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sábado, 16 de março de 2013

Um Francisco servidor da repressão?

 


Publicado originalmente em Carta Maior

O papel do cardeal Bergoglio no desaparecimento de religiosos foi confirmado por cinco testemunhas, há três anos, em depoimento ao jornalista Horácio Verbitsky, do jornal ‘Página 12’, de Buenos Aires. O novo Papa é acusado de ter retirado a proteção a sacerdotes procurados pela repressão militar. Ao comentar sobre o novo pontífice, a presidente da Associação das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, foi lacônica: "Só temos que dizer: Amém".



 
A Igreja Católica da Argentina "nunca se interessou" pela situação de 150 sacerdotes, religiosos, seminaristas e leigos católicos assassinados pela ditadura militar desse país. "Pelo contrário: ficou calada e nunca reclamou por eles", disse quarta-feira (13), na Itália, a presidente da Associação das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini. Sobre a escolha do novo pontífice, foi lacônica: "Sobre esse Papa, só temos que dizer: Amém".

O papel do cardeal Bergoglio no desaparecimento de religiosos foi confirmado por cinco testemunhas, há três anos, em depoimento ao jornalista Horácio Verbitsky, do jornal ‘Página 12’, de Buenos Aires. O novo Papa é acusado de ter retirado a proteção a sacerdotes procurados pela repressão militar: uma teóloga professora de catequese na diocese de Morón, o ex-superior de uma casa de padres, além de três vítimas da tortura (dois leigos e um sacerdote).

Dois meses após o golpe militar de 1976, o bispo de Morón, Miguel Raspanti, tentou proteger os padres Orlando Yorio y Francisco Jalics, e foi desautorizado por Bergoglio. Outro testemunho é o do padre Alejandro Dausa, que foi sequestrado em Córdoba, quando era seminarista; sofreu torturas durante seis meses. Dausa diz ter ouvido de Yorio e de Jalics que foram entregues à repressão pelo novo Papa.

Um relatório sobre esses crimes contra a humanidade foi encaminhado, à época, à Conferência Episcopal Argentina e permanece, até hoje, sem qualquer resposta. Essa denúncia denota o sentimento de perplexidade que domina os militantes de direitos humanos na Argentina, no Brasil e em todo o mundo, diante da eleição do cardeal portenho para o Pontificado Romano.

Sem resposta também se encontra, até agora, a carta que o advogado católico e líder dos direitos humanos Emilio Fermín Mignone (pai da jovem Mônica Maria Candelária, desaparecida política) encaminhou à direção da conferência dos bispos, que participava de um almoço em Buenos Aires, com um dos principais chefes da ditadura, general Jorge Rafael Videla.

Na carta, entregue a um dos bispos por um portador, Mignone critica os bispos pelo segredo e afirma que "o Povo de Deus deve ser bem informado". Como informa Horácio Verbitsky, do jornal ‘Página 12’, da Argentina, Videla confessou à Igreja Católica, em 1978, o que veio a público somente 34 anos depois: os presos desaparecidos foram todos assassinados.

Compensação
Essas denúncias que envolvem o novo papa o acompanharão aonde for. Por isso, comenta-se no Vaticano que Francisco poderá decidir beatificar alguns dos padres mortos pela repressão argentina. Essa seria, para alguns assessores do papa, uma saída conveniente para tentar acalmar os familiares das vítimas do genocídio cometido pelos golpistas no país vizinho.

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