Reflexões de Fidel Castro Ruiz, publicadas em 2008, relata o processo histórico gerador do conflito entre as duas Coreias e a luta dos norte-coreanos, contra a ocupação japonesa, o envolvimento dos Estados Unidos, da União Soviética e da China. As reflexões de Fidel, apeasr de escritas em 2008, conservam toda atualidade e representam uma referência incontestável do conflito na península. Para quem não conhece os motivos do conflito, esta é uma oportunidade em conhcê-lo.
Embaixada da Coreia do Norte em Cuba |
Publicado no Blog de Atilio Boren, PCB e Solidários
As duas Coreias (parte I)
"A nação coreana, com sua peculiar cultura que diferentemente de seus
vizinhos chineses e japoneses, existe há três mil anos. São
características típicas das sociedades dessa região asiática, incluídas a
chinesa, a vietnamita e outras. Nada parecido se observa nas culturas
ocidentais, algumas com menos de 250 anos.
Os japoneses tinham arrebatado da China na guerra de 1894 o controle que
exercia sobre a dinastia coreana e transformaram seu território numa
colônia do Japão. Por acordo entre os Estados Unidos e as autoridades
coreanas, o protestantismo foi introduzido nesse país no ano 1892. Por
outro lado, o catolicismo tinha penetrado igualmente nesse século
através das missões. Calcula-se que atualmente na Coréia do Sul ao redor
de 25 por cento da população é cristã e um número similar é budista. A
filosofia de Confúcio exerceu grande influência no espírito dos
coreanos, que não se caracterizam pelas práticas fanáticas da religião.
Duas importantes figuras ocuparam os primeiros planos da vida política
dessa nação no século 20. Syngman Rhee, que nasce em março de 1875, e
Kim Il Sung 37 anos depois, em abril de 1912. Ambas as personalidades,
de diferente origem social, enfrentaram-se a partir de circunstâncias
históricas alheias a elas.
Os cristãos se opunham ao sistema colonial japonês, entre eles Syngman
Rhee, que era praticante ativo do protestantismo. A Coréia mudou de
status: o Japão anexou seu território em 1910. Anos mais tarde, em 1919,
Rhee foi nomeado Presidente do Governo Provisório no exílio, com sede
em Xangai, China. Nunca empregou as armas contra os invasores. A Liga
das Nações, em Genebra, não lhe prestou atenção.
O império japonês foi brutalmente repressivo com a população da Coreia.
Os patriotas resistiram com as armas à política colonialista do Japão e
conseguiram libertar uma pequena zona nos terrenos montanhosos do Norte,
durante os últimos anos da década de 1890.
Kim Il Sung, nascido nas proximidades de Pyongyang, aos 18 anos,
incorporou-se às guerrilhas comunistas coreanas que lutavam contra os
japoneses. Em sua ativa vida revolucionária atingiu a chefatura política
e militar dos combatentes anti-japoneses do Norte da Coréia, quando
apenas tinha 33 anos de idade.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos decidiram o destino
de Coréia no pós-guerra. Entraram na contenda quando foram atacados por
uma criação sua, o Império do Sol Nascente, cujas herméticas portas
feudais foram abertas por Comodoro Perry na primeira metade do século 19
apontando com seus canhões ao estranho país asiático que se negava a
comercializar com a América do Norte.
O avantajado discípulo se transformou mais tarde em um poderoso rival,
como já expliquei em outra ocasião. O Japão golpeou sucessivamente
décadas mais tarde a China e a Rússia, apoderando-se adicionalmente da
Coréia. Não obstante, foi astuto aliado dos vencedores na Primeira
Guerra Mundial à custa da China. Acumulou forças e, transformado em uma
versão asiática do nazifascismo, tentou ocupar o território da China em
1937 e atacou aos Estados Unidos em dezembro de 1941; levou a guerra ao
Sudeste Asiático e à Oceania.
Os domínios coloniais da Grã-Bretanha, França, Holanda e Portugal na
região estavam condenados a desaparecer e os Estados Unidos surgiam como
a potência mais poderosa do planeta, resistida apenas pela União
Soviética, então destruída pela Segunda Guerra Mundial e pelas inúmeras
perdas materiais e humanas que lhe ocasionou o ataque nazista. A
Revolução chinesa estava por concluir em 1945, quando a matança mundial
cessou. O combate unitário anti-japonês ocupava então suas energias.
Mao, Ho Chi Minh, Gandhi, Sukarno e outros líderes prosseguiram depois
com sua luta contra a restauração da velha ordem mundial que era já
insustentável.
Truman lançou contra duas cidades civis japonesas a bomba atômica, arma
nova terrivelmente destrutiva de cuja existência, como se explicou, não
havia informado ao aliado soviético, o país que mais contribuiu à
destruição do fascismo. Nada justificava o genocídio cometido, nem
sequer o fato de que a tenaz resistência japonesa tinha custado a vida
de quase 15 mil soldados norte-americanos na ilha japonesa de Okinawa.
Já o Japão estava derrotado e tal arma, lançada contra um objetivo
militar, teria tido mais cedo ou mais tarde o mesmo efeito
desmoralizador no militarismo japonês sem novas baixas para os soldados
dos Estados Unidos. Foi um ato inqualificável de terror.
Os soldados soviéticos avançavam sobre a região da Manchúria e do Norte
da Coréia, tal como o haviam prometido ao cessarem os combates na
Europa. Os aliados tinham definido previamente até que ponto chegaria
cada força. Na metade da Coreia estaria a linha divisória, eqüidistante
entre o rio Yalu e o Sul da península.
O governo norte-americano negociou com os japoneses as normas que
regeriam a rendição das tropas em seu próprio território. O Japão seria
ocupado pelos Estados Unidos. Na Coréia, anexada ao Japão, permanecia
uma grande força do poderoso exército japonês. No Sul do Paralelo 38,
limite divisório estabelecido, prevaleceriam os interesses dos Estados
Unidos. Syngman Rhee, reincorporado a essa parte do território pelo
governo dos Estados Unidos, foi o líder ao que apoiou, com a cooperação
aberta dos japoneses. Ganhou assim as concorridas eleições de 1948. Os
soldados do Exército Soviético haviam se retirado da Coreia do Norte
nesse ano.
Em 25 de junho de 1950 explodiu a guerra no país. Ainda se discute quem
deu o primeiro disparo, se os combatentes do Norte ou os soldados
norte-americanos que estavam de guarda junto aos soldados recrutados por
Rhee. A discussão carece de sentido se for analisada do ângulo coreano.
Os combatentes de Kim Il Sung lutaram contra os japoneses pela
libertação de toda a Coréia. Suas forças avançaram incontidas até as
proximidades do extremo Sul, onde os ianques se defendiam com o apoio em
massa de seus aviões de ataque. Seul e outras cidades tinham sido
ocupadas. McArthur, chefe das forças norte-americanas do Pacífico,
decidiu ordenar um desembarque da infantaria de Marinha por Incheon, na
retaguarda das forças do Norte, que estas não podiam já
contra-arrestar.
Pyongyang caiu nas mãos das forças ianques, precedidas por devastadores
ataques aéreos. Isso impulsionou a idéia por parte do comando militar
norte-americano no Pacífico de ocupar toda a Coréia, já que o Exército
de Libertação Popular da China, dirigido por Mao Tsé-Tung, tinha
infligido uma derrota esmagadora às forças pró-ianques de Chiang
Kai-shek, abastecidas e apoiadas pelos Estados Unidos. Todo o território
continental e marítimo desse grande país tinha sido recuperado, com
exceção de Taipei e algumas outras pequenas ilhas próximas onde se
refugiaram as forças do Kuomintang, transportadas por naves da Sexta
Frota.
A história do ocorrido então se conhece bem hoje. Não podemos esquecer
que Boris Yeltsin entregou a Washington, entre outras coisas, os
arquivos da União Soviética.
O que fizeram os Estados Unidos quando explodiu o conflito praticamente
inevitável sob as premissas criadas na Coréia? Apresentou a parte norte
desse país como agressora. O Conselho de Segurança da recém criada
Organização das Nações Unidas, promovida pelas potências vencedoras da
Segunda Guerra Mundial, aprovou a resolução sem que um dos cinco membros
pudesse vetá-la.
Nesses precisos meses, a URSS havia se manifestado desconforme com a
exclusão da China no Conselho de Segurança, onde os Estados Unidos
reconheciam Chiang Kai-shek, com menos de 0,3 por cento do território
nacional e menos de 2 por cento da população, como membro do Conselho de
Segurança com direito ao veto. Tal arbitrariedade conduziu à ausência
do delegado russo, em conseqüência do qual se produziu o acordo desse
Conselho dando à guerra o caráter de uma ação militar da ONU contra o
suposto agressor: a República Popular da Coreia.
A China, alheia por completo ao conflito, que afetava sua luta
inconclusa pela libertação total do país, viu pairar a ameaça direta
contra seu próprio território, o que era inaceitável para sua segurança.
Segundo dados publicados, enviou ao premiê Zhou Enlai para Moscou, para
expressar a Stalin seu ponto de vista sobre o inadmissível que era a
presença de forças da ONU sob o comando dos Estados Unidos nas ribeiras
do rio Yalu, que delimita a fronteira da Coréia com a China, e lhe
solicitar a cooperação soviética. Não existiam então contradições
profundas entre os dois gigantes socialistas.
O contragolpe chinês afirma-se que estava planejado para 13 de outubro e
Mao o postergou para o dia 19, esperando a resposta soviética. Era o
máximo que podia estendê-lo.
Penso em concluir esta reflexão na próxima sexta-feira. É um tema
complexo e trabalhoso, que demanda cuidado especial e os dados mais
precisos possíveis. São fatos históricos que devem ser conhecidos e
recordados".
Fidel Castro Ruz, Havana, 22 de julho de 2008
As duas Coreias (parte II)
''Em 19 de outubro de 1950 mais de 400 mil combatentes voluntários
chineses, cumprindo as instruções de Mao Tsé-Tung, cruzaram o Yalu e
foram ao encontro das tropas dos Estados Unidos que avançavam para a
fronteira chinesa. As unidades norte-americanas, surpreendidas pela
enérgica ação do país que tinham subestimado, viram-se obrigadas a
retroceder até as proximidades da costa sul, devido ao empurre das
forças combinadas de chineses e coreanos do Norte. Stalin, que era
sumamente cauteloso, prestou uma cooperação muito menor que a esperada
por Mao, ainda que valiosa, mediante o envio de aviões MiG-15 com
pilotos soviéticos, numa frente limitada de 98 quilômetros, que na etapa
inicial protegeram às forças de terra em seu intrépido avanço.
Pyongyang foi de novo recuperada e Seul ocupada outra vez, desafiando o
incessante ataque da força aérea dos Estados Unidos, a mais poderosa que
já existiu.
MacArthur estava ansioso para atacar a China com o emprego das armas
atômicas. Demandou seu uso depois da humilhante derrota sofrida. O
presidente Truman viu-se obrigado a substituí-lo do comando e nomear ao
general Matthews Ridgway como chefe das forças de ar, mar e terra dos
Estados Unidos no cenário de operações. Na aventura imperialista da
Coréia participaram, junto aos Estados Unidos, o Reino Unido, França,
Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo, Grécia, Canadá, Turquia, Etiópia,
África do Sul, Filipinas, Austrália, Nova Zelândia, Tailândia e
Colômbia. Este país foi o único participante pela América Latina, sob o
governo unitário do conservador Laureano Gómez, responsável por matanças
em massa de camponeses. Com ela, como se viu, participaram a Etiópia de
Haile Selassie, onde ainda existia a escravidão, e a África do Sul
governada pelos racistas brancos.
Fazia apenas cinco anos que a matança mundial iniciada em setembro de
1939 havia terminado, em agosto de 1945. Após sangrentos combates no
território coreano, o Paralelo 38 voltou a ser o limite entre o Norte e o
Sul. Calcula-se que morreram nessa guerra cerca de dois milhões de
coreanos do Norte, entre meio milhão ou um milhão de chineses e mais de
um milhão de soldados aliados. Por parte dos Estados Unidos perderam a
vida ao redor de 44 mil soldados; não poucos deles eram nascidos em
Porto Rico ou outros países latino-americanos, recrutados para
participar em uma guerra à que os levou a condição de imigrantes pobres.
O Japão obteve grandes vantagens dessa contenda; em um ano, a manufatura
cresceu 50%, e em dois recuperou a produção que tinha antes da guerra.
Não mudou, no entanto, a percepção dos genocídios cometidos pelas tropas
imperiais na China e Coréia. Os governos do Japão renderam culto aos
atos genocidas de seus soldados, que na China tinham violentado a
dezenas de milhares de mulheres e assassinado brutalmente a centenas de
milhares de pessoas, como já se explicou numa reflexão. Sumamente
trabalhadores e tenazes, os japoneses transformaram seu país, desprovido
de petróleo e outras matérias primas importantes, na segunda potência
econômica do mundo.
O PIB do Japão, medido em termos capitalistas — ainda que os dados
variam segundo as fontes ocidentais —, ascende hoje a mais de 4,5
trilhões de dólares, e suas reservas em divisas atingem mais de um
trilhão. É ainda o dobro do PIB da China, 2,2 trilhões, ainda que esta
possua 50% a mais de reservas em moeda conversível que esse país. O PIB
dos Estados Unidos, 12,4 trilhões, com 34,6 vezes mais território e 2,3
vezes mais população, é apenas três vezes maior que o do Japão. Seu
governo é hoje um dos principais aliados do imperialismo, quando este se
encontra ameaçado pela recessão econômica e as armas sofisticadas da
superpotência se esgrimem contra a segurança da espécie humana.
São lições inapagáveis da história.
A guerra, por sua vez, afetou consideravelmente a China. Truman deu
ordens à 6.ª Frota de impedir o desembarque das forças revolucionárias
chinesas que culminariam a libertação total do país com a recuperação de
0,3 por cento de seu território, que havia sido ocupado pelo resto das
forças pró ianques de Chiang Kai-shek que para ali fugiram.
As relações sino-soviéticas se deterioraram depois, após a morte de
Stalin, em março de 1953. O movimento revolucionário dividiu-se em quase
todos os lugares. O apelo dramático de Ho Chi Minh deixou registro do
estrago ocasionado, e o imperialismo, com seu enorme aparelho midiático,
atiçou o fogo do extremismo dos falsos teóricos revolucionários, um
tema no qual os órgãos de inteligência dos Estados Unidos se
transformaram em especialistas.
À Coréia do Norte lhe correspondeu, na arbitrária divisão, a parte mais
acidentada do país. Cada grama de alimento tinha que ser obtida a custa
de suor e sacrifício. De Pyongyang, a capital, não restou pedra sobre
pedra. Um número elevado de feridos e mutilados de guerra tinha que ser
atendido. Estavam bloqueados e sem recursos. A URSS e os demais Estados
do campo socialista se reconstruíam.
Quando cheguei em 7 de março de 1986 à República Popular Democrática da
Coréia, quase 33 anos após a destruição deixada pela guerra, era difícil
acreditar o que ali havia acontecido. Aquele povo heróico tinha
construído uma infinidade de obras: grandes e pequenas represas e canais
para acumular água, produzir eletricidade, abastecer cidades e regar os
campos; termoelétricas, importantes indústrias mecânicas e de outros
ramos, muitas delas debaixo da terra, encravadas nas profundidades das
rochas a base de trabalho duro e metódico.
Por falta de cobre e alumínio, viram-se obrigados a utilizar inclusive
ferro em linhas de transmissão devoradoras de energia elétrica, que em
parte procedia da hulha. A capital e outras cidades arrasadas foram
construídas metro a metro. Calculei milhões de moradias novas em áreas
urbanas e rurais e dezenas de milhares de instalações de serviços de
todo o tipo. Infinitas horas de trabalho estavam transformadas em pedra,
cimento, aço, madeira, produtos sintéticos e equipamentos. As
plantações que pude observar, onde quer que tenha ido, pareciam jardins.
Um povo bem vestido, organizado e entusiasmado estava em todos os
lugares, recebendo ao visitante. Merecia a cooperação e a paz.
Não houve tema que não fosse discutido com meu ilustre anfitrião Kim Il Sung. Não o esquecerei.
A Coréia ficou dividida em duas partes por uma linha imaginária. O Sul
viveu uma experiência diferente. Era a parte mais povoada e sofreu menos
destruição naquela guerra. A presença de uma enorme força militar
estrangeira requeria o fornecimento de produtos locais manufaturados e
outros, que iam desde o artesanato até as frutas e vegetais frescos,
além dos serviços. Os gastos militares dos aliados eram enormes. O mesmo
ocorreu quando os Estados Unidos decidiu manter indefinidamente uma
grande força militar.
As multinacionais do Ocidente e do Japão investiram nos anos da Guerra
Fria quantias consideráveis, extraindo riquezas sem limites do suor dos
sul-coreanos, um povo igualmente trabalhador e abnegado como seus irmãos
do Norte. Os grandes mercados do mundo estiveram abertos aos seus
produtos. Não estavam bloqueados. Hoje o país atinge elevados níveis de
tecnologia e produtividade. Sofreu as crises econômicas do Ocidente, que
permitiram a aquisição de muitas empresas sul-coreanas pelas
transnacionais. O caráter austero de seu povo permitiu ao Estado a
acumulação de importantes reservas em divisas. Hoje suporta a depressão
econômica dos Estados Unidos, em especial os elevados preços de
combustíveis e alimentos, e as pressões inflacionárias derivadas de
ambos.
O PIB da Coréia do Sul, 787 bilhões 600 milhões de dólares, assim como o
do Brasil (796 bilhões) e México (768 bilhões), ambos com abundantes
recursos de hidrocarbonetos e populações incomparavelmente maiores. O
imperialismo impôs às mencionadas nações seu sistema. Dois ficaram para
trás; a outra avançou bem mais.
Da Coréia do Sul mal emigram ao Ocidente; do México, o fazem em massa
para o atual território dos Estados Unidos; do Brasil, América do Sul e
América Central, a todos os lugares, atraídos pela necessidade de
emprego e pela propaganda consumista. Agora são retribuídos com normas
rigorosas e depreciativas.
A posição de princípios sobre as armas nucleares subscrita por Cuba no
Movimento de Países Não Alinhados, ratificada na Conferência Cúpula de
Havana em agosto de 2006, é conhecida.
Saudei pela primeira vez ao atual líder da República Popular Democrática
da Coréia, Kim Jong Il, quando cheguei ao aeroporto de Pyongyang e ele
estava discretamente situado a um lado do tapete vermelho próximo ao seu
pai. Cuba mantém com seu governo excelentes relações.
Ao desaparecer a URSS e o campo socialista, a República Popular
Democrática da Coreia perdeu importantes mercados e fontes de
fornecimentos de petróleo, matérias primas e equipamentos. Assim como
para nós, as conseqüências foram muito duras. O progresso atingido com
grandes sacrifícios viu-se ameaçado. Apesar disso, mostraram a
capacidade de produzir a arma nuclear.
Quando se aconteceu ao redor de um ano o ensaio pertinente, transmitimos
ao Governo da Coréia do Norte nossos pontos de vista sobre o estrago
que isso poderia ocasionar aos países pobres do Terceiro Mundo que
travavam uma luta desigual e difícil contra os planos do imperialismo em
uma hora decisiva para o mundo. Talvez não fosse necessário fazê-lo.
Kim Jong Il, já chegado a esse ponto, havia decidido de antemão o que
devia fazer, tomando em conta os fatores geográficos e estratégicos da
região.
Satisfaz-nos a declaração da Coréia do Norte sobre a disposição de
suspender seu programa de armas nucleares. Isto não tem nada que ver com
os crimes e chantagens de Bush, que agora se gaba da declaração coreana
como sucesso de sua política de genocídio. O gesto da Coréia do Norte
não era para o governo dos Estados Unidos, ante o qual não cedeu jamais,
senão para a China, país vizinho e amigo, cuja segurança e
desenvolvimento é vital para os dois Estados.
Aos países do Terceiro Mundo interessa-lhes a amizade e cooperação entre
a China e ambas as partes da Coréia, cuja união não tem que ser
necessariamente uma a custa da outra, como ocorreu na Alemanha, hoje
aliada dos Estados Unidos na OTAN. Passo a passo, sem pressa, mas sem
trégua, como corresponde a sua cultura e a sua história, continuarão
sendo tecidos os laços que unirão às duas Coreias. Com a do Sul
desenvolvemos progressivamente nossos vínculos; com a do Norte existiram
sempre e os continuaremos fortalecendo.''
Fidel Castro Ruz, Havana, 24 de julho de 2008
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