15.01.2016
Enquanto
os Saud gozam os últimos momentos da sua ditadura, a decapitação do líder da
sua oposição, Nimr al-Nimr, priva metade da população saudita de qualquer
esperança. Para Thierry Meyssan a queda do reino tornou-se inevitável. Ela
deverá ser acompanhada por um longo período de violência extrema.
Thierry
Meyssan
O
príncipe Mohammed ben Salman Al Saoud, 30 anos, príncipe herdeiro suplente,
segundo Primeiro-ministro suplente, ministro de Estado, ministro da Defesa,
secretário-geral do Tribunal real, presidente do Conselho para os Assuntos
Económicos e o Desenvolvimento.
Num
ano, o novo rei da Arábia, Salman, 25º filho do fundador da dinastia, conseguiu
consolidar a sua autoridade pessoal em detrimento dos outros ramos da sua
família, entre os quais o clã do príncipe Bandar bin Sultan e o do antigo rei
Abdulla. Entretanto, ignora-se o que Washington prometeu aos perdedores para
que eles não empreendessem nada no sentido de recuperar o seu poder perdido. De
qualquer forma cartas anónimas, surgidas na imprensa britânica, permitem pensar
que eles não desistiram de suas ambições.
Forçado
pelos seus irmãos a nomear como herdeiro o príncipe Mohammad bin Nayef o rei
Salman rapidamente o isolou, e limitou as suas competências, em proveito do seu
próprio filho, o príncipe Mohammed bin Salman, cuja impulsividade e brutalidade
não são refreadas pelo Conselho de Família, que não se reúne mais. De facto,
são agora ele e o seu pai quem governa a sós, como autocratas, sem nenhum
contra-poder, num país que nunca elegeu qualquer parlamento e onde os partidos
políticos estão interditos.
Assim,
vimos o príncipe Mohammed bin Salman assumir a presidência do Conselho de
Assuntos Económicos e do Desenvolvimento, impôr uma nova direcção ao Bin Laden
Group e apoderar-se da Aramco. Em cada jogada tratou-se, para ele, de afastar
os seus primos e de colocar religiosos à frente das grandes empresas do Reino.
O
xeque al-Nimr descrevia assim a vida dos xiitas na Arábia Saudita : « Desde o
momento em que nascestes vós estais cercados pelo medo, a intimidação, a
perseguição e os abusos. Nascemos numa atmosfera de intimidação. Temos medo até
das paredes. Quem, de entre nós, não está familiarizado com a intimidação e a
injustiça à qual temos sido submetidos neste país ? Eu tenho 55 anos de idade,
mais de meio século, desde o dia em que nasci até ao presente jamais me senti
em segurança neste país. É-se sempre acusado de qualquer coisa. Está-se sempre
sob ameaça. O director da Segurança de Estado admitiu-o à minha frente. Ele
disse-me quando fui preso : "Deveríeis ser mortos, todos vós,
xiitas". Eis a sua lógica. »
Em
matéria de política interna, o regime assenta apenas na metade da população
sunita ou wahhabita, e discrimina a outra metade da população. O príncipe
Mohammed bin Salman aconselhou ao seu pai a decapitação do xeque Nimr Baqir
al-Nimr porque este ousara desafiá-lo. Por outras palavras, o Estado condenou à
morte e executou o principal líder da sua oposição, cujo único crime é o de ter
formulado e repetido o slogan: « O despotismo é ilegítimo». O facto que este
líder seja um xeque xiita só reforça o sentimento de "apartheid" dos
não-sunitas, que estão impedidos de seguir uma educação religiosa e que estão
todos proibidos de aceder ao trabalho na função pública. Quanto aos
não-muçulmanos, ou seja um terço da população, não estão autorizados a praticar
a sua religião e não podem esperar aceder à nacionalidade saudita.
No
plano internacional, o príncipe Mohammed e o seu pai, o rei Salman, conduzem
uma política apoiada nas tribos beduínas do Reino. Só assim é possível
compreender o prosseguir, ao mesmo tempo, do financiamento dos Talibãs afegãos
e da Corrente do Futuro libanesa, a repressão saudita contra a Revolução no
Barein, o apoio aos jiadistas na Síria e no Iraque e a invasão do Iémene. Em
todo o lado, os Saud apoiam os sunitas --que eles consideram como os mais
próximos do seu wahhabismo de Estado---, não apenas contra os xiitas, mas,
primeiro, contra os sunitas esclarecidos, depois contra todas as outras
religiões (ismaelitas, zaiditas, alevitas, alauítas, drusos, siques, católicos,
ortodoxos, sabateus, yazidis, zoroastristas, hindus, etc.). Acima de tudo, em
qualquer caso, eles apoiam exclusivamente líderes saídos de grandes tribos
Sauditas sunitas.
De
passagem, nota-se que a execução do xeque al-Nimr segue-se ao anúncio da
criação de uma vasta Coligação(coalizão-br) anti-terrorista de 34 Estados em
torno de Riade. Sabendo que o supliciado, que sempre rejeitou o uso da
violência, foi condenado à morte por «terrorismo» (sic), deve-se entender que
esta Coligação é, na verdade, uma aliança sunita contra as outras religiões.
O
príncipe Mohammed tomou em mãos a decisão de lançar a guerra ao Iémene,
alegadamente para socorrer o presidente Abd Rabbo Mansour Hadi, derrubado por
uma aliança entre os Hutis e o Exército do antigo presidente Ali Abdullah
Saleh, mas, na realidade, para se apoderar dos campos de petróleo e os explorar
junto com Israel. Como se podia prever a guerra corre mal e os insurgentes
lançam incursões na própria Arábia Saudita, onde o exército debanda abandonando
o seu material.
A
Arábia Saudita é, pois, o único Estado do mundo propriedade de um único homem,
regido por este autocrata e seu filho, recusando qualquer debate de ideias, não
tolerando nenhuma forma de oposição, e não aceitando mais que a vassalagem
tribal. O que foi, por muito tempo, considerado como resquício de um mundo
ultrapassado, chamado a adaptar-se ao mundo moderno, esclerosou-se até
tornar-se na identificação própria de um reino anacrónico.
A
queda da Casa Saud poderá ser provocada pela baixa dos preços do petróleo.
Incapaz de reformar o seu nível de gastos, o Reino pede emprestado à larga, de
modo que assim, segundo os analistas financeiros, deverá cair na falência daqui
a dois anos. A venda parcial da Aramco poderá dar uma prorrogação a esta
agonia, mas ela se fará ao preço de uma perda de autonomia.
A
decapitação do xeque al-Nimr terá sido o capricho mais elevado. O colapso é
agora inevitável na Arábia porque não há aí nenhuma esperança para os que lá
vivem. O país encontrar-se-á, então, mergulhado numa mistura de revoltas
tribais e de revoluções sociais, que serão muito mais mortíferas que os
precedentes conflitos do Próximo-Oriente.
Longe
de se oporem a este fim trágico, os protectores norte-americanos do Reino
aguardam-no com impaciência. Eles não param de louvar a «sabedoria» do príncipe
Mohammed como um meio para o encorajar a cometer mais erros. Já em Setembro de
2001 a Junta de Chefes de Estado-Maior(JCOS-ndT) trabalhava num mapa de
Remodelagem do «Médio-Oriente Alargado», que previa a divisão do país em cinco
Estados. Além de que, em julho de 2002, Washington avaliava a maneira de se
livrar dos Saud, no decorrer de uma célebre reunião do Defense Policy
Board(Conselho da Política de Defesa-ndT). Agora, é apenas uma questão de
tempo. A RETER:
Os Estados Unidos conseguiram resolver a questão da sucessão do rei Abdallah, mas empurram hoje em dia a Arábia Saudita para a queda. O seu objectivo é, agora, dividir o país em cinco.
Os Estados Unidos conseguiram resolver a questão da sucessão do rei Abdallah, mas empurram hoje em dia a Arábia Saudita para a queda. O seu objectivo é, agora, dividir o país em cinco.
O
wahhabismo é a religião de Estado, mas os Saud apoiam-se no interior e no
exterior unicamente sobre as tribos sunitas e mantêm as outras populações em “apartheid”.
O
rei Salman (80 anos) deixa o exercício do poder a um dos seus filhos, o
príncipe Mohammed (30 anos). Este apoderou-se das grandes empresas do país,
declarou guerra ao Iémene, e acaba de fazer executar o chefe da sua oposição, o
xeque al-Nimr.+
Thierry
Meyssan
Intelectual
francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace.
As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe,
latino-americana e russa. Última obra em francês: L'Effroyable
imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations(ed. JP Bertrand, 2007).
Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II.
Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila
Editores, 2008).
Tradução
Alva
- See more at: http://port.pravda.ru/mundo/15-01-2016/40182-arabia_saudita-0/#sthash.FEkVWYlP.dpuf
Que o fim da Arábia Saudita se apresse.
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