“Só para lembrar: a última vez que os EUA instalaram
governo fantoche foi em 2014, quando, em mais um “golpe sem derramamento
de sangue” (sic), derrubaram o presidente da Ucrânia e lá instalaram um
bilionário oligarca. É cenário comparável ao do Brasil, em 2016″ (Zero Hedge, 13/5/2016).
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É possível que o novo governo pró-EUA no Brasil force uma “Braexit” e derrube a muralha que protege os BRICS? Segundo Oliver Stuenkel, professor assistente de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, “muitos (sic) brasileiros acreditam que é hora de deixar” os BRICS.
Há apenas três anos, a maior nação da América do Sul declarou que desejava desconectar-se da
Internet controlada pelos EUA, por causa da vigilância ilegal que a
Agência de Segurança Nacional dos EUA sobre o país, que incluíam gravar
as conversas telefônicas da (então) presidenta Dilma Rousseff. Hoje, o
mesmo país, sob governo (interino) de Michel Temer, considerado por
muitos em todo o mundo como informante dos EUA, tende fortemente na
direção do campo norte-americano. Parece também estar-se movimentando
para longe do grupo BRICS, do qual o Brasil é membro fundador.
A ‘conversão’ do governo brasileiro não
acontece por acaso. É efeito do descomunal revide contra o Partido dos
Trabalhadores de Dilma Rousseff, orquestrado por uma coalizão de direita
praticamente dominada por população crescente de extremistas
evangélicos. De apenas 5% da população em 1970, os evangélicos já são hoje 22% dos 200 milhões da população do Brasil. Estão a caminho de se tornarem maioria já em meados do século.
As igrejas evangélicas com conexões
fortes com quartéis-generais nos EUA – e não raras vezes controladas
pelas ‘matrizes’ – já são atores muito ativos nas eleições no país, e já
conseguiram reverter várias leis sociais brasileiras progressistas. É
muito provável que os fiéis dessas igrejas ‘de televisão’, criadas à
imagem de muitas que há nos EUA, logo passem a interferir também na
política exterior do Brasil. Com isso, certamente o Brasil se afastará –
e provavelmente se porá em campo adversário – de países como Rússia e
Índia, onde ainda predomina um ethos liberal progressista.
Em apenas 35 anos, é possível que o
Brasil tenha população majoritariamente pró-EUA. É tempo mais do que
suficiente para que os BRICS preparem-se para a vida sem Brasil. Há
quatro vias claras para conseguir isso.
Expandir, expandir, expandir!
Ser pequeno só é virtude se você for
anão em circo de excentricidades. Se a OTAN pode trabalhar com 28
membros, os BRICS, claramente muito mais importantes que a OTAN, também
podem. Tendo surgido e amadurecido em torno de um núcleo de cinco
nações, os BRICS devem agora se abrir para outras frentes, para ganhar
mais tração. O grupo capturou a imaginação mundial como corpo capaz de
pôr fim à fracassada agenda neocolonial do Ocidente. Outro trunfo dos
BRICS é a ideia de crescimento equitativo, que é atrativa para um
conjunto diversificado de nações.
O grupo deve investir nessa boa-vontade e
convidar economias de dimensões medianas como Indonésia, Malásia,
Argentina, Nigéria e Egito. Algumas dessas economias nem precisarão ser
convidadas, porque querem vir. A Argentina seria excelente candidata,
porque pode substituir o Brasil como representante da América do Sul.
Além disso, se o Brasil decidir sair, a inclusão da Argentina obrigará o
governo golpista a repensar a decisão. Ninguém no Brasil aceitará sem
protesto que seu grande rival do sul substitua o Brasil numa organização
poderosa como os BRICS.
Temer, o Interino
Wikileaks revela que o presidente
interino do Brasil, Michel Temer, forneceu informações de inteligência
ao Conselho de Segurança Nacional e a militares dos EUA, quando ainda na
função de líder do partido PMDB que integrava a coalizão governante.
Conforme aquela organização internacional de divulgação de informação
considerada ‘secreta’ pelos interessados em ocultá-la, Temer manteve
contato extraoficial com a embaixada dos EUA no Brasil e forneceu
informação que o governo dos EUA considerou “sensível”, para
conhecimento “exclusivo do governo dos EUA”. Dois telegramas chamam especialmente a atenção: um,
datado de 11/1/2006, o outro de 21/6/2006. Um é documento enviado de
São Paulo, Brasil, para – dentre outros destinatários – o Comando Sul
dos EUA em Miami.
Mas em que sentido isso diz respeito aos
BRICS? Se Temer é efetivamente instrumento da ação política dos EUA,
pode bem introduzir uma cunha na maquinaria do grupo BRICS e
paralisá-lo, mais ou menos como a Grã-Bretanha operou como cavalo de
Troia dos EUA na União Europeia.
Temer, um dos articuladores do golpe
para derrubar a presidenta Rousseff, ativa defensora dos BRICS, está,
ele próprio sob investigação policial.
É provável que Temer e seu grupo lancem o Brasil em período de agitação e instabilidade. Como se lê no website “Zero Hedge” de inteligência financeira:
“Só para lembrar: a última vez que os EUA instalaram governo fantoche
foi em 2014, quando, em mais um “golpe sem derramamento de sangue”
(sic), derrubaram o presidente da Ucrânia e lá instalaram um bilionário
oligarca. É cenário comparável ao do Brasil, em 2016.”
O grupo BRICS deve garantir que Temer
não tenha meios para sabotar a coesão dos BRICS, que já está tendo de
lidar com a tensão geopolítica entre Índia e China, por causa da
presença de uma considerável frota da Marinha da Índia no Mar do Sul da
China e da recusa, por Pequim, de aceitar New Delhi no Grupo de
Fornecedores Nucleares.
Aprender com o destino de Dilma Rousseff
No governo da presidenta Rousseff, a
economia brasileira andava devagar, mas andava. Contudo, como pilar
fundamental do grupo BRICS, o Brasil parece ter atraído a ira dos EUA. A
coalizão de partidos anti-Dilma, como o PMDB de Temer, e os grupos das
igrejas evangélicas – com certeza teleguiados por Washington – criaram
tantas e tais dificuldades, que a presidenta foi forçada a governar
praticamente por decretos, durante a maior parte de seu segundo mandato.
Como se viu acontecer na Ucrânia, que está hoje em total desarranjo, o PIB do Brasilencolheu 3,8%
em 2015, e tudo indica que encolherá outro tanto em 2016. Inflação e
desemprego estão acima de 10%. O mercado de ações caiu 7% durantes as
duas primeiras semanas do governo Temer; e o real perdeu 3,5% do valor
em relação ao dólar norte-americano.
Índia, que assume agora a presidência dos BRICS, fará avançar as iniciativas russas
Primeiro a Ucrânia, depois o Brasil, o que virá depois? A China parece impenetrável aos esforços de desestabilização e revoluções ‘das flores’ dos EUA – mas a Revolução dos Guarda-Chuvas em Hong Kong foi claramente inspirada pelo ocidente. A Rússia já expulsou as agências USAID e o British Council, por interferência na política russa. Resta a Índia, que é vulnerável às táticas de desestabilização da CIA-EUA. A ascensão do Partido Aam Admi, que recebe fundos da Fundação Ford – um dos corpos operados e mantidos pela CIA – é prenúncio do que está por vir.
Primeiro a Ucrânia, depois o Brasil, o que virá depois? A China parece impenetrável aos esforços de desestabilização e revoluções ‘das flores’ dos EUA – mas a Revolução dos Guarda-Chuvas em Hong Kong foi claramente inspirada pelo ocidente. A Rússia já expulsou as agências USAID e o British Council, por interferência na política russa. Resta a Índia, que é vulnerável às táticas de desestabilização da CIA-EUA. A ascensão do Partido Aam Admi, que recebe fundos da Fundação Ford – um dos corpos operados e mantidos pela CIA – é prenúncio do que está por vir.
Livrem-se do nome “BRICS”
BRICS é sigla elegante – todos parecem
adorar o som e o modo como desliza sobre a língua. Mas há um problema
com siglas de organizações baseadas em nomes dos membros. Se o Brasil se
afasta, a sigla encurta para RICS? Se a África do Sul deixa o grupo, o
nome passa a ser BRIC?
Além disso, a sigla BRICS tem problemas
também de crescimento, porque não se pode encompridar indefinidamente a
sigla. De BRIC para BRICS foi fácil, mas o que acontecerá se Indonésia
ou Argentina se incorporarem ao grupo. BRICSI? BRICSA?
Algum novo nome não precisa ser
necessariamente harmonioso, como som. Por exemplo, o banco dos BRICS é
conhecido como Novo Banco de Desenvolvimento – nada muito
extraordinário, mas excelente e importante alternativa ao grandiloquente
Banco Mundial. Nessa linha, todo o grupo hoje BRICS poderia ser
renomeado: Novo Grupo Econômico (NGE), em inglês New Group Economic, NGE [ou, mesmo, NEW [ing. “novo”] – prosaico, mas, melhor denominação que antes.****
Tradução: Vila Vudu
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