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terça-feira, 30 de abril de 2013

CORÉIA DO NORTE: ENTRE A GUERRA, A PAZ E O FUTURO



(NOTA POLÍTICA DO PCB)

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) repudia as ameaças de agressão militar imperialista à  República Popular Democrática da Coréia e presta total solidariedade ao governo e ao povo nortecoreanos na defesa de sua soberania, de seu direito de desenvolver-se plenamente e de seguir com o caminho que escolheu para sua construção socialista.
Nesse momento de provocações por parte do imperialismo, queremos ressaltar que a Coréia do Norte precisa do apoio solidário dos governos e povos amantes da paz, de todos os que se opõem ao imperialismo, para que possa desenvolver-se livre e plenamente, em todas as esferas da vida social, para um futuro de igualdade e justiça social.
Constatamos que é grande a pressão internacional contra o país, comandada pela grande mídia burguesa e pelo governo dos EUA, centrada, principalmente, em ações de propaganda anti-socialista, em medidas políticas e econômicas e em mobilização militar para impedir que a Coréia do Norte desenvolva plenamente a  capacidade nuclear de que necessita para fazer mover sua economia, movimento que se intensificou a partir dos anos 90, com o fim da União Soviética. São freqüentes palavras como “ditador”, usadas para referência ao dirigente máximo (o termo não é usado para os Emires, Príncipes e outros monarcas absolutistas que governam países árabes) e alusões à “ajuda humanitária” da qual a população nortecoreana dependeria para sobreviver. As reportagens falam do “autoritarismo” e do “atraso” da Coréia do Norte, atribuídos, é claro, ao estilo do socialismo lá vigente. O objetivo dessas ações é isolar o país,  destruir as conquistas sociais e tentar agredir e ocupar militarmente o país, em função de sua localização estratégica na disputa hegemônica com a China e a Rússia. .
A imprensa, naturalmente, não traz informações sobre as conquistas sociais do país, atestadas por fontes insuspeitas como o Banco Mundial e o Factbook da agência de inteligência dos EUA, a CIA: 60% da população vive em cidades; 97% da água consumida é tratada; a expectativa de vida é, hoje, 69 anos (era 67 anos em 2001); o acesso ao saneamento chega a 80% dos domicílios, o anafalbetismo é de 1%. A saúde, a educação, os esportes e outros serviços sociais são gratuitos, há moradias para todos. O país tem centrais nucleares, termo e hidroelétricas, produz automóveis, tratores, aço, máquinas diversas, cimento, tecidos, fertilizantes e um grande número de outros produtos industriais. Além do domínio do ciclo do urânio, a Coréia do Norte logrou pôr um satélite em órbita com um foguete construído no próprio país.
A história recente do país ajuda a explicar o quadro atual: com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a União Soviética passou a controlar a região norte da península coreana, ao passo que os EUA controlavam a parte sul. Em 1948, após 3 anos de negociações frustradas para uma possível reunificação do país, foi criada a República Popular e Democrática da Coréia, na região norte, após a realização de eleições gerais ganhas pelos comunistas e outros partidos aliados (dois dos quais participam até hoje da coalizão que governa o país). No sul seria criada, na mesma época, a República da Coréia. Após a guerra entre os dois lados, no começo dos anos 50 - uma guerra provocada pelos EUA, que iniciava assim a Guerra Fria -, a Coréia do Norte viveria um período de crescimento e prosperidade que duraria mais de duas décadas.
No entanto, a situação econômica do país viria a deteriorar-se após a queda da União Soviética, país que lhe oferecia equipamentos, petróleo e muitas outras formas de cooperação econômica e técnica, além de ser seu principal aliado político. Sem a URSS, aumentaria sobremaneira a pressão dos EUA  e seus aliados sobre a Coréia do Norte.
No campo econômico, o país já vinha tomando iniciativas para atrair investimentos externos desde os anos 1980, e esforços vêm sendo feitos para uma aproximação com a Coréia do Sul, a China e outros países. Entre outros empreendimentos conjuntos, há um complexo industrial gerenciado pelas duas Coréias. Mas esses esforços não têm sido suficientes para reverter o quadro de dificuldades por que passa o país.
O anúncio feito há poucos dias pelo governo sulcoreano, de que estaria disposto a abrir uma rodada de negociações, pode ser o primeiro sinal de que a crise pode estar começando a se dissipar. Mas as pressões para impedir o desenvolvimento da Coréia do Norte, por parte dos EUA, certamente continuarão.
Não cabe aos comunistas do PCB dizer como deve ser o governo da Coréia do Norte, como se dá a escolha de seus dirigentes ou quais devem ser as suas prioridades. Tampouco nos cabe questionar o mérito ou as bases teóricas do pensamento político que orienta as decisões do estado. Mas repudiamos fortemente as ameaças de agressão militar imperialista àquele país, e prestamos total solidariedade ao governo e ao povo nortecoreanos na defesa de sua soberania, de seu direito de desenvolver-se plenamente e de seguir com a sua forma de construção socialista.
PCB – Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional
(abril de 2013)

Publicado na Comunidade Josef Stalin

Carlos Chagas evoca a memória do antigo PCB

Honra prestada ao PCB
Um dos mais notáveis e brilhantes jornalistas políticos brasileiros de sempre, Carlos Chagas escreveu na Tribuna de Imprensa:
Adeus, Partidão...Ferramentas do Comunismo
Carlos Chagas/Tribuna da Imprensa
Até o começo dos anos sessenta do século passado, podia não haver concordância, mas sobravam respeito e até admiração diante do Partido Comunista Brasileiro, o “Partidão”. Durante décadas mandava Luiz Carlos Prestes, secretário-geral, figura exponencial de nossa História. Ao contrário do que divulgavam os adversários, estava sempre pronto a ouvir sugestões, conselhos e até discordâncias doutrinárias de dezenas de companheiros de alto gabarito, que não citamos pelos risco de esquecer alguns.
Veio a cisão, depois que Nikita Kruschev demoliu Joseph Stalin, lá nas estepes. Criou-se o Partido Comunista do Brasil, com João Amazonas à frente, ainda que também pleno de idealistas. Os dois partidos, inconciliáveis ideologicamente, perseguidos na maior parte do tempo por governos e elites, honravam a ideologia praticada ao longo do tempo. Forneceram mártires como poucas religiões puderam apresentar.
A degradação começou ironicamente com os primeiros ventos da democratização, quando os pigmeus do “Partidão” deram o golpe e chegaram ao maior dos sacrilégios, no caso, a deposição e a expulsão de Luiz Carlos Prestes, já entrado nos oitenta anos. Deveriam tê-lo preservado a qualquer preço. Com a traição, engrandeceram ainda mais sua biografia.
Logo depois, com a liberação dos partidos políticos, a suprema insensatez: mudaram de nome. Relegaram um passado de lutas, sacrifícios e obviamente também de erros, para transformar-se em PPS. Chegaram a aderir ao neoliberalismo, a ponto de seu novo secretário-geral, Roberto Freire, frequentar o palácio da Alvorada, sempre alta noite e até de madrugada, para concordar com Fernando Henrique Cardoso.
Um vexame profundo, compensado pela permanência do PC do B, aguerrido e fiel à antiga ideologia. O bravo Oscar Niemeyer chegou a armar uma resistência paralela, participando da refundação do velho PCB, legenda ainda hoje existente.
O PPS, de péssima origem e ainda pior performance, chegou ao cúmulo de aliar-se formalmente aos tucanos, continuando a cultivar o neoliberalismo e renegando as lutas anteriores pela prevalência das massas.
Pois agora ficou pior. O antigo “partidão” acaba de unir-se ao PMN, legenda amorfa, insossa e inodora, formando um “movimento” que tem por objetivo lançar a candidatura de José Serra à presidência da República, se ele abandonar o ninho. Em outras palavras, ficará à direita do PSDB. A memória de Luiz Carlos Prestes não merecia essa agressão.
Publicado na Revista Mirante

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Me desculpem pela ausência

 
Amigos e amigas do Blog Audinamismo, estou ausente há alguns dias e continuarei ausente por mais algum tempo, até que me restabeleça da cirurgia realizada no olho esquerdo, para corrigir uma anomalia na retina, Pelo menos 40% da visão, conforme informação médica, se tudo der certo, deverei recuperar. Até lá, envio meu abraços a todos e a esperança em dias melhores. Só como lembrete, melhorando ou não, continuarei lutando pelo avanço social no brasil, abrindo o caminho do socialismo e a páz mundial e na medida do possível continuarei publicando minhas postagens, esse é o meu compromisso!!!

terça-feira, 9 de abril de 2013

Base do PT focaliza Dilma e o país em 13 pontos

Publicado na Revista Mirante

Treze sugestões sobre o quadro político

Por Núcleo Celso Furtado

1- O sentido do processo – Abusando da dialética, o bardo inglês teve a ocasião de afirmar: “tudo que vive, deve morrer”. Situação que, em certo sentido, se aplica à atual conjuntura. Se fosse para eleger um aspecto capaz de recortar, dentro de si, um emblema do movimento histórico experimentado pela sociedade brasileira, na atual quadra, a escolha recairia sobre a necessidade da ultrapassagem do legado do presidente Lula. Não porque deu errado e, sim, por que deu certo. É em torno das alternativas ao ciclo de transformações inaugurado em 2003 – agora exibindo sinais de esgotamento – que se deslocam as ações e análises dos participantes e observadores da vida pública. Refletindo a heterogeneidade de interesses e aspirações envolvidas, a infinidade de projetos se desloca na direção de três campos de gravitação política: I- o espectro neoliberal, que pretende simplesmente o cancelamento do legado de Lula e de sua passagem nas práticas e no imaginário social dos brasileiros; II- os setores interessados na consolidação de um projeto de crescimento econômico, sob a liderança do grande capital, afirmando a ordem burguesa, com representação dentro e fora do nosso governo e; III- as vertentes que pretendem construir hoje as fundações de um projeto de nação cujo embrião está presente no texto da Carta de 1988.

2- Por projeto nacional – Entendemos a mobilização presente de esforços no sentido de criar as bases teóricas, programáticas e culturais para, numa dinâmica provavelmente associada ao longo prazo, pôr em prática as transformações que a sociedade brasileira requer para se transformar numa nação capaz de assegurar a todos os seus cidadãos o exercício efetivo de direitos e garantias individuais e, sobretudo, coletivos.

Entre as medidas a serem adotadas – ainda obstaculizadas pela correlação de forças atual – se incluem: assegurar o caráter público e universal à educação e à saúde; implantar o imposto sobre grandes fortunas; taxar fortemente os lucros das empresas monopolistas; realizar uma reforma agrária em grande escala combinada com a formação de uma agroindústria ecológica; submeter o sistema bancário ao interesse coletivo; assegurar o controle público das ações do Estado; descriminalizar o aborto; democratizar os meios de comunicação em todos os níveis; pôr fim à concentração fundiária urbana; garantir o domínio do país sobre seus recursos materiais, sobretudo os de natureza hídrica; intensificar os trabalhos de unificação política e econômica dos países latino-americanos; proteger os biomas ameaçados pelos interesses econômicos; mudar radicalmente o modelo de transporte público hoje inviabilizado pela opção pelo aumento da frota de automóveis, entre outros.

Conquistas, enfim, que deverão ser fruto da ação de uma nova maioria política e cultural formada pelo proletariado urbano e rural, pelos camponeses, camadas médias urbanas unidas aos movimentos sociais expressão dos anseios de mudança da juventude, das mulheres, dos negros, índios, grupos GLBT e populações quilombolas.

Por certo, tal articulação não se confunde com o atual projeto de acumulação de capital no qual nosso governo e nosso partido tentam negociar e inserir algumas reivindicações dos setores da base da pirâmide social.

3-  O ambiente externo – Qualquer projeto de nação tem, na abordagem das relações entre países e organismos multilaterais, uma importante ferramenta de compreensão da realidade. Contudo, indagar o papel do Brasil no mundo não constitui tarefa simples. A cautela recomenda, num texto de proporções reduzidas como este, a remissão a traços gerais. Especialmente no que concerne ao ambiente de tensões no qual se opera a presença do Brasil no cenário externo. A maior delas, a crise econômica mundial iniciada em 2007. Evento com todas as condições de evoluir para uma convulsão social e política (em especial na Europa), a crise acelera a dinâmica de ascensão da China ao status de grande potência econômica. Nas últimas décadas, o leste asiático se converteu no principal centro manufatureiro mundial. Apesar da decadência relativa dos EUA como centro geopolítico (ainda que fortemente agressivo, como atesta a intervenção no Afeganistão e na Líbia), a economia norte-americana já mostra sinais de recuperação. Ademais, os EUA continuam sendo a principal superpotência militar do mundo. Ao Brasil, país semiperiférico situado na área de influência do Gigante do Norte, mais que promover o intercâmbio econômico, incumbe ampliar a cooperação diplomática e cultural com nossos vizinhos da América Latina e da África, vedado o recurso a protocolos de espoliação de nações mais pobres que a nossa.

4- Dilma e a crise – É no enfrentamento da turbulência causada pela bolha financeira nos EUA e na Europa que mais transparecem semelhanças entre as administrações petistas à frente do executivo nacional. Tanto Dilma quanto Lula priorizaram uma estratégia de crescimento econômico sem derivas recessivas tão a gosto dos neoliberais. De igual maneira, o quadriênio inaugurado em 2011 viu expandir o alcance e a variedade dos programas e políticas sociais. Tendo prosseguido, de igual sorte, as propostas de correção dos desequilíbrios regionais responsáveis pelo retorno das regiões Norte e Nordeste ao mapa da atividade econômica brasileira. Acrescendo a uma lista de símbolos e marcas do governo Lula que se projetaram no programa – e na ação – de sua sucessora não é possível esquecer das iniciativas, inclusive as legislativas, para recuperar e ampliar o poder de compra do salário-mínimo. Seria um ato de injustiça, no entanto, deixar de observar, em meio a tanta preocupação com a continuidade, o empenho de Dilma em criar ênfases próprias no que se refere ao seu estilo de governar. Tais marcas estão visíveis. Elas se manifestam em fenômenos como a mobilização da presidenta em favor de uma derrubada consistente dos juros praticados pelas instituições financeiras, um dreno que asfixia historicamente a economia do país. São também pontos a contar a favor da atual gestão do executivo o combate – mais explícito que em Lula – à corrupção no âmbito da administração pública.

5- O risco de privatização da gestão pública – Sob a superfície da tensão entre a continuidade e adoção de uma face própria, entretanto, já afloram indícios de que alguns setores da atual administração vêm tomando distância do conjunto de princípios e práticas daquilo que se convencionou chamar de “modo petista de governar”. Os tópicos deste ajuste são especialmente preocupantes. Entre outros sinais, incluem a aceleração da transferência da gestão de áreas de atuação do poder público para a iniciativa de particulares. Em especial, dissemina-se o formato das chamadas PPPs (parcerias público-privadas) e OSs (Organizações Sociais), instrumentos de ação cujo impacto sobre as instituições ainda não foi de forma alguma avaliado. O que se pode esperar disso? Ao que parece, o aumento da musculatura do grande capital e sua margem de manobra para relegar o Estado à condição de repassador de lucros privados. Aliás, diante das dificuldades de controle e fiscalização de tais parcerias se torna fácil enxergá-las na condição de mais uma estrela no firmamento da corrupção institucionalizada que marca a trajetória patrimonialista brasileira.

Curiosamente, os riscos assumidos com a disseminação das PPPs e OSs pela  administração pública parecem distantes do modelo de Estado originariamente preconizado pela presidenta. Tanto no que se refere ao discurso quanto à prática. Por certo, Dilma acenou com uma outra agenda (que está sendo posta em prática, mas de modo parcial). Esse agregado inclui: profissionalização dos agentes da administração direta e indireta; racionalização dos processos de gestão; aumento da transparência das ações do Estado; fiscalização permanente sobre as concessões e permissões delegadas a particulares; introdução de novos recursos tecnológicos; e, sobretudo, a democratização do acesso e controle da população – especialmente os mais pobres – sobre os bens e serviços públicos. Não é difícil concluir que o eixo estruturante de um conjunto de políticas assim passaria pelo combate à formação de monopólios privados. E aí justamente o oposto ocorre.

Concebidos durante os anos de fastígio neoliberal, os mecanismos de privatização da gestão pública – em especial as chamadas OSs e PPPs – fazem parte de uma constelação de valores alheia ao pensamento econômico da esquerda, em seus diversos matizes. Disso ninguém duvida. Mesmo assim, a presença de tais institutos se acha perigosamente naturalizada na paisagem da administração pública brasileira desde 1990, inclusive em governos petistas. Em benefício da cidadania, chegou a hora de controlar a intensidade e a extensão do uso de instrumentos de gestão terceirizada. Só assim será possível conceber modelos de transição capazes de impulsionar o Estado no rumo da afirmação do seu caráter republicano.

6- O grande capital – Grande beneficiária de uma mudança na economia à qual não deu causa e à qual, muitas vezes se opôs, a fração mais endinheirada da classe dominante brasileira – aquela associada aos interesses da fusão do capital financeiro e indústria, local e externo – demorou a perceber as oportunidades que se abriam diante de si. Tanto assim, que apostou duas vezes em candidaturas tucanas em 2006 e 2010. Mantida à margem da iniciativa política, esse setor – quase tutelado por Lula – agora aspira à autonomia. Em busca do tempo perdido celebra uma pax produtiva para investir, com avidez, sobre os recursos públicos postos à disposição pelas agências governamentais, a exemplo do BNDES (outra nota preocupante, associada aos humores do “mercado”, acusa o aumento de aquisição do controle de acionário de grandes empresas nacionais por corporações transnacionais).

7- O governo e os movimentos sociais – Essa re-acomodação das relações entre público e privado no âmbito das instituições brasileiras de Estado coincide – e talvez não seja por acaso – com a deterioração dos laços entre governo e os atores sociais mais à esquerda. Não à toa, os movimentos sociais já se pronunciam de uma forma distinta do comportamento adotado sob Lula. A parceria conflitiva deu lugar ao dissenso. Definha o diálogo com os ambientalistas, povos da floresta, coletivos feministas, entre outros grupos; ao mesmo tempo em que emerge uma truculência inédita no trato das reivindicações dos grevistas da área do funcionalismo público. Sintomaticamente, o representativo Congresso Camponês em Brasília, no mês de setembro de 2012 – marco da unificação de todas as entidades dedicadas aos interesses dos trabalhadores rurais a exemplo do MST e da Contag – avançou para a elaboração de um programa e uma prática de autonomia frente às autoridades constituídas. Essa diretiva adotada pelos trabalhadores do campo talvez sirva de baliza para o movimento sindical urbano, atualmente dividido entre o apoio a uma reforma trabalhista destinada a ceifar direitos historicamente consolidados e a afirmação do caráter político da ação dos sindicatos.

8- O Congresso e a base aliada – Repercutindo a Crise da Representação Política que assola a democracia em todos os quadrantes do globo, o Poder Legislativo Brasileiro também exibe, no entanto, distorções que lhe são particulares: a principal delas, o vínculo de subordinação que mantém com executivo desde a época da ditadura militar. Sinal dos tempos, a coalizão governista não pára de inchar, com a incorporação, inclusive, de setores ferrenhamente oposicionistas até um passado recente. Curiosamente, essa formação de maioria parlamentar pouco ou nada contribui no sentido de dotar de nitidez e consistência o debate político travado no Senado e na Câmara. A chamada base aliada – fortemente atravessada pelos interesses corporativos do agronegócio e do capital financeiro, sem falar dos pleitos gerados pelo conflito entre diferentes unidades da Federação – frequentemente expõe o planalto a derrotas em votações importantes, evidenciando a fragilidade das estruturas e lideranças partidárias. Foi assim no episódio da aprovação do Código Florestal e na divisão dos royalties do petróleo. Para o Congresso Nacional, adotar um novo padrão de relacionamento com o Executivo, figura entre as providências necessárias à recuperação da Representação, sem a qual a democracia parlamentar se estiola.

9- A oposição liberal – Em seus vários segmentos, incorporou mais uma tática a seu repertório de possibilidades. Não que tenha renunciado à dissidência sistemática ou à orquestração dos ataques da mídia monopolista ao PT e ao governo. No entanto, para além da atitude de confronto, parte desses setores vêm aderindo à base aliada no Congresso Nacional e ocupando espaços no executivo em pastas afeitas ao seus interesses. Para potencializar suas pretensões, criaram um partido, o PSD, do ex- prefeito Kassab. Aparentemente favorável aos objetivos da ampliação da sustentação do governo, esse expediente apresenta alguns problemas: entre os quais, de um lado, pode contribuir para minar os esforços de reeleição de Dilma, “por dentro”; e, de outro, permite exercer um discreto aceno a aliados do nosso governo, mesmo os mais à esquerda, interessados em ampliar sua presença num novo arranjo de forças, marcado pela exclusão do PT.

10- O Judiciário e o chamado Mensalão – Em sentido diametralmente oposto ao Congresso, o Judiciário busca reafirmar sua independência e inteireza moral de uma maneira infeliz. Pelo menos é isso que se depreende do andamento da ação penal 470, o denominado Mensalão, julgamento no qual o princípio da inocência presumida foi perigosamente relativizado. Reagir diante desse equívoco significa, para o PT, além da solidariedade aos companheiros atingidos por uma decisão de rigor exagerado, mobilizar a sociedade em favor de uma reforma política cujos elementos de maior relevo consistam no financiamento público de campanha e a adoção do voto em lista partidária.

11- O Rio de Janeiro – Para nós, que vivemos e atuamos no Rio de Janeiro, as modificações no quadro mais geral do país não apresentam novidades. Um grande ensaio ocorreu por aqui. Tanto no nível da capital quanto no estado, as tendências operaram no sentido do reforço da privatização das estruturas da administração pública, sendo o principal agente de tais processos o PMDB. Fatias inteiras das áreas de transporte, contratação de pessoal e, principalmente, saúde foram servidas ao apetite de grandes grupos empresariais. Uma resistência, no entanto – ainda incipiente – começa a tomar forma. O percentual de votos dirigido à candidatura de Marcelo Freixo indica o grau de erosão do apoio às políticas privatistas. Sinaliza, de igual forma, as chances concretas da candidatura de Lindberg Farias, consensual dentro do campo petista, desde que seja capaz de articular a política de alianças e a estrutura logística necessárias a um embate com um inimigo poderoso.

12- O papel do PT – Exibindo a crise mundial como espantalho, a velha elite busca retomar a iniciativa do processo político e social brasileiro. Sonha com a retomada do clima das décadas de 1980 e 1990. Já não sente vergonha de falar abertamente em privatização, aumento de juros e desnacionalização da economia. Será bem sucedida em seu intento? Só o futuro dirá. O que se pode prever é que, em vista do predomínio de setores democráticos e de esquerda no governo da Presidente Dilma, isso sem falar da firmeza de propósitos da presidenta, é possível construir uma lógica de construção republicana à frente da condução dos assuntos de Estado. Entre os destacamentos a se apresentar ao combate, um se distingue: o Partido dos Trabalhadores, agremiação da qual se espera a recusa ao papel de homologador dos interesses da afirmação da ordem burguesa no Brasil.

13- Concluindo – O ciclo de transformações inaugurado em 2003 – marcado pela bem-sucedida incorporação de milhões de brasileiros mais pobres ao mercado interno de consumo – atingiu seus limites. E, por certo, não há receita pronta para dar prosseguimento a esta herança. No entanto, pelo menos três princípios devem estar contemplados: o alargamento do estágio de democratização da sociedade; a ativação dos movimentos sociais; e a orientação do Estado no sentido da afirmação do seu caráter republicano. Sem a reeleição de Dilma, em 2014, será muito difícil alcançar esses objetivos.

Núcleo Celso Furtado é um coletivo de base do Partido dos Trabalhadores – PT-RJ – dedicado à elaboração política e discussão teórica

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Polos de poder na Igreja: os movimentos católicos, da esquerda à direita

 

Publicado em Carta Maior

Do ponto de vista político, os movimentos atualmente hegemônicos na Igreja Romana enquadram-se perfeitamente na estratégia de manter intactas as estruturas atuais do Catolicismo em termos de poder. É preciso, portanto, seguir atentamente cada passo do novo Papa. Será que ele pode aproveitar o vinho novo a ele trazido em odres velhos?



                  
O conceito de “movimento” é, de certa forma, autoexplicativo. Significa mobilizar de forma provisória ou permanente um objeto ou um agrupamento social para que assumam uma nova dinâmica, uma nova situação voltada para atingir os objetivos organizacionais. Nesse sentido, a palavra incorporou-se à linguagem popular e ao jargão da mídia.

Hoje, no período de luta pela consolidação da democracia brasileira, é comum e corrente falar do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra /MST, do Movimento dos Atingidos pelas Barragens e do Movimento dos Direitos Humanos, entre outros. A origem remota do uso costumeiro dessa palavra pode ser encontrada no campo religioso cristão.

No final dos anos 50, a palavra movimento passou a designar o surgimento e a multiplicação de ações e de organizações decorrentes das reivindicações por mudanças e por reformas na ação eclesiástica. Esse clamor por reformas ocorreu, de forma particular, na Europa, com a instituição pelo Papa, da Ação Católica.

Os desdobramentos da AC (Ação Católica) foram organizações especificas ou movimentos também chamados de Pastorais, tais como a Juventude Agraria Católica/JAC, a Juventude Operária Católica/JOC, a Juventude Estudantil Católica/JEC, a Juventude Universitária Católica/JUC. A Juventude Feminina Católica/JFC e a Juventude independente Católica/JIC que reuniu os militantes não pertencentes às áreas sociais das demais organizações.

Delas, a JAC, a JEC, a JOC e a JUC tiveram uma atuação destacada na resistência aos civis e militares golpistas de 1964/1985. Originou-se, por exemplo, da JUC, a AP/Ação Popular, que teve entre seus fundadores e militantes, Herbert de Souza, o Betinho, a figura mais representativa, no Brasil, dos cristãos engajados na luta contra o Estado de exceção.

Mais remotamente, a criação da AC indicava um modelo “ideal” de Igreja proposto pelo Vaticano: numa sociedade vista organicamente, caberia ao Papa e aos bispos comandar o rebanho eclesiástico e ao Estado governar com senso de justiça, cabendo aos leigos a tarefa de se organizar, para pressionar o poder estatal.

Mas perto dos anos 60, a Ação Católica recolheu a influência de teólogos como Chenu e Congar, entre outros, no sentido de reformar a Igreja para estabelecer um diálogo com o mundo e o processo interno de atualização. O Concilio Vaticano II foi o espaço de acolhimento oficial da Igreja a essas propostas reformistas e renovadoras. Do mesmo modo, a influência dos movimentos católicos fez-se sentir nas conferências continentais de bispos em Medellín, na Colômbia e Puebla, no México.

Retrocesso
Já a partir da Conferencia de Santo Domingo, na Republica Dominicana, foi possível sentir e perceber a guinada à direita, dentro do Catolicismo Romano. A partir desse processo de direitização, passaram a ser hegemônicos na Igreja Romana, movimentos e organizações tradicionalmente conservadores ou novos movimentos neoconservadores. Ganharam força, a partir do Pontificado de João Paulo II, organizações como a Opus Dei, fundada na Espanha, durante a ditadura franquista, pelo monsenhor José Maria Escrivá de Balaguer.

O Papa Wojtyla transformou a Opus em prelazia pessoal, tornando-a obediente apenas às ordens pontífices. Entre os neoconservadores, projetaram-se organizações como a Comunhão e Libertação e Neocatecumenato além da Renovação Carismática, uma das forças do novo pentecostalismo.

Na extrema direita, exerce uma especial influencia do Vaticano – em termos de poder financeiro e de trafico de influência, a Soberana Ordem Militar de Malta. Vários dirigentes de bancos, mafiosos e servidores de governos ocidentais, pertencem a essa organização. Para nela ingressar o candidato passa por “rigorosas” provas tais como o exame meticuloso nas contas bancárias e o compromisso de “luta contra o comunismo”.

Síntese
Falar em movimentos na Igreja Romana requer muita atenção. É preciso verificar primeiro se a sua origem encontra-se no pré ou no pós Concílio do Vaticano II, e também analisar o seu contexto histórico. Vários desses movimentos neoconservadores são dirigidos por padres e não por leigos, contrariando os princípios do Vaticano II.

Do ponto de vista político, os movimentos atualmente hegemônicos na Igreja Romana enquadram-se perfeitamente na estratégia de manter intactas as estruturas atuais do Catolicismo em termos de poder. É preciso, portanto, seguir atentamente cada passo do novo Papa. Será que ele pode aproveitar o vinho novo a ele trazido em odres velhos?



Fotos: Vaticano

Mídia: Inglaterra e México avançam e Brasil não sai do lugar

 

publicado em Carta Maior

Se na Inglaterra os partidos firmam acordo para regulação de jornais, revistas e internet, e no México o novo governo apresenta projeto de alterações no marco regulatório das comunicações com vistas a quebrar o oligopólio, no Brasil as autoridades descartam qualquer iniciativa.



    
 
Na Inglaterra, foi anunciado acordo entre os três principais partidos ingleses – Conservador, Trabalhista e Liberal Democrata – para regulação da imprensa (jornais, revistas e internet) apenas quatro meses após a publicação do Relatório Leveson.

Os principais pontos a serem incluídos na Carta Régia que dará amparo legal ao novo órgão regulador são: a escolha dos membros (no mínimo quatro e no máximo oito e um presidente) deve ser “independente, justa e transparente”; os membros indicados pela mídia não podem manter cargos de editores ou publishers nem ser deputados ou senadores; a maioria dos membros deve ser “independente da imprensa”; o novo “código de conduta” deve descrever parâmetros “especialmente no tratamento de pessoas para obtenção de material jornalístico”; avaliar o respeito à privacidade quando não houver interesse público suficiente para quebrá-la; recomendar rigor das informações e a necessidade de prevenir interpretações equivocadas; deve ser criada uma linha direta para reclamações sobre quebra de conduta por parte de jornalistas; decisões sobre reclamações de quebra de conduta serão tomadas pelo órgão regulador antes de encaminhadas à Justiça; o órgão regulador terá o poder de aplicar sanções financeiras (com valor de até 1 milhão de libras esterlinas, ou cerca de R$ 3 milhões).

No México, o novo governo do presidente Enrique Peña Nieto apresentou projeto de alterações no marco regulatório das comunicações com vistas a quebrar o oligopólio de conglomerados, como América Móvil e Televisa, e promover a concorrência no setor.

O projeto prevê a instituição de um novo órgão regulador com poderes para obrigar a venda de ações de empresas com mais de 50% do mercado, além de multas e regulação de preços para beneficiar empresas menores. Será criada uma infraestrutura estatal de telecomunicações que possibilite o acesso à internet para 70% dos domicílios e 85% das empresas do país.

No que se refere à televisão aberta, o projeto prevê a entrada de duas novas redes de transmissão digital, além de um canal estatal nacional com programas educacionais e culturais. As redes existentes seriam obrigadas a oferecer programação gratuita para operadoras de TV a cabo, sem custo. Prevê-se ainda a eliminação de qualquer restrição ao investimento estrangeiro no setor.

O projeto está em tramitação na Câmara dos Deputados.

E na Terra de Santa Cruz?
Enquanto avanços ocorrem em países tão distintos como a Inglaterra e o México – sem mencionar países vizinhos latino-americanos –, no Brasil autoridades governamentais descartam qualquer iniciativa no que se refere à regulação do setor de comunicações. Ignora-se o que acontece no resto do mundo e se interdita até mesmo o debate público, deliberadamente confundido com ameaças à liberdade de expressão.

É como se, na Terra de Santa Cruz, questões decorrentes das inovações tecnológicas e da ausência de regulamentação de normas e princípios inscritos na Constituição, há um quarto de século, simplesmente não existissem.

Resta à sociedade civil organizada prosseguir trabalhando para mobilizar a “vontade das ruas”.

Todo apoio, portanto, à campanha liderada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), “Para expressar a liberdade – uma nova lei para um novo tempo”, e ao esforço para a elaboração de uma proposta que possa se transformar em Projeto de Lei de Iniciativa Popular.

Existe alguma alternativa?


*Publicado originalmente na revista 'Teoria e Debate'. Venício A. de Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e autor de Política de Comunicações: um Balanço dos Governos Lula (2003-2010), Editora Publisher Brasil, 2012, entre outros livros.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Jimmy Carter: governo dos EUA decide quem vai morrer e quem vai viver no mundo

 Publicado no O Pensador da Aldeia
 

por Jimmy Carter*


Revelações de que altos funcionários do governo dos Estados Unidos decidem quem será assassinado em países distantes, inclusive cidadãos norte-americanos, são a prova apenas mais recente, e muito perturbadora, de como se ampliou a lista das violações de direitos humanos cometidas pelos EUA.

Esse desenvolvimento começou depois dos ataques terroristas de 11/9/2001; e tem sido autorizado, em escala crescente, por atos do executivo e do legislativo norte-americanos, dos dois partidos, sem que se ouça protesto popular. Resultado disso, os EUA já não podem falar, com autoridade moral, sobre esses temas cruciais.

Por mais que os EUA tenham cometido erros no passado, o crescente abuso contra direitos humanos na última década é dramaticamente diferente de tudo que algum dia se viu. Sob liderança dos EUA, a Declaração Universal dos Direitos do Homem foi adotada em 1948, como “fundamento da liberdade, justiça e paz no mundo”. Foi compromisso claro e firme, com a ideia de que o poder não mais serviria para acobertar a opressão ou a agressão a seres humanos. Aquele compromisso fixava direitos iguais para todos, à vida, à liberdade, à segurança pessoal, igual proteção legal e liberdade para todos, com o fim da tortura, da detenção arbitrária e do exílio forçado.

Aquela Declaração tem sido invocada por ativistas dos direitos humanos e da comunidade internacional, para trocar, em todo o mundo, ditaduras por governos democráticos, e para promover o império da lei nos assuntos domésticos e globais. É gravemente preocupante que, em vez de fortalecer esses princípios, as políticas de contraterrorismo dos EUA vivam hoje de claramente violar, pelo menos, 10 dos 30 artigos daquela Declaração, inclusive a proibição de qualquer prática de “castigo cruel, desumano ou tratamento degradante.”

Legislação recente legalizou o direito do presidente dos EUA, para manter pessoas sob detenção sem fim, no caso de haver suspeita de ligação com organizações terroristas ou “forças associadas” fora do território dos EUA – um poder mal delimitado que pode facilmente ser usado para finalidades autoritárias, sem qualquer possibilidade de fiscalização pelas cortes de justiça ou pelo Congresso (a aplicação da lei está hoje bloqueada, suspensa por sentença de um(a) juiz(a) federal). Essa lei agride o direito à livre manifestação e o direito à presunção de inocência, sempre que não houver crime e criminoso determinados por sentença judicial – mais dois direitos protegidos pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, aí pisoteados pelos EUA.

Além de cidadãos dos EUA assassinados em terra estrangeira ou tornados alvos de detenção sem prazo e sem acusação clara, leis mais recentes suspenderam as restrições da Foreign Intelligence Surveillance Act, de 1978, para admitir violação sem precedentes de direitos de privacidade, legalizando a prática de gravações clandestinas e de invasão das comunicações eletrônicas dos cidadãos, sem mandato. Outras leis autorizam a prender indivíduos pela aparência, modo de trajar, locais de culto e grupos de convivência social.

Além da regra arbitrária e criminosa, segundo a qual qualquer pessoa assassinada por aviões-robôs comandados à distância (drones) por pilotos do exército dos EUA é automaticamente declarada inimigo terrorista, os EUA já consideram normais e inevitáveis também as mortes que ocorram ‘em torno’ do ‘alvo’, mulheres e crianças inocentes, em muitos casos. Depois de mais de 30 ataques aéreos contra residências de civis, esse ano, no Afeganistão, o presidente Hamid Karzai exigiu o fim desse tipo de ataque. Mas os ataques prosseguem em áreas do Paquistão, da Somália e do Iêmen, que sequer são zonas oficiais de guerra. Os EUA nem sabem dizer quantas centenas de civis inocentes foram assassinados nesses ataques – todos eles aprovados e autorizados pelas mais altas autoridades do governo federal em Washington. Todos esses crimes seriam impensáveis há apenas alguns anos.

Essas políticas têm efeito evidente e grave sobre a política exterior dos EUA. Altos funcionários da inteligência e oficiais militares, além de defensores dos direitos das vítimas nas áreas alvos, afirmam que a violenta escalada no uso dos drones como armas de guerra está empurrando famílias inteiras na direção das organizações terroristas; enfurece a população civil contra os EUA e os norte-americanos; e autoriza governos antidemocráticos, em todo o mundo, a usar os EUA como exemplo de nação violenta e agressora.

Simultaneamente, vivem hoje 169 prisioneiros na prisão norte-americana de Guantánamo, em Cuba. Metade desses prisioneiros já foram considerados livres de qualquer suspeita e poderiam deixar a prisão. Mas nada autoriza a esperar que consigam sair vivos de lá. Autoridades do governo dos EUA revelaram que, para arrancar confissões de suspeitos, vários prisioneiros foram torturados por torturadores a serviço do governo dos EUA, submetidos a simulação de afogamento mais de 100 vezes; ou intimidados sob a mira de armas semiautomáticas, furadeiras elétricas e ameaças (quando não muito mais do que apenas ameaças) de violação sexual de esposas, mães e filhas. Espantosamente, nenhuma dessas violências podem ser usadas pela defesa dos acusados, porque o governo dos EUA alega que são práticas autorizadas por alguma espécie de ‘lei secreta’ indispensável para preservar alguma “segurança nacional”.

Muitos desses prisioneiros – mantidos em Guantánamo como, noutros tempos, outros inocentes também foram mantidos em campos de concentração de prisioneiros na Europa – não têm qualquer esperança de algum dia receberem julgamento justo nem, sequer, de virem a saber de que crimes são acusados.

Em tempos nos quais o mundo é varrido por revoluções e levantes populares, os EUA deveriam estar lutando para fortalecer, não para enfraquecer cada dia mais, os direitos que a lei existe para garantir a homens e mulheres e todos os princípios da justiça listados na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Em vez de garantir um mundo mais seguro, a repetida violação de direitos humanos, pelo governo dos EUA e seus agentes em todo o mundo, só faz afastar dos EUA seus aliados tradicionais; e une, contra os EUA, inimigos históricos.

Como cidadãos norte-americanos preocupados, temos de convencer Washington a mudar de curso, para recuperar a liderança moral que nos orgulhamos de ter, no campo dos direitos humanos. Os EUA não foram o que foram por terem ajudado a apagar as leis que preservam direitos humanos essenciais. Fomos o que fomos, porque, então, andávamos na direção exatamente oposta à que hoje trilhamos.


*Jimmy Carter é Prêmio Nobel e ex-presidente dos EUA. Matéria publicada no New York Times


Brasil não pode ficar desarmado

               
Publicado na Revista Mirante
Em artigo lúcido e corajoso, Mauro Santayana mostra a necessidade de uma indústria bélica no país.
(JB) - O governo da Presidente Dilma Roussef decidiu alterar as leis sobre a indústria bélica e editar normas para a política de defesa, que incentivam a produção nacional de armas e o desenvolvimento de processos tecnológicos autônomos. Os nossos leitores habituais devem recordar-se de matéria sobre o assunto que publicamos neste mesmo Jornal do Brasil sobre o tema em 16 de agosto do ano passado. No texto, citávamos a dramática advertência do general Maynard Santa Rosa: em caso de agressão estrangeira, só dispomos de munição para uma hora de resistência. Um dos maiores erros dos governos de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, se não o mais grave, foi desarmar o Brasil. A doutrina FHC se baseava no falso conformismo de que jamais poderíamos nos defender do poderio bélico norte-americano e seria melhor transformar as forças armadas em corpos policiais destinados ao combate ao tráfico de drogas, sob o comando continental dos Estados Unidos, of course.
Todos os povos que se prezam são obrigados a defender-se dos eventuais inimigos. As nações se formam dentro de espaços naturais, em que devem viver em paz, preocupando-se com seus recursos, com a felicidade e com a defesa de sua liberdade. À soma de espaço e liberdade chamamos soberania, no léxico político moderno. Nas guerras, sempre indesejadas, as nações agredidas, qualquer que seja a sua capacidade bélica, são eticamente obrigadas a resistir.
Churchill, ao opor-se à capitulação de Chamberlain, ponderou que uma nação , quando se defende com a coragem do patriotismo, pode ser derrotada sem perder a honra, mas, ao capitular sem luta, perde o respeito do inimigo e das nações neutras.
O vencedor trata  com natural desprezo os que se entregam sem luta, ainda que em nome da paz. É essa a diferença entre os soviéticos, que perderam rios de sangue na Segunda Guerra Mundial, e puderam hastear sua bandeira no Reichstag, enquanto Hitler se matava - e os franceses de Pétain e Laval, que se entregaram quase sem luta e colaboraram com a repressão nazista dentro de seu próprio território. Ainda bem que, no caso da França, os maquisards salvaram a face de seu povo, na dura resistência contra os ocupantes.
O Brasil é um dos poucos países do mundo capazes de viver com autonomia dentro de suas próprias fronteiras, o que o dispensa da sedução de conquista de espaços alheios. É um dos maiores do mundo em extensão territorial contínua, em que se fala a mesma língua, com invejável insolação e imensos depósitos de água potável. E exatamente por isso é obrigado a manter forças armadas capazes de dissuadir os eventuais cobiçosos.
A experiência continental nos adverte de que não podemos manter alinhamentos internacionais automáticos. Não cabe discutir aqui se a Argentina agiu bem, ao tentar recuperar, pela força, o que pela força perdera, ou seja, a soberania sobre as Malvinas. O fato é que Washington não interveio em favor da paz: colocou-se inteiramente ao lado de Mme. Thatcher, sem ir mais fundo na discussão da soberania argentina, reconhecida por todos os seus vizinhos da América do Sul.
A nova doutrina brasileira busca estabelecer parcerias não só comerciais, mas estratégicas. E, para que não ocorra a pressão sobre os nossos parceiros, é melhor negociar com países emergentes – no caso, os BRICS.
Cometemos um erro estratégico ao assinar o famoso Tratado de Não Proliferação Nuclear. A decisão de não usar determinado instrumento bélico não nos deve tolher o processo de sua fabricação e a técnica de seu emprego.
Armemo-nos todos, ou nos desarmemos todos, sem exceção.

França afunda no obscurantismo

 

Publicado na Revista Mirante


Fotos de Leneide Duarte-Plon

Sempre interessante e interessada pelos assuntos humanos, Leneide Duarte-Plon envia de Paris, em seu blog, triste informação sobre a onda sectária de tipo fascista que avança naquele país – onde, não há muito tempo, o mundo buscava inspiração para a abertura do espírito e a civilização.

O Islã é compatível com a République ?*

Na França, essa pergunta é feita, em geral, para provar que não. Esse slogan do Front National, o partido de Jean-Marie Le Pen, (L’Islam n’est pas compatible avec la République) começa a ser endossado por intelectuais que, a pretexto de defenderem a laicidade, o princípio que separa a Igreja do Estado, cada dia mais se desinibem no ataque à religião muçulmana.
A guerra contra o véu islâmico, começada nos anos 90, continua. A caça às bruxas continua. As mulheres são proibidas de usá-lo em todo o espaço público (escolas, creches, hospitais, administrações públicas, polícia) depois de já serem proibidas de usá-lo nas fotos de identidade.
Recebi de um amigo do Brasil uma montagem audiovisual de fotos de monumentos parisienses acompanhadas de um texto « informativo ». Ele tem um único objetivo: difundir o medo estigmatizando a cultura e a religião muçulmanas.
Esses textos veiculam mentiras e meias verdades. Pura propaganda anti-Islã, que no jogo político atual tomou o lugar da URSS e do comunismo como o bicho-papão que precisa ser diabolizado pela “civilização cristã-ocidental”. O fundo musical não podia ser mais cafona: Mireille Mathieu canta « La Marseillaise ». Mireille Mathieu é um símbolo de cafonice na França.
Com o fim do comunismo, é preciso fabricar um inimigo para justificar as guerras, a fabricação e a venda de armas. Não sei a origem do texto, mas todas as informações se referem à França, como se o país estivesse à beira de uma invasão muçulmana. O título da peça é « Um perigo para o mundo livre ».
Há uma islamofobia na França, mesmo se o discurso racista é controlado por lei que pune “incitação ao ódio racial”. Por isso, ele se exprime veladamente, nesse  clima de difusão do medo, incentivado pela extrema direita.
Os muçulmanos franceses são a segunda religião na França, mas não têm e nunca terão poder de modificar as leis e os costumes, como insinua o texto de propaganda. Eles se chocam à realidade francesa e, mal ou bem, tentam se integrar nessa cultura. Um exemplo é o véu, alvo de leis e proibições em todas as repartições públicas do país.
Tenho horror ao Islã fundamentalista no qual a mulher vale menos que zero, a mulher tem um lugar subalterno em relação ao homem. Mas o judaísmo, não somente o ortodoxo-fundamentalista, não fica atrás e ninguém ousa criticar.
Por quê? Primeiramente, por serem os judeus menos numerosos e terem experiência milenar de  integração e assimilação nas diferentes sociedades cristãs. Depois, porque os fundamentalistas, em geral, emigram para Israel, para poderem exercer a ortodoxia deles em paz. E, por último, porque ninguém quer ser acusado de antissemitismo, o pior crime numa França que carrega a culpa histórica pela deportação dos judeus e colaboração com os nazistas.
Procuro ver os filmes israelenses que passam em Paris e alguns mostram os ortodoxos no dia-a-dia. A concepção de mundo deles é tão abominável quanto a dos muculmanos ortodoxos: as mulheres têm um único direito, calar-se e viver à sombra dos machos, de um código religioso estreito. A misoginia da religião judaica não fica nada a dever à da religião muçulmana.
O título “Um perigo para o mundo livre” me faz lembrar os slogans anti-comunistas de outros tempos. Quem fabrica os perigos (antes era o “perigo vermelho”) quer se mostrar como o caminho de combatê-los.
Na França, o racismo anti-Islã é o principal “fonds de commerce” do partido de extrema direita Front National. Ele tenta convencer os ingênuos de que França corre graves riscos e somente o FN conseguirá impedir a destruição da « identidade francesa ». O pior é que 33% dos franceses se dizem próximos das teses do FN.
Fonte: http://bilhetesdeparis.blogspot.fr/

Fidel Castro relata os acontecimentos que geraram o conflito na Coreia

Reflexões de Fidel Castro Ruiz, publicadas em 2008, relata o processo histórico gerador do conflito entre as duas Coreias e a luta dos norte-coreanos, contra a ocupação japonesa, o envolvimento dos Estados Unidos, da União Soviética e da China. As reflexões de Fidel, apeasr de escritas em 2008, conservam toda atualidade e representam uma referência incontestável do conflito na península. Para quem não conhece os motivos do conflito, esta é uma oportunidade em conhcê-lo.


Embaixada da Coreia do Norte em Cuba

Publicado no Blog de Atilio Boren, PCB e Solidários
As duas Coreias (parte I)
"A nação coreana, com sua peculiar cultura que diferentemente de seus vizinhos chineses e japoneses, existe há três mil anos. São características típicas das sociedades dessa região asiática, incluídas a chinesa, a vietnamita e outras. Nada parecido se observa nas culturas ocidentais, algumas com menos de 250 anos.
Os japoneses tinham arrebatado da China na guerra de 1894 o controle que exercia sobre a dinastia coreana e transformaram seu território numa colônia do Japão. Por acordo entre os Estados Unidos e as autoridades coreanas, o protestantismo foi introduzido nesse país no ano 1892. Por outro lado, o catolicismo tinha penetrado igualmente nesse século através das missões. Calcula-se que atualmente na Coréia do Sul ao redor de 25 por cento da população é cristã e um número similar é budista. A filosofia de Confúcio exerceu grande influência no espírito dos coreanos, que não se caracterizam pelas práticas fanáticas da religião.
Duas importantes figuras ocuparam os primeiros planos da vida política dessa nação no século 20. Syngman Rhee, que nasce em março de 1875, e Kim Il Sung 37 anos depois, em abril de 1912. Ambas as personalidades, de diferente origem social, enfrentaram-se a partir de circunstâncias históricas alheias a elas.
Os cristãos se opunham ao sistema colonial japonês, entre eles Syngman Rhee, que era praticante ativo do protestantismo. A Coréia mudou de status: o Japão anexou seu território em 1910. Anos mais tarde, em 1919, Rhee foi nomeado Presidente do Governo Provisório no exílio, com sede em Xangai, China. Nunca empregou as armas contra os invasores. A Liga das Nações, em Genebra, não lhe prestou atenção.
O império japonês foi brutalmente repressivo com a população da Coreia. Os patriotas resistiram com as armas à política colonialista do Japão e conseguiram libertar uma pequena zona nos terrenos montanhosos do Norte, durante os últimos anos da década de 1890.
Kim Il Sung, nascido nas proximidades de Pyongyang, aos 18 anos, incorporou-se às guerrilhas comunistas coreanas que lutavam contra os japoneses. Em sua ativa vida revolucionária atingiu a chefatura política e militar dos combatentes anti-japoneses do Norte da Coréia, quando apenas tinha 33 anos de idade.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos decidiram o destino de Coréia no pós-guerra. Entraram na contenda quando foram atacados por uma criação sua, o Império do Sol Nascente, cujas herméticas portas feudais foram abertas por Comodoro Perry na primeira metade do século 19 apontando com seus canhões ao estranho país asiático que se negava a comercializar com a América do Norte.
O avantajado discípulo se transformou mais tarde em um poderoso rival, como já expliquei em outra ocasião. O Japão golpeou sucessivamente décadas mais tarde a China e a Rússia, apoderando-se adicionalmente da Coréia. Não obstante, foi astuto aliado dos vencedores na Primeira Guerra Mundial à custa da China. Acumulou forças e, transformado em uma versão asiática do nazifascismo, tentou ocupar o território da China em 1937 e atacou aos Estados Unidos em dezembro de 1941; levou a guerra ao Sudeste Asiático e à Oceania.
Os domínios coloniais da Grã-Bretanha, França, Holanda e Portugal na região estavam condenados a desaparecer e os Estados Unidos surgiam como a potência mais poderosa do planeta, resistida apenas pela União Soviética, então destruída pela Segunda Guerra Mundial e pelas inúmeras perdas materiais e humanas que lhe ocasionou o ataque nazista. A Revolução chinesa estava por concluir em 1945, quando a matança mundial cessou. O combate unitário anti-japonês ocupava então suas energias. Mao, Ho Chi Minh, Gandhi, Sukarno e outros líderes prosseguiram depois com sua luta contra a restauração da velha ordem mundial que era já insustentável.
Truman lançou contra duas cidades civis japonesas a bomba atômica, arma nova terrivelmente destrutiva de cuja existência, como se explicou, não havia informado ao aliado soviético, o país que mais contribuiu à destruição do fascismo. Nada justificava o genocídio cometido, nem sequer o fato de que a tenaz resistência japonesa tinha custado a vida de quase 15 mil soldados norte-americanos na ilha japonesa de Okinawa. Já o Japão estava derrotado e tal arma, lançada contra um objetivo militar, teria tido mais cedo ou mais tarde o mesmo efeito desmoralizador no militarismo japonês sem novas baixas para os soldados dos Estados Unidos. Foi um ato inqualificável de terror.
Os soldados soviéticos avançavam sobre a região da Manchúria e do Norte da Coréia, tal como o haviam prometido ao cessarem os combates na Europa. Os aliados tinham definido previamente até que ponto chegaria cada força. Na metade da Coreia estaria a linha divisória, eqüidistante entre o rio Yalu e o Sul da península. 
O governo norte-americano negociou com os japoneses as normas que regeriam a rendição das tropas em seu próprio território. O Japão seria ocupado pelos Estados Unidos. Na Coréia, anexada ao Japão, permanecia uma grande força do poderoso exército japonês. No Sul do Paralelo 38, limite divisório estabelecido, prevaleceriam os interesses dos Estados Unidos. Syngman Rhee, reincorporado a essa parte do território pelo governo dos Estados Unidos, foi o líder ao que apoiou, com a cooperação aberta dos japoneses. Ganhou assim as concorridas eleições de 1948. Os soldados do Exército Soviético haviam se retirado da Coreia do Norte nesse ano.
Em 25 de junho de 1950 explodiu a guerra no país. Ainda se discute quem deu o primeiro disparo, se os combatentes do Norte ou os soldados norte-americanos que estavam de guarda junto aos soldados recrutados por Rhee. A discussão carece de sentido se for analisada do ângulo coreano. Os combatentes de Kim Il Sung lutaram contra os japoneses pela libertação de toda a Coréia. Suas forças avançaram incontidas até as proximidades do extremo Sul, onde os ianques se defendiam com o apoio em massa de seus aviões de ataque. Seul e outras cidades tinham sido ocupadas. McArthur, chefe das forças norte-americanas do Pacífico, decidiu ordenar um desembarque da infantaria de Marinha por Incheon, na retaguarda das forças do Norte, que estas não podiam já contra-arrestar. 
Pyongyang caiu nas mãos das forças ianques, precedidas por devastadores ataques aéreos. Isso impulsionou a idéia por parte do comando militar norte-americano no Pacífico de ocupar toda a Coréia, já que o Exército de Libertação Popular da China, dirigido por Mao Tsé-Tung, tinha infligido uma derrota esmagadora às forças pró-ianques de Chiang Kai-shek, abastecidas e apoiadas pelos Estados Unidos. Todo o território continental e marítimo desse grande país tinha sido recuperado, com exceção de Taipei e algumas outras pequenas ilhas próximas onde se refugiaram as forças do Kuomintang, transportadas por naves da Sexta Frota.
A história do ocorrido então se conhece bem hoje. Não podemos esquecer que Boris Yeltsin entregou a Washington, entre outras coisas, os arquivos da União Soviética.
O que fizeram os Estados Unidos quando explodiu o conflito praticamente inevitável sob as premissas criadas na Coréia? Apresentou a parte norte desse país como agressora. O Conselho de Segurança da recém criada Organização das Nações Unidas, promovida pelas potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial, aprovou a resolução sem que um dos cinco membros pudesse vetá-la. 
Nesses precisos meses, a URSS havia se manifestado desconforme com a exclusão da China no Conselho de Segurança, onde os Estados Unidos reconheciam Chiang Kai-shek, com menos de 0,3 por cento do território nacional e menos de 2 por cento da população, como membro do Conselho de Segurança com direito ao veto. Tal arbitrariedade conduziu à ausência do delegado russo, em conseqüência do qual se produziu o acordo desse Conselho dando à guerra o caráter de uma ação militar da ONU contra o suposto agressor: a República Popular da Coreia. 
A China, alheia por completo ao conflito, que afetava sua luta inconclusa pela libertação total do país, viu pairar a ameaça direta contra seu próprio território, o que era inaceitável para sua segurança. Segundo dados publicados, enviou ao premiê Zhou Enlai para Moscou, para expressar a Stalin seu ponto de vista sobre o inadmissível que era a presença de forças da ONU sob o comando dos Estados Unidos nas ribeiras do rio Yalu, que delimita a fronteira da Coréia com a China, e lhe solicitar a cooperação soviética. Não existiam então contradições profundas entre os dois gigantes socialistas.
O contragolpe chinês afirma-se que estava planejado para 13 de outubro e Mao o postergou para o dia 19, esperando a resposta soviética. Era o máximo que podia estendê-lo.
Penso em concluir esta reflexão na próxima sexta-feira. É um tema complexo e trabalhoso, que demanda cuidado especial e os dados mais precisos possíveis. São fatos históricos que devem ser conhecidos e recordados".
Fidel Castro Ruz, Havana, 22 de julho de 2008
As duas Coreias (parte II)
''Em 19 de outubro de 1950 mais de 400 mil combatentes voluntários chineses, cumprindo as instruções de Mao Tsé-Tung, cruzaram o Yalu e foram ao encontro das tropas dos Estados Unidos que avançavam para a fronteira chinesa. As unidades norte-americanas, surpreendidas pela enérgica ação do país que tinham subestimado, viram-se obrigadas a retroceder até as proximidades da costa sul, devido ao empurre das forças combinadas de chineses e coreanos do Norte. Stalin, que era sumamente cauteloso, prestou uma cooperação muito menor que a esperada por Mao, ainda que valiosa, mediante o envio de aviões MiG-15 com pilotos soviéticos, numa frente limitada de 98 quilômetros, que na etapa inicial protegeram às forças de terra em seu intrépido avanço. Pyongyang foi de novo recuperada e Seul ocupada outra vez, desafiando o incessante ataque da força aérea dos Estados Unidos, a mais poderosa que já existiu.
MacArthur estava ansioso para atacar a China com o emprego das armas atômicas. Demandou seu uso depois da humilhante derrota sofrida. O presidente Truman viu-se obrigado a substituí-lo do comando e nomear ao general Matthews Ridgway como chefe das forças de ar, mar e terra dos Estados Unidos no cenário de operações. Na aventura imperialista da Coréia participaram, junto aos Estados Unidos, o Reino Unido, França, Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Grécia, Canadá, Turquia, Etiópia, África do Sul, Filipinas, Austrália, Nova Zelândia, Tailândia e Colômbia. Este país foi o único participante pela América Latina, sob o governo unitário do conservador Laureano Gómez, responsável por matanças em massa de camponeses. Com ela, como se viu, participaram a Etiópia de Haile Selassie, onde ainda existia a escravidão, e a África do Sul governada pelos racistas brancos.
Fazia apenas cinco anos que a matança mundial iniciada em setembro de 1939 havia terminado, em agosto de 1945. Após sangrentos combates no território coreano, o Paralelo 38 voltou a ser o limite entre o Norte e o Sul. Calcula-se que morreram nessa guerra cerca de dois milhões de coreanos do Norte, entre meio milhão ou um milhão de chineses e mais de um milhão de soldados aliados. Por parte dos Estados Unidos perderam a vida ao redor de 44 mil soldados; não poucos deles eram nascidos em Porto Rico ou outros países latino-americanos, recrutados para participar em uma guerra à que os levou a condição de imigrantes pobres.
O Japão obteve grandes vantagens dessa contenda; em um ano, a manufatura cresceu 50%, e em dois recuperou a produção que tinha antes da guerra. Não mudou, no entanto, a percepção dos genocídios cometidos pelas tropas imperiais na China e Coréia. Os governos do Japão renderam culto aos atos genocidas de seus soldados, que na China tinham violentado a dezenas de milhares de mulheres e assassinado brutalmente a centenas de milhares de pessoas, como já se explicou numa reflexão. Sumamente trabalhadores e tenazes, os japoneses transformaram seu país, desprovido de petróleo e outras matérias primas importantes, na segunda potência econômica do mundo.
O PIB do Japão, medido em termos capitalistas — ainda que os dados variam segundo as fontes ocidentais —, ascende hoje a mais de 4,5 trilhões de dólares, e suas reservas em divisas atingem mais de um trilhão. É ainda o dobro do PIB da China, 2,2 trilhões, ainda que esta possua 50% a mais de reservas em moeda conversível que esse país. O PIB dos Estados Unidos, 12,4 trilhões, com 34,6 vezes mais território e 2,3 vezes mais população, é apenas três vezes maior que o do Japão. Seu governo é hoje um dos principais aliados do imperialismo, quando este se encontra ameaçado pela recessão econômica e as armas sofisticadas da superpotência se esgrimem contra a segurança da espécie humana.
São lições inapagáveis da história.
A guerra, por sua vez, afetou consideravelmente a China. Truman deu ordens à 6.ª Frota de impedir o desembarque das forças revolucionárias chinesas que culminariam a libertação total do país com a recuperação de 0,3 por cento de seu território, que havia sido ocupado pelo resto das forças pró ianques de Chiang Kai-shek que para ali fugiram.
As relações sino-soviéticas se deterioraram depois, após a morte de Stalin, em março de 1953. O movimento revolucionário dividiu-se em quase todos os lugares. O apelo dramático de Ho Chi Minh deixou registro do estrago ocasionado, e o imperialismo, com seu enorme aparelho midiático, atiçou o fogo do extremismo dos falsos teóricos revolucionários, um tema no qual os órgãos de inteligência dos Estados Unidos se transformaram em especialistas.
À Coréia do Norte lhe correspondeu, na arbitrária divisão, a parte mais acidentada do país. Cada grama de alimento tinha que ser obtida a custa de suor e sacrifício. De Pyongyang, a capital, não restou pedra sobre pedra. Um número elevado de feridos e mutilados de guerra tinha que ser atendido. Estavam bloqueados e sem recursos. A URSS e os demais Estados do campo socialista se reconstruíam.
Quando cheguei em 7 de março de 1986 à República Popular Democrática da Coréia, quase 33 anos após a destruição deixada pela guerra, era difícil acreditar o que ali havia acontecido. Aquele povo heróico tinha construído uma infinidade de obras: grandes e pequenas represas e canais para acumular água, produzir eletricidade, abastecer cidades e regar os campos; termoelétricas, importantes indústrias mecânicas e de outros ramos, muitas delas debaixo da terra, encravadas nas profundidades das rochas a base de trabalho duro e metódico. 
Por falta de cobre e alumínio, viram-se obrigados a utilizar inclusive ferro em linhas de transmissão devoradoras de energia elétrica, que em parte procedia da hulha. A capital e outras cidades arrasadas foram construídas metro a metro. Calculei milhões de moradias novas em áreas urbanas e rurais e dezenas de milhares de instalações de serviços de todo o tipo. Infinitas horas de trabalho estavam transformadas em pedra, cimento, aço, madeira, produtos sintéticos e equipamentos. As plantações que pude observar, onde quer que tenha ido, pareciam jardins. Um povo bem vestido, organizado e entusiasmado estava em todos os lugares, recebendo ao visitante. Merecia a cooperação e a paz.
Não houve tema que não fosse discutido com meu ilustre anfitrião Kim Il Sung. Não o esquecerei.
A Coréia ficou dividida em duas partes por uma linha imaginária. O Sul viveu uma experiência diferente. Era a parte mais povoada e sofreu menos destruição naquela guerra. A presença de uma enorme força militar estrangeira requeria o fornecimento de produtos locais manufaturados e outros, que iam desde o artesanato até as frutas e vegetais frescos, além dos serviços. Os gastos militares dos aliados eram enormes. O mesmo ocorreu quando os Estados Unidos decidiu manter indefinidamente uma grande força militar. 
As multinacionais do Ocidente e do Japão investiram nos anos da Guerra Fria quantias consideráveis, extraindo riquezas sem limites do suor dos sul-coreanos, um povo igualmente trabalhador e abnegado como seus irmãos do Norte. Os grandes mercados do mundo estiveram abertos aos seus produtos. Não estavam bloqueados. Hoje o país atinge elevados níveis de tecnologia e produtividade. Sofreu as crises econômicas do Ocidente, que permitiram a aquisição de muitas empresas sul-coreanas pelas transnacionais. O caráter austero de seu povo permitiu ao Estado a acumulação de importantes reservas em divisas. Hoje suporta a depressão econômica dos Estados Unidos, em especial os elevados preços de combustíveis e alimentos, e as pressões inflacionárias derivadas de ambos.
O PIB da Coréia do Sul, 787 bilhões 600 milhões de dólares, assim como o do Brasil (796 bilhões) e México (768 bilhões), ambos com abundantes recursos de hidrocarbonetos e populações incomparavelmente maiores. O imperialismo impôs às mencionadas nações seu sistema. Dois ficaram para trás; a outra avançou bem mais.
Da Coréia do Sul mal emigram ao Ocidente; do México, o fazem em massa para o atual território dos Estados Unidos; do Brasil, América do Sul e América Central, a todos os lugares, atraídos pela necessidade de emprego e pela propaganda consumista. Agora são retribuídos com normas rigorosas e depreciativas.
A posição de princípios sobre as armas nucleares subscrita por Cuba no Movimento de Países Não Alinhados, ratificada na Conferência Cúpula de Havana em agosto de 2006, é conhecida.
Saudei pela primeira vez ao atual líder da República Popular Democrática da Coréia, Kim Jong Il, quando cheguei ao aeroporto de Pyongyang e ele estava discretamente situado a um lado do tapete vermelho próximo ao seu pai. Cuba mantém com seu governo excelentes relações.
Ao desaparecer a URSS e o campo socialista, a República Popular Democrática da Coreia perdeu importantes mercados e fontes de fornecimentos de petróleo, matérias primas e equipamentos. Assim como para nós, as conseqüências foram muito duras. O progresso atingido com grandes sacrifícios viu-se ameaçado. Apesar disso, mostraram a capacidade de produzir a arma nuclear.
Quando se aconteceu ao redor de um ano o ensaio pertinente, transmitimos ao Governo da Coréia do Norte nossos pontos de vista sobre o estrago que isso poderia ocasionar aos países pobres do Terceiro Mundo que travavam uma luta desigual e difícil contra os planos do imperialismo em uma hora decisiva para o mundo. Talvez não fosse necessário fazê-lo. Kim Jong Il, já chegado a esse ponto, havia decidido de antemão o que devia fazer, tomando em conta os fatores geográficos e estratégicos da região.
Satisfaz-nos a declaração da Coréia do Norte sobre a disposição de suspender seu programa de armas nucleares. Isto não tem nada que ver com os crimes e chantagens de Bush, que agora se gaba da declaração coreana como sucesso de sua política de genocídio. O gesto da Coréia do Norte não era para o governo dos Estados Unidos, ante o qual não cedeu jamais, senão para a China, país vizinho e amigo, cuja segurança e desenvolvimento é vital para os dois Estados.
Aos países do Terceiro Mundo interessa-lhes a amizade e cooperação entre a China e ambas as partes da Coréia, cuja união não tem que ser necessariamente uma a custa da outra, como ocorreu na Alemanha, hoje aliada dos Estados Unidos na OTAN. Passo a passo, sem pressa, mas sem trégua, como corresponde a sua cultura e a sua história, continuarão sendo tecidos os laços que unirão às duas Coreias. Com a do Sul desenvolvemos progressivamente nossos vínculos; com a do Norte existiram sempre e os continuaremos fortalecendo.''
Fidel Castro Ruz, Havana, 24 de julho de 2008

Golpe de 64: Forças reacionárias perdem a batalha final pela memória no Brasil

Publicado no Correio do Brasil

Os cartazes distribuídos pelas forças de repressão trazem as fotos dos atuais heróis brasileiros na luta contra a ditadura militar de 64
 

As forças reacionárias que patrocinaram a queda do governo democrático de João Goulart, em 1964, e a ditadura nas duas décadas seguintes perderam, nestas últimas 24 horas, a batalha decisiva pela memória popular no Brasil e, com isso, a trincheira mais importante da ultradireita junto à opinião pública. Desarticulados por uma série de vitórias, nas urnas, das frentes libertárias que conduziram a política nacional na última década, os integrantes da extrema-direita vêem, agora, os dias 31 de março e 1º de abril deixarem de ser a data da “revolução” para se transformar no marco do golpe militar. Enquanto o assunto ficou restrito aos rodapés ou, simplesmente, desapareceu do noticiário nos meios de comunicação conservadores que, na época, não apenas apoiaram como sustentaram o regime ditatorial brasileiro, por 20 anos, os trabalhos da Comissão da Verdade ganham destaque na mídia independente. Instituído no ano passado, o colegiado presta aos brasileiros a tarefa de redesenhar a História, com dados que repercutiram ao longo do dia, aqui no país e no exterior.

A lembrança dos Anos de Chumbo ocupou os principais sites e perfis das redes sociais, nesta segunda-feira. Em um artigo publicado no Blog da Cidadania, o advogado Eduardo Guimarães questiona: “Onde estão as famílias das vítimas dos ‘terroristas’ a bradarem contra os assassinatos ou torturas de país, mães, irmãos, amigos? Por que, como as vítimas da ditadura, não se organizam e levam fotos de entes queridos que os que tentavam devolver a democracia ao Brasil teriam exterminado ou torturado?”

“Claro que, sim, houve alvos militares. E é claro que alguns soldados da ditadura tombaram em combate com “terroristas”. Mas nada que sequer se aproxime dos meninos e meninas que aquele regime hediondo sequestrou, seviciou e exterminou. Hoje, 1º de abril de 2013, faz 49 anos que o inferno foi desencadeado no país. Sobreviventes que enfrentaram aqueles psicopatas, assassinos, estupradores, ladrões, pervertidos que colocaram este país de joelhos, chegaram ao poder. Aliás, o Brasil é governado por uma heroína que, altiva, enfrentou aqueles demônios”, acrescentou o blogueiro, referindo-se à presidenta da República, Dilma Rousseff.

Ainda nesta segunda-feira, a agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW) publicou extensa matéria sobre o atraso provocado por sucessivos governos ainda dominados por setores reacionários da sociedade brasileira, os mesmos que ainda controlam os maiores meios de comunicação do país e, em meio à crise internacional, sobrevivem graças ao pesado e paradoxal subsídio que ainda verte do Palácio do Planalto. Segundo a DW, “ao contrário de outros países sul-americanos, até hoje o Brasil não se ocupou devidamente dos crimes do regime 1964-1985. Para vítimas, medidas não vão longe o suficiente”.

Ainda segundo a reportagem, que segue publicada em alemão e nos demais 30 idiomas em que a agência distribui seu noticiário, o Brasil, por meio da Comissão da Verdade, acrescenta mais um passo decisivo “na recuperação de sua memória política, em especial na investigação do período ditatorial mais recente”. Nesta segunda-feira, entrou no ar o site do Arquivo Público do Estado de São Paulo, permitindo, pela primeira vez, acessar cerca de 1 milhão de documentos relativos à ditadura militar de 1964-1985. Os arquivos revelam quem foi perseguido e espionado pelo regime. Já os nomes dos responsáveis, no entanto, foram omitidos. Os documentos são originários do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), órgão importante no aparato repressivo dos militares, e foram guardados pela Polícia Federal, antes de serem confiados ao estado de São Paulo, em 1990.

Vera Sílvia Magalhães, torturada barbaramente durante a ditadura, é amparada por Cid Benjamin ao deixar o cárcere rumo ao exílio


Memória fundamental

No site do arquivo, Lauro Ávila Pereira, diretor do Departamento de Preservação e Difusão do Acervo, avalia:

– Esta iniciativa pode ajudar a identificação daqueles agentes públicos que, durante a época da ditadura, cometeram violações dos Direitos Humanos. Temos que lembrar que o Brasil é um dos poucos países da América do Sul onde esse tipo de crime jamais foi punido – disse.

Pereira ressalta, ainda, a importância didática do acervo online, que pode ser utilizado pelos professores em sala de aula. A disponibilização resulta da parceria entre a Associação dos Amigos do Arquivo Público de São Paulo e o projeto Marcas da Memória da Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A parcela agora acessível, em torno de 1 milhão de fichas, prontuários e dossiês, compõe cerca de 10% do acervo total. Sua seleção e digitalização exigiram mais de três anos, e o processo de digitalização prossegue até 2014.

Um projeto análogo, e já em pleno funcionamento, é o website Documentos Revelados, que contém milhares de testemunhos históricos relativos ao último período ditatorial brasileiro. Disponibilizados em formatos PDF e JPEG, os arquivos contemplam desde relatórios policiais, depoimentos, análises periciais e processos judiciais, até cartas e fotografias – além de jornais e panfletos produzidos por organizações que resistiram ao regime militar. O editor do site, Aluízio Palmar, que se apresenta como “um sobrevivente”, baseou-se sobretudo em arquivos estaduais.

Hora da verdade

Ao contrário de outros países sul-americanos, como o Chile ou a Argentina, até hoje o Brasil não definiu devidamente os crimes da ditadura dos pontos de vista jurídico e legislativo. Somente em novembro de 2011 a presidenta Dilma instituiu a Comissão da Verdade, com o objetivo de apurar violações dos direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988. Na ocasião, ela sancionou também a Lei de Acesso a Informações Públicas, acabando com o sigilo eterno de documentos. Segundo dados oficiais, 480 pessoas foram assassinadas por motivos políticos durante a ditadura no Brasil. Mais de 100 mil foram presas, e o número das vítimas de tortura é calculado em 50 mil, no mínimo. O destino de 160 desaparecidos segue não esclarecido. Para muitas das vítimas, a elaboração do período militar precisa ir mais longe. Elas exigem a revogação da Lei de Anistia de 1979, que garante impunidade aos que atuaram como torturadores entre 1964 e 1985.


O deputado Romário (PSB-RJ) lidera as investigações contra a direção da CBF


Pela manhã, o deputado Romário (PSB-RJ), em visita à sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) com Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog, morto em prisão durante a ditadura militar, entregou uma petição pública pela saída do presidente da instituição, José Maria Marin, com 54 mil assinaturas, recolhidas desde o dia 19 de fevereiro. Romário lidera os esforços contra Marin na titularidade da Presidência da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara. Desta vez, ele se uniu a Ivo Herzog, que o acompanha com a missão de enviar cópias do documento à direção dos 20 principais clubes que participam do Campeonato Brasileiro e a todas as federações estaduais de futebol. Pai de Ivo, Herzog, foi assassinado em 1975, enquanto estava detido nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Informações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo. No texto em que justifica a petição, Ivo afirma que Marin ajudou a dar sustentação política à ditadura.

No dia 14 de março, Romário afirmou, no Plenário da Câmara que as suspeitas sobre o presidente da CBF são “graves e constrangedoras”, principalmente no momento em que o Brasil se prepara para receber a Copa do Mundo de 2014.

– Nós, atletas e ex-atletas, ficamos muito desconfortáveis com esse tipo de situação. Será que merecemos ter à frente do nosso esporte mais querido, mais popular, um esporte que orgulha o nosso povo, uma pessoa suspeita de envolvimento, ainda que indireto, com tortura, assassinato e a supressão da democracia? – deixou a questão no ar.