Translate

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Luiz Gonzaga Belluzzo: A direita brasileira defende o darwinismo social

Publicado no Correio do Brasil


Belluzzo é um dos economistas heterodoxos brasileiros mais respeitados
Belluzzo é um dos economistas heterodoxos brasileiros mais respeitados

“A direita no Brasil defende desabridamente os princípios do darwinismo social, acolitada por intelectuais de segunda classe”. A afirmação é do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, um intelectual de formação pluridisciplinar formado em Direito pela Universidade de São Paulo em 1965. Em recente entrevista exclusiva ao Correio do Brasil, Belluzzo, que estudou Ciências Sociais na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, faz uma análise quanto aos horizontes econômicos brasileiros. Belluzzo cursou a pós-graduação em Desenvolvimento Econômico, promovido pela CEPAL/ILPES e graduou-se em 1969. Doutorou-se em 1975 e tornou-se professor – titular na Universidade Estadual de Campinas em 1986.
No campo das políticas públicas, Belluzzo foi assessor econômico do PMDB, entre 1974 e 1992, e secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1985-1987), durante o governo de José Sarney. De 1988 a 1990, foi secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, durante a gestão de Orestes Quércia. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney).
Luiz Belluzzo é considerado um dos melhores economistas heterodoxos do Brasil, devido às suas interpretações, sugestões e críticas à sociedade brasileira, sob a ótica de Karl Marx e John Maynard Keynes. Em 2001, foi incluído no Biographical Dictionary of Dissenting Economists entre os 100 maiores economistas heterodoxos do século XX.. Recebeu o Prêmio Intelectual do Ano – Prêmio Juca Pato, de 2005.
– Por que as agências de anotações decidiram baixar a nota de crédito do Brasil?
– Essa decisão foi anunciada em meados do ano passado quando as manifestações populares estavam no ápice. Isso foi interpretado pelos senhores do mercado e pela mídia como um sinal de desaprovação da política econômica dos governos do PT, sobretudo contra o “excessivo intervencionismo” do governo Dilma e até mesmo contra o “assistencialismo” das políticas sociais. O anúncio pelo Federal Reserve de redução do Quantitative Easing ateou gasolina ao fogo e formou-se um tsunami de pessimismo em torno da “vulnerabilidade” do Brasil.
Mais recentemente, a nova presidente do Fed, Janet Yellen colocou o Brasil entre os cinco países mais vulneráveis, opinião fundamentada em um relatório vergonhoso de sua assessoria, eivado de deficiências técnicas. As críticas ao relatório foram disparadas por economistas independentes, como Paul Krugman que declarou enfaticamente que o Brasil não está entre os mais vulneráveis> Disse mais: a despeito do desempenho sofrível da indústria machucada pelo câmbio valorizado e da inflação acima da meta (variando nas imediações de 5,6% ao ano), os indicadores dívida bruta /PIB, dívida líquida, dívida externa de curto prazo/PIB são considerados satisfatórios.
Quanto às manifestações, a esmagadora maioria dos manifestantes reclamava a melhoria dos serviços públicos, saúde, educação, transporte urbano. Ou seja, clamavam por mais investimento dos governos manietados pelos ditames dos mercados financeiro que gritam “fogo !” diante de qualquer ameaça a seus poderes e ameaçam os países com a chicote das agência de risco
– A grande imprensa no Brasil e a oposição parecem se jubilar com a perda de credibilidade do Brasil, Em geral os capitalistas praticam o patriotismo econômico em época de crise…no Brasil eles apostam no fracasso da economia e na degringolada geral. Inclusive destilam na imprensa internacional que a contabilidade nacional foi manipulada a fins político?
– Escreví na revista Carta Capital que a eleição presidencial vem baixando o nível do debate, com polarização de opiniões, exageros de pontos-de-vista e abandono dos argumentos, não raro substituídos por ataques “ad hominem”. A campanha eleitoral já em curso, como outras, emite sinais de pródigas manifestações de maniqueísmo. O expediente de satanizar o adversário revela, esta é minha opinião, indigência mental e despreparo para a convivência democrática. Intelectuais, incluídos os jornalistas, não escapam destes desígnios: as sagradas funções da crítica e da dúvida sistemática são atropeladas pela paixão política.
Leio sistematicamente as colunas dos jornais brasileiros. Leio sempre com o espírito disposto a considerar os argumentos, mesmo aqueles que não batem com meus juízos e julgamentos.
Pois, embrenhado no cipoal de opiniões, deparei-me com um luminar da sabedoria nativa que, do alto de sua coluna, alertava a nação para os perigos da exploração do “coitadismo”. Imagino que vislumbrasse nas políticas de redução da pobreza uma afronta aos méritos dos cidadãos úteis e eficientes.
Lembrei-me de uma palestra memorável do escritor norte-americano David Foster Wallace. Diante dos estudantes do Kenyon College, Foster Wallace começou sua fala com um apólogo:
– Dois peixinhos estão nadando juntos e cruzam com um peixe mais velho, nadando em sentido contrário.
Ele os cumprimenta e diz:
– Bom dia, meninos. Como está a água?
Os dois peixinhos nadam mais um pouco, até que um deles olha para o outro e pergunta:
– Água? Que diabo é isso?
Wallace prossegue:
– O ponto central da história dos peixes é que a realidade mais óbvia, ubíqua e vital costuma ser a mais difícil de ser reconhecida… Os pensamentos e sentimentos dos outros precisam achar um caminho para serem captados, enquanto o que vocês sentem e pensam é imediato, urgente, real. Não pensem que estou me preparando para fazer um sermão sobre compaixão, desprendimento ou outras “virtudes”. Essa não é uma questão de virtude – trata-se de optar por tentar alterar minha configuração padrão original, impressa nos meus circuitos. Significa optar por me libertar desse egocentrismo profundo e literal que me faz ver e interpretar absolutamente tudo pelas lentes do meu ser.
O povo brasileiro tem manifestado seu desacordo com os bacanas que, como os peixinhos, mergulhados em seu egocentrismo, não conseguem reconhecer o ambiente social em que vivem. Por isso, os bem sucedidos tratam os beneficiários das políticas sociais como pedintes, não enquanto sujeitos de direito.
– Como o senhor analisa este tipo de comportamento?
– Nas últimas décadas, certos liberais brasileiros julgam defender o mercado desfechando invectivas contra as políticas públicas que, em sua visão, contradizem os critérios “meritocráticos”. A direita no Brasil defende desabridamente os princípios do darwinismo social, acolitada por intelectuais de segunda classe.

Marilza de Melo Foucher é economista, jornalista e correspondente do Correio do Brasil em Paris.

3 comentários:

  1. O Problema de ma gestão vem ao encontro de credibilidade e 'e o que o mercado internacional lê de um governo corrupto que passa a mão ao invés de puni!

    ResponderExcluir
  2. Seria inteligente se não utilizasse embora que refinadamente chavões e lugares comuns utilizados pela esquerda quando de referir se a direita na base de que seria a direita a vertente do capital sob o qual moureja em desvantagem absoluta a força de produção e etc enquanto que a esquerda libertária propõe igualdade de fatores embora que sob o domínio dela embora que sob tal pseudo igualdade acumule se capital para uns tantos e por vezes de iníqua forma e o lamentável para nós povo que dentre tais correntes nos dividimos é que elas que de si deveriam expurgar o mal para como expressões legitimas de todos nós pudessem e devessem contribuir em conjunto para o bem comum negam se umas as outras e trabalham para manietar parte do todo em suas expressões. lamentavelmente este texto para mim é tendencioso as coisas estão se complicando para o governo em razão do processo de corrupção que em muito alastrou se e de uma situação de insegurança frente a criminalidade que se avulta assustadoramente e convenhamos sem nada que traduza na pratica resutilidade. inflação, cultura de privilegio nos poderes, superfaturamento generalizado no negócio público, licitações fraudulentas, enriquecimento ilícito etc. O povo não é cego e tampouco bitolado a ponto de que nunca olhe para os lados a direita sim precisa ser expurgado dos males que comporta assim como a esquerda tão ou quanto envolvida pelos tentáculos da grande besta que a tudo envolve inclusive a nós mesmos em nosso interior quando mentimos, nos deixamos corromper e manipulamos o outro quando enfim em razão do ego de cobiça ou interesses sejam quais forem nos tornamos tendenciosos no posicionamento e parcialistas no julgamento enfim hipócritas

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O brasileiro, pela deformação cultural que foi submetido, principalmente os da geração passada, (os chamados filhotes da ditadura) se veem compelidos pela exposição nefasta de um componente condicionante sobre sua mente, em acreditar que nada presta, que tudo é roubalheira, que tudo piorou e a responsabilidade é do atual governo. A mídia elitista, que conspirou no passado, contra governos progressistas, terminando por derrubá-los, é a mesma que hoje conspira e mente desbragadamente, injuriando e caluniando, criando fatos ficcionistas no intuito de desgastar e derrotar o atual governo que não representam seus interesses de classe. Antes de qualquer julgamento precipitado é preciso avaliar isentamente o grau de comprometimento existente, através de suas políticas, com o povo brasileiro.

      Excluir