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quarta-feira, 27 de março de 2019

Xi apresenta proposta de quatro pontos sobre governança global

2019-03-27 10:32:47丨portuguese.xinhuanet.com
FRANCE-PARIS-CHINA-XI JINPING-FORUM-SPEECH

(Xinhua/Ju Peng)
Paris, 26 mar (Xinhua) -- O presidente chinês, Xi Jinping, pediu nesta terça-feira que os países em todo o mundo façam esforços conjuntos em quatro aspectos e formem juntos o futuro da humanidade diante de severos desafios globais.
Xi fez as observações na cerimônia de encerramento de um fórum de governança global organizado pela China e pela França em Paris. Além de Xi e do presidente francês, Emmanuel Macron, o evento também contou com a participação da chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
A China e a França, importantes participantes da governança global, desfrutam de um consenso político amplo e uma base sólida para a cooperação em importantes assuntos como salvaguardar a paz, a segurança e a estabilidade do mundo, defender o multilateralismo e o livre comércio, e apoiar as Nações Unidas a desempenhar um papel ativo, disse Xi.
Ele indicou que a China e a França estão ambas comprometidas com os princípios de respeito mútuo, confiança mútua, igualdade, abertura, abrangência e resultados de ganhos recíprocos.
Os dois países, acrescentou, têm defendido juntos os princípios fundamentais em relações internacionais e avançado na melhora da governança global, e se tornaram importantes forças para proteger a paz e a estabilidade mundiais e promover o avanço da civilização humana.
Xi propôs uma abordagem de quatro pontos para lidar com os "quatro déficits" nos assuntos globais.
Primeiro, o presidente chinês pediu imparcialidade e racionalidade para lidar com o déficit de governança.
É aconselhável manter uma visão da governança global com características de consulta extensa, contribuição conjunta e benefícios compartilhados e o princípio de que os assuntos globais devem ser resolvidos através da consulta, disse Xi, pedindo a promoção ativa da democratização das regras da governança global.
Ele também pediu apoio à ONU, uma bandeira de multilateralismo, exploração completa do papel construtivo de mecanismos multilaterais globais e regionais, e promoção conjunta da construção de uma comunidade com um futuro compartilhado para a humanidade.
Segundo, Xi pediu consulta e entendimento para lidar com o déficit de confiança.
É aconselhável pôr o respeito e a confiança mútuos em primeiro lugar, usar diálogo e consulta, buscar terreno comum e deixar de lado e diminuir as diferenças, aumentar a confiança estratégica, e reduzir suspeição mútua, disse Xi.
Também é aconselhável tomar uma abordagem certa para a justiça e os interesses, colocando a justiça antes dos interesses, indicou Xi.
Ele pediu comunicação e diálogos mais estreitos entre civilizações diferentes para aumentar o entendimento e o reconhecimento de uns para com os outros.
Terceiro, ele pediu esforços conjuntos e assistência mútua para lidar com o déficit de paz.
É aconselhável defender uma nova visão de segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável, descartar as mentalidades de Guerra Fria e soma zero, rejeitar a lei da selva, e resolver os conflitos de maneiras pacíficas, disse Xi.
Ele também pediu a rejeição das abordagens como "empobrecer o vizinho" e "buscar benefícios à custa de outros".
Quarto, Xi pediu benefício mútuo e resultados de ganhos recíprocos para lidar com o déficit de desenvolvimento.
É aconselhável buscar uma abordagem impulsionada pela inovação, bem coordenada, interconectada, justa e inclusiva e criar um modelo de crescimento de vitalidade, um modelo de cooperação de abertura e resultados de ganhos recíprocos, e um modelo de desenvolvimento de equilíbrio e benefícios comuns, a fim de que as pessoas de todo o mundo possam compartilhar os benefícios da globalização econômica, mencionou Xi.
O lado chinês apoia as reformas necessárias da ONU e defende o sistema de comércio multilateral, disse Xi, acrescentando que seu país espera que a França e outros países participem ativamente do desenvolvimento do Cinturão e Rota.
Ele também pediu esforços conjuntos para avançar as negociações sobre um acordo de investimento China-União Europeia (UE).
Elogiando a amizade com a França, Xi pediu que os dois países fortaleçam a cooperação com uma perspectiva de longo prazo e orientada ao futuro sob as novas circunstâncias.
A China e a França devem aprofundar a cooperação em áreas tradicionais, acelerar a cooperação em áreas emergentes, fortalecer a cooperação na abordagem da mudança climática, implementar o Acordo de Paris de maneira integral, e impulsionar resultados positivos na cúpula climática 2019 da ONU, para beneficiar os dois povos assim como o mundo inteiro, de acordo com Xi.
Macron disse que a comunicação e a coordenação entre a UE e a China desempenham um papel indispensável na proteção do multilateralismo.
A UE e a China têm posições semelhantes em áreas como a questão nuclear iraniana, mudanças climáticas e segurança e desenvolvimento da África, e ambas as partes insistem na construção de um sistema multilateral forte e justo, disse Macron.
Ele destacou que o desenvolvimento rápido e os esforços de alívio da pobreza da China são impressionantes.
A França atribui importância ao papel significativo e ativo da China em assuntos internacionais.
A UE e a China, sendo importantes forças no cenário mundial, devem aumentar a confiança estratégica mútua e promover a cooperação através do diálogo, assinalou.
A Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR) proposta pela China é significativa e pode desempenhar um importante papel na manutenção da paz, estabilidade e desenvolvimento do mundo, segundo Macron.
A UE pode alinhar sua estratégia de desenvolvimento com a ICR de um modo inovador e promover conjuntamente a conectividade eurasiática, acrescentou.
Merkel disse que a relação saudável entre os países europeus e a China colocou uma boa base para a realização da cooperação multilateral entre a UE e a China.
A UE deve acelerar as negociações sobre o acordo de investimento UE-China, e discutir ativamente a participação na ICR, disse ela.
A UE e a China devem cooperar para defender o multilateralismo e comparar notas sobre as reformas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e outras instituições multilaterais, indicou Merkel.
A Alemanha propõe realizar uma reunião dos líderes entre a UE e a China no próximo ano, anunciou ela.
Mencionando que a UE e a China são importantes parceiras cooperativas estratégicas, Juncker disse que é importante que os dois lados mantenham diálogo em uma base igual.
Ele pediu que a UE e a China promovam ativamente as negociações sobre o acordo de investimento UE-China e mantenham coordenação em importantes questões internacionais como a reforma da OMC.
Juncker disse que está esperando ansiosamente ver resultados positivos na próxima reunião dos líderes UE-China. 

segunda-feira, 25 de março de 2019

RPDC protege presentes de seus líderes entre montanhas ou no subsolo

Pyongyang, 25 mar (Prensa Latina) Na República Popular Democrática da Coreia (RPDC), os presentes de coreanos a Kim Il Sung, Kim Jong Il e Kim Jong Un estão protegidos entre montanhas e embaixo da terra, conheceu hoje a Prensa Latina.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Alienação


Críticas e análises sobre os Pensamentos de Marx


                             Alienação

No sentido que lhe é dado por Marx, ação pela qual (ou estado no qual) um indivíduo, um grupo, uma instituição ou uma sociedade se tornam (ou permanecem) alheios, estranhos, enfim, alienados [1] aos resultados ou produtos de sua própria atividade (e à atividade ela mesma), e/ou [2] à natureza na qual vivem, e/ou [3] a outros seres humanos, e – além de, e através de, [1], [2] e [3] – também [4] a si mesmos (às suas possibilidades humanas constituídas historicamente). Assim concebida, a alienação é sempre alienação de si próprio ou autoalienação, isto é, alienação do homem (ou de seu ser próprio) em relação a si mesmo (às suas possibilidades humanas), através dele próprio (pela sua própria atividade). E a alienação de si mesmo não é apenas uma entre outras formas de alienação, mas a sua própria essência e estrutura básica. Por outro lado, a “autoalienação” ou alienação de si mesmo não é apenas um conceito (descritivo), mas também um apelo em favor de uma modificação revolucionária do mundo (desalienação). O conceito de alienação, considerado hoje como um dos conceitos centrais do marxismo e amplamente usado tanto por marxistas como não marxistas, só entrou para os dicionários de filosofia na segunda metade do século XX. Antes, porém, era considerado como um importante termo filosófico e foi muito usado mesmo fora da filosofia: na vida cotidiana, no sentido de afastamento de antigos amigos ou companheiros; na teoria econômica e no direito, como termo para designar a transferência da propriedade de uma pessoa para outra (compra e venda, roubo, doação); na medicina e na psiquiatria, como nome para o desvio da normalidade, a insanidade. E antes de se ter desenvolvido como um “conceito” metafilosófico (revolucionário) com Marx, foi usado como conceito filosófico por HEGEL e por FEUERBACH. Em seus comentários sobre a alienação, Hegel teve, por sua vez, vários predecessores, alguns dos quais usaram a palavra sem se aproximarem de seu significado hegeliano (ou marxista); outros foram precursores da ideia sem usar a expressão, e, em alguns casos, houve até mesmo uma espécie de encontro entre a ideia e o termo que a indica. A doutrina cristã do pecado original e da redenção tem sido considerada por muitos autores como uma das primeiras versões da história da alienação e da desalienação do homem. Alguns deles insistiram em que o conceito de alienação teve sua primeira expressão no pensamento ocidental no conceito de idolatria do Velho Testamento. A relação entre os seres humanos e o Logos, em Heráclito, também pode ser analisada em termos de alienação. E alguns comentaristas sustentaram que a origem da concepção que Hegel tinha da natureza como forma autoalienada do Espírito Absoluto pode ser encontrada na interpretação de Platão do mundo natural como uma imagem imperfeita do nobre mundo das Ideias. Na época moderna, a terminologia e a problemática da alienação encontram-se especialmente nos teóricos do Contrato Social. Assim, Hugo Grotius usou a expressão alienação para designar a transferência para outra pessoa da autoridade soberana do homem sobre si mesmo. Mas, a despeito do uso da expressão (como em Grotius) ou não (como em Hobbes e Locke), a própria ideia do Contrato Social pode ser vista como uma tentativa de fazer progressos no sentido da desalienação (conseguir maior liberdade, ou pelo menos maior segurança), por meio de uma alienação parcial deliberada. Essa lista de precursores poderia ser facilmente ampliada. Mas provavelmente não há nenhum pensador antes de Hegel que possa ser lido e compreendido em termos da alienação e desalienação melhor do que Rousseau. Para mencionarmos apenas dois entre os aspectos mais relevantes, a oposição estabelecida por Rousseau entre o homem natural (l’homme de la nature, l’homme naturel, le sauvage) e o homem social (l’homme policé, l’homme civil, l’homme social) poderia ser comparada com a oposição entre o homem não alienado e o homem autoalienado, e o projeto rousseauniano de superação da contradição entre a volonté générale e a volonté particulière pode ser considerado como um programa para a abolição da alienação. Mas apesar de todos os precursores, e de Rousseau inclusive, a verdadeira história filosófica da alienação começa com Hegel. Embora a ideia de alienação, sob o nome de Positivität (positividade), surja nos primeiros escritos de Hegel, seu desenvolvimento explícito como termo filosófico tem início na Phänomenologie des Geistes (Fenomenologia do Espírito). E embora o seu estudo esteja concentrado de forma mais direta na seção da obra intitulada “O espírito alienado de si mesmo; Cultura”, a alienação é, na realidade, o conceito central e a ideia mais importante de todo o livro. Da mesma maneira, embora não exista uma análise concentrada e explícita da alienação em suas obras posteriores, todo o sistema filosófico de Hegel, tal como apresentado de forma resumida em sua Enzyklopädie der philosophischen Wissenschaften (Enciclopédia das ciências filosóficas), e mais extensivamente em suas demais obras e conferências posteriores, foi construído com a ajuda das ideias da alienação e desalienação. Em um sentido básico, o conceito de auto-alienação aplica-se, em Hegel, ao Absoluto. A Ideia Absoluta (Espírito Absoluto), que para ele é a única realidade, é um Eu dinâmico envolvido em um processo circular de alienação e desalienação. Torna-se alienado de si mesmo na Natureza (que é a forma autoalienada da Ideia Absoluta) e volta de sua auto-alienação no Espírito Finito, o homem (que é o Absoluto no processo de desalienação). A autoalienação e a desalienação são, dessa maneira, a forma do Ser do Absoluto. Em outro sentido básico (que resulta diretamente do primeiro), a autoalienação pode ser aplicada ao Espírito Finito, ou homem. Na medida em que é um ser natural, o homem é um espírito alienado de si. Mas, na medida em que é um ser histórico, capaz de conseguir um conhecimento adequado do Absoluto (o que significa também conhecer a natureza e a si mesmo), o homem é capaz de se tornar um ser desalienado, realizando o Espírito Finito a sua vocação para a construção do Absoluto. Assim, a estrutura básica do homem também pode ser descrita como autoalienação ou alienação de si e desalienação. Há um outro sentido no qual a alienação pode ser atribuída ao homem. É uma característica essencial do Espírito Finito (homem) produzir coisas, expressar-se em objetos, objetificar-se em coisas físicas, instituições sociais e produtos culturais. E toda objetificação é necessariamente um exemplo de alienação: os objetos produzidos tornam-se alheios ao produtor. A alienação, nesse sentido, só pode ser superada no sentido de ser conhecida de maneira adequada. Vários outros sentidos de alienação foram descobertos em Hegel, pelos estudiosos de sua obra. Schacht, por exemplo, concluiu ter Hegel usado o termo em dois sentidos bastante diferentes: “alienação¹”, que significa “uma separação ou relação discordante como a que poderia existir entre o indivíduo e a substância social, ou (como alienação de si) entre a condição real e a natureza essencial” e “alienação²” que significa “entrega ou sacrifício da particularidade e da intencionalidade, em conexão com a superação da alienação¹ e o restabelecimento da unidade” (Schacht, 1970, p.35). Em sua crítica da filosofia de Hegel publicada em 1839 e em outros escritos, como Das Wesen des Christentums (A essência do cristianismo, 1841) e Grundsätzer der Philosophie der Zukunft (Os princípios da filosofia do futuro, 1843) Feuerbach criticou a concepção hegeliana de que a natureza é uma forma autoalienada do Espírito Absoluto e o homem é o Espírito Absoluto no processo de desalienação. Para Feuerbach, o homem não é Deus autoalienado, mas Deus é o homem autoalienado: é apenas a essência abstraída do homem, absolutizada e dele distanciada. Assim, o homem aliena-se de si mesmo ao criar e colocar acima de si um ser superior estranho e imaginado, e ao curvar-se ante ele, como escravo. A desalienação do homem consiste na abolição daquela imagem “estranhada” do homem que é Deus. O conceito de alienação de Feuerbach foi criticado e ampliado primeiramente por Moses Hess, mas uma crítica, na mesma linha, foi realizada de maneira mais completa e profunda pelo então amigo mais jovem de Hesse, Karl Marx (especialmente nos Manuscritos econômicos e filosóficos). Marx louvou Hegel por ter considerado “a autocriação do homem como um processo, a objetificação como a perda do objeto, como alienação e transcendência dessa alienação (…)” (Terceiro Manuscrito). Mas criticou Hegel por ter identificado a objetificação com a alienação e por ter considerado o homem como autoconsciência e a alienação do homem como a alienação de sua consciência: “Para Hegel, a vida humana, o homem, é equivalente à autoconsciência. Toda alienação da vida humana não passa, portanto, de alienação da autoconsciência (…). Toda reapropriação da vida objetiva alienada surge, portanto, como uma incorporação na autoconsciência” (ibid.). Marx concordava com a crítica de Feuerbach à alienação religiosa, mas ressaltava que esta é apenas uma entre as várias formas de alienação humana. O homem não só aliena parte de si mesmo na forma de Deus, como também aliena outros produtos de sua atividade espiritual na forma de filosofia, senso comum, arte, moral; aliena os produtos de sua atividade econômica na forma da mercadoria, do dinheiro, do capital; e aliena produtos de sua atividade social na forma do Estado, do direito, das instituições sociais. Há muitas formas nas quais o homem aliena de si mesmo os produtos de sua atividade e faz deles um mundo de objetos separado, independente e poderoso, com o qual se relaciona como um escravo, impotente e dependente. Mas o homem não só aliena de si mesmo seus próprios produtos, como também se aliena a si próprio da atividade mesma pela qual esses produtos são criados, da natureza na qual vive e dos outros homens. Todos esses tipos de alienação são, em última análise, a mesma coisa: são aspectos diferentes, ou formas, da alienação do homem, formas diferentes da alienação que se produz entre o homem e a sua “essência” ou sua “natureza” humana, entre o homem e sua humanidade.
      Assim como o trabalho alienado [1] aliena do homem a natureza e [2] aliena o homem de si mesmo, de sua própria função ativa, de sua atividade vital, ele o aliena da própria espécie (…) [3] (…).
      Ele (o trabalho alienado) aliena do homem o seu próprio corpo, sua natureza externa, sua vida espiritual e sua vida humana (…). [4]
     Uma consequência direta da alienação do homem com relação ao produto de seu trabalho, a sua atividade vital e à vida de sua espécie é o fato de que o homem se aliena dos outros homens (…).
    Em geral, a afirmação de que o homem está alienado da vida de sua espécie significa que todo homem está alienado dos outros e que todos os outros estão igualmente alienados da vida humana (…).
    Toda alienação do homem de si mesmo e da natureza surge na relação que ele postula entre outros homens, ele próprio e a natureza. (Manuscritos econômicos e filosóficos, Primeiro Manuscrito).
A crítica (o desmascaramento) da alienação não foi um fim em si mesmo para Marx. Seu objetivo era preparar o caminho para uma revolução radical e para a realização do comunismo, compreendido como “a reintegração do homem, seu retorno a si mesmo, a superação da alienação do homem”, como “a abolição positiva da propriedade privada, da alienação humana e, com isso, como a apropriação real da natureza humana através do homem e para o homem (Terceiro Manuscrito). Embora as expressões alienação e desalienação não sejam muito usadas nos últimos escritos de Marx, todos eles, inclusive O Capital, apresentam uma crítica do homem e da sociedade alienados existentes, e encerram um apelo à desalienação. E há pelo menos uma grande obra da fase final de Marx, os Grundrisse, em que a terminologia da alienação é amplamente usada. Os Manuscritos econômicos e filosóficos foram publicados pela primeira vez em 1932 e os Grundrisse, publicados em 1939, só se tornaram acessíveis na prática depois de sua reedição em 1953. Talvez essas tenham sido algumas das principais razões “teóricas” (houve também razões práticas) para que fossem negligenciados os conceitos de alienação e desalienação em todas as interpretações de Marx (e na discussão filosófica em geral) durante o final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Alguns aspectos importantes da alienação foram examinados pela primeira vez em Geschichte und Klassenbewusstsein (História e consciência de classe), de Lukács, que aprofundou a discussão da REIFICAÇÃO, mas não há nenhum estudo geral e explícito da alienação no livro. Assim, a temática só foi retomada depois da publicação dos Manuscritos econômicos e filosóficos em 1932. Marcuse (1932) foi dos primeiros a ressaltar a importância dos Manuscritos e a chamar a atenção para o conceito de alienação que apresentavam. Auguste Cornu (1934) foi dos primeiros a estudar o “jovem Marx” de maneira mais cuidadosa, e Henri Lefebvre (1939) talvez tenha sido o primeiro a tentar introduzir o conceito de alienação na interpretação tradicional de Marx. Uma discussão mais geral e aprofundada da alienação teve início depois da Segunda Guerra Mundial. Dela participaram não só autores marxistas, mas também pensadores existencialistas e personalistas, e não apenas filósofos, mas também psicólogos (particularmente psicanalistas), sociólogos, críticos literários e escritores. Entre os não marxistas, Martin Heidegger foi quem deu um importante impulso à discussão da alienação. Em Sein und Zeit (O Ser e o Tempo, 1927), ele usou Entfremdung para descrever um dos traços básicos do modo inautêntico do Ser do homem, e em 1947 ressaltou a importância da alienação. Certos autores viram uma analogia entre o conceito de alienação de Marx e a noção de Seinsvergessenheit de Heidegger e também entre a concepção marxista de revolução e o conceito de Kehre de Heidegger. Novas perspectivas igualmente importantes foram propostas por Jean-Paul Sartre, que pensou a “alienação” tanto em sua fase existencialista como em sua fase marxista; por P. Tilich, em cuja combinação de teologia protestante, filosofia existencial e marxismo o conceito de alienação tem papel importante; por Alexandre Kojève, que interpretou Hegel com a ajuda de indicações do jovem Marx; por Jean Hyppolite, que examinou a alienação (especialmente a relação entre esta e a objetificação) em Hegel e Marx; por Jean-Yves Calvez, cuja crítica a Marx, de um ponto de vista cristão, baseou-se numa interpretação do pensamento de Marx como crítica de diferentes formas de alienação, e por Hans Barth, cuja discussão da relação entre verdade e ideologia envolve um exame detalhado da questão. Entre os marxistas, Lukács estudou a alienação em Hegel (particularmente no jovem Hegel) e em Marx e tentou especificar seu próprio conceito de alienação (e sua relação com a reificação). Ernst Bloch valeu-se do conceito sem nele insistir particularmente, tentando estabelecer uma distinção clara entre Entfremdung e Verfremdung. Finalmente, Erich Fromm não só estudou cuidadosamente o conceito de alienação em Marx, como também fez dele uma chave para a análise, em seus trabalhos sociológicos, psicológicos e filosóficos. Os marxistas que tentaram reviver e desenvolver a teoria da alienação de Marx nas décadas de 1950 e 1960 foram muito criticados pelo seu idealismo e pelo seu hegelianismo: de um lado, pelos representantes da versão oficial (stalinista) de Marx e, de outro, pelos chamados marxistas estruturalistas (por exemplo, Louis Althusser). Esses adversários da teoria da alienação insistiram em que aquilo que era chamado de alienação no jovem Marx era denominado, de maneira muito mais adequada, em obras posteriores, por termos científicos propriedade privada, dominação de classe, exploração, divisão do trabalho, etc. Mas argumentou-se em resposta que os conceitos de alienação e desalienação não podem ser totalmente reduzidos a nenhum (ou a todos) dos conceitos apresentados para substituí-lo e que, para uma interpretação verdadeiramente revolucionária de Marx, aquele conceito era indispensável. Em consequência desses debates, o número de marxistas que ainda se opõem a qualquer uso do conceito de alienação diminuiu consideravelmente. Muitos dos que estavam prontos a aceitar o conceito de alienação de Marx não aceitavam o conceito de alienação de si, que lhes parecia não histórico, porque deixa implícita a existência de uma essência ou natureza humana fixa e inalterável (ver NATUREZA HUMANA). Argumentou-se, em contraposição a tal concepção, que a alienação de si mesmo devia ser considerada não como uma alienação de uma natureza humana factual ou ideal (“normativa”), mas como alienação das possibilidades humanas criadas historicamente, em especial da capacidade humana de liberdade e criatividade. Assim, em lugar de sustentar uma interpretação estática ou não histórica do homem, a ideia de alienação de si traz um clamor pela renovação constante e pelo desenvolvimento do homem. Esse aspecto foi bastante ressaltado por Kangrga: ser autoalienado significa “ser autoalienado de simesmo como obra (Werk) de si mesmo, da autoatividade, da autoprodução, da autocriação; ser alienado da história como práxis humana e como um produto humano” (1967, p.27). Assim, “o homem está alienado ou autoalienado quando não se está tornando um homem” e isso ocorre quando “aquilo que ele é e foi é tomado como a verdade única e autêntica”, ou quando o homem opera “dentro de um mundo já feito e não atua de uma maneira prática e crítica (em um sentido revolucionário)” (1967, p.27). Outro aspecto controverso é se a alienação aplica-se em primeiro lugar aos indivíduos ou à sociedade como um todo. De acordo com os que a consideram como aplicável em primeiro lugar aos indivíduos, o desajustamento do homem à sociedade na qual vive é indício de sua alienação. Já, por exemplo, Fromm (1955) argumentou que uma sociedade também pode estar enferma ou alienada, de modo que o homem não adaptado à sociedade existente não está necessariamente “alienado”. Muitos dos que consideram a alienação como uma forma aplicável apenas às pessoas ainda a tornam mais limitada, vendo-a como um conceito exclusivamente psicológico, que se refere a um sentimento ou estado de espírito. Assim, de acordo com Eric e Mary Josephson, a alienação é “um sentimento individual, ou um estado de dissociação do eu dos outros e do mundo em geral” (Josephson e Josephson 1962, p.191). Outros autores ainda insistiram em que a alienação não é simplesmente um sentimento, mas em primeiro lugar um fato objetivo, uma maneira de ser. Dessa forma, A.P. Ogurtsov, na Enciclopédia de filosofia soviética define alienação como “a categoria filosófica e sociológica que expressa a transformação objetiva da atividade do homem e de seus resultados numa força independente, que o domina e lhe é contrária, e também a correspondente transformação do homem de sujeito ativo em objeto do processo social”. Alguns dos autores que caracterizam a “alienação” com um estado de espírito consideram-na como um fato ou conceito da psicopatologia; outros insistem em que, embora a alienação não seja “boa” ou desejável, não é rigorosamente patológica. Acrescentam muitas vezes que deve haver uma distinção entre a alienação e dois conceitos correlatos, mas não idênticos – anomia e desorganização pessoal. “A alienação refere-se ao estado psicológico de um indivíduo caracterizado por sentimentos de distanciamento, enquanto a anomia se refere à relativa anormalidade de um sistema social. A desorganização pessoal refere-se ao comportamento desordenado resultante de conflito interno no indivíduo” (M. Levin, in Josephson e Josephson 1962, p.228). A maioria dos teóricos da alienação estabeleceram uma distinção entre diferentes formas desse fenômeno. Por exemplo, Schaff (1980) encontra duas formas básicas: alienação objetiva (ou simplesmente alienação) e alienação subjetiva (ou autoalienação). E. Schachtel vê quatro formas (a alienação do homem em relação à natureza, em relação a seus semelhantes, em relação ao trabalho de suas mãos e espíritos, e em relação a si mesmo). M. Seeman aponta quatro outras (impotência, falta de significação, isolamento social, falta de norma e autodistanciamento). Cada uma dessas classificações tem méritos e deméritos. Assim, em lugar de tentar compilar uma lista completa dessas formas, alguns estudiosos procuraram esclarecer os critérios básicos segundo os quais tais classificações deveriam ser (ou foram, na realidade) feitas. Uma questão muito discutida é se a autoalienação é uma propriedade essencial, imperecível, do homem enquanto homem, ou se é característica apenas de uma fase histórica da evolução humana. Alguns filósofos (em particular os existencialistas) sustentaram que a alienação é um momento estrutural permanente da existência humana. Além de sua existência autêntica, o homem também leva uma existência não autêntica, sendo ilusório esperar que ele algum dia poderá viver apenas autenticamente. A concepção oposta é a de que o ser humano, originalmente não alienado, no curso de sua evolução alienou-se de si mesmo, mas voltará, no futuro, a si mesmo. Tal concepção encontrase em Engels e em muitos pensadores marxistas de hoje; o próprio Marx parece ter achado que o homem sempre fora, até então, alienado, mas não obstante poderia e deveria voltar a vir a ser ele mesmo. Entre os que aceitaram a concepção de que o comunismo é uma desalienação houve diferentes perspectivas sobre as possibilidades, limites e formas da desalienação. Assim, de acordo com uma das respostas disponíveis, a desalienação absoluta é possível: toda alienação – social e individual – pode ser abolida de uma vez por todas. Os representantes mais radicais desse ponto de vista otimista afirmam até mesmo que toda alienação já foi eliminada em princípio dos países socialistas, onde só existe sob a forma de insanidade individual ou como um “resquício de capitalismo” insignificante. Não é difícil ver os problemas dessa interpretação. A desalienação absoluta só seria possível se a humanidade fosse alguma coisa definitiva e inalterável. E, de um ponto de vista factual, é fácil ver que, naquilo que se chama de “socialismo”, não só formas antigas de alienação, mas também muitas formas “novas”, existem. Assim, contra os defensores da desalienação absoluta sustentou-se que só é possível uma desalienação relativa. De acordo com tal concepção, não é possível eliminar toda a alienação, mas pode-se criar uma sociedade basicamente não alienada que estimule o desenvolvimento de indivíduos não autoalienados, realmente humanos. Dependendo da interpretação da essência da alienação, os meios recomendados para a sua superação também têm sido distintos. Aqueles que consideram a autoalienaçãocomo um fato “psicológico” questionam a importância, e até mesmo a relevância, de qualquer modificação externa nas “circunstâncias” e sugerem que o esforço moral do indivíduo, “uma revolução interior”, é a única cura. E aqueles que consideram a autoalienação como um fenômeno neurótico são coerentes ao oferecer para ela um tratamento psicanalítico. No outro extremo, estão os filósofos e sociólogos que se aferram a essa variante degenerada do marxismo que é o “determinismo econômico” e consideram os indivíduos como produtos passivos da organização social (e em particular, da econômica). Para esses autores marxistas, o problema da desalienação reduz-se ao problema da transformação social, e este ao problema da abolição da propriedade privada. Em contraposição às duas interpretações apresentadas acima, foi proposta uma terceira concepção, em que a desalienação da sociedade está intimamente ligada à desalienação dos indivíduos, de tal modo que é impossível realizar uma sem a outra, ou reduzir uma à outra. É possível criar um sistema social que seja favorável ao desenvolvimento de pessoas desalienadas, mas não é possível organizar uma sociedade que produzisse automaticamente tais pessoas. Um indivíduo só se pode transformar num ser não alienado, livre e criativo por meio de sua própria atividade. Mas não só a desalienação não pode ser reduzida à desalienação da sociedade, como esta, por sua vez, não pode ser concebida simplesmente como uma mudança na organização da economia que será seguida automaticamente por uma mudança em todas as outras ou aspectos da vida humana. Longe de ser um dado eterno da vida social, a divisão da sociedade em esferas mutuamente independentes e conflitantes (economia, política, direito, artes, moral, religião, etc.) e a predominância da esfera econômica são, segundo Marx, características de uma sociedade alienada. A desalienação da própria sociedade é, portanto, impossível, sem a abolição da alienação que as diferentes atividades humanas guardam umas das outras. Igualmente, o problema da desalienação da vida econômica não pode ser resolvido pela simples abolição da propriedade privada. A transformação desta em propriedade estatal não introduz uma transformação essencial na situação do trabalhador ou do produtor. A desalienação da vida econômica também exige a abolição da propriedade estatal com sua transformação em propriedade social real, e isso não se pode realizar sem que se organize a totalidade da vida social com base na autogestão dos produtores imediatos. Mas, se a autogestão dos produtores é uma condição necessária da desalienação da vida econômica, ela não é, por si, condição suficiente. Não resolve automaticamente o problema da desalienação na distribuição e no consumo, e não é em si suficiente nem mesmo para desalienar a produção. Certas formas da alienação da produção têm suas raízes na natureza dos meios modernos de produção e por isso não podem ser eliminadas por uma mera mudança da forma de gerir a produção.

 GP Bibliografia: Cornu, Auguste, La jeunesse de Karl Marx, 1934 • Fromm, Erich, The Sane Society, 1955 [Psicanálise da sociedade contemporânea, 1983] £ Marx’s Concept of Man , 1961 [O conceito marxista do homem, 1979] • Gabel, Joseph, “La fausse conscience”, 1967 • Israel, Joachim, Der Begriff Entfremdung, 1972 • Jahn, W., “Le contenu économique du concept d’aliénation Du travail dans les oeuvres de jeunesse de Mar”, 1960 • Josephson, Eric e Mary (orgs.), Man Alone Alienation in Modern Society, 1962 • Kangrga, Milan, “Das Problem der Entfremdung in Marxs Werk”, 1967 • Konder, Leandro, Marxismo e alienação, 1965 • Lefebvre, Henri, Le maitérialisme dialectique, 1939 • Marcuse, Herbert, “Neuen Quellen zur Grundlegung des historischen Materialismus: Interpretationem der neuveroeffentlichen Manuskripte von Marx”, 1932 (1969) [“Novas fontes para a fundamentação do materialismo histórico: Interpretação dos recém-publicados manuscritos de Marx” (1968)] • Mészaros, István, Marx’s Theory of Alienation , 1970 [Marx: a teoria da alienação, 1981] • Naville, Pierre, “De l’aliénation à la jouissance”, 1967 £ De l’aliénation à la jouissance, 1970 • Ollman, Bertell, Alienation: Marx’s Conception of Man in Capitalist Society , 1971 (1976) • Petrovié, Gajo, Marx in the MidTwentieth Century, 1967 • Schacht, Richard, Alienation, 1970 • Schaff, Adam, Alienation as a Social Phenomenon, 1980 • Sève, Lucien, “Analyses marxistes de l’alienation”, 1974 • “Sur le jeune Marx”, Recherches Internationales à la Lumière du Marxisme , n.19, 1960 • Vranicki, Predrag, “Socialism and the Problem of Alienation”, in E. Fromm (org.), Socialist Humanism, 1965.

sábado, 16 de março de 2019

.Xi destaca cumprimento de metas de desenvolvimento militar como previsto

2019-03-13 09:32:45丨portuguese.xinhuanet.com
(TWO SESSIONS)CHINA-BEIJING-XI JINPING-NPC-PLA AND ARMED POLICE-PLENARY MEETING (CN)

(Xinhua/Li Gang)
Beijing, 13 mar (Xinhua) -- O presidente da China, Xi Jinping, destacou nesta terça-feira o cumprimento das metas e tarefas estabelecidas para a defesa nacional e desenvolvimento militar como programado.
Xi, também secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCC) e presidente da Comissão Militar Central, deu as declarações ao assistir a uma reunião plenária da delegação do Exército de Libertação Popular (ELP) e da força da polícia armada na segunda sessão da 13ª Assembleia Popular Nacional (APN), o órgão legislativo nacional da China.
Este ano é chave para a realização da construção de uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos, disse Xi.
Ele apontou que todas as forças armadas devem entender claramente a importância e urgência da implementação do 13º Plano Quinquenal para o desenvolvimento militar, fortalecer sua determinação, intensificar o sentido da missão, seguir adiante com um espírito pioneiro e fazer os máximos esforços para realizar o plano para garantir que as metas e tarefas estabelecidas sejam cumpridas como programado.
Xi pediu que todo o exército adira à guia do pensamento do socialismo com características chinesas para uma nova época, implemente completamente o pensamento do Partido sobre o fortalecimento do exército para a nova época e a estratégia militar para as novas condições, concentre-se na preparação para a guerra e intensifique a reforma e a inovação.
Sobre a implementação do plano, Xi sublinhou que é imperativo fortalecer o planejamento e a coordenação gerais, além de fazer avanços em áreas chave.
O presidente chinês indicou que é necessário tomar em consideração a situação geral e coordenar os planos de tarefas, recursos e procedimentos de gerência para garantir o avanço ordenado de diversos projetos.
Ao concentrar-se no desenho geral do plano, o exército deve dar proeminência a projetos chave, incluindo as necessidades urgentes de preparação militar, o apoio crucial para os sistemas de combate e projetos coordenados para a reforma da defesa nacional e das forças armadas, indicou.
Xi destacou que a formulação do 14º Plano Quinquenal para o desenvolvimento militar deve atender às demandas do desenvolvimento, segurança e estratégias militares nacionais, e deve levar em conta tanto a condição atual como as necessidades de desenvolvimento de longo prazo.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Jornalista estadunidense denuncia mentiras criadas pela imprensa para atacar a Venezuela






A manifestação pró-Maduro sugeriu que Guaidó falhou em ganhar apoio popular fora das classes ricas e de classe média alta

Diálogos do Sul
Eu estava sentado no meu apartamento em Caracas, na Venezuela, lendo a versão online da revista Time (19/05/2016), na qual havia uma reportagem sobre como mesmo algo tão básico quanto uma aspirina não poderia ser encontrado em lugar algum na Venezuela: “Medicamentos básicos como a aspirina não podem ser encontrados em lugar algum.”
Eu caminhei de meu apartamento à farmácia mais próxima, a quatro quadras de distância, onde eu encontrei um monte de aspirina, assim como acetaminofeno (Tylenol genérico) e ibuprofeno (Advil genérico), em uma farmácia bem abastecida e com funcionários bem instruídos que fariam inveja a qualquer drogaria dos EUA.
Alguns dias depois da história da Time, a CNBC (22/06/2016) publicou que não havia acetaminofeno em lugar algum, que “coisas básicas como Tylenol não estão sequer disponíveis.”. Isso deve ter pego a Pfizer Corporation de surpresa, já que era a sua subsidiária, Pfizer Venezuela SA, que produzia o acetaminofeno que eu comprei. (Nem o escritor da Time Ian Bremer nem o comentarista da CNBC Richard Washington estavam na Venezuela, e nenhuma evidência foi apresentada de que qualquer um deles já estivera lá.)
Eu comprei o três produtos, xarope para tosse e mais outros medicamentos, porque duvidava de que qualquer pessoa nos Estados Unidos acreditaria em mim se eu não pudesse apresentar os medicamentos em suas embalagens.

Opera
Foto: Alexcocopro

Inquebrantável soar de mentiras

De fato, eu pessoalmente não seria capaz de acreditar em ninguém que fizesse tais declarações sem que pudesse mostrar a prova delas, de tão intensa que tem sido a disseminação de mentiras. Quando a Orquestra da Juventude Venezuelana deu um concerto em Nova York no começo de 2016, antes de eu me mudar para Caracas, eu fui lá pensando, “nossa, eu espero que os membros da orquestra estejam todos bem vestidos e bem alimentados.”. Sim, é claro que eles estavam todos bem vestidos e bem alimentados!
Quando eu mencionei isso em uma palestra na Universidade de Vermont, um estudante me disse que ele teve a mesma sensação quando estava acompanhando o campeonato Pan Americano de futebol. Ele se perguntou se os jogadores venezuelanos teriam condições de jogar, por estarem tão enfraquecidos pela falta de comida. Na verdade, ele disse, o time venezuelano jogou muito bem, e foi muito mais longe na competição do que o esperado, já que a Venezuela é historicamente um país do baseball, ao contrário dos vizinhos obcecados por futebol Brasil e Colômbia.
Por mais difícil que seja para os leitores da mídia estadunidense acreditarem, a Venezuela é um país onde as pessoas fazem esportes, vão ao trabalho, vão a aulas, vão à praia, vão a restaurantes e assistem a concertos. Eles publicam e leem jornais de todas os espectros políticos, de direita, de centro-direita, de centro, de centro-esquerda e de esquerda. Eles produzem e assistem programas de televisão, em canais de TV que também são de todos os espectros políticos.
Apoiadores do presidente venezuelano Nicolás Maduro (Foto: Telesur)
CNN foi recentemente ridicularizada (Redacted Tonight, 01/02/2019) quando fez uma reportagem da Venezuela, “na utopia socialista que agora deixa praticamente todo estômago vazio”, seguida imediatamente de um corte para um protesto da oposição direitista em que todo mundo parecia muito bem alimentado.
Mas isso é certamente porque a maior parte dos oposicionistas protestando são da classe média alta, um telespectador pode pensar. Os proletários nas manifestações devem estar sofrendo de fome severa.
Não se consultarmos as fotos do massivo protesto governista em 2 de Fevereiro, em que as pessoas aparentavam estar muito bem. Isso apesar da extrema pressão econômica da administração Trump, reminescente da estratégia “faça a economia gritar” usada pelo governo Nixon contra o governo democraticamente eleito do presidente Salvador Allende no Chile, assim como contra muitos outros governos eleitos democraticamente.

Manifestações Rivais

Aquela manifestação mostrou apoio considerável ao governo do presidente Nicolás Maduro e rejeição generalizada à escolha de Donald Trump para presidente da Venezuela, Juan Guaidó. Guaidó, que se autoproclamou presidente do país e foi reconhecido minutos depois por Trump, ainda que uma enquete de opinião pública mostrasse que 81 por cento dos venezuelanos nunca havia ouvido falar dele, vem da facção de extrema direita da política venezuelana.
Últimas Notícias no Twitter (01/02/2019): “Capriles: Os Partidos Não Estavam Apoiando a Autoproclamação de Guaidó”
A manifestação pró-Maduro sugeriu, não surpreendentemente, que Guaidó falhou em ganhar apoio popular fora das classes ricas e de classe média alta. Mas Guaidó nem sequer ganhou apoio de muitos deles. No dia anterior às marchas rivais de 2 de fevereiro, Henrique Caprilles, o líder de uma ala menos extrema da direita, deu uma entrevista à AFP que apareceu em  Últimas Noticias (01/02/2019), o jornal mais amplamente lido. Nela, Caprilles disse que a maior parte da oposição não apoiou a autoproclamação de Guaidó a presidente. Isso pode explicar a participação extremamente fraca na manifestação de Guaidó, ocorrida num dos distritos mais ricos de Caracas, e obviamente ofuscada pela manifestação pró-governo, que ocorreu numa das principais avenidas.
New York Times não mostrou nenhuma foto da manifestação pró-governo, se limitando a alegar por “especialistas” não nomeados (02/02/2019) que a manifestação governista fora menor do que a oposicionista.
Os leitores podem olhar para as fotos das demonstrações rivais e julgar por si mesmos. Os dois grupos fizeram o seu melhor para atrair o seu público fiel, sabendo o quanto depende de uma demonstração de apoio popular. O jornal estridentemente direitista da oposição El Nacional (03/02/2019) continha uma foto do protesto de direita

Se essa foi a melhor foto que eles puderam encontrar, foi marcadamente inexpressiva comparada às fotos dos jornais de esquerda CCS (02/02/2019)….

…e Correo del Orinoco (03/02/2019), que estava um pouco feliz demais por publicar do evento pró-governo:

Improvavelmente humanitários

Uma gigantesca manifestação anti-governo deveria tornar possível um golpe de Estado, uma manobra que a CIA usou repetidamente – no Irã em 1953, na Guatemala em 1954, no Brasil em 1964 e muitos mais, direto a Honduras em 2009 e à Ucrânia em 2015. A participação na manifestação de Trump foi decepcionante, e o golpe de Estado nunca ocorreu. O resultado é que Trump expressou um interesse súbito em levar comida e remédio aos venezuelanos (FAIR.org 09/02/2019).
Trump, que deixou milhares morrerem em Porto Rico e pôs crianças pequenas em jaulas na fronteira mexicana, parece ser um campeão improvável da ajuda humanitária aos latino-americanos, mas a mídia corporativa fingiu acreditar de cara limpa nisso.
A maior parte suprimiu relatos de que a Cruz Vermelha e a ONU estão fornecendo ajuda à Venezuela em cooperação com o governo venezuelano, e protestaram contra o “auxílio” que é obviamente um estratagema militar e político.
A mídia corporativa continua a vender a linha Trump-campeão-humanitário, mesmo depois de ter sido revelado que um avião dos Estados Unidos foi pego contrabandeando armas para a Venezuela, e mesmo depois de Trump ter nomeado o criminoso do escândalo Irã/Contra, Elliott Abrams, para dirigir as operações venezuelanas. Abrams esteve à frente da Secretaria de Direitos Humanos do Departamento de Estado durante os anos 80, quando armas para os terroristas apoiados pelos Estados Unidos foram embarcadas em aviões estadunidenses sob o disfarce de auxílio “humanitário”.
CBC (15/02/2019) ao menos teve a honestidade de reconhecer que engolira uma mentira do secretário Mike Pompeo de que o governo havia bloqueado uma ponte entre a Colômbia e a Venezuela para interromper carregamentos de auxílio. A ponte recentemente construída ainda não havia sido ainda aberta: nunca havia sido liberada, aparentemente por conta das relações hostis entre os dois países, mas a não-abertura precede longamente os supostos envios de comida e remédio do governo estadunidense.
A absurdidade do auxílio de 20 milhões de dólares em comida e remédios para um país de 30 milhões de pessoas, quando as autoridades dos EUA roubaram U$30 bilhões em rendimentos do petróleo, e pegam 30 milhões de dólares diariamente, não precisa ser comentada.

Estado falido”

A campanha de desinformação e mentiras abertas sobre a Venezuela começou em 2016, pelo Financial Times. Ironicamente, ela escolheu o aniversário de 14 anos do golpe de Estado fracassado contra o presidente Hugo Chávez – 11 de abril de 2016 – para afirmar que a Venezuela estava em “caos” e “guerra civil”, e que a Venezuela era um “Estado falido”. Como foi com as reportagens da Time e da CNBC, o repórter do Financial Times não estava na Venezuela, e não há evidência de que ele jamais tenha estado.
Eu perguntei a amigos de direita na Venezuela se eles concordavam com as alegações da Financial Times. “Bem, não, é claro que não,” disse um, afirmando o óbvio. “Não há caos e não há guerra civil. Mas a Venezuela é um Estado falido, já que não é capaz de suprir todas as demandas médicas da população.” Por esse padrão, todos os países da América Latina são Estados falidos, e obviamente os Estados Unidos também.
Financial Times (11/4/2016) reportou que em 2016 a Venezuela era um “Estado falido”, “caos puro” e “algo semelhante a uma guerra civil acontecendo.” 
New York Times veiculou histórias (15/05/201601/10/2016) afirmando que condições em hospitais venezuelanos são horrendas. As reportagens enfureceram colombianos em Nova York que observaram que um paciente pode morrer na entrada de um hospital público colombiano se ele não tiver seguro. Na Venezuela, no entanto, os pacientes são tratados de graça.
Um colombiano residente em Nova York disse que a sua mãe havia retornado recentemente a Bogotá depois de muitos anos nos Estados Unidos, e não tivera tempo de obter seguro médico. Ela ficou doente, e foi a um hospital público. O hospital a deixou na sala de espera por horas, depois a mandou a um segundo hospital. O segundo hospital fez o mesmo, deixando-a esperando por quatro horas e depois mandando-lhe a um terceiro hospital. O terceiro hospital estava se preparando para mandar-lhe a um quarto hospital quando ela protestou dizendo que estava sangrando internamente e se sentindo muito fraca.
“Eu sinto muito, señora, se você não tem seguro médico, nenhum hospital público nesse país vai olhar para você”, disse a mulher à mesa. “Sua única esperança é ir a um hospital privado, mas esteja preparada para pagar uma grande quantia de dinheiro adiantada.” Por sorte, ela tinha um amigo rico. que a levou para um hospital privado, e pagou uma grande quantia de dinheiro adiantada.
Tais condições na Colômbia e em outros Estados neoliberais não são mencionadas na mídia corporativa dos Estados Unidos, que tem tratado o governo colombiano, um regime direitista com esquadrões da morte, como um aliado dos EUA (Extra!09/02).
Bom, ok, mas são os relatos das condições dos hospitais venezuelanos verdadeiros ou grosseiramente exagerados? “Eles são muitos melhores do que eram 10 anos atrás”, disse um amigo que trabalha num hospital de Caracas. De fato, ele disse que há 10 anos o hospital onde ele trabalha não existia, e novos hospitais estão sendo abertos agora. Um foi inaugurado recentemente na cidade de El Furrial, outro foi aberto em El Vigia, como reportado pelo jornal centrista Últimas Notícias (03/03/201727/04/2018). O governo também expandiu outros, como um centro para tratamento de queimaduras em Caracas e três blocos cirúrgicos no hospital em Villa Cura.
Enquanto isso, o governo está inaugurando uma nova ferrovia de alta velocidade, O Sonho de Hugo Chávez, em março (Correo del Orinoco, 06/02/19). Desde que a mídia dos EUA nunca permitiu reportar nenhuma das conquistas desde que Chávez tomou posse em 1999, mas somente alegações, exageros, ou como observado, falhas completamente inventadas, os leitores têm de consultar uma história alternativa. Aqui há uma oferecida por um venezuelano no Youtube (31/03/2011): “Por Culpa de Chávez”. Exibindo novos hospitais, linhas de trânsito, moradias, fábricas e muito mais construído pelo chavismo, o vídeo pode ajudar a entender porque o governo de Maduro continua a ter o apoio de tanta gente.

Guerra econômica

Isso não é para minimizar os problemas da Venezuela. O país foi atingido, como outros países produtores de petróleo e como nos anos 80 e 90, pelo colapsos dos preços do petróleo. Isso não foi o suficiente para derrubar o governo, então agora a administração Trump criou uma crise artificial ao usar guerra comercial extremapara privar o país de câmbio internacional necessário para importar os bens de primeira necessidade. As medidas de Trump parecem desenhadas para impedir qualquer recuperação econômica.
Como em qualquer país em guerra (e o governo Trump pôs a Venezuela debaixo de condições de tempo de guerra, e está ameaçando com uma invasão imediata), houve desabastecimentos, e produtos que podem ser encontrados principalmente no mercado negro. Isso não deve surpreender ninguém: Durante a Segunda Guerra Mundial nos EUA, uma cornucópia de país não seriamente ameaçado por invasão, houve um racionamento rigoroso de produtos como açúcar, café e borracha.
O governo venezuelano fez com que comida, remédio e fármacos estivessem disponíveis a preços extremamente baixos, mas a maior parte da mercadoria foi levada ao mercado negro, ou cruzou a fronteira em direção à Colômbia, privando venezuelanos de suprimentos e arruinando produtores colombianos. O governo recentemente abandonou alguns dos preços fortemente subsidiados, o que resultou em preços mais altos. Ao longo das últimas semanas, os preços têm descido na medida em que os suprimentos ficaram na Venezuela, especialmente porque o governo obteve maior controle sobre a fronteira com a Colômbia para prevenir o contrabando.
Nunca houve uma discussão séria a respeito de nada disso na mídia corporativa dos EUA, muito menos qualquer discussão acerca da campanha de mentiras ou acerca da guerra da administração de Trump. Não tem havido comparação com as condições das décadas de 80 e 90, nas quais o governo neoliberal venezuelano impôs as receitas econômicas do FMI, resultando em uma revolta popular; o sangrento Caracazo de 1989, quando a repressão indiscriminada do Estado tirou as vidas de centenas (de acordo com o governo da época) ou milhares (de acordo com críticos do então governo), e a lei marcial tirou a vida de muitos outros.
Esforços pela oposição direitista para provocar um levante semelhante, um outro Caracazo que poderia justificar uma “intervenção humanitária” estrangeira falharam repetidamente. Então a administração dos EUA e a mídia corporativa simplesmente recorreram às mentiras mais extremas sobre a América Latina desde as guerras da administração Reagan nos anos de 1980.

Fonte; Site Pátria Latina