SEBASTIÃO NERY 17 de
Setembro de 2013 às 11:17
Em 1970, no horror do Ai-5,
o general Médici, mais feroz dos ditadores de 64, nomeou procurador do Incra o
jovem advogado pernambucano Roberto João Pereira Freira, de 28 anos
O único político brasileiro da
oposição (que se diz da oposição) que aplaudiu José Serra, o Elias Maluco
eleitoral, por ter anunciado que agora é hora de destruir Lula, foi o senador
Roberto Freire, presidente do Partido Popular Socialista (PPS, a sigla que
sobrou do assassinato do saudoso Partido Comunista, melhor escola política
brasileira do século passado). Disse: "Serra presta um serviço à
democracia".
Para Roberto Freire,
"desconstruir", destruir, eliminar o principal candidato da oposição
e das esquerdas (com 42% nas pesquisas) é um "serviço à democracia".
Gama e Silva nunca teve coragem de dizer isso. Armando Falcão também não. Nem
mesmo Newton Cruz. Só o delegado Fleury. Ninguém entendeu. Porque não conhecem
a história de Roberto Freire.
Aprovado pelo SNI
Aprovado pelo SNI
Em 1970, no horror do AI-5,
quando tantos de nós mal havíamos saído da cadeia ou ainda lá estavam, muitos
sendo torturados e assassinados, o general Médici, o mais feroz dos ditadores
de 64, nomeou procurador (sic) do Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária) o jovem advogado pernambucano Roberto João Pereira Freire, de
28 anos.
Não era um cargozinho
qualquer, nem ele um qualquer. "Militante do Partido Comunista desde o
tempo de estudante, formado em Direito em 66 pela Universidade Federal de
Pernambuco, participou da organização das primeiras Ligas Camponesas na Zona da
Mata" (segundo o "Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro",
da Fundação Getulio Vargas-Cpdoc).
Será que os comandantes do IV
Exército e os generais Golbery (governo Castelo), Médici (governo Costa e
Silva) e Fontoura (governo Médici), que chefiaram o SNI de 64 a 74, eram tão
debilóides a ponto de nomearem procurador do Incra, o órgão nacional encarregado
de impedir a reforma agrária, exatamente um conhecido dirigente universitário
comunista e aliado do heróico Francisco Julião nas revolucionárias Ligas
Camponesas?
Os mesmos que, em 64, na
primeira hora, cassaram Celso Furtado por haver criado a Sudene, cataram e
prenderam Julião, e desfilaram pelas ruas de Recife com o valente Gregório
Bezerra puxado por uma corda no pescoço, puseram, em 70, o jovem líder
comunista para "fazer" a reforma agrária.
Não estou insinuando nada,
afirmando nada. Só perguntando. E, como ensina o humor de meu amigo Agildo
Ribeiro, perguntar não ofende.
Sempre governista
Em 72, sempre no PCB (e no
Incra do SNI!) foi candidato a prefeito de Olinda, pelo MDB. Perdeu. Em 74,
deputado estadual (22.483 votos). Em 78, deputado federal, reeleito em 82. Em
85, candidato a prefeito de Recife, pelo PCB, derrotado por Jarbas Vasconcellos
(PSB). Em 86, constituinte (pelo PCB, aliado ao PMDB e ao governo Sarney). Em
89, candidato a presidente pelo PCB (1,06% dos votos).
Reeleito em 90, fechou o PCB
em 92, abriu o PPS e foi líder, na Câmara, de Itamar, com cujo apoio se elegeu
senador em 94 e logo aderiu ao governo de Fernando Henrique. Em 96, candidato a
prefeito de Recife, perdeu pela segunda vez (para Roberto Magalhães).
Agora, sem condições de voltar
ao Senado, aliou-se ao PMDB e PFL de Pernambuco, para tentar ser deputado. Uma
política nanica, sempre governista, fingindo oposição.
Agente de FHC
Em 98, para Fernando Henrique
comprar a reeleição, havia uma condição sine qua non: impedir que o PMDB
lançasse Itamar candidato a presidente. Sem o PMDB, a reeleição não seria
aprovada. Mas o PMDB só sairia para a candidatura própria se houvesse alianças.
E surgiram negociações para uma aliança PMDB-PPS, uma chapa Itamar-Ciro.
Fernando Henrique ficou
apavorado. E Roberto Freire, agente de FHC, o salvou, lançando Ciro a
presidente. Isolado, o PMDB viu sua convenção explodida pelo dinheiro do DNER,
Itamar sem legenda e a reeleição aprovada.
Durante quatro anos, Roberto
Freire saracoteou nos palácios do Planalto e da Alvorada, sempre fingindo
independência, mas líder da "bancada da madrugada" (de dia se diz
oposição, de noite negocia no escurinho do governo).
Quinta-coluna
No ano passado, na hora de
articular as candidaturas a presidente, o PT (sobretudo o talento e a
competência política de José Dirceu) começou a pensar numa aliança PT-PPS, para
a chapa Lula-Ciro. Itamar disse que apoiava. O PSB de Arraes também. Fernando
Henrique, o PSDB e Serra se apavoraram. Mas Roberto Freire estava lá para isso.
Novamente lançou Ciro, para impedir uma aliança das oposições com Ciro vice de
Lula.
Fora dos cálculos de FHC e
Roberto Freire, Ciro começou a crescer. Mas, quando o PFL, sem Roseana, quis
apoiar Ciro, dando espaços nos estados e na TV, Roberto Freire, aliado em
Pernambuco de Marco Maciel, o líder da direita do PFL, vetou o PFL com Ciro.
Como se chama isso? Uns, "agente". Stalin chamava
"quinta-coluna".
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