Enviado por Miguel Gonçalves Trujillo Filho
Excesso
de virtudes, na visão do escritor inglês Aldous Huxley, não significa
compreensão da vida em sua essência, em seu sentido e em sua razão de ser. Pode
significar orgulho, pode levar a pessoa a um afastamento gradativo da
realidade, como pode significar mesquinharia.
Jorge
Mario Bergoglio, o cardeal argentino eleito papa, Francisco, não é mesquinho e
nem alheio à vida, isolado da realidade. Suas virtudes são políticas. É um dos
mais duros críticos do governo da presidente Cristina Kirchner, foi
protocolocar na condenação à ditadura naquele país e a despeito do voto de
pobreza, vive dentro do sistema, mantém a igreja atrelada a conceitos
medievais, agora, recheados com uma camada de chantili para dar a impressão de modernidade,
ou tornar-se palatável. Por baixo dessa camada não existe marrom glacê, mas um
osso duro de roer e à direita, dentro dos padrões do Vaticano.
Bergoglio
não chega, necessariamente, a ser uma surpresa. No conclave que escolheu
Ratzinger foi o segundo mais votado. Chegou ao Vaticano com um cacife eleitoral
razoável. Sobre o brasileiro Odilo Scherer leva a vantagem de ser dissimulado
(isso conta para a hipocrisia de Roma).
As
mudanças serão de estilo e não de fundo. Deve tentar influir politicamente em
seu país, nunca escondeu e de forma pública sua aversão tanto a Néstor
Kirschner, quanto a sua mulher Cristina. A despeito de críticas a economia de
mercado, nunca manifestou um ponto de vista conclusivo, apenas circundou os
problemas de seu país, mais ou menos como faziam os antigos políticos do ex-PSD
do Brasil. “Nem contra, nem a favor, muito antes pelo contrário, revendo meu
ponto de vista.
No
caso específico não estava e nunca esteve revendo nada. Exceto no que diz
respeito a presidente Cristina.
Entre
suas virtudes escondidas, o poder. A busca do poder é uma de suas
características. Lembra João Paulo II, um produto de marketing. Sorri, enquanto
sangram nos porões da monarquia absoluta que é a igreja, os seus adversários.
É
jesuíta, uma ordem tradicionalmente conservadora e que durante muito tempo
ignorou ou manteve-se alheia ao poder de Roma. Seu superior era chamado de “papa
negro”. Começou a perder essa característica quando João Paulo II pôs fim a
ela. Submeteu os jesuítas, fundado por Santo Inácio de Loiola um militar
espanhol.
Um
sujeito comum que só tenha virtudes é, em si, um chato. Um papa virtuoso é o
sinal que latino-americanos terão problemas com as ingerências do Vaticano em
questões políticas, principalmente, em países que buscam a independência plena,
sem o controle de Washington.
Não
há mudança alguma na igreja. Um novo showman foi eleito para gerir o Vaticano.
Essa
é outra vantagem sobre o brasileiro Odilo Scherer. A falta de jogo de cintura,
que sobra no argentino. No fundo são iguais. Ao dizer que os homossexuais “merecem
respeito”, não está nem de longe discutindo o problema. Esta mantendo o estigma,
a hipocria bem conhecida nos documentos secretos do papa anterior. Ao ser
contra o aborto está deixando claro que nenhum dos dogmas férreos da Idade
Média serão substituídos, ou revistos, apenas atenuados no discurso. Mas as
câmaras de injeções letais do Vaticano continuarão nos cantos soturnos dos
palácios papais do Vaticano.
Franciso
talvez garanta a igreja uma sobrevida depois do fiasco Bento XVI. Mas só isso.
É
uma espécie de canto da sereia, só isso. Ilude o pescador e o leva para o fundo
do mar no atraso crônico de uma instituição em estado falimentar. Isso quer dizer perigo. Vem respaldado por forças
conservadoras que podem causar estragos ponderáveis, sobretudo na América
Latina, principalmente na Argentina.
Está
longe de ser um Maradona, um Néstor Rossi, um Alfredo Di Stéfano.
E
um detalhe, ironia ou não, o jornal brasileiro dedicado aos esportes, LANCE,
chamou na edição de hoje, quarta-feira, antes da escolha de Francisco, o
jogador argentino Lionel Messi de papa. Foi pelo desempenho no jogo de
terça-feira contra a equipe da Milan.
Francisco
não é uma incógnita. É a continuidade do atraso da igreja romana. Sua dimensão
pode ser, inclusive, a de enfrentar os evangélicos, grupo de malucos que tenta
roubar a primazia do contato divino que sempre foi privilégio do Vaticano.
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