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domingo, 21 de dezembro de 2014

Irã é a quarta maior potencia mundial no poder de mísseis de longo e médio alcance



Do Hispan TV
Tradução: Valter Xéu


O Ministro Iraniano da Defesa, brigadeiro-general Hussein Dehqan, afirmou que o país persa tornou-se a quarta potencia mundial de míssil de longo e médio alcance, depois dos Estados Unidos, Rússia e China.
Entre os países com elevada capacidade de mísseis, o Irã está em uma posição invejável, sendo a quarta potência mundial na fabricação de mísseis, comentou Dehqan em uma entrevista para a agência de notícias iraniana em árabe "Al-Alam", e que foi publicada neste sábado (20).

O ministro persa explicou que considerando as possíveis ameaças externas contra o país, as forças armadas e a indústria bélica conseguiram aumentar o alcance dos mísseis e no momento, desenvolve mísseis furtivos e de alta precisão.

Nesse sentido, Dehqan descartar a possibilidade de que o tema sobre os misseis iranianos sejam abordados durante as próximas conversações nucleares entre Teerã e o grupo dos 5+1 (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China mais a Alemanha).

O programa de mísseis iraniano se relaciona com a capacidade de defesa do Irã e só o país pode decidir a respeito e nenhum outro pode nos obrigar a sentar-se à mesa de diálogo para discutir essa questão, deixou claro o ministro.

Dehqan também assinalou que os inimigos do Irã, especialmente os EUA e o regime de Israel, nunca se atreveram a lançar um ataque contra o território persa.

Segundo o ministro, existe a possibilidade de que os Estados Unidos represente uma ameaça ao Irã, mas o importante é que o país islâmico sempre desfrutou da máxima disposição e capacidade para responder a qualquer ataque externo.

Segundo o ministro, a resistência da República Islâmica do Irã frente às politicas hegemônicas dos Estados Unidos nas ultimas décadas obrigou Washington a optar pelo dialogo com o Irã sobre seu programa nuclear.
O que levou os Estados Unidos a manter conversações com o Irã em clima de cordialidade não foi uma imposição nossa. Eles possuem uma imagem distorcida e assim, tomam posições politicas que tem provocado ódio em todo mundo e agora necessita mudar a opinião publica sobre o assunto, disse o ministro.

Dehqan assegurou que as medidas hostis que a Casa Branca tem adotado por mais de 30 anos contra a República Islâmica do Irã, todas falharam e só resultou no fortalecimento da vontade do povo persa para resistir ao inimigo.

Fonte: PÁTRIA LATINA

Em Brasília, vice-premiê russo propõe ampliar cooperação em alta tecnologia



Rogôzin: “Os brasileiros não querem comprar produtos acabados, mas querem participar da concepção e instalação dessas tecnologias russas no país” Foto: TASS
O governo russo está oferecendo ao Brasil uma colaboração ativa em esferas de alta tecnologia, incluindo exploração do espaço, construção naval e setor de aviação. Delegação comandada pelo vice-premiê russo Dmítri Rogôzin tem expectativa de que visita ao país resulte em acordos e reforço da parceria estratégica.
Nesta quarta-feira (18), o vice-primeiro-ministro russo Dmítri Rogôzin participou de uma reunião com o vice-presidente Michel Temer e com o ministro da Defesa do Brasil, Celso Amorim. Além disso, visitou a estação terrestre do Glonass, na Universidade de Brasília, onde é realizado acompanhamento do sistema global de navegação por satélite.
“Os brasileiros não querem comprar produtos acabados, mas querem participar da concepção e instalação dessas tecnologias russas no país”, declarou o vice-premiê russo, ao mencionar o setor espacial.
Moscou ofereceu às autoridades brasileiras uma coparticipação ativa no mercado de serviços espaciais – não somente em sistemas de navegação, mas em cartografia, comunicações e sensoriamento remoto da Terra, entre outros. “Os planos do Brasil de desenvolver a sua própria base para lançamentos espaciais são de grande interesse para nós”, acrescentou Rogôzin.
A parceria militar entre os países não se limita ao fornecimento de produtos acabados para o país sul-americano, uma vez que “o Brasil está ajudando a criar um centro de serviços para trabalhos de reparo e manutenção de helicópteros russos”.
No setor de construção naval, os projetos e tecnologias brasileiras e russas destinadas a exploração de jazidas de petróleo e gás apresentam boa compatibilidade, apesar de determinadas tarefas serem executadas em diferentes condições climáticas e geológicas.
Segundo Rogôzin, antecipando a visita da presidente Dilma Rousseff à Rússia, prevista para o próximo ano, “novos acordos de parceria e promoções devem ser coordenados e assinados nos setores de espaço, nuclear e aviação, na construção naval e em engenharia eletrônica”.
Publicado originalmente pela agência Tass
http://br.rbth.com/internacional/2014/12/18/em_brasilia_vice-premie_russo_propoe_ampliar_cooperacao_em_alta_28789.html

Cuba: xeque mate na grande imprensa

  Cuba: as verdades que se ocultam e subordinação da imprensa à agenda da Casa Branca

Outdoor em Cuba: "Desde meu bairro defendo o socialismo"
Por Alexei Padilla e Amanda Cotrim na Caros Amigos
A imprensa oligárquica do Brasil tem destacado nesses últimos dias a importância do restabelecimento – após de 53 anos – das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos. Contudo, ela tem ocultado alguns aspectos relevantes dos acontecimentos que assistimos no dia 17 de dezembro.
Na terça-feira, dia 16, a Rede Globo encerrou a temporada anual do programa “Profissão Repórter” com uma matéria sobre Cuba. A reportagem pretendeu apresentar para os brasileiros uma caricatura do que foi a crise dos balseiros, em 1994. Como é costume, o principal conglomerado midiático brasileiro aproveitou para descontextualizar a história e dar voz a uma parte só dos sujeitos envolvidos naqueles fatos.

Desinformação
Por isso, questionamos até que ponto a grande imprensa brasileira estabelece a controvérsia? Por que, quando o assunto é Cuba, não há o “outro lado” da história, premissa tão defendida nos cursos de jornalismo?

Vale a pena apontar que na reportagem do "Profissão Repórter" aconteceram alguns erros graves. Primeiro, a crise dos balseiros não foi a maior crise migratória da história recente da Ilha. Em 1994, saíram da Ilha em balsas e embarcações muito precárias em torno de 35 mil pessoas. O maior êxodo de cubanos para os Estados Unidos aconteceu na primavera de 1980 pelo porto do Mariel. Mais de 125 mil pessoas foram trasladadas até as costas da Flórida (EUA) em barcos e iates enviados pelos parentes que moravam em Miami.
A motivação de ambos os fluxos migratórios foi essencialmente econômica, a mesma tendência que constatamos nos países da América Central e o Caribe. Diferentemente do resto dos imigrantes desses países, os cubanos têm um privilégio especial: quando algum deles chega ilegalmente aos Estados Unidos é acolhido como refugiado político e depois de um ano morando em terras estadunidenses, recebe a residência permanente. Cubanos que migram para os EUA têm mais direitos assegurados que os próprios norte-americanos. Se isso não seria uma guerra para sufocar o governo legítimo de Cuba, então o que seria? É preciso que se ressalte, também, que o Consulado Americano em Havana nem sempre entrega os vistos às pessoas interessadas em se mudar para os Estados Unidos de forma legal, ordenada e segura.
Crise
Após a dissolução da União Soviética em 1991, a economia cubana entrou na pior crise da história republicana. O País enfrentou o “Período Especial em Tempos de Paz” decidido a manter o rumo socialista. Diante dessa decisão o governo de George Bush (pai) endureceu o bloqueio para tentar afogar a Revolução Cubana. É preciso que se diga que a “grande” imprensa brasileira não é adepta ao termo “bloqueio”, preferem falar que é “embargo”. Não se trata de sinônimos. A opção da mídia, nesse caso, é ideológica.
Em 1994 a situação era tensa por causa das difíceis condições de vida na Ilha. Estações de rádio operadas por exilados cubanos nos Estados Unidos enviaram mensagens para provocar uma insurreição geral. Os protestos de agosto daquele ano em Havana e os continuados sequestros de barcos resultaram na abertura das costas à Ilha para todos os cidadãos que queriam viajar para a “Terra Prometida”.
Aliás, para essas 35 mil pessoas que pegaram as balsas, a procura por um visto no consulado estadunidense, teria sido uma perda de tempo.
Cuba-EUA
Um dia depois do programa ir ao ar, a realidade, como quase sempre, deixa em ridículo a fala da Globo. A decisão sobre o restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos foi uma supresa para todos, mas ao mesmo tempo demonstrou a falta de preparo dos jornalistas da mencionada rede para tratarem de assuntos internacionais. Só uma lembrança: para se referir à recente cúpula sobre meio ambiente em Lima, no Peru, um país com fronteiras com o Brasil, contatavam um correspondente em Nova Iorque. Que modo mais esquisito de jornalismo! Ou seja, a imprensa brasileira não conhece a América Latina.
A transcendental decisão de Barack Obama e Raúl Castro mudou rapidamente a visão, até esse momento apresentada, da grande imprensa sobre o porto do Mariel. Matérias em jornais de grande circulação, como a Folha de São Paulo, começaram a repercutir de forma positiva o “grande negócio”  que o Brasil realizou em Cuba.
Esses fatos evidenciam a subordinação da política informativa da grande imprensa à agenda política dos Estados Unidos. Essa atitude envergonha-nos porque sabemos do desprezo que Washington tem demonstrado para os países da América Latina. Mas para alguns, mais importante do que a dignidade pessoal ou nacional é manter a fidelidade ao Império para sempre ter o desejado visto colado no passaporte.
Los Cinco
A imprensa se referiu aos três cubanos presos nos Estados Unidos como “presos políticos que se envolveram em organizações secretas nos EUA”, ocultando que esses faziam parte do grupo de Los Cinco (os cinco) que monitorava as atividades de quadrilhas que organizavam, na Flórida, atentados terroristas contra o povo cubano.
Antonio Guerrero, Gerardo Hernández, Ramón Labañino, René González e Fernando González foram presos em 1998 por lutar contra o terrorismo. René e Fernando voltaram para casa em 2013 e 2014, respectivamente, depois de ter cumprido suas condenações. Antonio, Gerardo e Ramón foram trocados por um agente cubano que espionava para os Estados Unidos. Também Cuba liberou Alan Gross, um funcionário da Usaid (sigla em inglês para Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) que tentou ingressar ilegalmente aparelhos de telecomunicações com  tecnologia não comercial, ou seja, militar.
Violações
Os cinco cubanos resistiram durante mais de 15 anos aos rigores da cadeia e às inúmeras violações de seus direitos e de seus parentes. Esses jovens cubanos têm dentro deles a dignidade de um povo todo: o cubano. Uma dignidade e uma resistência que poucos conhecem e muitos acreditam que não é possível.
Isso foi possível porque Cuba é um povo de guerreiros. Um país que lutou durante mais de 130 anos pela independência e a soberania. Um país que lutou contra a maior potência econômica e militar da história. Um país que, apesar do bloqueio e das dificuldades, tem a melhor rede de saúde e o melhor sistema de ensino da América Latina. Um país onde não é preciso um sistema de cotas porque negros, brancos e pardos têm os mesmos direitos. Cuba é o país da América com menor mortalidade infantil e a segunda nação latino-americana com a menor taxa de homicídios, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
É preciso que se ressalte também que, em Cuba, antes de as leis serem aprovadas devem ser discutidas com os trabalhadores. Os debates são feitos num ambiente de participação e democracia. Essas são as verdades não contadas da terrível “ditadura comunista”.
Cuba fora da ordem
Mas por que alguns discursos são silenciados pela grande imprensa? Por que nunca se ouviu um cubano que é a favor da revolução e do sistema socialista que há em Cuba? O que está sendo dito, na exclusão do não dito?
O termo “ditadura” é uma constante na grande imprensa brasileira quando o tema é Cuba. A mídia, de modo geral, afirma que a Ilha é um país “atrasado” e que precisa abandonar seu sistema político. Isso acontece porque os jornais tradicionais pertencem à mesma “filiação” discursiva, estabelecendo, assim, uma ordem para que o discurso produzido sobre Cuba pareça isento, objetivo e imparcial. O “ditador” é um mal representante da razão, por isso, não está na ordem do discurso.
Tudo que não diz respeito aos discursos já consolidados está fora de ordem. Por isso, uma imagem positiva da Ilha nos jornais não faz parte da ordem estabelecida. Se não está dentro, é porque foi excluído.
Alexei Padilla é jornalista cubano e mestrando em Comunicação (UFMG). Amanda Cotrim é jornalista brasileira e mestranda em Divulgação Cientifica e Cultural (Unicamp). 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Obama, em espanhol: “Somos todos americanos”

sábado, 13 de dezembro de 2014

Israel aterrorizado com iniciativa iraniana de armar a Cisjordânia


 Fonte de informações: 

Pravda.ru

 

O Movimento de Resistência Islâmica Palestina (Hamas), informou que a iniciativa iraniana para armar os palestinos na Cisjordânia vem aterrorizado o regime israelense conforme anuncio nesta quarta-feira (11) da agência de notícias libanesa Al-Mayadin. 

"Essa ideia tem fortalecido a posição da Resistência e assustou o regime usurpador", disse Mohamad Nasr, um funcionário do Hamas, em uma reunião com o presidente da Assembleia Consultiva Islâmica do Irã, Ali Larijani, durante a realização na capital iraniana da Conferencia Internacional contra a Violência e o Extremismo.
Mohamad Nasr falou sobre as relações históricas entre Hamas e Irã, e defendeu que a cooperação entre as duas partes, que é servir a causa palestina terá um substancial aumento tendo em vista a delicada situação na região.
A autoridade do Hamas disse que "a resistência palestina em Gaza foi vitorioso na guerra recente contra Israel que durou 51 dias, conflito imposta pelo regime ocupante, com o apoio da República Islâmica do Irã".
. "O Irã, ao longo da história, sempre desempenhou um papel fundamental na luta contra o regime sionista (Israel), e continua", acrescentou.
Em julho passado, o Líder Supremo da Revolução Islâmica no Irã, Ayatollah Seyed Ali Khamenei, condenou veementemente a ofensiva israelense contra Gaza e apelou para armar a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
"Acreditamos que a Cisjordânia também deve ser armada como Gaza e quem estiver interessado no destino da Palestina, devem agir a respeito", afirmou o líder supremo.
O genocídio praticado pelos israelenses, que durou 51 dias (entre os meses de julho e agosto), pelo menos 2.160 palestinos, incluindo mais de 540 crianças, foram mortos e mais de 11.100 feridos.
Da redação do Pátria Latina, com informações do Hispan TV
Tradução: Valter Xéu

 http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=0fa0a367bebe0a86970effd56746c459&cod=14779
 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Suécia: “Sem impostos, não se redistribui riqueza”

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A partir do dia do nascimento, cada criança recebe um subsídio mensal do governo no valor de 1.050 coroas suecas (aproximadamente 355 reais). A educação é gratuito e de acesso universal.
Jornalista brasileira residente na Suécia narra vida num país em que tributos são reconhecidos com preço justo por uma sociedade mais igualitária e humana

Por Claudia Wallin*, no DCM
Em sueco, a palavra ”skatt” tem dois significados, que no juízo apressado de um forasteiro podem parecer conceitos tão distantes entre si como o céu e o inferno: ”impostos” e ”tesouro”.
Mas como qualquer espantado alienígena constata ao chegar à Suécia, o termo ”impostos” tem por aqui uma conotação visceralmente positiva. Na lógica da maioria dos suecos, assim como dos demais povos da Escandinávia, os tributos são o preço justo que se paga por uma sociedade mais humana, igualitária e harmônica – e por isso menos violenta. Mesmo quando se cobra, como é o caso escandinavo, um dos impostos mais elevados do planeta.
O pensamento escandinavo é uma esfinge de enigma quase indecifrável para muitos povos. A começar pelos seguidores do credo americano de que, quanto mais baixos os impostos, melhor.
Mas a primeira explicação é elementar: paga-se impostos de bom grado por aqui, dizem os suecos, porque as coisas funcionam. E funcionam bem. O sistema de saúde pública proporciona atendimento de qualidade a todos, independentemente da renda de cada um. A educação, gratuita e de alto nível, garante oportunidades iguais de acesso de todos os cidadãos ao ensino, do pré-escolar à universidade. As cidades são limpas. Os transportes públicos são organizados e eficientes – e em nenhuma estrada da Suécia paga-se pedágio. A lista é longa.
A segunda explicação do enigma requer um esforço de compreensão do sentimento de humanidade e solidariedade que molda o pensamento escandinavo.
”Tenho orgulho de pagar impostos”, resume Robert Windahl, o Robben, popular garçom do pub local que frequento em Estocolmo. É uma frase que se ouve com frequência anormal no país. Robben explica: ”Se você tem uma criança com alguma doença grave, ou se não ganha um salário particularmente alto, você pode se sentir seguro na Suécia. Se fosse nos Estados Unidos, você estaria perdido. Mas acreditamos que, em nossa sociedade, todos têm direito a uma vida digna.”
É uma carga tributária alta demais para cumprir esse ideal? – pergunto. Atualmente, a carga tributária na Suécia é de cerca de 45% do Produto Interno Bruto (PIB), contra cerca de 36%, no caso do Brasil.
”Certamente não”, ele diz. ”E todos se beneficiam do sistema, que é universal. Ou seja, os mais ricos pagam mais impostos, mas também não precisam pagar para que seus filhos estudem até à universidade, por exemplo. E se eu mesmo resolver ser médico, posso começar a estudar amanhã, sem gastar uma krona (coroa sueca)”.
”É verdade que pagamos um dos impostos mais altos do mundo”, continua ele. ”Mas como mostram várias pesquisas, os escandinavos estão sempre no alto da lista dos povos mais felizes do mundo”, lembra Robben, que paga 40% de seus vencimentos ao fisco.
Na Suécia, a origem do desenvolvimento do welfare state (Estado de bem-estar social), financiado pelos altos impostos, foi marcada por uma expressão cunhada por Per Albin Hansson, o legendário primeiro-ministro social-democrata: Folkhemmet, ou ”Lar do Povo”. A expressão tornou-se o símbolo da visão de sociedade da social-democracia sueca: as pessoas deveriam sentir-se tão seguras na sociedade como se sentiam no interior de seus próprios lares.
”Um bom lar não tem membros privilegiados ou rejeitados; não tem favoritos nem filhos postiços. Nele, uma pessoa não olha para a outra com desdém; nele, ninguém tenta obter vantagens às custas do outro; nele, o forte não oprime nem rouba o fraco. Em um bom lar existe igualdade”, disse Hansson, em 1932, no Parlamento sueco. O conceito foi o embrião do famoso modelo social sueco, que iria se tornar um exemplo para o mundo.
De lá para cá, o Estado-providência sueco tem sofrido ajustes. Crises econômicas sacudiram o paraíso, que continua no entanto vigorosamente próspero, e novos desafios se impõem diante do modelo e seu futuro. Como observaram os consultores do Boston Consulting Group em conferência recente aqui em Estocolmo, o envelhecimento populacional na Suécia é uma das ameaças que pairam sobre o modelo: daqui a cerca de 15 anos, estima-se, cada cidadão sueco estará trabalhando para financiar, com seus impostos, um conterrâneo aposentado.
Apesar dos ajustes, até o momento o welfare state sueco permanece generoso, embora menos generoso do que já foi. E apesar das vozes discordantes, cerca de 75 por cento dos suecos estariam na verdade dispostos a pagar impostos ainda mais altos para manter a sociedade justa, próspera e eficiente que criaram – segundo pesquisa realizada em 2010 pelo sociólogo sueco Stefan Svallfors.
Sim: testemunhei cenas sobrenaturais nos últimos anos, quando vi um sem-número de cidadãos suecos reclamando, nos jornais e noticiários de TV, a cada vez que o governo de centro-direita – despachado do poder nas eleições de setembro deste ano – anunciava um pequeno corte nos impostos.
”A redução de impostos significa que eu passo a ter 600 coroas (cerca de 200 reais) a mais no bolso”, disse na TV sueca, na época, um dos cidadãos entrevistados. ”Para mim, que já ganho um bom salário, essa quantia extra não faz tanta diferença. Mas faz uma diferença enorme para a sociedade, e por isso acho que esse dinheiro seria melhor empregado para garantir a qualidade das nossas escolas, hospitais e serviços em geral”.

Nas ruas de Estocolmo, voltei a ouvir a mesma argumentação: baixar os impostos, no entender de grande parte dos cidadãos, faz por exemplo uma diferença brutal para o nível de qualidade da educação, que impulsiona a prosperidade do país. Põe em risco a essência igualitária da sociedade sueca, e aumenta a distância entre ricos e pobres. Menospreza a dignidade da vida dos excluídos, dos doentes, dos desesperados.
Por isso, também parece sobrenatural imaginar um país onde os partidos políticos fazem campanha eleitoral prometendo aumentar, e não baixar, os impostos. Mas assim é a realidade sueca: qualquer analista político americano ficaria perplexo ao saber, por exemplo, que a própria coalizão de governo de centro-direita sueca foi às urnas, este ano, defendendo uma alta nos impostos:
”É bom termos impostos, para que tenhamos segurança social, educação e saúde”, disse na TV sueca o então ministro das Finanças, Anders Borg. É certo que nem tudo é unanimidade no reino dos suecos, quando o assunto são os altos impostos. Muitos são os que apóiam o receituário aplicado nos recém-encerrados oito anos de poder da centro-direita, que defende a implementação de ajustes necessários, na sua visão, para criar um modelo sueco renovado diante dos desafios dos novos tempos.
Mas a recente queda nos índices de desempenho escolar, assim como outros problemas na estrutura do modelo social, renovaram, segundo pesquisas recentes, o ânimo dos suecos para pagar índices elevados de impostos. Emblemática é a frase estampada esta semana na coluna política do jornal Aftonbladet – a mesma frase que se lê originalmente, aliás, em uma inscrição no prédio da Receita Federal americana (IRS) em Washington: ”Impostos são o preço que se paga por uma sociedade civilizada.”
Os impostos sobre herança foram abolidos na Suécia em 2004, como medida destinada a proteger empresas e empregos na esteira da crise econômica dos anos 90 – quase a metade dos empresários que geravam até 60% dos novos empregos no país estava acima dos 50 anos de idade, na época. E a taxação sobre fortunas foi cancelada em 2007, a fim de evitar a saída de empreendedores do país.
A estrutura tributária progressiva, porém, é desenhada para uma melhor distribuição de renda: quem ganha muito mais, paga muito mais impostos.
As taxas municipais variam entre 29 e 36 por cento da renda de um indivíduo, dependendo do local em que a pessoa vive. Além disso, para os que ganham acima de 35,5 mil coroas suecas mensais – que é o salário médio de um professor universitário, por exemplo -, impostos estatais entre 20 e 25 por cento são cobrados a partir de determinados níveis de rendimento. A carga tributária é aumentada ainda pelo imposto sobre valor agregado, uma taxa de 25% que incide sobre a compra de alimentos e a maioria dos produtos e serviços em geral.
Em contrapartida, todos têm direito a uma ampla rede de proteção, do berço ao túmulo.
Quando uma criança nasce na Suécia, os pais têm direito a uma licença parental remunerada de 480 dias. As creches pré-escolares são largamente subsidiadas pelo governo, e os pais pagam apenas oito por cento do custo mensal.
A partir do dia do nascimento, cada criança recebe um subsídio mensal do governo no valor de 1.050 coroas suecas (aproximadamente 355 reais).
Após completar 16 anos de idade, cada criança passa a receber um subsídio mensal do governo no mesmo valor, como assistência financeira enquanto completa seu período de estudos.
O tratamento dentário é gratuito para crianças e adolescentes até os 18 anos de idade. Eles também podem ter aparelhos dentários financiados pelo governo regional: quando os especialistas julgam necessária a correção dos dentes, o paciente recebe um ”cheque saúde dos dentes” para custear os gastos com o ortodontista de sua escolha.
Quando as crianças têm problemas graves de visão, também é o governo regional que paga os óculos de grau. Para famílias com situação econômica mais desfavorável, os pais de crianças com deficiências de visão mais comuns podem contactar os serviços sociais, que então financiam os óculos.
Não existem mensalidades escolares. A partir dos seis anos de idade, todas as crianças têm acesso gratuito à educação, que é obrigatória até o último ano do ensino médio. As escolas fornecem ainda todo o material escolar.
Se decidem cursar a universidade – que também é gratuita – os estudantes suecos têm direito a uma assistência financeira mensal, até completar os estudos. Esta assistência é composta por um subsídio de cerca de mil reais por mês, além de um empréstimo no valor aproximado de 2,3 mil reais mensais. O prazo para o reembolso do empréstimo é o dia em que o ex-estudante completa 60 anos de idade.
O sistema de saúde é também amplamente subsidiado, e a taxa de internação em um hospital é de 80 coroas suecas (cerca de 27 reais) por dia.
Já o seguro-desemprego é voluntário – ou seja, o trabalhador deve se inscrever em instituições específicas para ter direito ao benefício, e pagar uma mensalidade. Estas instituições são conhecidas como ”A-Kassa” (Arbetslöshetskassor), e muitas são administradas por sindicatos. No pacote básico, a mensalidade é de 90 coroas suecas mensais (cerca de 13 dólares). Para poder usufruir de um salário-desemprego maior do que o básico, o trabalhador deve fazer um seguro suplementar, com contribuições mensais proporcionais ao salário. Quando perde o emprego, um trabalhador pode receber o salário-desemprego por até 300 dias úteis.
Para famílias mais pobres ou com problemas econômicos temporários, os governos municipais prestam assistência sob a forma de apoio financeiro com base em avaliações individuais. Este apoio inclui recursos para despesas básicas, com a finalidade de garantir um padrão de vida razoável.
Como um todo, é um sistema que mantém alta credibilidade: em 2013, uma pesquisa apontou que 86% dos suecos confiam no Skatteverket, a autoridade fiscal sueca.
”As pessoas confiam no fato de que o Estado, os políticos e a administração pública vão empregar o dinheiro de seus impostos de maneira eficiente”, diz o jornalista e historiador Henrik Berggren. ”Em segundo lugar, a questão da igualdade social é extremamente importante na Suécia”, observa ele.
Mas como o ser humano é o mesmo, e fraudadores de impostos em potencial germinam em todas as latitudes quando o clima é propício, a Suécia tem um poderoso e eficiente sistema para evitar a sonegação fiscal.
Descuidos ou más intenções, como informações errôneas e deduções inválidas na declaração de renda, costumam ser punidos com multas de 40% sobre o valor do imposto a ser pago – ou, para casos extremos, com o xadrez.
Não se brinca com as garras do sempre atento leão sueco, que parece ter mil olhos.
* A jornalista brasileira Claudia Wallin, radicada em Estocolmo, é autora do livro Um país sem excelências e mordomias.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Pilger: à sombra de uma Terceira Guerra Mundial?


 
Cena de "Doutor Fantástico", de Stanley Kubrick. Para Pilger, "Oomundo está diante do risco de grande guerra, talvez guerra nuclear – com os EUA claramente decididos a isolar e provocar a Rússia e provavelmente, em breve, também a China. Essa verdade está sendo invertida por jornalistas"
Cena de “Doutor Fantástico”, de Stanley Kubrick. Para Pilger, “mundo está diante do risco de grande guerra, talvez nuclear. EUA provocam Rússia e China. Estas verdades estão sendo invertidas por jornalistas”
Ocultações, silêncios, mentiras: alinhamento da mídia ocidental às manipulações dos EUA revela nítida escalada bélica — e terrível declínio do velho jornalismo

Por John Pilger | Tradução: Vila Vudu
Por que o jornalismo sucumbiu tão completamente à propaganda? Por que censura e distorção são a prática padrão? Por que a BBC é, tão frequentemente, porta voz dos poderosos mais rapaces? Por que o New York Times e o Washington Post mentem diariamente aos seus leitores-consumidores?
Por que não se ensina os jovens jornalistas a compreender as agendas dos veículos e a se contrapor a elas, denunciando a distância que separa os altos objetivos declarados e a realidade da “objetividade” mais falsa? E por que não compreendem que a essência de praticamente tudo que costumamos chamar de “imprensa dominante” nunca é informação, mas é só e sempre, poder?
Essas são perguntas que clamam por respostas urgentes. O mundo está diante do risco de grande guerra, talvez guerra nuclear – com os EUA claramente decididos a isolar e provocar a Rússia e provavelmente, em breve, também a China. Essa verdade está sendo invertida, apresentada de cabeça para baixo por jornalistas – entre os quais, é claro, também os que divulgaram como se fossem notícias, as mentiras que levaram ao banho de sangue no Iraque em 2003.
Vivemos tempos tão perigosos e tão distorcidos, para a percepção pública, que a propaganda deixou de ser, como Edward Bernays a chamou, “um governo invisível”. Ela é governo. Governa diretamente, sem medo de ser contraditada, e seu principal objetivo é nos conquistar: nosso sentido de mundo, nossa capacidade de separar mentiras e verdade.


A era da informação é, na verdade, uma era da mídia. A mídia produz guerra; a mídia censura; a mídia demoniza quem queira; a mídia vinga-se; a mídia afasta a atenção dos eleitores do que a imprensa não quer que seja sabido – a mídia é uma linha de montagem surreal de clichês de rendição e pressupostos mentirosos.
Esse poder para criar uma nova “realidade” foi construído ao longo de muito tempo. Há 45 anos, um livro intitulado The Greening of America fez furor. Na capa, lia-se: “Há uma revolução em marcha. Não será como as revoluções passadas. Dessa vez, a revolução nascerá com o indivíduo.”
Eu trabalhava como correspondente nos EUA e lembro bem como, da noite para o dia, o autor – Charles Reich, um jovem aluno de Yale – recebeu status de guru. A mensagem era que a ação política e o trabalho de informar a verdade haviam fracassado, e só a “cultura” e a introspecção poderiam mudar o mundo.
Em poucos anos, movido pelas forças do lucro, o culto do “eu-mesmismo” já atropelara mortalmente nosso senso de ação conjunta, de justiça social e de internacionalismo. Classe, gênero e raça foram separados. Se era individualista e pessoal… era “político”. E imprensa, já então chamada “mídia”, era a mensagem.
Ao fim Guerra Fria, a fabricação de novas “ameaças” completou o serviço de desorientação política para todos que, vinte anos antes, ainda teriam constituído uma oposição veemente.
Em 2003, filmei uma entrevista em Washington com Charles Lewis, respeitado jornalista investigativo norte-americano. Discutimos a invasão ao Iraque, acontecida meses antes. Perguntei-lhe: “E se a imprensa mais livre do mundo tivesse denunciado as mentiras de George Bush e Donald Rumsfeld e investigado tudo que eles diziam, em vez de pôr em circulação tudo que, como em seguida se viu, não passava de propaganda a mais nua e crua?”
Lewis respondeu que se nós jornalistas tivéssemos feito o que era nosso trabalho e nosso dever “haveria boa, muito boa probabilidade de que os EUA não tivessem feito guerra ao Iraque.”
É conclusão estarrecedora, mas apoiada por outros jornalistas aos quais fiz a mesma pergunta. Dan Rather, ex-CBS, deu-me a mesma resposta. David Rose do Observer e consagrados jornalistas e produtores na BBC, que pediram para que seus nomes não fossem divulgados, disseram a mesma coisa.
Em outras palavras: se os jornalistas tivessem feito jornalismo, se tivessem perguntado e investigado, em vez de só repetir e amplificar a propaganda que recebiam pronta, centenas de milhares de homens, mulheres e crianças não teriam morrido; milhões não teriam perdido as próprias casas; e a guerra sectária entre sunitas e xiitas não teria sido insuflada; e talvez nem existisse o famigerado Estado Islâmico.
Ainda hoje, apesar dos milhões que tomaram as ruas em protestos, a maioria das populações nos países ocidentais absolutamente ainda não tem nem ideia da escala gigante do crime que os governos ocidentais cometeram no Iraque. Menos gente ainda sabe que, nos 12 anos antes da invasão, os governos de EUA e Grã-Bretanha puseram em movimento um holocausto – negando à população civil iraquiana os meios mínimos para a sobrevivência.
Essa são as palavras do principal funcionário britânico responsável por sanções impostas ao Iraque nos anos 1990 – um cerco medieval que provocou a morte de meio milhão de crianças com menos de cinco anos, como a Unicef relatou. O nome do funcionário é Carne Ross. No Ministério de Relações Exteriores em Londres, ficou conhecido como “Mr. Iraq”. Hoje, ocupa-se de contar, afinal, a verdade, sobre como o governo britânico mentia e os jornalistas acorriam, lépidos, sempre dispostos a divulgar o mais possível toda e qualquer mentira que lhes chegasse aos ouvidos. “Alimentávamos os jornalistas com factoides que os serviços inteligência nos passavam, depois de ‘aprovados’” – disse-me ele. – “Ou os mantínhamos absolutamente longe de qualquer fato.”
O principal sentinela, durante aquele período sombrio de informação falsificada, foi Denis Halliday. Então secretário-geral assistente da ONU e alto funcionário da ONU no Iraque, Halliday renunciou ao cargo e à carreira, para não ter de implementar políticas que ele descreveu como “genocidas”. Halliday estima que as sanções impostas por EUA e Grã-Bretanha ao Iraque mataram mais de um milhão de iraquianos.
O que então aconteceu a Halliday é muito instrutivo. Foi apagado do mundo. Ou foi convertido em agente do mal. No programa “Newsnight”, da BBC, o apresentador Jeremy Paxman berrou-lhe: “Você não é defensor de Saddam Hussein?” Recentemente, o Guardian descreveu essa cena como um dos “momentos memoráveis” da carreira de Paxman. Semana passada, Paxman assinou contrato de 1 milhão de libras, para escrever um livro.
Os faxineiros da supressão do jornalismo fizeram bem feito o seu trabalho imundo. Considerem os efeitos. Em 2013, pesquisa da ComRes descobriu que a maioria da população britânica acreditava que haviam morrido no Iraque “menos de 10 mil pessoas” – fração ínfima da verdade. O rastro de sangue que vai do Iraque a Londres havia sido esfregado a golpes de mídia, até quase sumir.
Rupert Murdoch é conhecido como o chefão da “máfia midiática”, e ninguém deve duvidar do estarrecedor poder de seus jornais – são 127, com circulação somada de 40 milhões de exemplares, mais a rede Fox. Mas a influência nefasta do império de Murdoch não é maior nem mais nefasta que a influência do que se conhece como “a mídia mais ampla”.
A propaganda mais efetiva não se encontra nem no Sun nem no Fox News de Murdoch – mas nos jornais e televisões ditos “sérios”, acobertados por um halo de jornalismo liberal e supostamente “civilizado”.
Quando o New York Times publicou a notícia inventada segundo a qual Saddam Hussein teria armas de destruição em massa, todos acreditaram, porque o veículo não era o canal Fox News de Murdoch: era o New York Times.
O mesmo vale para o Washington Post e o Guardian, jornais que, ambos, tiveram função criticamente decisiva no condicionamento dos seus leitores, até que aceitassem uma nova e perigosa guerra fria. Todos esses veículos da imprensa liberal falsearam o noticiário dos eventos na Ucrânia, apresentado como se a Rússia tivesse cometido algum crime – quando, na verdade, aconteceu ali um golpe fascista liderado pelo EUA, ajudado pela Alemanha e pela OTAN.
A inversão da verdade e do fato é tão generalizada que já nem se discutem, nos EUA, os movimentos de intimidação e provocação militar que Washington realiza contra a Rússia, nem se ouve qualquer oposição a eles. Não se ouve notícia alguma, todas suprimidas e censuradas por trás de uma campanha de geração de medo social, do tipo sob o qual cresci, durante a primeira guerra fria.
Mais uma vez, o império do mal vem nos pegar, liderado por um novo Stalin ou, perversamente, por novo Hitler. Escolha seu judas e pode malhá-lo até a morte.
A ocultação dos fatos reais sobre a Ucrânia é um dos mais completos blecautes de notícias de que me recordo em toda a minha vida. A maior concentração de militares ocidentais no Cáucaso e no leste da Europa, desde o final da 2ª Guerra Mundial, é escondida. A ajuda secreta que Washington deu a Kiev e às suas brigadas neonazistas responsáveis por crimes de guerra contra a população do leste da Ucrânia foi apagada do mundo. Todas as provas que desmentem a propaganda segundo a qual a Rússia teria sido responsável por abater em pleno voo um avião civil malaio com 300 passageiros foram apagadas do mundo.
E, mais uma vez, quem censura é a imprensa supostamente liberal. Sem que se apresente um único fato ou evidência, um jornalista “identificou” um líder pró-Rússia na Ucrânia como o homem que, pessoalmente, teria derrubado o avião. Esse homem, escreveu o tal jornalista, é conhecido como O Demônio. Sujeito assustador, que apavorou o jornalista. Pronto. Está tudo investigado e comprovado.
Muitos, na mídia ocidental, trabalharam duro para apresentar a população etnicamente russa étnicos que vive na Ucrânia como outsider, forasteira em seu próprio país — nunca como ucranianos que desejam ser integrados à Federação Russa, como cidadãos ucranianos em luta de resistência, diante de um golpe orquestrado contra um governo que eles elegeram.
O que o presidente da Rússia tenha a dizer não importa; é o vilão da pantomima que se pode malhar à vontade, sem consequências. Um general norte-americanos que dirige a OTAN e é perfeita reencarnação do Dr. Strangelove, o “Dr. Fantástico”. O tal general Philip Breedlove reclama todos os dias de invasões russas, sem um fiapo de comprovação. É a personificação do general Jack D. Ripper, de Stanley Kubrick.
Quarenta mil russos estariam reunidos na fronteira, fortemente armados, disse o Dr. Fantástico — digo, o general Breedlove. Pois foi o que bastou para alimentar o “noticiário” do New York Times, do Washington Post e do Observer – esse último, depois de ter-se destacado pelo empenho com que publicou, como se fosse informação, as mentiras e delírios que serviram de “base” para a invasão ao Iraque ordenada por Blair – como revelou um ex-repórter, David Rose.
Há quase que o “prazer espiritual” de uma reunião de classe. Os batedores-de-tambor do Washington Post são exatamente os mesmos redatores de editoriais para os quais a existência das armas de destruição em massa de Saddam Houssein seria “fato comprovado”.
“Se você se pergunta” – escreveu Robert Parry – “como é possível que o mundo tenha chegado às portas da terceira guerra mundial, do mesmo modo como chegou às portas da primeira guerra mundial há um século, tudo que tem de fazer é observar a loucura que tomou contra de virtualmente toda a estrutura político-informacional nos EUA, sobre a Ucrânia. Uma falsa narrativa de bons contra maus tomou conta de tudo desde o início. E, com o tempo, tornou-se impenetrável a qualquer fato ou informação racionalmente produzidos.”
Parry, o jornalista que investigou e expôs todo o caso Irã-“contras”, no governo Reagan, é um dos poucos profissionais que investiga o papel crucialmente decisivo desempenhado pela mídia no que o ministro de Relações Exteriores da Rússia chamou de “jogo das galinhas assustadas” [que correm cacarejando alto, antes até de saberem o que realmente está acontecendo]. Mas será mesmo jogo? No momento em que escrevo esse texto, o Congresso dos EUA está votando a Resolução n. 758 que, em resumo, ordena: “vamos nos preparar para a guerra contra a Rússia.”
No século 19, o escritor Alexander Herzen descreveu o liberalismo secular como “a última religião, embora sua igreja não seja do outro mundo, mas deste.” Hoje, esse direito divino é muito mais violento e perigoso que qualquer coisa que o mundo muçulmano produza, embora seu principal triunfo seja, talvez, a ilusão da informação livre e aberta.
Nos noticiários, países inteiros desaparecem. A Arábia Saudita, fonte do extremismo e do terror apoiado pelo ocidente, não é assunto – exceto quando reduz o preço do petróleo, e é então apresentada praticamente como associação de filantropia universal. O Iêmen sofreu 12 anos sob ataques de drones norte-americanos. Quem soube? Quem se incomoda?
Em 2009, a Universidade do Oeste da Inglaterra [orig. University of the West of England] publicou os resultados de um estudo de dez anos sobre a cobertura que a BBC dera à Venezuela. Das 304 matérias levadas ao ar, só três mencionavam qualquer das políticas socialmente mais importantes introduzidas pelo governo de Hugo Chávez. O maior programa de alfabetização em massa (que erradicou o analfabetismo na Venezuela) da história da humanidade recebeu duas linhas de comentário.
Na Europa e nos EUA, milhões de leitores e de telespectadores não sabem praticamente nada sobre as mudanças dramáticas, de melhoria na qualidade de vida que foram implantadas na América Latina, muitas delas inspiradas em Chávez. Como na BBC, também as matérias publicadas no New York Times, no Washington Post, no Guardian e no resto de toda a “respeitável” imprensa ‘séria’ no ocidente, tudo foi sempre redigido e distribuído de má fé. Zombaram de Chávez até em seu leito de morte. E fico a pensar: como se explica isso, nas escolas de jornalismo?
Por que milhões de pessoas na Grã-Bretanha aceitam e deixam-se convencer de que esse castigo coletivo chamado “austeridade” seria necessário?! Logo depois do crash econômico em 2008, o que se viu exposto foi um sistema apodrecido. Por um átimo de segundo os bancos foram “noticiados” como escroques, com dívidas para com o público, que haviam assaltado e traído.
Mas em apenas poucos meses – exceto uma poucas pedras lançadas contra “bônus” corporativos exagerados, pagos aos executivos – a mensagem já mudara completamente. As caricaturas e as críticas contra banqueiros-bandidos desapareceram da midia. E começou o tempo de glorificar algo chamado “austeridade” – para a desgraça de milhões de pessoas comuns. Houve algum dia tunga mais ousada que essa?
Hoje, muitas das bases e fundamentos da vida civilizada na Grã-Bretanha estão sendo desmanteladas, para pagar dívida fraudulenta, dívida de escroques. Os cortes de “austeridade” parecem chegar a 83 bilhões de libras. É quase exatamente o total de impostos sonegados por aqueles mesmos bancos e imprensa escroques, como a Amazon britânica e o jornal britânico de Murdoch, News UK.  E os bancos dos escroques estão recebendo subsídio anual de 100 bilhões de libras, em avais, garantias e seguros grátis – dinheiro suficiente para financiar toda a Saúde Pública Nacional.
A crise econômica é pura propaganda. Hoje, a Grã-Bretanha, os EUA, grande parte da Europa, Canadá e Austrália são governados por políticos extremistas. Quem fala pela maioria? Quem está construindo a narrativa da maioria? Quem oferece informação confiável? Quem organiza e preserva registros corretos de fatos reais? Não é para isso que existem os jornalistas?
Em 1977, Carl Bernstein, apoiado na justa fama que adquiriu em Watergate, revelou que mais de 400 jornalistas e executivos da mídia trabalhavam para a CIA. A lista incluía jornalistas do New York Times, Time e das redes de televisão. Em 1991, Richard Norton Taylor, do Guardian, revelou números semelhantes, sobre seu país.
Hoje já nada disso é necessário. Duvido muito que alguém tenha tido de pagar ao Washington Post e a muitos outros veículos para que se pusessem a acusar Edward Snowden de ajudar terroristas. Duvido que alguém precise pagar os que rotineiramente ofendem Julian Assange – embora, sim, haja muitas recompensas.
Para mim, é perfeitamente claro que a principal razão pela qual Assange atraiu tanta ira, violência e inveja é que o WikiLeaks pôs a nu toda uma elite política corrupta que é mantida à tona e no poder exclusivamente por jornalistas e jornalismos. Ao inaugurar uma extraordinária era de abertura e transparência, Assange fez inimigos mortais, porque iluminar o papel dos cães de guarda da mídia e envergonhá-los. Assange tornou-se o arqui-inimigo, um alvo preferencial — mas, simultaneamente, galinha dos ovos de outro. Assinaram-se contratos lucrativos para livros e para filmes hollywoodianos, e carreiras chegaram aos píncaros da glória, nas costas de WikiLeaks e seu criador. Muita gente ganhou muito dinheiro, enquanto o WikiLeaks lutava para não morrer.
Nada disso foi mencionado em Estocolmo, dia 1ª/12, quando o editor do Guardian, Alan Rusbridger, partilhou com Edward Snowden o “Right Livelihood Award”, conhecido como o Prêmio Nobel da Paz alternativo. O mais chocante daquele evento foi que Assange e o WikiLeaks foram apagados do mundo. Como se não tivessem existido. Como se fossem não-pessoas. Ninguém falou em defesa do criador, do pioneiro absoluto do movimento de soar o alarme, de avisar do perigo mortal que se esconde na manipulação do noticiário pela imprensa. O homem que deu de presente ao Guardian um dos maiores furos de toda a história. E o mais importante de tudo: foram Assange e sua equipe de WikiLeaks quem, de fato – e brilhantemente – resgataram Edward Snowden em Hong Kong e o puseram em total segurança [em Moscou, onde hoje vive e trabalha]. Nem uma palavra.
O que tornou ainda mais gritante, irônica e desgraçada aquela censura por omissão, foi que a tal cerimônia realizava-se no Parlamento da Suécia – parlamento e autoridades cujo vergonhoso silêncio no caso construído contra Assange colaborou para um dos maiores golpes jamais assestados contra a justiça em Estocolmo.
“Quando a verdade é substituída pelo silêncio” – disse o dissidente soviético Yevtushenko – “o silêncio torna-se mentira.”
Esse tipo de silêncio mentira tem de ser quebrado pelos jornalistas. Que todos olhemos nossa própria cara no espelho. Temos de chamar às falas a imprensa submissa ao poder e ao dinheiro, e a psicose que mais uma vez ameaça arrastar o mundo à guerra.
No século 18, Edmund Burke descreveu o papel da imprensa como um Quarto Poder que fiscalizaria os poderosos.  Não sei sequer se alguma imprensa algum dia fez tal coisa. Mas sei, com certeza absoluta, que, hoje, nenhuma faz. Acho que precisamos de um Quinto Estado: jornalismo que monitore, que desconstrua e que enfrente a propaganda e que ensine os mais jovens a defender os mais fracos e mais pobres, não os mais ricos e mais poderosos.
Para mim, jornalismo tem de ser a insurreição do saber subjugado.
Estamos diante do centenário da 1ª Guerra Mundial. Na época os jornalistas foram recompensados e prestigiados por seu silêncio e covardia. No auge do banho de sangue, o primeiro-ministro britânico David Lloyd George confidenciou a C.P. Scott, editor do Manchester Guardian: “Se as pessoas conhecessem a verdade, a guerra acabaria amanhã cedo. Mas não conhecem nem podem conhecer.”
Ainda não conhecem. Mas, com certeza, já é hora de conhecerem.

Fonte: OUTRASPALAVRAS