"Fala-se muito em liberdade de imprensa como sendo uma coisa importante por uma razão óbvia: onde é que nós recebemos informações sobre o Brasil e sobre o mundo? É pela mídia. Logo, se ela nos der uma informação truncada, orientada, encaminhada para valorar certas coisas e desvalorizar outras, o que nós brasileiros vamos ter dentro da cabeça?”, questiona o jurista Celso Bandeira de Mello, um dos principais nomes do Direito no País
24 de Janeiro de 2015 às 07:51
Por Lilian Milena, do Jornal GGN
- Ele é considerado um dos expoentes do Direito Administrativo no
Brasil, é a quinta geração envolvida com o mundo jurídico na sua
família, começou como professor da Faculdade de Direito da PUC, onde
mais tarde se tornou vice-reitor acadêmico. Aos 78 anos acumula os
títulos de professor honorário da Faculdade de Direito da Universidade
de Mendoza, na Argentina; da Faculdade de Direito do Colégio Mayor de
Rosário, em Bogotá (Colômbia), membro correspondente da Associação
Argentina de Direito Administrativo, membro honorário do Instituto de
Derecho Administrativo da Faculdade de Direito da Universidade do
Uruguai, professor extraordinário da Universidade Notarial Argentina e
membro titular de seu Instituto de Derecho Administrativo e professor
titular visitante da Universidade de Belgrano - Faculdade de Direito e
Ciências Sociais, também da Argentina.
Estamos falando de Celso Antônio
Bandeira de Mello, que em entrevista concedida ao jornalista Luis
Nassif, no programa Brasilianas.org (TV Brasil) reconheceu a necessidade
de uma reforma no poder judiciário. Para ele, os ministros do Supremo
Tribunal Federal deveriam ocupar o cargo por no máximo oito anos. Hoje, o
cargo é vitalício.
“Uma ministra do Supremo [Tribunal
Federal] me disse, não faz muito tempo: ‘tanto nos chamam de excelência
que a gente acaba pensando que é mesmo’”. Segundo o professor, a
ministra em questão se referia à necessidade de se estabelecer um limite
para os mandatos no STF.
Ele ponderou que o conservadorismo
ainda é um dos elementos que atrapalham o aprimoramento das relações
entre o poder judiciário e o cidadão comum. E criticou severamente a
imprensa brasileira. “Eu considero que o maior inimigo do Brasil, o mais
perigoso inimigo do Brasil, é a mídia brasileira e do jeito que ela
é”.
E explica: “Fala-se muito em
liberdade de imprensa como sendo uma coisa importante por uma razão
óbvia: onde é que nós recebemos informações sobre o Brasil e sobre o
mundo? É pela mídia. Logo, se ela nos der uma informação truncada,
orientada, encaminhada para valorar certas coisas e desvalorizar outras,
o que nós brasileiros vamos ter dentro da cabeça?”. Bandeira de Mello
defende o aumento do nível cultural da população para se contrapor aos
efeitos deletérios da imprensa.
Durante o debate, o professor
abordou a histórica polarização entre a Faculdade de Direito da USP
"Largo de São Francisco" e a Faculdade de Direito da PUC; falou das suas
principais influências e críticas em relação ao julgamento da Ação
Penal 470.
“Estava tão indignado com a
decisão do Supremo. Isso me fez pensar que, se eu vivesse de renda,
fecharia meu escritório no dia seguinte, não admitiria reedição mais de
livro nenhum meu, porque o direito acabou”, declarou.
Bandeira de Mello pontuou, ainda,
que o direito administrativo brasileiro é, historicamente, autoritário
quando deveria ser literalmente o oposto. “O direito administrativo
nasceu exatamente [durante a constituição] do estado de direito, com o
esforço para a contenção dos poderes do estado e valorização do
cidadão”. E foi esse princípio que procurou, junto com Geraldo Ataliba,
inspirar no curso de especialização de direito administrativo da PUC,
realizado durante a ditadura militar. Ele conta que objetivo das aulas
era o de questionar “todas as manobras que levavam o poder a querer se
prevalecer sobre o cidadão”. O curso chamou a atenção dos órgãos de
repressão, mas não chegou a ser fechado.
“Nesse período éramos alertados
para ter cuidado, porque falávamos muita coisa. Mas eu tinha um realismo
sutil de saber que eu não tinha importância suficiente para ser preso”,
ironizou. Com o final da ditadura militar, se alastrou no Brasil um
movimento para a construção de uma nova Constituição Federal. Como
advogado, Bandeira de Mello colaborou com o PMDB. “Mas foi uma
assessoria inútel. Os deputados não queriam ser assessorados, foi uma
coisa figurativa”.
Ainda assim conseguiu emplacar o
Artigo 37, que legisla sobre a administração pública no país. “Não está
exatamente nos termos que eu encaminhei para ele”, se referindo ao então
líder do PMDB no Senado Federal, Fernando Henrique Cardoso. Bandeira de
Mello ressalta que, décadas mais tarde, já como presidente, FHC “fez o
possível e o impossível para tentar mutilar a constituição”, dizendo-se
ingênuo por um dia ter admirado o ex-presidente.
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