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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O novo ‘velho militarismo’ de David Cameron


 

Publicado em Carta Maior

No entorno do primeiro-ministro David Cameron, todos insistem que não há um 'novo militarismo' em vigor. Mas a verdade é que o chanceler da Argentina, Héctor Timmerman, visita o Reino Unido em um momento em que a política externa britânica está caminhando rumo a um intervencionismo internacional similar ao que ocorreu com o Novo Trabalhismo de Tony Blair e a invasão do Iraque.




                     
Londres – O chanceler da Argentina, Héctor Timmerman, visita o Reino Unido no momento em que a política externa britânica está caminhando a um intervencionismo internacional similar ao que ocorreu com o Novo Trabalhismo de Tony Blair e com a invasão do Iraque.

Na oposição, o atual primeiro-ministro David Cameron apoiou a invasão, mas se afastou dela rapidamente diante do fiasco das supostas armas de destruição em massa que tinham justificado a intervenção e do crescente rechaço da opinião pública à aventura.

“Não sou um ingênuo neoconservador que acredita que é possível implantar a democracia desde um avião a 10 mil metros de altura”, disse Cameron, na época, para marcar a diferença entre conservadores e trabalhistas.

Cameron repetiu esta mensagem como primeiro-ministro no parlamento do Kuwait poucos meses depois de assumir o cargo, mas tudo mudou em 2011 com a Primavera Árabe e a crise na Líbia que terminou com a queda de Kadafi. Nos primeiros dias da insurgência líbia, o primeiro-ministro começou a agir como se efetivamente fosse implantar a democracia desde 10 mil metros de altura.

Junto com o então presidente da França, Nicolas Sarkozy, liderou a iniciativa na ONU para a instauração de uma zona de exclusão aérea que limitasse a vantagem das forças de Kadafi frente aos rebeldes. A queda e a morte do líder líbio em outubro de 2011 animou o primeiro-ministro, que começou a mudar de discurso de maneira explícita.

A virada ficou mais clara do nunca neste mês de janeiro com a tomada de uma planta de gás na Argélia, que terminou com a morte de 32 militantes islâmicos radicais e a decisão de se juntar à intervenção francesa no Mali, ante o complexo conflito militar entre grupos islâmicos no norte do país e no governo central deste país. Em uma declaração ante a Câmara dos Comuns, dia 21 de janeiro, Cameron vinculou esses conflitos com os crescentes enfrentamentos na Líbia e com a guerra contra o terrorismo.

“Estamos em meio a uma luta geracional contra uma ideologia que é uma extrema distorção da fé islâmica e que justifica o assassinato massivo e o terror. Temos que combater essa ideologia venenosa tanto no Reino Unido como no estrangeiro e resistir à tentativa de dividir o mundo em um confronto de civilizações”, assinalou Cameron.

Este intervencionismo faz parte do DNA thatcherista. A dama de ferro sempre foi uma entusiasta deste conceito, durante sua estada no governo ou fora dele, nas Malvinas, nas guerras do Golfo ou na Bosnia Herzegovina. Mas o giro de David Cameron deve muito também ao messianismo de Tony Balir: ele se estende no tempo e no espaço, aponta geograficamente para todo o mundo e temporalmente para as décadas que podem medir a vida de uma geração.

Em uma entrevista à BBC neste domingo, Blair apoiou a intervenção de Cameron no Mali e comparou a batalha com a Al Qaeda aquela que foi travada contra o comunismo. “No Ocidente queremos intervir e obter um resultado claro. Mas não é tão fácil. Vai ser demorado e complicado. Mas se não houvesse a intervenção também seria demorado e complicado, pior ainda”, disse Blair.

No entorno do primeiro-ministro Cameron, todos insistem que não há um novo militarismo e citam como prova uma frase do líder conservador. “Se a única ferramenta que você usa é um martelo, certamente acabará vendo todo problema como um prego. É importante usar uma variedade de ferramentas”.

Em outras palavras, é preciso ter um amplo cardápio de opções e não descartar nenhuma para reagir pragmaticamente diante de cada problema. Essa é a teoria, a sua face pública. Na prática não há nenhum sinal de que o primeiro-ministro esteja disposto a usar outra ferramenta que não o martelo a respeito do tema Malvinas durante a visita do chanceler Timmerman ao Reino Unido.

Tradução: Katarina Peixoto

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