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quinta-feira, 8 de agosto de 2019

O AGNOSTICISMO




Ao rejeitar qualquer esforço muito laborioso para negar a existência de Deus, Engels parece julgar essa tarefa não só pouco convincente, como também uma perda de tempo (AntiDuhring, parte I, cap.IV). Para ele e para Marx, a religião, exceto como fenômeno histórico e social, não era muito mais do que uma história da carochinha. A posição agnóstica de conservar o espírito aberto em relação ao assunto ou de admitir Deus como uma possibilidade não provada não era de tipo a ser levada muito a sério por eles. Marx e Engels consideraram a Reforma como “revolucionária” porque representou o desafio de uma nova classe ao feudalismo, mas também, a longo prazo, porque a derrocada da velha Igreja abria caminho para uma secularização gradual do pensamento entre as classes alfabetizadas, passando a religião a ser considerada, cada vez mais, apenas como uma questão privada. Marx escreveu em 1854, num ensaio intitulado “A decadência da autoridade religiosa”, publicado como artigo de fundo do jornal New York Daily Tribune , que, a partir da Reforma, as pessoas alfabetizadas” começaram a livrar-se individualmente de todas as crenças religiosas”: na França como nos países protestantes, a partir do século XVIII aproximadamente, quando a filosofia conquistou seu lugar de maneira definitiva. O deísmo era, a seus olhos, muito semelhante ao agnosticismo, uma forma cômoda de livrar-se de dogmas desgastados. Por ter alarmado as classes superiores, a Revolução Francesa provocou uma transformação, grande mas superficial, e uma aliança explícita entre tais classes e as Igrejas, que as agitações de 1848 fizeram reviver. Mas esta era já, então, uma aliança precária, e a autoridade eclesiástica só era reconhecida pelos governos na medida em que isso lhes era conveniente. Marx ilustrou essa situação mostrando como, na Guerra da Crimeia, deflagrada em 1854, em que a Grã-Bretanha e a França tomaram o partido da Turquia, os cleros protestante e católico desses países viram-se obrigados a orar pela vitória de infiéis contra cristãos. Isso, na opinião de Marx, faria de tais cleros, no futuro, ainda mais claramente, criaturas dos políticos. Segundo Engels, os estrangeiros cultos que se transferiam para a Inglaterra em meados do século surpreendiam-se com a solenidade religiosa ainda encontrada entre as classes médias naquele país, mas as influências cosmopolitas já estavam começando a se fazer sentir e a ter o que ele chamou de efeito civilizador em Sobre o materialismo histórico. A decadência da fé, que poetas como Tennyson e Arnold lamentaram com acentos patéticos, tocava-o pelo lado cômico. O agnosticismo passou a ser tão respeitável quanto a Igreja Anglicana, escreveu ele em 1892, e muito mais do que o Exército da Salvação; não passava, na realidade, de um materialismo “envergonhado” (“Introdução” a Do socialismo utópico ao socialismo científico). Engels analisou o agnosticismo em seu sentido filosófico, de incerteza quanto à realidade da matéria ou de causação, e foi dessa maneira que a expressão foi usada mais comumente pelos marxistas que vieram depois dele. Lênin, em particular, em sua polêmica contra o empiriocriticismo (1908, cap.II, 2) esforçou-se por sustentar que as novas ideias de Mach e de sua escola positivista não eram realmente diferentes das velhas ideias que haviam tido origem com Hume e que Engels havia combatido como uma forma perniciosa de agnosticismo. Admitir que nossas sensações têm origem física, mas tratar como questão aberta a possibilidade de que nos proporcionem informações corretas sobre o universo físico, era, na opinião de Lênin, apenas jogar com as palavras. (Ver também FILOSOFIA.)
VGK
Bibliografia: Lenin, V.I., Materialism and Empirio-criticism, 1908 (1962) [Materialismo e empiriocriticismo, 1975].

Fonte: Dicionário do Pensamento Marxista

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