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segunda-feira, 2 de setembro de 2019

5G impulsionará economia digital da China

 

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Shanghai, 2 set (Xinhua) -- Espera-se que a tecnologia 5G ajude a impulsionar um crescimento de 15,2 trilhões de yuans (US$ 2,1 trilhões) na economia digital da China de 2020 a 2025, disse no sábado Wang Zhiqin, vice-diretor da Academia Chinesa de Indústria e Tecnologia da Informação, subordinada ao Ministério da Indústria e Informatização.

Wang fez os comentários na Conferência Mundial de Inteligência Artificial 2019, que foi encerrada neste sábado em Shanghai.

Wang disse que a tecnologia 5G ajudará a aumentar o valor agregado da indústria da informação da China em 3,3 trilhões de yuans no período quinquenal. Ao mesmo tempo, contribuirá para um crescimento de 11,9 trilhões de yuans no valor agregado das indústrias de internet para veículos, manufatura e saúde.

A tecnologia 5G fornecerá uma infraestrutura chave para o desenvolvimento da economia digital da China, e a combinação do 5G com a inteligência artificial, big data e outras tecnologias vai revolucionar o formato da economia digital, assinalou Wang. 

Profissionais jurídicos: detenção de líderes dos grupos de Hong Kong pró "independência" ajuda a conter a violência

 Manifestantes contrários aos baderneiros de Hong Kong
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Hong Kong, 31 ago (Xinhua) -- Profissionais jurídicos de Hong Kong disseram que a detenção de líderes dos grupos políticos que advogam a "independência de Hong Kong" demonstrou o espírito do Estado de direito e ajudará a pôr o fim à agravada violência.
Joshua Wong Chi-fung, Agnes Chow Ting e Andy Chan Ho-tin foram detidos, confirmou a polícia de Hong Kong na sexta-feira. Eles estavam estreitamente envolvidos com os recentes incidentes violentos.
Prender os ofensores é conducente para manter a ordem social, disse CM Chan, vice-presidente da Sociedade de Lei de Hong Kong, na sexta-feira em uma conferência. "Quaisquer que sejam as reivindicações 'razoáveis' deles, eles não podem violar a lei."
Robin Li Weibin, consultor jurídico da Associação de Empresas Chinesas em Hong Kong, disse que a polícia apenas realiza as detenções depois de obter sólidas evidências, pedindo ao Departamento de Justiça da Região Administrativa Especial de Hong Kong da China (RAEHK) que traga os detentos aos tribunais o mais breve possível.
Wong e Chow são suspeitos de incitar pessoas a participarem de assembleias não autorizadas, entre outras, enquanto Chan é suspeito de causar distúrbios e atacar um oficial da polícia.
Um indivíduo condenado por provocar distúrbios em Hong Kong pode ser condenado por até 10 anos de cárcere. No ano passado, a Corte de Apelação Final de Hong Kong deixou claro que os casos de desordem pública que envolvem violência serão tratados severamente.
"Esse é o princípio geral atualmente aplicado. Eu espero que os tribunais mantenham em mente o que a Corte de Apelação Final disse e que deem sentenças graves", disse Grenville Cross, professor honorário de direito da Universidade de Hong Kong e ex-diretor da promotoria pública.
Os ofensores em incidentes violentos podem também enfrentar consequências severas. Os indivíduos que atacaram oficiais da polícia com coquetéis Molotov podem ser acusados de homicídio doloso, disse Cross. "Aqueles que operaram fábricas de explosivos podem ser acusados de produzirem materiais que podem causar risco de vida e a penalidade para isso é a prisão perpétua."
"Os planejadores nos bastidores ou chefes de quadrilhas receberão a penalidade mais alta", acrescentou Cross.
Sobre a recente violência online contra os oficiais da polícia, Li Weibin disse que as autoridades podem também processar aqueles que vazaram as informações pessoais dos oficiais da polícia e ameaçaram os membros de suas famílias.
Os profissionais jurídicos acreditam que o governo da RAEHK tem meios jurídicos abrangentes para conter a violência, incluindo o Decreto de Regulamentos de Emergência.
A conferência, realizada pelo Comitê Orientador de Assuntos Jurídicos da Associação de Empresas Chinesas em Hong Kong, reuniu mais de 140 profissionais do setor na sexta-feira para discutir soluções para a atual instabilidade social em Hong Kong, a partir de uma perspectiva jurídica. 

Comentário: Quatro lições que Washington precisa aprender com a guerra comercial com a China


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Beijing, 1º set (Xinhua) - Estudantes de muitas partes do mundo estão voltando para a escola nessa época do ano para um novo semestre. Assim como eles, também é hora dos falcões do comércio em Washington começarem a aprender pelo menos quatro lições de sua guerra comercial fútil com a China.
A primeira lição é que a China é uma unha não dobrada diante da tática americana de pressão máxima.
No domingo, parte das novas tarifas adicionais impostas pelo governo dos EUA sobre 300 bilhões de dólares americanos em importações chinesas entrou em vigor, enquanto o restante entrará em vigor no dia 15 de dezembro.
No entanto, a crescente ofensiva comercial de Washington que busca extrair concessões irracionais de Beijing caiu. Além disso, a determinação da China de lutar contra o aquecimento econômico dos EUA só se fortaleceu e suas contramedidas mais resolutas, medidas e direcionadas. Um porta-voz do Ministério do Comércio da China disse na quinta-feira que Beijing ainda tem medidas suficientes à sua disposição.

A segunda coisa que os homens tarifários da Casa Branca devem aprender é que a economia chinesa é forte e resistente o suficiente para resistir à pressão provocada pela guerra comercial em andamento.

Alguns nos Estados Unidos tentaram recentemente levar as empresas americanas a encontrar "alternativas à China". No entanto, o fato é que o investimento dos EUA na China ainda está aumentando. No primeiro semestre deste ano, as empresas dos EUA investiram 6,8 bilhões de dólares na China, um aumento de 1,5 por cento em relação ao mesmo período dos dois anos anteriores, de acordo com os dados mais recentes da empresa de pesquisa econômica de Nova York, Rongding Consulting. Entre eles, a Tesla lançou sua "super fábrica" ​​global em Shanghai.

Uma das principais razões para isso é que a China possui o mercado consumidor mais populoso do mundo, com mais de 400 milhões de intermediários.

Como o único país do mundo com todas as categorias industriais da classificação industrial da ONU, a China é capaz de fornecer uma cadeia industrial completa e uma cadeia de suprimentos para empresas multinacionais e reduzir o custo das empresas. Esta é uma vantagem que nenhum outro país pode oferecer no futuro próximo.

No momento, o governo chinês está buscando aumentar a proteção dos direitos de propriedade intelectual, nivelar o campo de atuação dos investidores estrangeiros e expandir o acesso dos investidores aos mercados chineses. Acredita-se que essas novas medidas de reforma e abertura trarão mais oportunidades de negócios para empresas de todo o mundo.

O terceiro fato que os radicais comerciais de Washington precisam parar de negar é que sua guerra comercial está prejudicando o povo e as empresas americanas.

As tarifas mais recentes sobre as importações chinesas atingirão pela primeira vez produtos que antes não eram diretamente direcionados, e a disputa comercial e tarifária iniciada pelos EUA provavelmente aumentará diretamente os preços de muitos itens do orçamento doméstico, como têxteis e roupas, calçados, brinquedos e assim por diante.

Pesquisadores do JPMorgan estimaram recentemente que as famílias americanas enfrentarão cerca de 1.000 dólares em custos adicionais de todas as tarifas de produtos chineses anualmente após a entrada em vigor das novas taxas, acrescentando que esses custos podem chegar a 1.500 dólares por ano se Washington prosseguir com sua ameaça de continuar subindo as tarifas.

A guerra comercial em andamento com a China também está prejudicando os investimentos e a fabricação das empresas. O Departamento de Comércio dos EUA disse na quinta-feira que revisou o crescimento da economia dos EUA no segundo trimestre para 2 por cento, abaixo dos 2,1 por cento estimados no mês passado.

Por último, mas não menos importante, os Estados Unidos devem aprender a se comportar como uma potência global responsável e parar de agir como um "valentão da escola". Como a única superpotência do mundo, ela precisa assumir sua devida responsabilidade e se juntar a outros países para tornar este mundo um lugar melhor e mais próspero.

Somente então, os Estados Unidos poderão se tornar grandes novamente.

Bolsonaro ameaça demitir braço direito de Paulo Guedes



Carlos da Costa, braço direito de Paulo Guedes, é acusado pelo presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Luiz Augusto de Souza Ferreira (na foto) de ter feito alguns pedidos 'não republicanos'. 'Um dos dois perderá a cabeça', ameaçou Bolsonaro
Afirmou nesta segunda-feira que pediu para o ministro da Economia, Paulo Guedes , apurar o relato do presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI ), Luiz Augusto de Souza Ferreira (na foto), que disse em entrevista à revista "Veja" ter recebido pedidos "não republicanos" do secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa.
 De acordo com Bolsonaro, os dois podem ser demitidos. A informação é do jornal O Globo.

— Eu tomei conhecimento. Estou louco para saber. Entrei em contato com o Paulo Guedes, para saber que pedido é esse. Um dos dois, no mínimo, vai perder a cabeça. Porque não pode ter uma acusação dessas. Daí vão dizer que ele ficou lá porque tem uma bomba embaixo do braço. Não é esse o meu governo. Já pedi para apurar.

Um dos dois, ou os dois perderão a cabeça — disse Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada em entrevista à "Veja", Ferreira afirma que Carlos da Costa quer demiti-lo porque ele não atendeu aos "aos pedidos não republicanos" feitos pelo secretário.

A reportagem também informa que o presidente da ABDI, que é vinculada ao Ministério da Economia, diz que tem provas para apresentar. Ele ainda disse que está seguindo a "determinação do presidente Bolsonaro de não atender vagabundo na administração pública".

Brasil247.com

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Onyx diz que governo vai rejeitar ajuda financeira do G7 para combater queimadas

"Agradecemos, mas talvez esses recursos sejam mais relevantes para reflorestar a Europa", disse o ministro Onyx Lorenzoni, que seguiu o roteiro de ataque camuflado de suposta 'defesa da soberania', enquanto a floresta brasileira arde em chamas, com mais de 26 mil focos de incêndios


PSL desautoriza Onyx e expõe racha na articulação política do governo (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

247 - Em meio a uma das maiores queimadas já enfrentadas pelo país, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que o governo rejeitará a ajuda do G7 para combater as queimadas na Amazônia, anunciada nesta segunda-feira (26) pelo presidente da França, Emmanuel Macron.
"Agradecemos, mas talvez esses recursos sejam mais relevantes para reflorestar a Europa", disse o ministro, que seguiu o roteiro de ataque camuflado de suposta 'defesa da soberania', enquanto a floresta brasileira arde em chamas, com mais de 26 mil focos de incêndios.
"O Macron não consegue sequer evitar um previsível incêndio em uma igreja que é um patrimônio da humanidade e quer ensinar o quê para nosso país? Ele tem muito o que cuidar em casa e nas colônias francesas", disse Onyx, ao blog do colunista Gerson Camarotti, do G1.
Apesar dos fatos apontarem negligência do governo Bolsonaro em conter a ação criminosa de fazendeiros e grileiros, inclusive apontada por documentos que mostram que os pedidos de ajuda de órgão como Ibama e Ministério Público Federal foram ignorados pelas Forças de Segurança Nacional, o ministro  Onyx disse que o Brasil pode ensinar "a qualquer nação" como proteger matas nativas.
"Aliás, não existe nenhum país que tenha uma cobertura nativa maior que o nosso", bravateou. "O Brasil é uma nação democrática, livre e nunca teve práticas colonialistas e imperialistas como talvez seja o objetivo do francês Macron. Aliás, coincidentemente com altas taxas internas de rejeição", acrescentou.

Fonte: Brasil247

terça-feira, 13 de agosto de 2019

ANARQUISMO


Doutrina e movimento que rejeitam o princípio da autoridade política e sustentam que a ordem social é possível e desejável sem essa autoridade. O principal vetor negativo do anarquismo dirige-se contra os elementos essenciais que constituem o ESTADO moderno: sua territorialidade e a consequente noção de fronteiras; sua soberania, que implica jurisdição exclusiva sobre todas as pessoas e propriedades dentro de suas fronteiras; seu monopólio dos principais meios de coerção física, com o qual busca manter essa soberania tanto interna como externamente; seu sistema de direito positivo que pretende sobrepor-se a todas as outras leis e costumes, e a ideia de que a nação é a comunidade política mais importante. O vetar positivo do anarquismo volta-se para a defesa da “sociedade natural”, isto é, de uma sociedade autorregulada de indivíduos e de grupos livremente formados. Embora o anarquismo se baseie em fundamentos intelectuais liberais, entre os quais, notadamente, a distinção entre Estado e sociedade, o caráter multiforme da doutrina torna difícil distinguir com clareza diferentes escolas de pensamento anarquista. Mas uma distinção importante é a que se estabelece entre o anarquismo individualista e o anarquismo socialista. O primeiro enfatiza a liberdade individual, a soberania do indivíduo, a importância da propriedade ou da posse privada e a iniquidade de todos os monopólios: pode ser considerado um liberalismo levado às suas consequências extremas. O “anarcocapitalismo” é uma variação contemporânea dessa escola (ver Pennock e Chapman, 1978, caps.12-14). O anarquismo socialista, ao contrário, rejeita a propriedade privada juntamente com o Estado, como a principal fonte da desigualdade social. Insistindo na igualdade social como a condição necessária para a máxima liberdade individual de todos, o ideal do anarquismo socialista pode ser caracterizado como a “individualidade na comunidade”. Ele representa uma fusão do liberalismo com o socialismo: socialismo libertário. A primeira exposição sistemática de ideias anarquistas foi feita por William Godwin (1756- 1836), e algumas de suas concepções podem ter influenciado os socialistas cooperativistas inspirados por Owen. Mas o anarquismo clássico, como parte integrante, embora contenciosa, do movimento socialista mais amplo, foi inspirado originalmente pelas ideias mutualistas e federalistas de PROUDHON. Proudhon formulou uma abordagem essencialmente cooperativista do socialismo, mas insistia em que o poder do capital e o poder do Estado eram sinônimos e portanto o proletariado não poderia vir a emancipar-se por meio do uso do poder de Estado. Estas últimas ideias foram vigorosamente divulgadas por BAKUNIN, sob cuja liderança o anarquismo se desenvolveu em fins da década de 1860 como sério rival do socialismo marxista no plano internacional. Ao contrário de Proudhon, Bakunin defendia a expropriação violenta e revolucionária da propriedade capitalista e da propriedade fundiária, o que levaria a alguma modalidade de coletivismo. O sucessor de Bakunin, o príncipe russo Piotr Alekseievitch Kropotkin (1842-1921), ressaltou a importância da ajuda mútua como fator da evolução social e foi um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da teoria do comunismo anarquista, de acordo com a qual “tudo pertence a todos” e a distribuição baseia-se exclusivamente nas necessidades. Em seu ensaio L’État, son rôle historique, publicado em francês em 1906, Kropotkin realizou uma análise penetrante da bête-noire dos anarquistas. A estratégia de Bakunin previa levantes espontâneos das classes oprimidas, tanto de camponeses como de trabalhadores industriais, em insurreições generalizadas no curso das quais o Estado seria abolido e substituído por comunas autônomas, ligadas federalmente em níveis regional, nacional e internacional. A COMUNA DE PARIS de 1871 – saudada por Bakunin como “uma negação ousada e franca do Estado” – aproximou-se desse modelo anarquista de revolução. No período subsequente ao seu esmagamento – que, segundo Engels, seria devido à falta de centralização e de autoridade e à sua dificuldade em valer-se com o desembaraço necessário de sua autoridade coercitiva –, cresceu a tendência para o socialismo com Estado, tanto do tipo marxista como do tipo reformista. Alguns anarquistas adotaram então a tática da “propaganda pelo ato” – atos de assassinato de grandes figuras políticas e de terrorismo contra a burguesia – com o objetivo de estimular insurreições populares. A consequente repressão ao movimento levou outros anarquistas a desenvolverem uma estratégia alternativa, ligada ao SINDICALISMO. O objetivo era transformar os sindicatos em instrumentos revolucionários do proletariado em sua luta contra a burguesia, e fazer deles, e não das comunas, as unidades de base de uma ordem socialista. Pretendia-se que a revolução viesse a tomar a forma de uma Greve Geral, durante a qual os trabalhadores assumiriam o controle dos meios de produção, da distribuição e da troca e aboliriam o Estado. Foi através do sindicalismo que o anarquismo exerceu, no período entre 1895 e 1920, a sua maior influência sobre os movimentos, trabalhista e socialista. Essa influência durou mais tempo na Espanha onde, durante a Guerra Civil (1936-1939), os anarcossindicalistas tentaram colocar em prática sua concepção da revolução. Desde o declínio do sindicalismo, o anarquismo teve uma influência apenas limitada sobre os movimentos socialistas, mas houve um renascimento notável das ideias e tendências anarquistas (nem sempre reconhecidas como tal) nos movimentos da Nova Esquerda na década de 1960. Atualmente, o anarcopacifismo, influenciado por uma tradição de anarquismo cristão, embora inspirado sobretudo pelas técnicas de ação direta não violenta popularizadas por M.K. Gandhi (1869-1948), é uma tendência significativa dos movimentos pela paz do Ocidente. Tanto o anarquismo individualista como o anarquismo socialista, expressos por Max Stirner (1805-1856), Proudhon e Bakunin, foram considerados suficientemente importantes para merecerem críticas detalhadas de Marx e Engels (ver Thomas, 1980), que, de um modo geral, concebiam o anarquismo como um fenômeno pequeno-burguês, ao qual aliava-se, no caso de Bakunin, o aventureirismo demagógico característico dos intelectuais déclassés e do LUMPEMPROLETARIADO. Enquanto tendência “sectária” obsoleta no interior do movimento socialista, o anarquismo refletia o protesto e o inconformismo da pequena burguesia contra o desenvolvimento do capitalismo em grande escala e o Estado centralizador que salvaguarda os interesses da burguesia. Esse protesto tomava a forma de negação, não de um qualquer Estado real, verdadeiramente existente, mas de “um Estado abstrato, o Estado enquanto tal, um estado que não existe em parte alguma” como escreveu Marx em A Aliança da Democracia Social e a Associação Internacional dos Trabalhadores (1873, seção II). E, o que é mais importante, o anarquismo negava o que havia de mais essencial, segundo a concepção de Marx e Engels, na luta pela emancipação da classe operária: a ação política de um partido independente da classe operária voltado para a conquista, e não para a destruição imediata, do poder de Estado. “Para os comunistas, escreveu Engels, a abolição do Estado só faz sentido enquanto resultado necessário da abolição das classes, pois, com o desaparecimento dessas, a necessidade do poder organizado de uma classe para subjugar as outras automaticamente desaparece também” (Marx, Engels, Lênin, 1972, p.27). O anarquismo sobreviveu a tais críticas e continua sendo uma importante fonte para a crítica da teoria e da prática marxistas. A opinião bastante generalizada de que os comunistas marxistas e os anarquistas concordam quanto ao fim (uma sociedade sem classes e sem Estado), mas divergem sobre os meios para alcançar esse fim, parece infundada. De nível mais profundo, a discordância versa sobre a natureza do Estado, sobre sua relação com a sociedade e com o capital, e sobre como a política, enquanto uma forma de alienação, pode ser transcendida.

GO Bibliografia: Ansart, Pierre, Marx et l’anorchisme, 1969 • Apter, David & James Joll (orgs.), Anarchism Today , 1971 • Guérin, Daniel, L’anarchisme, 1965; Anarchism, 1970 [O anarquismo: da doutrina à ação, 1968] • Kropotkin, P.A., Selected Writings an Anachism and Revolution, 1970 • Marx, Engels & Lenin, Anarchism and Anarcho-Syndicalism, 1972 • Nattaf, A., La révolution anarchiste, 1968 • Pennock, J.R. & J.W. Chapman (orgs.), Anarchism, 1978 • Tarizzo, D., L’anarchie, 1979 • Ternon, Y., Makhno, La révolte anarchiste, 1981 • Thomas, Paul, Karl Marx and the Anarchists, 1980 • Woodcock, George, Anarchism, 1963.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

O AGNOSTICISMO




Ao rejeitar qualquer esforço muito laborioso para negar a existência de Deus, Engels parece julgar essa tarefa não só pouco convincente, como também uma perda de tempo (AntiDuhring, parte I, cap.IV). Para ele e para Marx, a religião, exceto como fenômeno histórico e social, não era muito mais do que uma história da carochinha. A posição agnóstica de conservar o espírito aberto em relação ao assunto ou de admitir Deus como uma possibilidade não provada não era de tipo a ser levada muito a sério por eles. Marx e Engels consideraram a Reforma como “revolucionária” porque representou o desafio de uma nova classe ao feudalismo, mas também, a longo prazo, porque a derrocada da velha Igreja abria caminho para uma secularização gradual do pensamento entre as classes alfabetizadas, passando a religião a ser considerada, cada vez mais, apenas como uma questão privada. Marx escreveu em 1854, num ensaio intitulado “A decadência da autoridade religiosa”, publicado como artigo de fundo do jornal New York Daily Tribune , que, a partir da Reforma, as pessoas alfabetizadas” começaram a livrar-se individualmente de todas as crenças religiosas”: na França como nos países protestantes, a partir do século XVIII aproximadamente, quando a filosofia conquistou seu lugar de maneira definitiva. O deísmo era, a seus olhos, muito semelhante ao agnosticismo, uma forma cômoda de livrar-se de dogmas desgastados. Por ter alarmado as classes superiores, a Revolução Francesa provocou uma transformação, grande mas superficial, e uma aliança explícita entre tais classes e as Igrejas, que as agitações de 1848 fizeram reviver. Mas esta era já, então, uma aliança precária, e a autoridade eclesiástica só era reconhecida pelos governos na medida em que isso lhes era conveniente. Marx ilustrou essa situação mostrando como, na Guerra da Crimeia, deflagrada em 1854, em que a Grã-Bretanha e a França tomaram o partido da Turquia, os cleros protestante e católico desses países viram-se obrigados a orar pela vitória de infiéis contra cristãos. Isso, na opinião de Marx, faria de tais cleros, no futuro, ainda mais claramente, criaturas dos políticos. Segundo Engels, os estrangeiros cultos que se transferiam para a Inglaterra em meados do século surpreendiam-se com a solenidade religiosa ainda encontrada entre as classes médias naquele país, mas as influências cosmopolitas já estavam começando a se fazer sentir e a ter o que ele chamou de efeito civilizador em Sobre o materialismo histórico. A decadência da fé, que poetas como Tennyson e Arnold lamentaram com acentos patéticos, tocava-o pelo lado cômico. O agnosticismo passou a ser tão respeitável quanto a Igreja Anglicana, escreveu ele em 1892, e muito mais do que o Exército da Salvação; não passava, na realidade, de um materialismo “envergonhado” (“Introdução” a Do socialismo utópico ao socialismo científico). Engels analisou o agnosticismo em seu sentido filosófico, de incerteza quanto à realidade da matéria ou de causação, e foi dessa maneira que a expressão foi usada mais comumente pelos marxistas que vieram depois dele. Lênin, em particular, em sua polêmica contra o empiriocriticismo (1908, cap.II, 2) esforçou-se por sustentar que as novas ideias de Mach e de sua escola positivista não eram realmente diferentes das velhas ideias que haviam tido origem com Hume e que Engels havia combatido como uma forma perniciosa de agnosticismo. Admitir que nossas sensações têm origem física, mas tratar como questão aberta a possibilidade de que nos proporcionem informações corretas sobre o universo físico, era, na opinião de Lênin, apenas jogar com as palavras. (Ver também FILOSOFIA.)
VGK
Bibliografia: Lenin, V.I., Materialism and Empirio-criticism, 1908 (1962) [Materialismo e empiriocriticismo, 1975].

Fonte: Dicionário do Pensamento Marxista

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Zizek: por que os EUA podem guinar à esquerda


Por


por 
Tradução: Antonio Martins
Em Outras Palavras
Nos Estados Unidos, muitos dos chamados membros “moderados” do Partido Democrata preferem que Donald Trump mantenha a presidência, a uma vitória de Bernie Sanders ou de outro autêntico partidário de posições à esquerda. Neste sentido, são espelhos dos republicanos ligados ao establishment — como George W. Bush e Colin Powell –, que expressaram publicamente seu apoio a Hillary Clinton, nas eleições de 2016.
Num dos debates acalorados prévios à escolha do candidato democrata, semana passada, o ex-governador do Colorado, John Hickenlooper, advertiu que “poderíamos entregar a eleição para Donald Trump”, caso o partido adote posições radicais – como o Green New Deal, o programa de assistência médica pública e gratuita para todos, proposto por Bernie Sanders e outras iniciativas que mudam paradigmas.
O debate que se seguiu expôs claramente os dois campos no Partido Democrata: os “moderados” (que representam o establishment do partido, cuja face principal é Joe Biden) e os democratas socialistas (Bernie Sanders, talvez Elizabeth Warren e as quatro congressistas apelidadas por Trump de “esquadrão democrata” [Dem Squad], cuja face mais popular é agora Alexandria Ocasio-Cortez.
Esta disputa é provavelmente a mais importante batalha política que ocorre hoje, em qualquer parte do mundo.
Poder parecer que os moderados têm uma posição convincente. Afinal, os socialistas democráticos não são, claramente, radicais demais para conquistar a maioria dos eleitores? A verdadeira batalha não é pelos eleitores indecisos (e moderados), que nunca apoiariam uma muçulmana, como Ilhan Omar, cujos cabelos são cobertos por um véu? E o próprio Trump não sabe disso, tendo inclusive atacado o “esquadrão” e obrigado o conjunto do Partido Democrata a solidarizar-se com as quatro garotas, elevadas ao status de símbolos partidários?
Para os centristas do Partido Democrata, o importante é livrar-se de Trump e retornar à hegemonia normal, liberal-democrata, que as eleições de 2016 desfizeram.

Déjà Vu

Infelizmente, esta estratégia já foi testada: Hillary Clinton seguiu-a, e uma vasta maioria da mídia julgou que ela não poderia perder, porque Trump seria inelegível. Até mesmo dois ex-presidentes republicanos, Bush pai e filho, apoiaram-na, mas ela perdeu para Trump. Sua vitória solapou o establishment a partir da direita.
Agora, não seria a hora de e esquerda democrata fazer o mesmo? Como Trump há três anos, ela tem chance real de vencer.
Trata-se, é claro, de uma perspectiva que coloca o conjunto do establishment em pânico. Os economistas do mainstream preveem o colapso econômico dos EUA no caso de uma vitória de Sanders, e os analistas políticos de establishment temem a emergência de um socialismo de Estado totalitário. Ao mesmo tempo, esquerdistas moderados simpatizam com os objetivos dos socialistas democráticos mas advertem que, infelizmente, são irrealistas. Algo inteiramente novo está ocorrendo nos Estados Unidos
O mais animador, na ala esquerda do Partido Democrata é o fato de ela ter deixado para trás as águas paradas do Politicamente Correto, que afloraram recentemente nos excessos do movimento “Me Too”. Embora apoiem firmemente as lutas feministas e antirracistas, os integrantes desta ala estão focados em temas sociais como assistência universal à Saúde e as ameaças ecológicas.
Estão muito longe de ser socialistas loucos, interessados em transformar os EUA numa nova Venezuela. Simplesmente levam aos EUA um pouco da boa e velha social-democracia europeia. Basta um rápido olhar a seu programa para que fique muito claro: eles não representam ameaça maior às liberdades ocidentais que  Willy Brandt ou Olof Palme.

Tudo mudou

Mas ainda mais importante é que eles não são a única voz da jovem geração radicalizada. Suas faces públicas – quatro jovens mulheres e um velho homem branco – já contam uma história diferente. Sim, eles demonstram claramente que a maioria da jovem geração nos EUA está cansada do establishment em todas as suas versões. Também é cética sobre a possibilidade do capitalismo, tal com o conhecemos, lidar com os problemas que enfrentamos. Para eles, a palavra socialismo já não é um tabu.
Entretanto, o verdadeiro milagre é o fato de muitos que se somaram aos “velhos homens brancos”, como Sanders, serem integrantes da geração mais antiga de trabalhadores comuns, gente que frequentemente tendia a votar no Partido Republicano ou mesmo em Trump.
O fenômeno em curso é algo que os partidários das Guerras Culturais e das políticas identitárias consideravam impossível: antirracistas, feministas e ecologistas somando forças com o que era considerado a “maioria moral” de trabalhadores comuns. Bernie Sanders – e não a “nova” extrema direita – é a verdadeira voz da maioria moral, se é que este termo tem algum sentido positivo.
Portanto, a possível ascensão dos democratas socialistas não favorece a reeleição de Trump. Na verdade, John Hickenlooper e outros moderados estavam enviando uma mensagem a Trump, do debate. O que queriam dizer é: “podemos ser seus inimigos, mas tudo o que queremos é a derrota de Bernie Sanders. Não se preocupe. Se ele ou alguém semelhante for o candidato do Partido Democrata, não o apoiaremos. Nós, secretamente, preferimos que você ganhe”.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Futuro da Europa está ligado ao da China, diz especialista

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Por Federico Grandesso
Bruxelas, 25 jul (Xinhua) -- Nenhuma mudança importante é esperada sobre a política da União Europeia sob a nova liderança da UE, dada sua visão prática sobre a China e as relações bilaterais, e há muito espaço para uma cooperação bilateral, disse um especialista à Xinhua.
Cidadãos europeus vêem a China como uma civilização que remonta a milhares de anos, disse Fraser Cameron, ex-diplomata britânico e diretor do Centro UE-Ásia, com sede em Bruxelas, um centro de estudos dedicado a promover laços mais estreitos entre a UE e a Ásia.
Os europeus "olham para a China como um grande destino para o turismo, boa comida e grandes relíquias históricas, como a Grande Muralha da China. Além disso, os cidadãos da UE consideram a China uma grande potência econômica, portanto o futuro da Europa está ligado ao futuro da China", disse ele à Xinhua em uma entrevista recente.
Para aprofundar a compreensão e a confiança mútua, Cameron disse que deveria haver uma discussão muito aberta e franca sobre todas as questões importantes, como irritação comercial e reforma da OMC, e a UE e a China tiveram que trabalhar mais estreitamente na mudança climática.
"Eles devem apoiar o acordo nuclear com o Irã e minimizar as áreas de diferença", disse ele.
"A prioridade (para os dois lados) é lidar com os novos desafios do mundo comercial complexo em que vivemos, como o comércio eletrônico, a inteligência artificial e, obviamente, a reforma da OMC. Essas são áreas nas quais ambas as partes vão trabalhar" juntos nos próximos cinco anos ", disse Cameron.
Discorrendo sobre a questão da reforma da OMC, Cameron disse à Xinhua que a UE e a China têm uma responsabilidade especial de preservar o futuro da OMC.
Em termos de cooperação bilateral, ele disse que a UE concordou que a China é tanto um parceiro quanto um concorrente.
"Isso não é surpreendente, dada a enormidade do comércio entre a UE e a China e, inevitavelmente, haverá áreas em que os problemas ocorrerão. Mas a China não é vista como inimiga, porque a UE não tem nenhum confronto militar com Beijing", disse Cameron.
Questionado sobre o que a UE tem que fazer para enfrentar os EUA política interna, ele disse que "a política 'América Primeiro' tem o risco de nos levar rapidamente a um mundo de confrontos em vez de cooperação, e esse é o grande perigo".
Sendo assim, a UE tem que procurar outros parceiros e demonstra aos EUA que vale a pena preservar o sistema multilateral. Bruxelas quer desenvolver sua própria política em relação à China, levando em conta os interesses europeus, disse ele.
A fim de melhorar as relações com a China, Cameron disse que é necessário apoiar o contato entre pessoas e identificar mais áreas de cooperação, como a manutenção da paz, o desenvolvimento da África e o combate à pirataria, como foi alcançado no Leste da África.
"Acho que a China entende que a Europa tem muita experiência em lidar com a África. Tanto a UE como a China têm interesse em apoiar a estabilidade e a boa governança nesse continente", acrescentou Cameron. 

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Pesquisadores chineses desenvolvem novo meio para regenerar retina

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Beijing, 25 jul (Xinhua) - Pesquisadores chineses usaram um tipo de célula-tronco, as células iPS, para regenerar retina, o que cria potencial para desenvolver novas terapias para algumas doenças que causam cegueira, tal como a degeneração da retina.

As células iPS são um tipo de célula-tronco pluripotente artificialmente derivada de uma célula não pluripotente. Elas podem ser induzidas para ter as mesmas informações genéticas das células embrionárias iniciais.

Cientistas da Universidade Centro-Sul da China fizeram células iPS a partir de células somáticas na urina ou sangue dos pacientes e as induziram a se diferenciarem em células RPE, uma camada na parte posterior do olho.

Segundo a pesquisa publicada na revista acadêmica Acta Biomaterialia, as células RPE podem formar uma camada ultrafina de estrutura semelhante à retina.

Nos futuros estudos, os pesquisadores planejam transplantar a estrutura atrás da retina do paciente para ver se podem estabelecer a visão do paciente.

Como as células iPS são derivadas das células do paciente, evita-se a rejeição do transplante.

A degeneração da retina, que pode resultar em cegueira permanente, é uma das doenças de olho mais comuns entre as pessoas acima de 50 anos. 

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Escritório do Comissário do Ministério das Relações Exteriores da China em HK pede que EUA parem de enviar sinais errados para violência ilegal





Hong Kong, 24 jul (Xinhua) -- O Escritório do Comissário do Ministério das Relações Exteriores da China na Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK) instou na terça-feira que os Estados Unidos parem de enviar sinais errados para a violência ilegal.

O porta-voz do escritório do comissário expressou forte desaprovação e firme oposição contra as observações falsas de um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA sobre Hong Kong um dia atrás.

O porta-voz afirmou que é amplamente reconhecido que os princípios de "um país, dois sistemas", "Povo de Hong Kong governa Hong Kong" e um alto grau de autonomia na RAEHK têm sido fielmente implementados desde o retorno de Hong Kong à Pátria, e que o povo de Hong Kong desfruta atualmente de direitos democráticos e liberdades extensivas sem precedentes de acordo com a lei.

A acusação dos EUA da suposta "erosão da autonomia de Hong Kong" é uma tentativa de difamação preconceituosa e infundada por motivos políticos, acrescentou o porta-voz.
O porta-voz enfatizou que as ações extremas e violentas recentes em Hong Kong têm prejudicado severamente o fundamento do Estado de direito em Hong Kong, imposto uma grande ameaça à segurança e ordem pública, e atropelado a linha vermelha de "um país, dois sistemas."

"Instamos mais uma vez que o lado norte-americano evite aplicar padrões duplos, pare imediatamente de enviar qualquer sinal errado para a violência ilegal, e se abstenha imediatamente de interferir nos assuntos de Hong Hong e nos assuntos domésticos da China sob qualquer pretexto", disse o porta-voz.

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terça-feira, 23 de julho de 2019

Bolsonaro é o racista-chefe da Ku Klux Klan e do lixo branco brasileiro .




– A continuidade da escravidão com outros meios

por Jessé Souza [*]
Cartaz da conferência de Jesse Souza. Não se entende o Brasil sem compreender a função do racismo racial entre nós. Não existe preconceito mais importante entre nós já que ele tem o poder de definir e articular as relações entre todas as classes sociais no nosso país. É este preconceito que comanda a continuidade da escravidão com outros meios. Como esse mecanismo funciona na realidade cotidiana? Minha tese é a de que a escravidão, tanto no seu sentido econômico de exploração do trabalho alheio como no seu sentido moral e político de produção de distinções sociais, se manteve na prática inalterado desde a abolição da escravatura.
Fundamental para compreender este estado de coisas é a função que o ex-escravo abandonado e humilhado vai ter na sociedade pós-escravocrata. O ex-escravo é afastado do mercado de trabalho competitivo e passa a desempenhar as mesmas funções humilhantes e indignas que exercia antes. Seja tanto as funções de trabalho sujo, pesado e perigoso, para os homens, quanto as funções domésticas do antigo “escravo doméstico”, para as mulheres, as quais reproduzem todas as vicissitudes da antiga relação senhor/escravo. Faz parte do âmago desta relação não só a exploração do trabalho vendido a preço vil, mas também a humilhação cotidiana transformada em prazer sádico para o gozo cotidiano e para a sensação de superioridade e distinção social das classes média e alta.
Mas isso não é tudo nem sequer o principal. Os negros na base da pirâmide social brasileira sempre desempenharam uma função semelhante à casta dos intocáveis na Índia. Como nota Max Weber no seu estudo clássico sobre o Hinduísmo, os intocáveis possuem a função de legitimar toda a ordem social Hindu na medida em que todas as outras castas, mesmo as inferiores, são distinguidas positivamente em relação aos intocáveis.
Como a distinção social, ou seja, sensação de se saber superior a outros é tão importante na vida social quanto o dinheiro e a necessidade econômica, isso significa que uma classe social na qual todos podem pisar, humilhar, violar, agredir, e, no limite, assassinar sem temer consequências satisfaz, uma necessidade primitiva fundamental a todas as classes acima dela. É óbvio que uma sociedade deste tipo não é apenas desumana, desigual, primitiva e tosca, mas também, no limite, burra já que reproduzir exclusão social produz insegurança, pobreza e instabilidade social para todos. Mas este é o DNA da sociedade brasileira.
É importante notar que, paralelamente à condenação do negro à exclusão, o país passa a implementar a política abertamente racista da importação de imigrantes europeus brancos, na imensa maioria italianos, precisamente como no caso da família do excelentíssimo presidente Jair Bolsonaro. Uma parte considerável destes neobrasileiros ascende rapidamente, alguns inclusive à elite de proprietários e de novos industriais, mas boa parte irá constituir a classe média branca de grandes cidades como São Paulo. Nas outras grandes cidades brasileiras, como o Rio de Janeiro e Recife, os portugueses exerceriam o mesmo papel do italiano em São Paulo.
Trapeiro, S. Paulo.
Trapeiro, S. Paulo. Do estigma racial à violência contra os pobres
O imigrante branco, na maioria o italiano ou o português, irá constituir no Brasil, ao mesmo tempo em aliança e a serviço da elite de proprietários, uma espécie de bolsão racista e classista contra os negros e pobres que constituem a maior parte do povo. Para a elite isso significa a oportunidade de criminalizar e estigmatizar a soberania popular no nascedouro com a cumplicidade das classes médias e garantir só para si o orçamento do Estado via juros escorchantes, dívida pública, sonegação de impostos e outros assaltos legalizados. Para as outras classes, o preconceito universal contra o negro e ex-escravo, permite a construção de uma frente comum para a manutenção de uma distinção social positiva contra os negros o que eterniza o abandono, a humilhação e o genocídio desta raça/classe como política pública informal.
Mais interessante ainda para nossos propósitos aqui é a função do racismo contra o negro para os imigrantes que não lograram sucesso econômico na nova terra. Muitos imigrantes não conseguiram ascender à classe média verdadeira nem à elite. Boa parte vai constituir uma zona cinza que inclui a classe trabalhadora precária e o que poderíamos chamar de baixa classe média. O cotidiano de muitos destes não difere muito da vida do negro e do pobre brasileiro. Moram eventualmente no mesmo bairro e passam privações materiais. É precisamente nesta faixa social que o preconceito de raça é ainda mais importante. Afinal, a única distinção que este pessoal tem na vida é a brancura da cor da pele para exibir contra o negro.
Entrevistando pessoas desta classe social no interior de São Paulo, descendentes de italianos, como Bolsonaro e no lugar onde ele também nasceu, para meu livro A classe média no espelho (2018), notei um racismo que não tem nada de cordial. Bolsonaro é filho da baixa classe média de imigrantes para os quais a carreira no exército ou na polícia era a promessa de ascensão segura ainda que limitada. Neste contexto, não se casar com um negro ou com uma negra é a regra familiar mais importante e mais rígida. Aqui, o preconceito puro, o orgulho da cor da pele e da origem é a única distinção social positiva ao alcance. Se a elite e a classe média exploram economicamente – além de humilhar – os negros, aqui só se pode humilhar. Enfatizar uma distância social quase inexistente do ponto de vista econômico exige um racismo “racial” turbinado e levado às últimas consequências.
Este é também precisamente o caso do lixo branco Norte-americano que ajudou a eleger Trump, o objeto do desejo e de imitação de Bolsonaro. Os brancos do Sul dos EUA, inferiores social e economicamente ao branco do Norte, são, por conta disso, como uma espécie de compensação da riqueza inexistente, os racistas mais ferozes e ativistas de uma Ku Klux Klan que assassinava e linchava negros indiscriminadamente. Este é o caso de Bolsonaro e de seus seguidores no Brasil. E o que é a milícia carioca, com a qual Bolsonaro e seus filhos estão envolvidos até o pescoço, do que a Ku Klux Klan brasileira? Que existe para explorar e matar negros e pobres, os supostos bandidos das favelas?Manifestação em Porto Alegre.
Manifestação em Porto Alegre. Embora a elite e a classe média real e canalha também tenham votado nele, sua real base de apoio é o lixo branco brasileiro, próximo do negro e por conta disso ávido por criminaliza-lo, estigmatiza-lo como bandido e por assassiná-lo impunemente. A associação com a milícia, a tara pelas armas e o discurso de ódio é para matar o preto e o pobre. O que está por trás de Bolsonaro é racismo racial mais cruel e expresso do modo mais aberto e canalha que jamais se viu. O ódio à universidade pública está também ligado ao fato da universidade, agora, ter sido invadida por negros e pobres. Essa gente não estaria lá para estudar. Só poderia ser para fazer balbúrdia. Urge cortar as verbas para isso.
A irracionalidade de Bolsonaro, sua loucura e sua idiotice são a expressão perfeita do ódio racial brasileiro. O ódio que não se explica racionalmente, nem apenas por motivos puramente econômicos. O ódio do racista que se vê como fracasso social é um ódio de morte. Ele não compreende as razões de sua posição social e só tem ressentimento sem direção na alma e no coração. Ódio em estado puro que Bolsonaro expressa e exprime como ninguém. Bolsonaro é o líder da Ku klux Klan e do lixo branco brasileiro. É isso que o define e o explica mais que qualquer outra coisa.
[*] Sociólogo, brasileiro.
O original encontra-se em sens-public.org/article1418.html?lang=fr

domingo, 21 de julho de 2019

Presidente do Supremo Tribunal acusado de proteger família Bolsonaro


segunda-feira, 8 de julho de 2019

África obterá benefício com alívio das tensões comerciais China-EUA, dizem analistas


Nairóbi, 7 jul (Xinhua) -- A mais recente oferta da China e dos Estados Unidos para solucionar a questão comercial entre os dois sinaliza melhores tempos para o comércio mundial. Analistas ouvidos pela Xinhua avaliam que a África obterá benefícios imensos desta situação.
Cavince Adhere, acadêmico em Nairóbi em relações China-África, declarou que as ações relacionadas recentes da China e dos EUA eram um alívio bem-vindo para a economia mundial.
"A disputa comercial trouxe tensão para a economia mundial por tempo muito longo. A Organização Mundial do Comércio (OMC) está entre as instituições que recentemente disseram que a economia mundial em 2019 e 2020 continua a enfrentar ventos contrários devido à disputa comercial", lembrou Adhere, acrescentando que a trégua é então muito bem vinda.
Eric Mang'unyi, pesquisador da Universidade de Walter Sisulu na África do Sul, apontou que o anúncio da retomada das consultas econômicas e comerciais entre China e EUA demonstrou progresso e compromisso depois de meses de dificuldades.
Os analistas observaram que a disputa comercial iniciada pelos Estados Unidos teve um impacto negativo no comércio e economia mundiais.
"Há ondas de choque no comércio mundial", ressaltou Mang'unyi, observando que os Estados Unidos também travaram chifres com outros parceiros comerciais.
Nos últimos meses, instituições mundiais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial rebaixaram as projeções de crescimento para o continente africano, citando a prolongada guerra comercial EUA-China. Não é de interesse de ninguém que esta disputa continue, disse o pesquisador.
"O protecionismo não fomenta concorrência. Conduz à instabilidade de mercado. Algumas nações podem perder sua vantagem competitiva devido à disputa", apontou Mang'unyi.
Adhere acredita que a África como continente e seus países individualmente obterão benefícios com a trégua em muitos aspectos, incluindo experimentar um aumento na entrada de capitais.
"A África depende muito da entrada de capitais, comércio e investimento. E isso não pode vir se os dois países estiverem em uma disputa", salientou Adhere.
Ele avalia que a trégua fornece um impulso para a África, já que o continente se prepara para instalar uma área de livre comércio, que deve aumentar o comércio e investimento.
O comentarista queniano, Philip Etyang, exaltou que a medida para terminar o impasse é uma boa coisa para o Quênia porque "o comércio mundial é interconectado".
Se as coisas não estão funcionando bem entre os gigantes econômicos, o Quênia sentirá a dor, acrescentou.
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quinta-feira, 23 de maio de 2019

Xi exige novos avanços no crescimento da região central da China

2019-05-23 11:17:41丨portuguese.xinhuanet.com
CHINA-JIANGXI-XI JINPING-INSPECTION-CENTRAL REGION-SYMPOSIUM (CN)

 (Xinhua/Xie Huanchi)
Nanchang, 22 mai (Xinhua) -- O presidente Xi Jinping exigiu esforços para promover a força abrangente e a competitividade da região do centro do país e fazer novos avanços na ascensão da região central do país.
Xi, também secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCC) e presidente da Comissão Militar Central, fez as observações durante sua viagem de inspeção à Província de Jiangxi, de segunda a quarta-feira.
Durante a inspeção, Xi presidiu um simpósio de trabalho sobre a ascensão da região central e pronunciou um discurso.
NOVA LONGA MARCHA
A primeira escala de Xi na cidade de Ganzhou, em Jiangxi, foi na JL MAG Rare-Earth Co. Ltd. Ao visitar a companhia na segunda-feira, ele sublinhou a inovação científica e tecnológica para elevar o nível tecnológico de exploração de terra rara, que é estrategicamente importante mas não-reciclável.
Chegando ao distrito de Yudu na tarde de segunda-feira, Xi prestou homenagem a em um monumento que marca a partida da Longa Marcha pelo Exército Vermelho Central e se reuniu com as famílias dos veteranos do Exército Vermelho e mártires revolucionários.
Observando que a China está em "uma nova Longa Marcha", ele disse que o país dependerá da firme fé e forte vontade do Partido inteiro e de todas as pessoas para superar os principais desafios no país e no exterior e assegurar novas vitórias na construção do socialismo com características chinesas.
Ao visitar uma fazenda local de vegetais, Xi reiterou a aspiração original do PCC, que foi combater pelo bem-estar do povo e a revitalização nacional.
No vilarejo de Tantou, na vila de Zishan, Xi visitou Sun Guanfa, um aldeão e veterano, em sua casa. Ao examinar cuidadosamente a cozinha, o quarto, o quintal e o banheiro, Xi ficou contente com a melhora nas condições de moradia e higiene da família de Sun.
Ele exigiu que todas as regiões e todos os departamentos façam mais esforços para assegurar vidas decentes para a população nas bases revolucionárias antigas durante a fase decisiva de alívio da pobreza.
Quando ele deixou o vilarejo, os aldeãos se reuniram na saída para se despedir dele e alguns deles chegaram mesmo a chorar.
ASCENSÃO DO CENTRO DA CHINA
No simpósio em Nanchang sobre a promoção da ascensão da região central chinesa, realizado na tarde de terça-feira, Xi disse que a ascensão do centro da China é um passo crucial na direção de completar o processo de construção de uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos e alcançar a modernização socialista.
A China deve ter a mente sóbria sobre a natureza de longo prazo e a complexidade dos fatores desfavoráveis tanto nacionais como internacionais e estar bem preparada para quaisquer circunstâncias difíceis, enfatizou Xi, acrescentando que a coisa mais importante para a China é fazer bem o seu trabalho.
Ele deu uma instrução de oito pontos sobre o desenvolvimento do centro da China, que consiste em facilitar o crescimento de alta qualidade da indústria manufatureira, promover a capacidade de inovação em importantes áreas, melhorar o ambiente de negócios, empreender a distribuição e a transferência de indústrias emergentes, expandir a abertura de alto nível, seguir o desenvolvimento sustentável, melhorar o meio de vida da população e otimizar as políticas e instituições.
Na manhã de quarta-feira, Xi ouviu um relatório de trabalho das autoridades provinciais de Jiangxi e lhes pediu que estabeleçam o exemplo na aceleração do desenvolvimento de alta qualidade das bases revolucionárias antigas e compitam pela vanguarda no avanço da ascensão da região central.
Ao descrever Jiangxi como uma terra cheia de história e memórias revolucionárias, Xi pediu por um entendimento profundo sobre o estabelecimento de poder político do PCC, da República Popular da China e do socialismo com características chinesas, todos obtidos dificilmente, e exigiu maiores esforços para continuar com o espírito e tradições revolucionárias. 
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sábado, 18 de maio de 2019

Bruno Bauer e o Início do Cristianismo


Friedrich Engels
11 de Maio de 1882

Em Berlim, em 13 de abril, morreu um homem que atuou como filósofo e teólogo, mas, durante anos, dificilmente se ouvia falar dele, somente atraindo a atenção pública eventualmente como um "literato excêntrico". Teólogos oficiais, inclusive Renan, corresponderam-se com ele e, mesmo assim, mantiveram sobre ele um silêncio de morte. E ele valia mais do que todos eles e fez mais que todos eles em uma questão que também interessa a nós, Socialistas: a pergunta pela origem histórica do Cristianismo.
Por ocasião da sua morte, vamos fazer um breve relato da situação atual da questão, e da contribuição de Bauer para a sua solução.
A visão que dominou os livres-pensadores da Idade Média incluindo os Iluministas do século XVIII, de que todas as religiões eram obra de enganadores, e, portanto, o Cristianismo também, não era mais suficiente depois que Hegel fixou para a filosofia a tarefa de mostrar a evolução racional na história mundial.
É claro que se espontaneamente surgem religiões - como a adoração de feitiços dos Negros ou a religião comunal dos arianos primitivos — sem qualquer engodo inicial, entretanto, o engano, através dos sacerdotes, logo se torna inevitável no seu desenvolvimento subsequente. Apesar de toda fé sincera, religiões artificiais não podem permanecer, desde a sua fundação, sem engano e falsificação histórica. O Cristianismo, também, pode se gabar de grandes realizações a este respeito desde o início, como Bauer mostrou em sua crítica do Novo Testamento. Mas isto somente confirma um fenômeno geral e não explica o caso particular em questão.
A religião que subjugou o Império Romano e dominou sem dúvida a maior parte da humanidade civilizada por 1.800 anos, não pode ser explicada apenas declarando ser ela uma tolice resultante de fraudes. Não se pode elucidar esta questão e ter sucesso na explicação da sua origem e do seu desenvolvimento sem partir das condições históricas sob as quais surgiu e alcançou o domínio da situação. Isto se aplica ao Cristianismo. A questão a ser solucionada, então, é: como aconteceu que as massas populares no Império Romano preferiram esta tolice — que era aceita, normalmente, pelos escravos e oprimidos — a todas as outras religiões, e, finalmente porque o ambicioso Constantino viu na adoção desta religião tola o melhor meio de elevar a si mesmo ao posto de autocrata do mundo romano.
Bruno Bauer contribuiu mais para a solução desta questão que qualquer outra pessoa. Não importa quanto os teólogos meio-crentes do período da reação tenham lutado contra ele desde 1849, ele irrefutavelmente demonstrou a ordem cronológica dos Evangelhos e sua interdependência mútua, demonstrada por Wilke do ponto de vista puramente linguístico, pelo próprio conteúdo dos Evangelhos. Ele expôs a carência completa de espírito científico da vaga teoria de mito de Strauss, de acordo com a qual se pode considerar como histórico tudo quanto se gosta nas narrações do Evangelho. E, se quase nada do conteúdo inteiro dos Evangelhos é historicamente provável — de forma que até a existência histórica de Jesus Cristo pode ser questionada — Bauer tem, assim, iluminado os fundamentos para a solução da pergunta: qual é a origem das ideias e pensamentos que foram tecidos como uma espécie de sistema no Cristianismo, e como veio ele a dominar o mundo?
Bauer estudou esta pergunta até a sua morte. Sua investigação alcançou seu ponto alto na conclusão que o judeu de Alexandria, Filon, que ainda vivia por volta de 40 D.C., mas já era muito velho, foi o pai verdadeiro do Cristianismo, e que o estóico romano Sêneca era, por assim dizer, seu tio. A escrita numerosa atribuída a Filon que nos alcançou tem origem realmente em uma fusão alegórica e racionalisticamente concebida das tradições judaicas com as gregas, particularmente a filosofia estoica. Esta conciliação de perspectivas ocidentais e orientais já encerra todas as idéias essencialmente Cristãs: o pecado inato do homem, o Logos, a Palavra, que está com Deus e é Deus e que se torna o mediador entre Deus e homem: a compensação, não por sacrifícios de animais, mas trazendo-se o próprio coração a Deus, e finalmente a característica essencial que na nova filosofia religiosa, invertendo a ordem mundial anterior, busca seus discípulos entre os pobres, os miseráveis, os escravos, e os rejeitados, e menospreza o rico, o poderoso e o privilegiado, originando o preceito para menosprezar todo prazer mundano e mortificar a carne.
Por outro lado, Augusto via em si mesmo não só o Deus-homem, mas também a chamada concepção imaculada que se tornou fórmula imposta oficialmente. Ele não só teve César e ele mesmo idolatrados como deuses, mas também espalhou a noção que ele, Augustus Caesar Divus, o Divino, não era filho de um pai humano, mas que sua mãe o concebeu do deus Apolo. Mas não seria talvez o Apolo citado na canção de Heinrich Heine[Referência a Apollgott, de Heine.].
Como vemos, nós precisamos apenas da pedra fundamental e teremos o conjunto do Cristianismo em suas características básicas: a encarnação da Palavra se torna homem em uma pessoa definida e seu sacrifício na cruz traz a redenção da humanidade pecadora.
As fontes mais confiáveis não nos dão certeza sobre quando esta pedra fundamental foi introduzida nas doutrinas estóico-filônicas. Mas uma coisa é certa: não foi introduzida por filósofos, nem discípulos de Filon ou estóicos. As religiões são fundadas por pessoas que experimentam uma necessidade própria de religião e têm uma percepção das necessidades religiosas das massas. Como regra, este não é o caso dos filósofos clássicos. Por outro lado, nós observamos que em tempos de decadência geral, agora, por exemplo, a filosofia e o dogmatismo religioso geralmente aparecem em sua forma vulgar e superficial. Enquanto a filosofia grega clássica em suas últimas formas — particularmente na escola Epicurista — leva ao materialismo ateístico, a Filosofia grega vulgar leva à doutrina de um Deus único e da imortalidade da alma humana. O Judaísmo também, racionalmente vulgarizado em mistura e intercurso com estrangeiros e meio-judeus, acaba negligenciando a cerimônia e transforma o antigo deus judeu exclusivamente nacional, Jahveh, no único Deus verdadeiro, o criador de céu e Terra, e adota a ideia da imortalidade da alma, que era estranha ao Judaísmo inicial. Deste modo, a filosofia vulgar monoteísta entrou em contacto com a religião vulgar, a qual presenteou com o já elaborado Deus único. Assim, o caminho foi preparado pela elaboração entre os judeus das também vulgarizadas noções filônicas, e não dos próprios trabalhos de Filon, das quais o Cristianismo procede, como está provada pelo quase total descuido com que foi composta a maior parte do Novo Testamento, particularmente a interpretação alegórica e filosófica das narrações do Velho Testamento. Este é um aspecto ao qual Bauer não dedicou atenção suficiente.
Pode-se ter uma ideia do que era o Cristianismo em sua forma inicial lendo o chamado Livro do Apocalipse, de São João. Selvageria, fanatismo confuso, dogmas incipientes, a moral Cristã é apenas a mortificação da carne, mas há uma multidão de visões e profecias. O desenvolvimento dos dogmas e doutrinas morais pertence a um período posterior, no qual os Evangelhos e as chamadas Epístolas dos Apóstolos foram escritos. Nestas últimas — pelo menos como consideração moral — a filosofia dos estoicos, de Sêneca em particular, foi copiada sem qualquer cerimônia. Bauer provou que as Epístolas, frequentemente, copiam os antigos palavra-por-palavra; de fato, qualquer fiel nota isto, mas mesmo assim eles mantêm que Sêneca copiou o Novo Testamento, embora ele ainda não houvesse sido escrito naquele tempo. O dogma foi desenvolvido, por um lado com relação à lenda de Jesus que estava, então, se formando, e, por outro lado, na luta entre cristãos de origem judaica e de origem pagã.
Bauer também fornece dados valiosos sobre as causas que ajudaram o Cristianismo a triunfar e atingir a dominação mundial. Mas aqui o filósofo alemão é impedido por seu idealismo de ver claramente e formular precisamente. As frases frequentemente substituem a substância em pontos decisivos. Ao invés, então, de entrar em detalhes sobre as visões de Bauer, daremos a nossa própria concepção deste ponto, baseados em trabalhos de Bauer, e também em nosso estudo pessoal.
A Conquista romana dissolveu em todos os países que dominou, primeiro, diretamente, as condições políticas antigas, e depois, indiretamente, também as condições sociais de vida.
Primeiramente, substituindo a antiga organização fundamentada nas propriedades (escravidão à parte) pela distinção simples entre cidadãos romanos e peregrinos ou vassalos.
Depois, e principalmente, pelo severo tributo em nome do Estado romano. Se, debaixo do império, era fixado um limite ao interesse do estado para conter a sede de riqueza dos governadores, aquela sede foi substituída pela taxação mais efetiva e opressiva em benefício da tesouraria oficial, cujo efeito era terrivelmente destrutivo.
Em terceiro lugar, a Lei romana era, em última instância, administrada em toda parte por juízes romanos, enquanto o sistema social nativo era anulado no caso de conflitos com as prescrições da lei romana.
Estas três alavancas necessariamente desenvolveram um tremendo nivelamento de poder, particularmente quando foram aplicados por centenas de anos a populações — das quais as parcelas mais vigorosas tinham sido ou eliminadas ou escravizadas nas batalhas precedentes, acompanhando, e frequentemente seguindo, a conquista. As relações sociais nas províncias ficaram cada vez mais próximas do que dependia da capital e da Itália. A população se tornou cada vez mais nitidamente dividida em três classes, ignorando os mais variados elementos e nacionalidades: pessoas ricas, incluindo alguns escravos emancipados (cf. Petrônio), grandes proprietários de terras ou agiotas ou ambos de uma só vez, como Sêneca, o tio do Cristianismo; pessoas livres despossuídas, que, em Roma, eram alimentadas e divertidas pelo estado — mas nas províncias viviam como podiam, sem ajuda — e, finalmente, a grande massa, os escravos. Em face do Estado, isto é, do Imperador, as duas primeiras classes tinham tão poucos direitos quanto os escravos em face aos seus senhores. Do tempo de Tibério ao de Nero, em particular, era uma prática condenar cidadãos romanos ricos à morte a fim de confiscar sua propriedade. O suporte do governo era — materialmente, o exército, que era mais um exército de soldados estrangeiros contratados do que de velhos camponeses romanos, e moralmente, a visão geral de que não poderia ser de outro modo; que não era este ou aquele César, mas o império fundamentado na dominação militar que era uma necessidade imutável. Aqui não é o lugar para examinar os fatos materiais que justificam esta visão.
A perda geral de direitos e a falta de possibilidades de melhorar de condição ocasionaram um correspondente afrouxamento e desmoralização geral. Os poucos Romanos velhos, sobreviventes do tipo patrício, ou eram removidos ou mortos; Tácito foi o último deles. Os outros ficavam contentes quando podiam manter-se afastados da vida pública; toda razão para viver era juntar e desfrutar da riqueza, e praticar a fofoca e a intriga privada. Os cidadãos livres despossuídos eram pensionistas em Roma, mas nas províncias sua condição era infeliz. Tiveram que trabalhar e competir com o trabalho escravo pelo salário. Mas eram confinados nas cidades. Além deles, existiam também os camponeses das províncias, livres proprietários de terras (ambos, provavelmente, com propriedades comunais) ou, como na Gália, fiadores das dívidas dos grandes proprietários de terras. Esta classe era a menos afetada pelo motim social; também era a que resistia mais tempo ao motim religioso. [Nota de Engels: Conforme Fallmereyer, os camponeses em Main, Peloponeso, ainda ofereciam sacrifícios a Zeus no século IX.] Finalmente, existiam os escravos, destituídos de direitos e de si próprios e da possibilidade de libertação, como a derrota de Spartacus já provara; a maior parte deles, porém, foram antes cidadãos livres, ou filhos de cidadãos livres-nascidos. Deveria, então, haver ainda entre eles um ódio generalizado e vigoroso, entretanto, externamente impotente, por causa das suas condições de vida.
Devemos encontrar o tipo de ideólogo que correspondia à situação daquele momento. Os filósofos eram ou professores que ensinavam por dinheiro ou palhaços pagos para divertir os ricos. Alguns eram até escravos. Um exemplo do que se tornaram eles sob boas condições é fornecido por Sêneca. Este estoico, pastor da virtude e da abstinência, era o primeiro intrigante da corte de Nero, o que ele não poderia ser sem servilismo; ele assegurou para si presentes em dinheiro, propriedades, jardins, e palácios — e enquanto orava pelo pobre Lázaro do Evangelho, ele era, na realidade, o homem rico da mesma parábola. Até que Nero o fez solicitar ao imperador que aceitasse a devolução todos os seus presentes, pois sua filosofia era o bastante para ele. Só os filósofos completamente isolados, como Persius, tiveram a coragem de brandir a sátira acima de seus contemporâneos degenerados. Um segundo tipo de ideólogos, os juristas, eram entusiastas das novas condições porque a abolição de todas as diferenças entre Estados permitiria a eles largo escopo na elaboração de seu direito favorito, o privado, em troca de que eles prepararam para o imperador o sistema oficial de direito mais vil que já existira.
Assim como fez com as peculiaridades políticas e sociais dos vários povos, o Império Romano também foi condenado a arruinar suas religiões particulares. Todas as religiões de Antiguidade eram espontâneas, tribais, e velhas religiões nacionais, que surgiram da fusão das condições sociais e políticas dos respectivos povos. Uma vez que estas bases se romperam, e suas tradicionais formas de sociedade, suas instituições políticas herdadas e suas independências nacionais foram destruídas, a religião correspondente a estas também naturalmente desmoronou. Os deuses nacionais podiam suportar outros deuses ao lado deles, como era a regra geral da Antiguidade, mas não acima deles. O transplante de divindades Orientais para Roma era prejudicial só para a religião romana, não se verificava decadência das religiões Orientais. Assim que os deuses nacionais ficaram incapazes de proteger a independência de sua nação encontraram sua própria destruição. Este foi o caso em todos lugares (exceto com camponeses, especialmente nas montanhas). O que o iluminismo filosófico vulgar — eu quase disse Voltairianismo — fez em Roma e na Grécia, foi feito nas províncias pela opressão romana e pela substituição de homens orgulhosos de sua liberdade por submissos desesperados e malandros egoístas.
Tal era a situação material e moral. O presente era insuportável, a possibilidade do futuro tranquilo, ameaçada. E nada, além disso. Só o desespero ou refúgio no prazer sensual comum, pelo menos para aqueles que podiam dispor disto, e estes eram uma minoria minúscula. Caso contrário, nada, além de esperar o inevitável. Mas, em todas as classes existiam necessariamente as pessoas que, desesperando da salvação material, buscavam em seu lugar uma salvação espiritual, uma consolação em sua consciência para salvar-se do desespero absoluto. Esta consolação não podia ser fornecida pelos estoicos ou pela escola Epicurista, pela razão de que estes filósofos não eram voltados para consciência comum e, secundariamente, porque a conduta de discípulos destas escolas trouxe o descrédito em suas doutrinas. A consolação era um substituto, não para a filosofia perdida, mas para a religião perdida; teve que tomar uma forma religiosa, a mesma que de alguma maneira, segurou as massas até o século XVII. Precisamos notar apenas que a maioria daqueles que estavam sensíveis para tal consolação de sua consciência, para este voo do mundo externo para o interno, estavam necessariamente entre os escravos. Foi no meio desta decadência econômica, política, intelectual e moral que o Cristianismo apareceu. E entrou como uma antítese resoluta a todas as religiões anteriores.
Em todas as religiões anteriores, a cerimônia era a coisa principal. Só tomando parte nos sacrifícios e procissões, e, no Oriente, observando a dieta mais detalhada e preceitos de limpeza, podia alguém mostrar a que religião pertencia. Enquanto Roma e a Grécia eram tolerantes a respeito disto, existia no Oriente uma revolta contra as proibições religiosas que contribuíram muito para a sua queda final. Pessoas de duas das religiões diferentes, (Egípcios Persas, judeus, Caldeus) não podiam comer ou beber juntos, apresentar-se e agir juntos, ou mesmo falar um com o outro. Era certamente devido a esta segregação do homem pelo homem que o Oriente desmoronava. O cristianismo não possuía nenhuma formalidade distintiva, nem mesmo os sacrifícios e procissões do mundo clássico. Deste modo, rejeitando todas as religiões nacionais e suas formalidades comuns, e dirigindo-se diretamente a todas as pessoas sem distinção, se tornou a primeira religião mundial possível. O judaísmo também, com seu novo deus universal, fez um começo a caminho de se tornar uma religião universal; mas os filhos de Israel sempre permaneceram uma aristocracia separando os crentes e os circuncidados, e o próprio Cristianismo teve que se livrar da noção da superioridade dos cristãos judeus (ainda dominante no chamado Apocalipse, de São João) antes de poder realmente se tornar uma religião universal. O Islã, por outro lado, preservando a cerimônia especificamente Oriental, limitou a área de sua propagação ao Oriente e à África do Norte, conquistada e povoada novamente por beduínos árabes; ali ele pode se tornar a religião dominante, mas não no Oeste.
Secundariamente, o Cristianismo atingiu um tom que estava destinado a ecoar em incontáveis corações. A todas as reclamações sobre a maldade dos tempos e a angústia moral e material, a consciência cristã do pecado responde: É assim e não pode ser de outro modo; tu ardes em culpa, somos todos culpados pela corrupção do mundo, por nossa própria corrupção interna! E onde estava o homem que podia negar isto? Mea culpai A admissão da parte de cada um na responsabilidade pela infelicidade geral era irrefutável e era a pré-condição para a salvação espiritual que o Cristianismo ao mesmo tempo anunciava. E esta salvação espiritual estava tão instituída que podia ser facilmente compreendida por membros de toda a comunidade religiosa antiga. A ideia do pagamento para aplacar a deidade ofendida era conhecida em todas as religiões antigas; como a ideia do auto-sacrifício do mediador pagando de uma vez por todas os pecados da humanidade não podia ser facilmente explicada assim? O cristianismo, então, expressou claramente o sentimento universal de que os próprios homens são culpados da corrupção geral através da consciência do pecado de cada um; ao mesmo tempo, providenciou, no sacrifício da morte de seu juiz, uma saída universalmente esperada — pela salvação interna do mundo corrupto, a consolação de consciência; assim novamente o cristianismo provou sua capacidade para se tornar uma religião mundial e ser, realmente, uma religião adequada ao mundo como ele era naquele tempo.
Assim aconteceu que, entre os milhares de profetas e pregadores do deserto que enchiam aquele período de incontáveis inovações religiosas, só os fundadores do Cristianismo tiveram sucesso. Não só a Palestina, mas o Oriente inteiro fervilhou com tais fundadores das religiões, e entre eles travou-se o que pode ser chamado uma luta darwiniana pela existência ideológica. Usando principalmente os elementos mencionados acima, o Cristianismo "ganhou o dia". Como ele gradualmente desenvolveu seu caráter de religião mundial por seleção natural na luta das seitas umas contra as outras e contra o mundo pagão é explicado em detalhe pelos primeiros três séculos da história da igreja.