Engels deu-nos, sobre este assunto, uma resposta muito
clara: «A religião nasce das concepções restritas do homem». (Restrito é
tomado, aqui, no sentido de limitado.)
Para os primeiros homens, esta ignorância é dupla:
ignorância da natureza, ignorância deles próprios. É preciso pensar
constantemente nessa dupla ignorância, quando se estuda a história dos homens
primitivos.
Na antiguidade grega, que consideramos já como uma
civilização avançada, tal ignorância parece-nos infantil, por exemplo, quando
se vê que Aristóteles pensava que a terra era imóvel, que era o centro do
mundo, e à sua volta giravam planetas. (Estes, que via em número de 46, estavam
fixos, como pregos num teto, e era esse conjunto que girava à volta da
terra...)
Os Gregos pensavam, também, que havia quatro elementos: a
água, a terra, o ar e o fogo, e que não era possível decompô-los. Sabemos que
tudo isso é falso, uma vez que decompomos, agora, a água, a terra e o ar, não
considerando o fogo como um corpo da mesma ordem.
Acerca do próprio homem, os Gregos eram também muito
ignorantes, uma vez que não conheciam a função dos nossos órgãos, e
consideravam, por exemplo, o coração como o centro da coragem!
Se a ignorância dos sábios gregos, que consideramos já como
mais avançados, era tão grande, como seria, então, a dos homens que viveram
milhares de anos antes deles? As concepções que os homens primitivos tinham da
natureza e deles próprios eram limitadas pela ignorância. Mas tentavam, apesar
de tudo, explicar as coisas. Todos os documentos que possuímos sobre os homens
primitivos dizem-nos que estavam muito preocupados com os sonhos. Vimos, como
tinham resolvido este problema dos sonhos pela crença na existência de um
«duplo» do homem. No início, atribuíam a esse duplo uma espécie de corpo
transparente e leve, com uma consistência ainda material. Só muito mais tarde,
nascerá no seu
espírito a concepção de que o homem tem nele um princípio imaterial,
que lhe sobrevive, um princípio espiritual (a palavra vem de espírito, que,
em latim, quer dizer sopro, o sopro que se vai com o último suspiro,
quando se entrega a alma a Deus, só subsistindo o «duplo»). É, então, a alma
que explica o pensamento, o sonho.
Na idade média, tinha-se concepções bizarras sobre a alma.
Pensava-se que, num corpo gordo, havia uma
alma diminuta e, num corpo franzino, uma grande alma; é por
isso que, nessa época, os ascetas faziam longos e frequentes jejuns, para ter
uma grande alma, fazer uma morada grande para ela.
Admitindo, sob a forma do duplo transparente, depois sob a
da alma, princípio espiritual, a sobrevivência do homem após a morte, os homens
primitivos criaram os deuses.
Acreditando, primeiramente, em seres mais poderosos do que
os homens, existindo sob uma forma ainda material, chegaram, insensivelmente, à
crença em deuses, existindo sob a forma de uma alma superior à nossa. E é deste
modo que, depois de ter criado uma multidão de deuses, cada um com a sua função
definida, como na antiguidade grega, chegaram à concepção de um só Deus. Então,
foi criada a religião monoteísta atual. Assim, vemos que, na origem da
religião, mesmo sob a sua forma atual, esteve à ignorância.
O idealismo nasce, pois, das concepções limitadas do homem,
da sua ignorância; enquanto que o materialismo, pelo contrário, do recuo desses
limites.
Vamos assistir, no decurso da história da filosofia, a essa
luta contínua entre o idealismo e o materialismo.
Este quer fazer recuar as fronteiras da ignorância, e isto
será uma das suas glórias e um dos seus méritos. O idealismo, pelo contrário, e
a religião que o alimenta fazem todos os esforços para manter a ignorância e
tirar proveito desta ignorância das massas, para lhes fazer admitir a opressão,
a exploração econômica e social.
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