Por Clarissa Pont e Eduardo Seidl na RBA
Os integrantes das mais de 1,3 mil circunscrições eleitorais de Havana preparam-se desde o início de fevereiro para o processo de escolha dos candidatos a delegados das Assembleias do Poder Popular, programado para o fim do mês. Esses encontros são a base das discussões que propõem representantes de cada comunidade nos órgãos de governo. Ou seja, é aí, em cada bairro, que começa o processo eleitoral cubano.
Em Cuba há um interessante exercício cidadão que deixa a escolha dos
candidatos aos próprios eleitores, incentivando o alto índice de
comparecimento às eleições. Em 2012, participaram do pleito 92% dos eleitores, segundo a Comissão Nacional Eleitoral.
Qualquer cidadão maior de 16 anos pode enumerar candidatos em sua
circunscrição eleitoral que automaticamente são inscritos no Registro
Eleitoral, sem custos ou burocracia.
Cuba hoje possui 8 milhões de eleitores em uma população de 11,1 milhões
de habitantes. O clima pré-eleitoral já se mostra presente em Havana e o
pleito que definirá os cargos municipais ocorre em 19 de abril. Mesmo
sem voto obrigatório, as famílias se mobilizam para o período e
simpatizantes fazem campanha, porta a porta, para que vizinhos
participem das eleições. "Voto por Cuba – Para seguir andando –
Elecciones parciales 2015" diz o selo que chama a população a participar
do processo eleitoral.
A eleição é tema no país desde setembro do ano passado, quando foram
criadas comissões de trabalho em cada província com o objetivo de
garantir as bases organizativas e materiais para o processo. Além das
comissões eleitorais propriamente ditas, há uma grande preocupação com
as equipes que se envolverão em assegurar o processo como um todo.
Matérias sobre comunicação, transporte e segurança digital nas eleições
formaram uma constante durante as últimas semanas na imprensa cubana.
Segundo o jornal Granma, em 2015 será colocado em prática um novo
sistema de informática desenhado pela Universidad de Ciencias
Informaticas (UCI), que funcionará em nível municipal. “Isso nos ajudará
a validar todo o processo. Por exemplo, se uma pessoa é escolhida para
ser delegada em sua região e é autoridade eleitoral, o sistema mesmo
informará sobre as mudanças existentes no seu trabalho”, explica a
presidenta da Comissão Eleitoral Nacional, Alina Balseiro. Ainda que
distante da realidade das urnas eletrônicas brasileiras, um sistema
integrado é o primeiro passo para a informatização do processo eleitoral
em Cuba. O voto mesmo é feito em lápis e papel, enquanto murais expõem
fotos e biografias dos candidatos. Além disso, para este pleito ocorre a
uniformização de urnas em plástico, material mais seguro e durável.
O sistema de Poder Popular, vigente desde 1976, estabelece eleições
municipais a cada dois anos. Para que se tenha uma ideia, candidatos ao
cargo de vereador são previamente propostos por quantidade de mãos
erguidas nas assembleias dos bairros. É esse grande emaranhado de
reuniões comunais que constitui a base do Poder Popular.
O sistema é organizado atualmente da seguinte maneira: em nível
nacional, a Assembleia Nacional do Poder Popular; em cada uma das 14
províncias, as Assembleias Provinciais do Poder Popular, e nos 169
municípios, as Assembleias Municipais; no nível de comunidade, os
Conselhos Populares; cada Conselho agrupa várias circunscrições
eleitorais e é integrado pelos seus delegados, dirigentes de
organizações de massas e representantes de entidades administrativas.
As eleições para as assembleias provinciais e da Assembleia Nacional são
celebradas a cada cinco anos, em um processo iniciado com a candidatura
de delegados municipais. As próximas devem ser realizadas em 2017. No
fim das contas, a população parece estar mais envolvida neste processo
do que preocupada com as reuniões bilaterais entre Estados Unidos e
Cuba.
A opinião nas ruas não é muito diferente daquela expressa pelo
presidente Raúl Castro logo em seguida ao anúncio de restauro das
relações diplomáticas em dezembro do ano passado. Na ocasião, o líder
cubano afirmou que o país está disposto a dialogar sobre qualquer tema,
mas garantiu respeito à soberania da ilha.
"Cuba é um Estado soberano, cujo povo decidiu pela via socialista e por
um sistema político, econômico e social próprio. Da mesma forma que
nunca propusemos que os Estados Unidos mudem seu sistema político,
exigiremos respeito pelo nosso", disse.
Castro parece resumir bem uma sensação que se repete a cada conversa: a
decisão de restabelecer relações com os Estados Unidos pode até ser um
passo importante, mas ainda é cedo para comemorar porque falta resolver o
essencial.
Fonte: Solidários
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