Em artigo lúcido e corajoso, Mauro Santayana mostra a necessidade de uma indústria bélica no país.
(JB)
- O governo da Presidente Dilma Roussef decidiu alterar as leis sobre a
indústria bélica e editar normas para a política de defesa, que
incentivam a produção nacional de armas e o desenvolvimento de processos
tecnológicos autônomos. Os nossos leitores habituais devem recordar-se
de matéria sobre o assunto que publicamos neste mesmo Jornal do Brasil sobre o tema
em 16 de agosto do ano passado. No texto, citávamos a dramática
advertência do general Maynard Santa Rosa: em caso de agressão
estrangeira, só dispomos de munição para uma hora de resistência. Um dos
maiores erros dos governos de Fernando Collor e Fernando Henrique
Cardoso, se não o mais grave, foi desarmar o Brasil. A doutrina FHC se
baseava no falso conformismo de que jamais poderíamos nos defender do
poderio bélico norte-americano e seria melhor transformar as forças
armadas em corpos policiais destinados ao combate ao tráfico de drogas,
sob o comando continental dos Estados Unidos, of course.
Todos
os povos que se prezam são obrigados a defender-se dos eventuais
inimigos. As nações se formam dentro de espaços naturais, em que devem
viver em paz, preocupando-se com seus recursos, com a felicidade e com a
defesa de sua liberdade. À soma de espaço e liberdade chamamos
soberania, no léxico político moderno. Nas guerras, sempre indesejadas,
as nações agredidas, qualquer que seja a sua capacidade bélica, são
eticamente obrigadas a resistir.
Churchill,
ao opor-se à capitulação de Chamberlain, ponderou que uma nação ,
quando se defende com a coragem do patriotismo, pode ser derrotada sem
perder a honra, mas, ao capitular sem luta, perde o respeito do inimigo e
das nações neutras.
O
vencedor trata com natural desprezo os que se entregam sem luta, ainda
que em nome da paz. É essa a diferença entre os soviéticos, que
perderam rios de sangue na Segunda Guerra Mundial, e puderam hastear sua
bandeira no Reichstag, enquanto Hitler se matava - e os franceses de
Pétain e Laval, que se entregaram quase sem luta e colaboraram com a
repressão nazista dentro de seu próprio território. Ainda bem que, no
caso da França, os maquisards salvaram a face de seu povo, na dura resistência contra os ocupantes.
O
Brasil é um dos poucos países do mundo capazes de viver com autonomia
dentro de suas próprias fronteiras, o que o dispensa da sedução de
conquista de espaços alheios. É um dos maiores do mundo em extensão
territorial contínua, em que se fala a mesma língua, com invejável
insolação e imensos depósitos de água potável. E exatamente por isso é
obrigado a manter forças armadas capazes de dissuadir os eventuais
cobiçosos.
A
experiência continental nos adverte de que não podemos manter
alinhamentos internacionais automáticos. Não cabe discutir aqui se a
Argentina agiu bem, ao tentar recuperar, pela força, o que pela força
perdera, ou seja, a soberania sobre as Malvinas. O fato é que Washington
não interveio em favor da paz: colocou-se inteiramente ao lado de Mme.
Thatcher, sem ir mais fundo na discussão da soberania argentina,
reconhecida por todos os seus vizinhos da América do Sul.
A
nova doutrina brasileira busca estabelecer parcerias não só comerciais,
mas estratégicas. E, para que não ocorra a pressão sobre os nossos
parceiros, é melhor negociar com países emergentes – no caso, os BRICS.
Cometemos
um erro estratégico ao assinar o famoso Tratado de Não Proliferação
Nuclear. A decisão de não usar determinado instrumento bélico não nos
deve tolher o processo de sua fabricação e a técnica de seu emprego.
Armemo-nos todos, ou nos desarmemos todos, sem exceção.
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