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quarta-feira, 8 de maio de 2013

Cuba: As Damas de Branco e o quanto pior, melhor

 

Berta Soler, representante das “Damas de Branco”, defende manutenção do bloqueio contra Cuba.
Salim Lamrani, via Opera Mundi
Em sua turnê pelos Estados Unidos em abril de 2013, a dissidente Berta Soler, que dirige o grupo Damas de Branco, se pronunciou publicamente a favor da manutenção das sanções econômicas contra Cuba. Durante sua fala no Congresso, ela fez conhecer sua oposição a uma mudança da política de Washington: “Respeito as opiniões de todo o mundo, mas a minha, a das Damas de Branco, é que não se tire o bloqueio.”
As sanções, vigentes desde 1960, afetam as categorias mais vulneráveis da sociedade, isto é, as mulheres, os idosos e as crianças, sem afetar os dirigentes da nação. Por isso, a imensa maioria da comunidade internacional se opõe ao que considera um anacronismo da Guerra Fria, ao mesmo tempo cruel e ineficaz. Em 2012, pela 21 vez consecutiva, 188 nações das 192 da Assembleia Geral das Nações Unidas condenaram o estado de sítio contra a população cubana.
Para justificar sua posição, Soler explicou que compartilha da política de hostilidade dos Estados Unidos em relação a Cuba, agregando que é indispensável para derrubar o governo cubano. “Nosso objetivo é asfixiar o governo cubano”, precisou. Também sublinhou que para ela “o bloqueio [é] um pretexto” e culpou as autoridades da ilha pelas dificuldades econômicas.
O grupo “Damas de Branco” foi criado em 2003 depois da prisão de 75 dissidentes, acusados de serem financiados pelo governo estadunidense, os quais a justiça cubana condenou severamente. É composto por membros das famílias de opositores, todos os quais foram libertados depois de um acordo assinado entre a Igreja Católica, Espanha e Havana em 2010.
Soler não negou em estar em contato com a diplomacia estadunidense presente em Cuba e inclusive admitiu receber apoio da Sina (sigla em espanhol de Seção de Interesses Norte-Americanos em Havana). Questionada a respeito, reconheceu que a organização foi criada sob a égide de James Cason, chefe da Sina em 2003, a quem não vacilou em chamar de “o padrinho das Damas de Branco”, agradecendo “a ajuda contínua da Sina”. A representante das Damas de Branco reivindica abertamente a ajuda dos Estados Unidos: “O mais importante é que temos sim apoio dos funcionários [da Sina]. Sempre tivemos as portas abertas”.
Max Lesnik, diretor da Rádio Miami e partidário de uma normalização das relações entre Cuba e Estados Unidos, expressou seu desacordo com Berta Soler: “Sua posição coincide com a da extrema-direita cubana, herdeira da ditadura de Batista, dirigida pelo antigo congressista Lincoln Díaz-Balart, cujo pai era vice-ministro de Interior de Batista. Vai contra os interesses do povo cubano e reflete o desarranjo moral da oposição cubana.
Advogar pela manutenção das sanções econômicas enquanto elas afetam gravemente o bem-estar do povo cubano é eticamente inaceitável. Ninguém em Cuba está a favor da manutenção do bloqueio, nem mesmo os setores mais insatisfeitos da sociedade. Da mesma maneira, é inevitável apontar uma contradição: por um lado Soler exige aqui, nos Estados Unidos, ajuda para um grupo, e por outro, reclama mais sofrimento para seu próprio povo, pedindo a imposição de um bloqueio total, com a supressão das viagens familiares e das remessas”.
Mais surpreendentemente ainda, Soler também exigiu a liberação de “todos os presos políticos”. Veja bem, segundo a Anistia Internacional, atualmente não há nenhum preso político em Cuba. A agência de notícias espanhola Efe recordou que “Cuba libertou todos os presos que a Anistia Internacional qualificou como presos de consciência”.
A BBC de Londres confirma: “Foram libertados todos os presos no ano passado [2010] em virtude de um acordo conseguido pela Igreja Católica Romana, e alguns deles se exilaram na Espanha. Mas as Damas de Branco seguiram se manifestando a favor de outros 50 presos condenados por crimes violentos, tais como sequestros, que elas consideram políticos”.
Por sua vez, a agência estadunidense Associated Press observa que estes “normalmente não deveriam ser considerados presos políticos [...]. Um estudo minucioso permite ver a presença de terroristas, sequestradores e agentes estrangeiros”, na lista. Sublinha que “foram condenados por terrorismo, sequestros e outros crimes violentos, e quatro deles são antigos militares ou agentes dos serviços de inteligência condenados por espionagem ou por revelar segredos de Estado”. Alguns realizaram incursões armadas em Cuba e pelo menos dois deles, Humberto Eladio Real Suárez e Ernesto Cruz León, são responsáveis pela morte de vários civis, respectivamente em 1994 e 1997.
Por sua vez, a Anistia Internacional afirma que não pode considerar essas pessoas “presos de consciência” já que se trata de “gente julgada por terrorismo, espionagem, assim como aqueles que tentaram e inclusive conseguiram explodir hotéis. É claro que não vamos pedir sua liberdade e não os qualificaremos como presos de consciência”.
Ricardo Alarcón, antigo presidente do Parlamento cubano, foi mais preciso. A respeito das exigências das Damas de Branco, perguntou o seguinte: “Por que não dizem que estão pedindo a liberdade daquele que assassinou a Fabio di Celmo”, um jovem turista italiano assassinado em 1997 depois de um atentado a bomba?
Por estas razões, a oposição cubana se encontra ilhada em Cuba e não dispõe de nenhum apoio popular. É a constatação lúcida de Jonathan D. Farrar, antigo chefe da Sina, em uma carta ao Departamento de Estado. Segundo ele, os dissidentes “não têm influência na sociedade cubana e não oferecem alternativa política ao governo de Cuba”. E os que exigem mais sofrimento para o povo cubano, ainda menos.
Salim Lamrani é doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, professor-titular da Universidade de la Reunión, jornalista e especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos.

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