga os nutrientes óptimos para diferentes variedades. Ao eliminar a necessidade de lotes de terra vastos e minimizar o espaço necessário para a agricultura, a hidropónica torna a automação e gestão agrícola mais simples.

A tecnologia do cultivo em estufa e hidropônica estudada e desenvolvida pelo Instituto de Ciência Vegetal de Pyongyang já está a ser replicada em unidades agrícolas especializadas em vegetais por toda a Pyongyang, tais como a Cooperativa Agrícola Chonnam no Distrito Hyongjesan, a Cooperativa Agrícola Daesong no Distrito de Daesong, a Cooperativa Agrícola Bongsu no Distrito Mangyongdae e a Cooperativa Agrícola Jangchon no Distrito de Sadong. Ela também se propaga a outras províncias, tais como a Unidade Agrícola Especializada em Vegetais na Província de Hamgyong Sul, bem como às cidades de Chungjin, Nampo, Hoeryong e aos municípios de Shinyang e Onsung.

Energia renovável
A Coreia do Norte fundou o Centro de Investigação Energética no âmbito da Academia de Ciências com o objectivo de reduzir a dependência do país em combustíveis fósseis e aumentar o desenvolvimento e utilização de energias renováveis. Como declarado em 2018 por Kim Jong-un, no Discurso de Ano Novo, o país pretende resolver sua questão energética principalmente através da energia hidroeléctrica e também através da utilização acrescida da energia eólica, geotérmica, solar e da biomassa.

Após anos de investigação e desenvolvimento, agora o país começou a adotar a utilização da energia renovável a uma escala nacional. Exemplo: está a produzir gás metano a partir de resíduos de porcos e unidades agrícolas para gerar energia e está a fornecer bombas de carneiro hidráulico a áreas agrícolas a fim de irrigarem terras sem precisar de electricidade. Também está a investigar meios de utilizar energia das marés e um número crescente de jovens cientistas opta pela energia renovável como campo de estudo.

Energia solar
A Coreia do Norte utiliza a energia solar de dois modos principais: para aquecer água através de sistemas de painéis solares térmicos e para converter a luz solar em energia eléctrica através de painéis solares fotovoltaicos.

Sistemas solares térmicos para aquecimento de água foram introduzidos no país na Feira Internacional de Outono de Pyongyang, em 2012, e desde então tornaram-se muito populares por toda a parte. Eles são instalados nos telhados para aquecer a água, a qual é então distribuída através do edifício para utilização familiar e para aquecimento de ambiente.

Os painéis solares têm grande procura. Eles são instalados com rastreadores do sol o que permite aos painéis moverem-se de acordo com a direcção do sol e aumentarem assim a sua eficiência.

As unidades de produção que costumavam confiar na rede eléctrica estatal agora produzem a sua própria electricidade convertendo a energia solar através dos painéis fotovoltaicos. Eles também fazem condicionamento do ar e aquecimento ambiente através de instalações geotérmicas e agora estão a enviar seus excedentes de energia para a rede eléctrica nacional. Um sistema de geração paralelo pelo qual as fábricas geram sua própria electricidade juntamente com a rede eléctrica nacional permite à energia fluir em ambas as direcções.

Centro de Gestão de Comunicações Móveis de Pyongyang
No Centro de Gestão de Comunicações Móveis de Pyongyang uma multidão de painéis solares cobre as paredes externas dos dois edifícios. Eles geram uma média de 240 quilowatts-hora por dia, ou 84.400 kWh por ano, e alimentam todas as operações do Centro, incluindo iluminação, equipamento, mais de uma centena de computadores na sala do centro de disseminação de ciência e tecnologia, bem como no ginásio interno e na cafetaria.

Na cobertura do Centro de Gestão de Comunicações Móveis há uma estufa que produz em abundância pepinos, margaridas e outros vegetais. A água aquecida do sistema solar de aquecimento é arrefecida a uma temperatura óptima e utilizada então para abastecer de água a estufa e uma área de pesca. Nos dias ensolarados a instalação é capaz de efetuar todas as suas operações através da energia solar sem depender da rede elétrica estatal.

A tecelagem da seda Kim Jongsuk Pyongyang está equipada com painéis solares com rastreadores e turbinas eólicas que produzem 30 kWh de eletricidade por hora ou mais de 10 mil kWh por ano. Toda a iluminação da fábrica, bem como sua sala de história, ciência e centro de disseminação de tecnologia, centro de computadores, centro cultural, dormitórios e centro de cuidados de dia são inteiramente alimentados pela energia gerada pela própria fábrica.

A Fábrica de Luminárias Samcholli produz lâmpadas LED para casas de repouso e centros de cuidados infantis, bem como a Rua Cientistas Mirae. A fábrica é alimentada com a energia gerada por painéis fotovoltaicos rastreadores do sol. Eles produzem centenas de quilowatts-hora por dia, isto é, dezenas de milhares por ano, e injeta o excedente de energia na rede eléctrica nacional.

Segundo um artigo sobre energia renovável publicado em 11 de Junho do jornal estatal Rodong Sinmun, a Cooperativa Agrícola Sinhwe, no município Samsu, um vale remoto cercado por montanhas escarpadas na Província Ryanggang, instalou painéis solares nos tectos de todos os edifícios residenciais e público e gera electricidade suficiente para efectuar toda a iluminação e os aparelhos de TV, bem como uma sala multimídia na sua escola. O exemplo estabelecido por essa cooperativa agrícola está agora a ser replicado em todas as outras aldeias do município.

A mesma edição do Rodong Sinmun também anunciou que a Fábrica de Equipamento Automatizado de Pyongyang, a qual produz turbinas eólicas, está agora a desenvolver sistemas de geração de energia híbridos que combinam a utilização do solar e do vento para gerar electricidade. A Quinta de Cogumelo, segundo o mesmo jornal, já combinou mais de uma centena de painéis solares com pequenas e grandes turbinas eólicas para criar um sistema de geração de energia que sintetiza os dois tipos de geradores.

Energia eólica
A energia eólica é uma fonte popular de energia renovável na Coreia do Norte e amplamente utilizada para bombagem de água.

A Fábrica de Equipamento Automatizado de Pyongyang, costumava produzir apenas pequenas turbinas com 1,5 kW de potência, mas agora produz turbinas com 100 a 250 kW. O governo norte-coreano está a investir no desenvolvimento do sector da energia eólica e muitas unidades de produção também estão a construir de modo autónomo suas turbinas eólicas.

O Estaleiro Naval Ryuongnam, em Nampo, é um pioneiro na utilização de energia renovável e desde há mais de uma década tem sido alimentado por energia eólica.

Segundo documentos exibidos no Centro de Investigação de Energia Natural da Coreia do Norte, o objectivo a longo prazo do país é gerar 15 por cento da electricidade do país através da energia eólica e aumentar a geração de electricidade através de energias renováveis para cinco milhões de quilowatts-hora em 2044.

De acordo com uma brochura norte-coreana de 2015 dirigida a investidores potenciais na Zona Turística Internacional Wonsan-Monte Kumgang, o investimento total necessário para construir um conjunto de energia eólica para abastecer de electricidade as áreas de Tongchon e Monte Kumgang é de US$39 milhões. A Coreia do Norte propõe executar o projecto em dois anos e financiá-lo através de um plano Build-Operate-Transfer (BOT) pelo qual o investidor estrangeiro operaria o complexo durante dez anos a fim de recuperar o seu investimento e então transferiria a propriedade para a Zona Turística Especial de Wonsan.

Calor geotérmico
O setor da energia renovável em que a Coreia do Norte fez os maiores avanços foi o do calor geotérmico.

A Fábrica de Maquinaria Geral Huichon Ryonha, na Província Chagang, foi uma das primeiras do país a instalar um sistema de aquecimento geotérmico. Em 2010, quando todo o país lutava para avançar e sair do período austero da Marcha Árdua, nos anos 1990 e 2000, a fábrica estava a desenvolver um sistema de produção em massa de máquinas-ferramenta com controle numérico no estado da arte para capacitar todos os sectores económicos básicos, tais como aço, fertilizantes, têxtil, produtos químicos e processamento alimentar, a modernizarem a sua produção. Por instrução do então líder norte-coreano Kim Jong-il no sentido de garantir que não só modernizassem a maquinaria como também tornassem seu lugar de trabalho um instalação no estado da arte, os engenheiros da fábrica equiparam-na com um sistema de aquecimento geotérmico. Toda a fábrica, sete vezes a dimensão de um campo de futebol e localizada nas altas montanhas da parte norte do país, é agora aquecida através de energia renovável e é confortavelmente cálida mesmo no pico do Inverno.

A Coreia do Norte também avança na investigação de meios mais eficientes e económicos de colectar água geotérmica. No passado, a fonte de água tinha de estar a 20 metros de profundidade e 15 graus Celsius para ser acessada, mas agora, com tecnologia melhorada, pode-se ter acesso à mesma mesmo nas regiões mais frias como o Município Samjiyon ao pé do Monte Baekdu, onde a fonte de água atinge apenas quatro graus Celsius, até lugares quentes como o Palácio da Escola Infantil Samjiyon.

Todos os edifícios novos na Coreia do Norte estão equipados com sistemas de aquecimento geotérmico e de ar condicionado. Exemplos: O Centro de Recreação Ryugyong, um moderno megaplex [1] de cinco andares em Pyongyang; a estufa de 929 metros quadrados no Instituto de Ciência Vegetal de Pyongyang; o maciço Centro de Ciência e Tecnologia e todos os recém construídos centros de cuidados infantis, casas de repouso e escolas são aquecidos e têm ar condicionado através da tecnologia geotérmica. E a energia geotérmica está agora a ser combinada com a solar e eólica para novo aumento de eficiência e potência.

Segundo uma notícia de 2016 no Meari, sítio de notícias online norte-coreano, fábricas do país estão agora a produzir em massa sistemas de aquecimento e de ar condicionado geotérmico que podem aproveitar água subterrânea a apenas três metros de profundidade.

Um artigo de 11 de Junho de 2018 no Rodong Sinmun descreve o plano da Autoridade de Comunicação da Província de Hwanghae Norte para a construção de um novo edifício de escritórios e sua discussão sobre se deveria instalar uma caldeira alimentada a carvão como fizera no passado ou tentar algo que nunca fora feito antes com a adopção da tecnologia geotérmica. O artigo chamou minha atenção pois refere-se não a uma agência na capital do país e sim a uma área remota sem peritos em energias renováveis. Depois de investigadores na Manufactura de Produtos de Alta Tecnologia da Província de Hwanghae Norte terem consultado centros de investigação científica de todo o país em busca da solução mais eficiente, dizia o artigo, o município optou por um sistema híbrido de geotermia e biomassa.

Metano e energia hidroeléctrica
A Coreia do Norte também encoraja cooperativas agrícolas a reciclarem resíduos para a produção de gás metano (CH4), um gás com efeito estufa produzido pela decomposição biológica de matéria orgânica. A Cooperativa Agrícola de Jangchon, em Pyongyang, por exemplo, recicla alimentos decompostos e resíduos animais a fim de produzir metano para fins de aquecimento e cozinha. Quando visitei a estufa solar no Complexo Residencial de Cientistas Unha também vi produção de metano a partir de restos de alimentos e estrume de porco, utilizado na cozinha.

Segundo um artigo de 11 de junho de 2018 no Rodong Sinmun, a Cooperativa Agrícola Unjong-ri, na Província Chagang, uma área montanhosa onde a maior parte das suas terras agrícolas estão em encostas, imaginou um meio de irrigar suas terras sem precisar de electricidade. No passado, bombear água para a encosta era difícil pois exigia muita electricidade e, portanto, o rendimento das colheitas na região historicamente havia sido fraco. Para resolver este problema, a cooperativa agrícola enviou seus trabalhadores ao Centro de Investigação em Energia Natural, da Academia Estatal de Ciências, a fim de estudar o princípio da operação e a tecnologia das bombas de carneiro hidráulico, alimentadas pelo poder da água sem precisar de eletricidade. Através da utilização desta tecnologia, agora a quinta é capaz de irrigar suas encostas e viveiros unicamente através da força da água.

Disseminação da inovação científica
Numa sociedade capitalista, a inovação científica é uma mercadoria utilizada para maximizar o lucro e ganhar poder sobre os competidores. Os capitalistas processam-se mutuamente para evitar que os concorrentes copiem suas inovações e forcem os consumidores a comprar sua tecnologia. Na Coreia do Norte, é exatamente o oposto: o governo central encoraja ativamente as pessoas a copiarem as inovações umas das outras.

"Aprenda ao seguir, ultrapasse ao seguir" é o slogan do chamado "movimento educativo com base experiência", amplamente promovido como uma matéria de política nacional. Todas as instalações de produção na Coreia do Norte e nas 3900 cooperativas agrícolas e de especialidade têm um "departamento de disseminação de tecnologia científica", onde trabalhadores podem estudar avanços científicos e tecnológicos relacionados com o seu campo de trabalho e discutir como adaptá-los às suas condições particulares. A biblioteca central do país e a biblioteca de Ciência e Tecnologia em Pyongyang disseminam os mais recentes avanços junto a departamentos de disseminação em instalações de produção por todo o país. Através da rede de educação a distância baseada na intranet, publicam resultados de investigações da Academia Estatal de Ciências, da Universidade de Tecnologia Kimchaek e da Universidade Kim Il-sung, bem como inovações e estudos de caso exemplares colhidos junto a instalações de produção do país.

Outro meio de o país encorajar operários e agricultores a adoptarem inovação e tecnologia recente é através da exibição de fábricas e quintas modelo como estudos de caso a fim de aprenderem com os mesmos e seguirem-nos. A Universidade de Tecnologia Kimchaek e a Academia Estatal de Ciências integra os avanços mais recentes e os sítios com as melhores práticas do país para construir instalações de vanguarda em vários campos. Dentre elas estão o Instituto de Investigação Vegetal de Pyongyang, a Fábrica de Cogumelos de Pyongyang, a Quinta de Especialidade Vegetal de Jangchon, a Quinta de Lampreias de Pyongyang, a Quinta de Tartarugas de Pyongyang e o Pomar do Rio Daedong.

Museus nacionais, tais como a Sala de Exposição das Três Revoluções e a Sala dos Cientistas Mirae, exibem modelos de fábricas e quintas para que trabalhadores e agricultores de todo o país vejam e estudem. Deste modo, fábricas e quintas modelo são replicadas em todas as regiões num intervalo de tempo de apenas um ano ou dois. Isto é um método de executar a política nacional de "tornar toda a população perita em ciência e tecnologia".

Exposições nacionais e locais que exibem os mais recentes desenvolvimentos científicos são também efectuados ao longo do ano. Um exemplo é o 33º Festival Nacional de Ciência e Tecnologia efectuado recentemente na Sala de Exposição das Três Revoluções em Pyongyang. O festival de duas semanas, de 23 de Abril a 3 de Maio de 2018, reuniu 1200 pessoas de 500 fábricas, cooperativas e escolas do país, cada uma ansiosa por exibir seus feitos tecnológicos. Os participantes foram seleccionados através de processo altamente competitivo a partir de um conjunto de 13.500 grupos totalizando 107 mil cientistas, técnicos, candidatos a doutoramento, jovens, estudantes e trabalhadores que exibiram suas inovações em feiras de ciência locais por todo o país. Só a escala do festival e processo de selecção dos participantes deu-nos a sensação de quanto a ciência e tecnologia são hoje abraçadas e celebradas na Coreia do Norte.

Ciência e tecnologia ao serviço do povo
As seguintes declarações são frequentemente encontráveis nos media de hoje norte coreanos e são indicativas da ênfase sobre ciência e tecnologia na era de Kim Jong Un:

A ciência e tecnologia levará ao desenvolvimento econômico da nação e o plano do cientista nos levará a um futuro brilhante.

A ciência e a tecnologia são o motor por trás da construção de uma forte nação socialista.

No espírito do slogan "Finque seus pés no terreno e ponha os olhos no mundo", nosso objetivo é transformar toda a população em cientistas e pensadores científicos.

As universidades e centros de investigação não deveriam viver apenas com o orçamento nacional mas tornarem-se produtores que criam produtos de vanguarda baseados nas suas inovações e reinvestem suas receitas para novo desenvolvimento tecnológico.

A política da Coreia do Norte sobre ciência e tecnologia na era Kim Jong Un está claramente refletida no discurso de Kim perante responsáveis chave do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores em Maio de 2013: "Vamos alcançar uma mudança radical no avanço científico e tecnológico para acelerar a construção de uma nação forte e próspera".

Tendo declarado o término de um dissuasor nuclear eficaz para defender-se de ameaças militares dos EUA, a Coreia do Norte agora mostra-se pronta para mudar o seu talento e recursos científicos para outro aspecto chave do seu combate contra a agressão estadunidense: construir uma nação economicamente robusta e autossuficiente a fim de desafiar o labirinto das sanções promovidas pelos EUA. O país encoraja seu povo a rejeitar a ideia de que só pessoas altamente educadas e peritos qualificados podem ser cientistas e treina pessoas comuns – agricultores, trabalhadores e jovens – na prática de aplicar a razão e buscar inovações baseadas em evidências a fim de melhorar as condições da sua vida diária.

Desafiando todas as previsões ocidentais de colapso iminente, o povo norte coreano não só sobreviveu à crise do período da Marcha Árdua como efetuou uma espantosa recuperação através da sua coragem e engenho científico. Quando alguém vai à Coreia do Norte – se tiver oportunidade – pode sentir de imediato que toda a sociedade zumbe com atividades destinadas a melhorar os meios de vida do povo, tais como alimentação e habitação. E o país está a fazer um progresso notável no setor da energia. Através da fidelidade à sua filosofia da autossuficiência e dos avanços científicos ao serviço do povo, eles estão determinados, assim parece, a mostrar ao mundo que é possível desafiar o estrangulamento do mundo capitalista a fim de criar uma alternativa sustentável.

Escrito por Kim Soobok

Tradução do resistir.info

Nota
[1] Megaplex: cinema com mais de 16 salas de projecção.

Publicado: Nova Cultura