A chamada “ameaça” do
ISIL [ing. para "Estado Islâmico no Iraque e Levante"], ou Estado Islâmico (EI) é cortina de fumaça. A força do
ISIL foi
deliberadamente inflada para conquistar apoio público para o Pentágono e
justificar o bombardeio ilegal contra a Síria. Está também sendo usada
para justificar a mobilização do que a cada dia mais claramente se vê
que é montagem de ataque militar de grande escala liderado pelos EUA no
Oriente Médio. O poder de fato e contingentes militares que estão sendo
mobilizados excedem em muito o que seria necessário para combater
simplesmente os esquadrões da morte do
ISIL.
26/9/2014, Mahdi Darius NAZEMROAYA,
Strategic Culture Foundation (Фонд Стратегической Культуры)
Por mais que os EUA tentem convencer seus cidadãos e o mundo de que
não haverá tropas em solo, é muito improvável que assim seja. É muito
improvável, em primeiro lugar, porque é indispensável que haja coturnos
em solo para monitorar e selecionar alvos. Além do mais, Washington vê a
campanha contra os combatentes do
ISIL como guerra que durará
anos. É puro duplifalar. O que está sendo imposto à opinião pública
norte-americana e mundial é deslocamento militar permanente; no caso do
Iraque é redeslocamento para lugar que os EUA já invadiram e ocuparam em
2003. A força militar que está sendo mobilizada nesse caso pode, em
todos os casos, ser convertida em forças de assalto gigante contra
Síria, Irã e Líbano.
Diálogo de segurança EUA-Síria e EUA-Irã?
Antes do início dos bombardeios dos EUA na Síria, circularam boatos
não confirmados de que Washington teria iniciado um diálogo com Damasco,
através de canais russos e iraquianos, para discutir coordenação
militar e a campanha do Pentágono de bombardeio em território sírio.
Ideia absolutamente impensável e completamente improvável. Agentes de
confusão operavam em tempo integral para tentar dar qualquer
legitimidade ao bombardeio contra a República Árabe Síria.
As ‘notícias’ de cooperação EUA-Síria com intermediação de russos e
iraquianos são parte de uma série sinistra de desinformação e
contrainformação. Antes de surgirem as ‘notícias’ sobre cooperação entre
EUA e Síria, circularam ‘notícias’ sobre cooperação EUA-Irã no Iraque.
Mais cedo, Washington e a mídia norte-americana haviam tentado dar a
impressão de que haveria algum acordo para cooperação militar entre os
EUA e Teerã, para combater contra o
ISIL e cooperarem dentro do Iraque. As ‘notícias’ foram amplamente refutadas nos termos mais incisivos por vários membros do
establishment político iraniano e também por comandantes iranianos de alta patente, como simples campanha de desinformação.
Depois que os iranianos indicaram claramente que as declarações de
Washington não passavam de ficção, os EUA começaram a dizer que não
seria adequado para o Irã unir-se à coalizão anti-
ISIL. O Irã
retrucou. Washington estava outra vez distorcendo os fatos; a verdade é
que funcionários dos EUA várias vezes pediram que Teerã se integrasse à
coalizão anti-
ISIL.
Ainda antes de deixar o hospital depois de passar por uma cirurgia na
próstata, o Aiatolá Ali Khamenei, o mais alto governante do Irã, disse à
televisão iraniana, dia 9/9/2014, que os EUA haviam solicitado em três
diferentes ocasiões, que Teerã cooperasse com Washington. Explicou que o
embaixador dos EUA no Iraque fizera chegar mensagem ao embaixador do
Irã no Iraque, solicitando que o Irã se unisse aos EUA naquele momento.
Depois – palavras do Aiatolá Khamenei – “o mesmo [John Kerry] – que
havia dito frente às câmeras e aos olhos de todo o mundo, que os EUA não
queriam a cooperação do Irã – pediram através do Dr. Zarif que o Irã
cooperasse com os EUA nessa questão. O Dr. Zarif negou-se a atender o
pedido.” E o pedido foi repetido pela vez pela subsecretária
norte-americana Wendy Sherman, ao vice-ministro de Relações Exteriores
do Irã, Abbas Araghchi.
Khamenei também disse que já descartara categórica e absolutamente
qualquer cooperação com Washington nessa questão. “Absolutamente não
cooperaremos com os EUA, especialmente porque as mãos dos EUA estão
sujas” – repetiu o Aiatolá publicamente, ao explicar que não havia
qualquer dúvida de que Washington tem as intenções mais perversas no
Iraque e na Síria.
Como a Rússia, o Irã já apoia a Síria e o Iraque contra o
ISIL. Também como Moscou, Teerã luta contra os terroristas, mas não se integrará a coalizão anti-
ISIL de Washington.
Nova(s) invasão(ões) e golpe(s) para Mudança de Regime no em torno do óleogasoduto?
Como se disse dia 20/6/2014,
aos olhos de Washington era indispensável remover o governo federal de
Nouri Al-Malaki em Bagdá, porque se recusava a unir-se ao cerco contra
os sírios comandando pelos EUA; porque se mantinha aliado ao Irã; porque
continuava a vender petróleo aos chineses; e a comprar armas da
Federação Russa. A decisão do Iraque de Al-Maliki de integrar-se ao
óleogasoduto Irã-Iraque-Síria também criava dificuldades contra os
objetivos dos EUA e aliados, de (i) controlarem todo o fluxo de energia
no Oriente Médio; e (ii) impedir a integração da Eurásia. [1]
O governo de Al-Maliki cometeu também dois outros pecados capitais em
Bagdá, pela avaliação dos EUA. Mas essas ofensas, para serem bem
compreendidas, têm de ser postas em contexto geopolítico.
Ninguém esqueceu a frase de propaganda criada no governo de Bush
Filho depois do 11/9 e no início de suas guerras seriais: “Qualquer um
vai para Bagdá; homem que é homem vai para Teerã”. O xis da questão
dessa frase belicista, construída como slogan de propaganda, é que Bagdá
e Damasco já então eram vistas pelo Pentágono como rotas possíveis que
levariam a Teerã. [2]
Como no caso da Síria, os pecados mortais de Al-Maliki também estavam
relacionados a impedir o caminho dos EUA até Teerã. Primeiro, o governo
do Iraque expulsou o Pentágono do Iraque no final de 2011, com o que
removeu as tropas norte-americanas plantadas exatamente na fronteira
oeste do Irã. Segundo, o governo federal iraquiano trabalhava para
expulsar do Iraque militantes iranianos que se opõem ao governo iraniano
e para fechar o Camp Ashraf, que sempre poderia ser usado em guerra ou
em operações para mudança de regime contra o Irã.
Ashraf serviu como base para a ala militar dos
Mujahidin-e-Khalq (
MEK/MOK/MKO) com base no Iraque. O grupo
MEK é
organização de iranianos antigoverno, que trabalha a favor do golpe
para mudança de regime em Teerã. Já declarou apoio aos ataques liderados
pelos EUA contra Irã e Síria.
Embora oficialmente o governo dos EUA classifique os
MEK como organização terrorista, Washington já começara a aprofundar os contatos com os
MEK quando
norte-americanos e britânicos invadiram o Iraque. Ironicamente (e mal
intencionados) EUA e Grã-Bretanha usaram o apoio aos
MEK para
rotular o Iraque como estado patrocinador de terroristas (?!) e, também,
para justificar a invasão anglo-norte-americana ao Iraque. Desde essa
época, os EUA ‘alimentam’ e mantêm os terroristas do
MEK.
Desde 2003, os EUA financiam os
MEK. Washington lhes dá
proteção, porque quer conservá-los como instrumento a ser usado contra
Teerã, ou para manter a opção de, algum dia, instalar o
MEK no poder em Teerã, como parte de um golpe para mudança de regime contra o Irã. O
MEK já
foi, literalmente, incorporado na caixa de ferramentas do Pentágono e
da CIA contra Teerã. Mesmo quando os EUA transferiram o controle do Camp
Ashraf para o governo de Bagdá, o Pentágono manteve forças suas entre
os
MEK.
Eventualmente, as forças do
MEK seriam, na maioria,
realocadas em 2012 para a antiga base dos EUA conhecida como Acampamento
Liberty. Esse Acampamento Liberty é hoje mais conhecido por um nome
árabe, Acampamento Hurriya.
Scott Peterson, diretor da sucursal de Istanbul do
Christian Science Monitor, explica como funcionários dos EUA começaram a realmente apoiar os
MEK no
início da “Primavera Árabe” de 2011. É projeto também ligado aos sonhos
de Washington, de golpe para mudança de regime. Peterson escreveu que
funcionários do governo dos EUA “raramente mencionam o passado
violentamente anti-EUA dos
MEK, e falam do grupo não como
terroristas, mas como combatentes da liberdade com “valores iguais aos
nossos”, como ‘democratas à espera’ de poderem servir como uma vanguarda
para mudança de regime no Irã.” [3]
Washington não abandonou os sonhos de golpe para mudança de regime em
Teerã. Seria coincidência que esteja aumentando o apoio que EUA e União
Europeia dão hoje aos
MEK, sobretudo quando a ameaça do
ISIL dentro do Iraque começa a ser comentada e noticiada publicamente?
600 deputados e políticos de quase todos os países da OTAN foram levados para participar de uma grande reunião dos
MEK dia
27/6/2014, no nordeste da capital francesa, no subúrbio de Villepinte,
que convocou para o golpe de mudança de regime no Irã. Os tipos mais
conhecidos pela dedicação com que trabalham pró mais e mais guerras no
mundo (o ex-senador dos EUA Joseph Lieberman; o porta-voz e apologista
de Israel Alan Dershowhitz; ex-funcionário do governo de Bush Filho e
‘especialista’ contratado da Fox News John Bolton; o ex-prefeito de New
York Rudy Giuliani; o ex-ministro francês e chefe da Missão Provisória
da ONU para governo do Kosovo (
UNIMIK) Bernard Kouchner, todos esses se reuniram com o
MEK para promover o golpe para mudança de regime no Irã, e, claro, mais guerra.
Segundo o
MEK, mais de 80 mil pessoas compareceram ao
comício para promover a mudança de regime no Irã. Lá estavam também
militantes da oposição no Iraque e Síria; todos, a pedir ‘mudança de
regime’ também no Irã.
A ironia do ‘evento’ é que o dinheiro foi fornecido, praticamente
todo, pelos EUA, com alguma contribuição dos aliados. Os gastos foram,
sobretudo, para as iniciativas de
lobby desse
MEK no
Congresso dos EUA e no Departamento de Estado, o que, de fato, não passa
de ‘reciclagem’ de dinheiro. Gente como Ruddy Giuliani – provavelmente
um dos mais odiados prefeitos da história da cidade de New York, até que
usou a favor da própria imagem os eventos trágicos do 11/9/2001 –
trabalham hoje, de fato, como
lobbyistas para o
MEK.
“Muitos desses ex-altos funcionários do governo dos EUA – que
representam todo o pleno espectro político – têm recebido dezenas de
milhares de dólares só para falar bem do
MEK“, segundo o
Christian Science Monitor. [4]
Giuliani vive a discursar em eventos pró
MEK pelo menos desde 2010. Em 2011, falou num comício do
MEKque
promovia o golpe para mudança de regime em Teerã e Damasco. “E se
fizéssemos, depois de uma Primavera Árabe, um Verão Persa?”, perguntou
Giuliani, retórico. [5] E a sentença seguinte de Giuliani, na mesma
ocasião, nada esconde sobre o que é, de fato, a iniciativa dos EUA de
apoiar o
MEK: “Precisamos de mudança de regime no Irã, ainda mais do que no Egito ou na Líbia, e tanto quanto na Síria.” [6]
Joseph Lieberman, amigo e parceiro na propaganda e promoção de
guerras e mais guerras do senador John McCain não pôde viajar até o
subúrbio parisiense em Seine-Saint-Denis, mas falou por vídeo, na
reunião para mudança de regime. O Deputado Edward Royce, presidente da
Comissão de Assuntos Externos da Câmara de Deputados dos EUA, também
falou por videoconferência a favor de mudança de regime no Irã. E o
mesmo fizeram os senadores Carl Levin e Robert Menendez.
Estavam presentes grandes delegações de EUA, França, Espanha, Canadá e
Albânia. Além dos já mencionados, outros norte-americanos notáveis
também participaram do comício de 27/6/2014, além de vários franceses e
espanhóis igualmente notáveis, e de muito notáveis euro-atlanticistas.
Nomes em: (1) Newt Gingrich; (2) John Dennis Hastert; (3) George
William Casey; (4) Hugh Shelton; (5) James Conway; (6) Louis Freeh; (7)
Lloyd Poe; (8) Daniel Davis; (9) Loretta Sánchez; (10) Michael B.
Mukasey; (11) Howard Dean; (12) William Richardson; (13) Robert
Torricelli; (14) Francis Townsend; (15) Linda Chavez; (16) Robert
Joseph; (17) Philip Crowley; (18) David Phillips; (19) Marc Ginsberg;
(20) Michèle Alliot-Marie; (21) Rama Yade; (22) Gilbert Mitterrand; (23)
Martin Vallton; (24) Pedro Agramunt Font de Mora; (25) Jordi Xucla;
(26) Alejo Vidal-Quadras; (27) José Luis Rodriguez Zapatero; (28)
Sonsoles Espinosa Díaz); (29) Pandli Majko; (30) Kim Campbell; (31) Geir
Haarde; (32) Ingrid Betancourt; (33) Alexander Carile; (34) Giulio
Maria Terzi; e (35) Adrianus Melkert.
E não se falou só de golpe para mudança de regime; fala-se também
da crise nas regiões de fronteira no Iraque e na Síria. Fox News deu
cobertura especial àquele evento do
MEK. Em julho, a liderança do
MEKhavia condenado o apoio do Irã ao governo federal do Iraque em sua luta contra o
ISIL; depois que os EUA começaram a falar de combater
ISIL, calaram-se.Antes do comício para promoção do golpe de mudança de regime, a líder dos
MEK, Maryam Rajavi - que os
MEK indicaram
presidenta do Irã desde 1993 – até se encontrou com o líder-fantoche do
Conselho Nacional Sírio Ahmed Jarba em Paris, dia 23/5/2014, para
discutirem cooperação.
Golpe para mudança de regime em Damasco mediante ‘extensão-distorção’ da ‘missão’ na Síria
A campanha de bombardeio que os EUA iniciaram na Síria é ilegal e viola a
Carta da ONU. Por isso o Pentágono tomou a providência de ‘declarar’
que a campanha de bombardeio liderada pelos EUA seria necessária, por
causa de ameaça de um ataque “iminente” que estaria sendo planejado
contra o território dos EUA. Isso foi feito para dar alguma cobertura
pseudo legal ao bombardeio contra território sírio, servindo-se do
argumento, distorcido, de que o Artigo 51 da Carta da ONU permite que
estado membro ataque legalmente outro estado, se houver ameaça de ataque
iminente, por aquele país, contra membro da ONU.
Barack Obama e o governo dos EUA fizeram o possível para confundir
encobrir a realidade mediante alguns passos tomados para fazer crer que
seria legítimo violar a lei internacional e bombardear a Síria sem
autorização de Damasco. A embaixadora dos EUA Samantha Powers deu
conhecimento ao representante permanente da Síria na ONU que os EUA
atacariam o Governato de Al-Raqqa, informando Bashar Al-Jaafari mediante
uma notificação unilateral, que absolutamente não significa que os EUA
tivessem obtido o consentimento legal da Síria.
Os ataques norte-americanos contra a Síria não têm tampouco o apoio
do Conselho de Segurança da ONU. Mas o governo dos EUA tentou fazer-crer
que a reunião do Conselho de Segurança da ONU do dia 19/9/2014, que foi
presidida por John Kerry seria sinal de que o Conselho de Segurança da
ONU e a comunidade internacional estariam apoiando a campanha de
bombardeamento contra a Síria.
Não foi tampouco por coincidência que, exatamente quando os EUA montavam sua coalizão multinacional para dar combate ao
ISIL e
àquele pseudo Califato, John Kerry mencione, convenientemente, que a
Síria teria violado a Convenção das Armas Químicas (CAQ) [orig.
Chemical Weapons Convention (CWC)].
Ao mesmo tempo em que admitia que a Síria não usou qualquer material
proibido pela CAQ, Kerry, muito incoerentemente disse aos deputados, dia
18/9/2014, que Damasco teria desrespeitado a CAQ.
Em resumo, Washington já está dizendo absolutamente qualquer coisa,
não importa o quando seja absurdo ou inverossímil, para dar início ao
golpe para mudança de regime em Damasco. Se o já exposto até aqui não
bastar para mostrar isso, o fato de que os EUA usarão território da
Arábia Saudita para treinar ainda mais forças antigoverno sírio com
certeza o mostra. [7]
Os EUA têm em vista uma campanha de bombardeio de longa duração, que
também ameaça o Líbano e o Irã. Segundo o Aiatolá Ali Khamenei, os EUA
planejam bombardear Iraque e Síria servindo-se do
ISIL como
cortina de fumaça, seguindo o modelo já usado no Paquistão. Mais
corretamente, seguindo o modelo do que os EUA chamavam “AfPak”. Os EUA
usaram os efeitos da instabilidade que extravasaram do Afeganistão para o
Paquistão, e a expansão dos Talibã, como pretexto para bombardearem o
Paquistão. Iraque e Síria também já estão ‘unidos’ numa só zona de
conflito, para o qual Ibrahim Al-Marashi criou a neologia “Siriaque”
[ing. "
Syraq"].
O objetivo mais amplo: impedir a integração da Eurásia
Enquanto os EUA estão ocupados fingindo que combatem os mesmos
esquadrões da morte e terroristas que criaram e armaram, os chineses e
seu parceiros trabalhavam muito para integrar a Eurásia. Enquanto os EUA
faziam sua Guerra Global ao Terror (GGaT), a Eurásia assistia à
reconstrução da Rota da Seda. Isso, afinal, é a história de fundo e o
verdadeiro motivo da insistência de Washington, que não para de manter
guerras em cursos e criar mais e mais novas guerras e remobilizar todo o
Oriente Médio. É a razão também pela qual os EUA só fazem empurrar a
Ucrânia para um confronto com a Rússia; e é também a razão para as
sanções da União Europeia contra a Federação Russa.
Os EUA tentam impedir a re-emergência da Rota da Seda e a expansão
dessa rede comercial. Ao mesmo tempo em que Kerry só faz tentar apavorar
as pessoas com ameaças do
ISIL e suas atrocidades, os chineses
só fizeram ampliar seus mapas com negócios e mais negócios por toda a
Ásia e o Oceano Índico. É parte da marcha para o oeste, do dragão
chinês.
Paralelamente às viagens de Kerry, o presidente da China Xi Jinping
visitou o Sri Lanka e foi às Maldivas. Sri Lanka já é parte do projeto
chinês da Rota Marítima da Seda. As Maldivas são mais recentemente
chegadas ao mesmo projeto; construíram-se acordos para incluir a
ilha-nação também na rede e na infraestrutura da Rota Marítima da Seda
que a China dedica-se a construir para expandir o comércio marítimo
entre o Leste da Ásia, o Oriente Médio, a África e a Europa. Também não é
coincidência que os dois destroieres chineses ancorados no porto
iraniano de Bandar Abbas no Golfo Persa estejam fazendo manobras
conjuntas com naves de guerra iranianas no Golfo Persa.
Paralela à rede leste-oeste, uma rede de comércio e transporte
norte-sul está sendo também desenvolvida. O presidente Hassan Rouhani do
Irã esteve no Cazaquistão recentemente, onde, com seu contraparte
cazaque, Nursultan Nazarbayev, confirmaram que haverá desdobramentos
comerciais importantes. Aguarda-se também a conclusão da estrada de
ferro Cazaquistão-Turcomenistão-Irã, que criará uma rota de trânsito
norte sul. E os dois presidentes também discutiram a cooperação entre
Teerã e a União Eurasiana. Do lado ocidental do Mar Cáspio, planeja-se
também um corredor paralelo norte-sul, da Rússia ao Irã atravessando a
República do Azerbaijão.
As sanções anti-Rússia já começam a causar mal-estar na União
Europeia, quem mais perde no processo. A Rússia já mostrou que tem
opções. Moscou já começou a construir o mega gasoduto para gás natural
Yakutia-Khabarovsk-Vladivostok (também chamado gasoduto Poder da
Sibéria) para entregar gás à China. E a África do Sul, parceira da
Rússia nos grupo BRICS, assinou acordo histórico de energia nuclear com a
empresa russa Rosatom.
A importância da Rússia no cenário mundial é bem clara e vem
aumentando no Oriente Médio e na América Latina. Até mesmo no
Afeganistão, feudo da OTAN, a influência russa está crescendo. O governo
russo compilou recentemente uma lista de mais de 100 antigos projetos
soviéticos de construção, que lhe parecem importantes para serem
recuperados.
Alternativa às sanções de EUA e União Europeia começa a emergir na
Eurásia. Além do acordo para troca de petróleo-por-produtos que Teerã e
Moscou assinaram, o ministro de Energia da Rússia Alexander Novak
anunciou que Irã e Rússia já têm novos acordos no total de 70 bilhões de
euros. Em breve se verá que as sanções só isolarão os EUA e a União
Europeia. Os iranianos também anunciaram que estão trabalhando com seus
parceiros chineses e russos para superar o regime de sanções de EUA e
União Europeia.
Os EUA estão tendo de se recolher. Não podem ‘pivotear-se’ para o
Pacífico Asiático, enquanto não resolverem as coisas no Oriente Médio e
no leste da Europa, onde estão em guerra contra Rússia, Irã, Síria e
seus aliados. Por isso Washington dedica-se em tempo integral a
fraturar, dividir, intrigar, chantagear e corromper, no esforço para
co-optar. Assim, afinal, se pode entender que os EUA não estão
absolutamente preocupados em dar combate ao
ISIL, que sempre serviu aos interesses dos EUA no Oriente Médio.
Os
EUA só têm duas principais preocupações: tentar impedir que seu império
desmonte-se aos pedaços e tentar impedir a integração eurasiana.
____________________________
Mahdi Darius Nazemroaya é Investigador Associado
do Centro de Investigação da Globalização/Centre for Research on
Globalization (CRG) especializado em assuntos geopolíticos e
estratégicos.
Original inglês:
The March to War: Fighting ISIL is a Smokescreen for US Mobilization against Syria, Iran
____________________________
NOTAS
[1] Mahdi Darius Nazemroaya, “America pursuing regime change in Iraq again”, 20/6/2014.
[2] Mahdi Darius Nazemroaya, “The Síria Endgame: Strategic Stage in the Pentagon’s Covert War on Iran”,
Global Research, 7/1/2013.
[3] Scott Peterson, “Iranian group’s big-money push to get off US terrorist list”,
Christian Science Monitor, 8/8/2011.
[4] Ibid.
[5] Ibid.
[6] Scott Peterson, “Iranian group’s big-money push to get off US terrorist list”,
Christian Science Monitor, 8/8/2011.
[7] Matt Spetalnick, Jeff Mason e Julia Edwards, “Saudi Arabia agrees
to host training of moderate Syria rebels”, Caren Bohan, Grant McCool,
and Eric Walsh (eds.),
Reuters, 10/9/2014.