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terça-feira, 1 de outubro de 2013

“Rebeldes” sírios: entre a Al-Qaeda e Washington


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“Rebeldes” da Al-Nusra: por desejarem Síria talibanizada, eles voltam-se agora contra antigos aliados, que acusam de “desejarem a democracia”

Depois de apoiar “oposição”, Washington perde controle sobre ela. Agora, quem dá cartas são gangues ultra-fundamentalistas, bem armadas e financiadas pela Arábia Saudita

Por Pepe EscobarAsia Times Online | Tradução Vila Vudu 

Se ainda faltasse alguma prova extra para destroçar o mito de uma luta “revolucionária” para alguma futura Síria “democrática”, as manchetes da semana acabaram com qualquer dúvida remanescente.
Onze, treze ou catorze brigadas “rebeldes” (o número varia conforme a fonte) já fizeram descarrilar o tal Conselho Nacional Sírio, dito “moderado” e mantido pelos EUA, e o nada livre Exército Sírio Livre. Os líderes do bando “rebelde” são os jihadistas tresloucados da Frente al-Nusra – mas o bando inclui outras podridões, como as brigadas Tawhid e Tajammu Fastaqim Kama Ummirat em Aleppo, algumas imundícies das quais eram, até recentemente, parte do Exército Sírio Livre, já em pleno colapso.
Na prática, os jihadis ordenaram que a miríade de “moderados” se submetesse, que se “unificasse num quadro claramente islamista” e que jurasse fidelidade a uma Síria futura na qual a lei da sharia seja “a fonte única da legislação”.
Um certo Ayman al-Zawahiri deve estar em festa, dançando em seu esconderijo confortável, à prova de drones, em algum ponto dos Waziristões. Não só porque sua conclamação para uma jihad multinacional – à moda do Afeganistão nos anos 1980s – está funcionando; também porque o Conselho Nacional Sírio, comandado pelos EUA, já está exposto como o roedor desdentado que de fato é.
E os fatos em campo só fazem comprovar exatamente isso. O Estado Islâmico do Iraque e do Levante, promovido pela al-Qaeda, acaba de tomar uma cidade próxima do ponto de passagem de Bab al-Salam, na fronteira com a Turquia, que estava sob controle do Exército Sírio Livre, porque o Exército Sírio Livre foi acusado de lutar por “democracia” e de manter laços com o Ocidente. Errado. O Exército Sírio Livre deseja esses laços com o ocidente, sim; mas sob regime controlado pela Fraternidade Muçulmana. E o Estado Islâmico do Iraque e do Levante – do qual a Frente al-Nusra é o principal membro sírio – deseja um Siriastão talibanizado.
As gangues de jihadis linha duríssima na Síria somam cerca de 10 mil jihadistas; mas correspondem a cerca de 90% dos combates pesados, porque são os únicos com real experiência de combate (incluindo iraquianos que combateram contra norte-americanos, e chechenos que combateram contra russos).
Paralelamente, e não por acaso, desde que o príncipe Bandar bin Sultan, codinome Bandar Bush, foi nomeado pelo rei saudita Abdullah para comandar a jihad síria, com instruções para não deixar nem levar prisioneiros vivos, o Conselho Nacional Sírio, dito “moderado” e aliado da Fraternidade Muçulmana do Qatar, passou a ser cada dia mais deixado de lado.
Whasington arma e treina oposição "rebelde" Exército Sírio Livre
Whasington arma e treina Exército Sírio Livre
Cortem a cabeça desses ‘pacifistas’ 
E, em matéria de descarrilamento catastrófico, nada se compara à desculpa do governo Obama para uma “estratégia”, a qual, teoricamente, se resume a armar e treinar extensivamente o elo mais fraco – gangues selecionadas do Exército Sírio Livre infiltradas por agentes da CIA – e que “impediriam” que as armas caíssem em mãos de jihadistas. Como se a CIA tivesse inteligência local confiável sobre as fontes do Golfo que garantem dinheiro e apoio logístico aos milhares de jihadistas .
O Conselho Nacional Sírio, o Exército Sírio Livre e o chamado “Comando Militar Supremo” (de exilados) comandado pelo grandiloquente general Salim Idriss já não passam, hoje, de piada.
A coisa toda aconteceu enquanto o presidente da Coalizão de Oposição Síria Ahmed Asi Al-Jerba, estava na Assembleia Geral da ONU em New York – onde se encontrou com o secretário de Estado John Kerry. Kerry não falou sobre armas, mas sobre mais “ajuda” e futuras negociações na perenemente adiada Conferência Genebra-2. Al-Jerba ficou furioso. E, para piorar, várias das gangues do seu Exército Sírio Livre declaradamente bandearam-se para a al-Qaeda.
Por que? Sigam o dinheiro. É assim que funciona. Pelo menos metade das “brigadas” do Exército Sírio Livre são mercenários – financiados do exterior. Lutam onde os patrões – que lhes pagam e lhes fornecem armas – mandam lutar. O “Comando Supremo” controla, no máximo, 20% das brigadas. E essa gente sequer vive na Síria; têm bases do lado turco ou jordaniano da fronteira.
Em contrapartida, os jihadis mercenários combatem em tempo integral. Eles são a efetiva força combatente, recebem salários em dia e suas famílias são protegidas e mantidas.
Assim sendo, trata-se hoje de guerra entre o Exército Sírio Árabe e um bando de jihadistas. Claro: nada disso será jamais bem explicado pela imprensa à opinião pública ocidental.
Imaginem, então, se esses degoladores, comedores de fígados, fãs da sharia, teriam algum desejo de aparecer na conferência Genebra-2 para negociar um cessar-fogo com o governo sírio e um possível acordo de paz com o eixo OTAN-Casa de Saud. Evidentemente, nunca acontecerá – como Bandar Bush deixou bem claro, pessoalmente, em Moscou, para o presidente Vladimir Putin.
O pior, do ponto de vista de Washington, é que não há como explicar por que não pode acontecer nenhuma negociação significativa. Até os mais descerebrados infiéis que habitam os círculos do poder em Washington já viram que há conexão direta entre todos as hordas de “rebeldes”, e também, é claro, com os “rebeldes” sírios que abraçaram a al-Qaeda imediatamente depois que o grupo al-Shabaab atacou o shopping center Westgate em Nairobi.
Nem é preciso dizer que Bagdá entrou em surto, ante esses desenvolvimentos. O Estado Islâmico do Iraque e do Levante já aumentou os atentados com carros-bomba e homens-bomba no próprio Iraque – porque o governo de al-Maliki, “apóstata” xiita, é alvo tão preferencial quanto o governo do secular Bashar al-Assad.
Quase nem acredito que há apenas cinco meses, eu mesmo escrevi sobre o advento do Emirado Islâmico do Siriastão [1]. Agora já está bem claro que e como o “invisível” al-Zawahiri e o esperto Bandar Bush se apropriaram da “estratégia” de Washington para chegar, realmente, onde querem chegar.
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[1] 12/4/2013, Pepe Escobar: O Emirado Islâmico do Siriastão

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