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sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Novos Horizontes na cooperação russo-cubana
A XIª reunião da Comissão Intergovernamental russo-cubana, efetuada nesta capital, para a Cooperação Econômica Comercial e Científica Técnica, concluram novos acordos e projetos para favorecer a cooperação e os investimentos nessas áreas.
Rebeldes executam rivais em praça pública na Síria
Um grupo de militantes na Síria, ligados à rede extremista sunita Al Qaeda, executou o comandante de uma facção rebelde rival e seis de seus homens diante de uma multidão, em praça pública, como mostram as imagens de um vídeo amador divulgado nesta quinta-feira. O filme mostra a matança, como parte de uma campanha para enfraquecer outros grupos rebeldes sírios.
O Estado Islâmico no Iraque e o Levante, uma das organizações que tentam depor o presidente sírio, Bashar al-Assad, vem tirando proveito do vazio de poder em áreas sob controle rebelde para impor sua autoridade sobre vertentes mais moderadas da oposição armada. O vídeo, divulgado na Internet na noite passada, pelo Observatório Sírio pelos Direitos Humanos, organização anti-Assad, mostra homens armados em roupas pretas de pé sob uma faixa do grupo Estado Islâmico.
Segundo o Observatório, o vídeo foi feito na cidade de Atarib, província de Idlib, no norte da Síria. A autenticidade não pôde ser confirmada por fonte independente. Um mascarado no vídeo identifica sete homens ajoelhados como sendo membros da brigada Ghurabaa al-Sham, grupo islâmico moderado, um dos primeiros a entrar na luta contra Assad. Um homem que parece ser o comandante Hassan Jazera está entre eles.
– Hassan Jazera é o mais corrupto e o maior ladrão – disse o mascarado. Ele falava em um microfone para uma multidão de homens, dos quais alguns usavam celulares para filmar a execução.
Lendo um texto numa folha, ele dizia que os homens do grupo de Jazera também tinham sido acusados de sequestro e haviam sido julgados em uma corte religiosa dirigida pelo grupo Estado Islâmico. Depois, eles foram mortos com um tiro na cabeça.
Em maio, uma aliança de grupos islamistas se voltou contra o Ghurabaa al-Sham, depois de um desentendimento sobre controle de território e queixas de saques. A unidade de Jazera, de cerca de 100 combatentes, foi tudo o que restou dos quase 2 mil membros do Ghurabaa al-Sham, disseram integrantes desse grupo à agência inglesa de notícias Reuters meses atrás.
Jazera e seus homens foram presos pelo Estado Islâmico há um mês, segundo o Observatório, entidade com sede na Grã-Bretanha. A ascensão da Al Qaeda na Síria forçou algumas autoridades no Ocidente a moderar seus chamados pela remoção de Assad do poder.
Em agosto, o Estado Islâmico assumiu o controle da cidade de Azas, na fronteira norte, expulsando da área unidades do grupo Exército Sírio Livre. Na sexta-feira, o Estado islâmico capturou uma outra cidade na fronteira, retirando do poder uma organização islamista moderada e prendendo seu líder.
O levante sírio contra quarto décadas da família Assad no poder começou em 2001 e se transformou em guerra civil depois que forças de Assad atiraram contra manifestantes e puseram os tanques nas ruas para esmagar o movimento de protesto. Mais de 100 mil pessoas foram mortas no conflito e milhões tiveram de abandonar suas casas.
Fonte: Correio do Brasil
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Europa, recuperação bizarra
Gregos estariam se auto-infectando com HIV para… sobreviver. Anos de “ajustes” devastam sociedades e não recuperam economias
Por Vinícius Gomes
Assim que descoberto, o dado chocou tanto que precisou ser desmentido. No começo da semana, jornalistas perceberam que um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado há dois meses, revelava, sobre a Grécia (pág 112): “As taxas de HIV e uso de heroína cresceram significativamente; cerca de metade das novas infecções de HIV foram auto-infligidas, para permitir aos pacientes receber benefícios de 700 euros mensais e admissão mais rápida nos programas de subsitituição de drogas”. Horas depois, porta-vozes da OMS desmentiram a informação, atribuindo-a a um estranho “erro de revisão”.
Mas é duro tapar o sol com a peneira. Três anos depois de iniciados os programas de “austeridade” no Velho Continente, uma série de dados está demonstrando que a queda da qualidade de vida é mais dramática que se pensava. Além disso, não há sinais de recuperação das economias – um sinal de que o sacrifício irá se prolongar, a menos que haja revolta social. Eis alguns dados, elencados pelo jornalista Bernard Cassen, no site internacional Mémoire des Luttes:
> O número de suicídios de mulheres gregas pelo menos dobrou;
> Na antes riquíssima Finlândia, um em cada cinco jovens de 25 anos sofre de desordens psíquicas ou mentais associadas à depressão econômica;
> Na Espanha e Grécia tornou-se comum jovens casais retornarem à casa dos pais de um dos cônjuges;
> Em Milão, capital financeira da Itália, já não são incomuns as cenas de antigos membros da classe média obrigados a viver na rua;
> Apesar do desmonte dos serviços públicos, a dívida pública cresceu na Espanha, Portugal, Itália e Bélgica, após os pacotes de “austeridade”. O “remédio” está matando o doente: a receita pública cai muito mais que a despesa, porque, em economias submetidas à recessão, a arrecadação de impostos é muito menor.
Cassen zomba da situação atual dos dirigentes europeus: agora “eles precisam desesperadamente de uma ‘success story’” – mesmo que ínfima. Por isso, apelaram para o caso da Irlanda. O país anunciou que dispensará a renovação do pacote de “salvamento” de 85 bilhões de euros, que recebeu há anos. “A que preço?”, pergunta o jornalista. Ele mesmo responde: “13% da população permanece em desemprego; o PIB per capita caiu 8% em relação a 2008; a dívida pública, que era de 104% do PIB em 2011, saltou para 125%: eis o que custa aos irlandeses salvar os banqueiros e o euro”…
BLOG da Redação
Dossiê Pizzolato revela que BB e Visanet não apontam prejuízo com o ‘mensalão’
A versão de que os recursos do Fundo Visanet eram de uma empresa privada – e não de uma empresa pública, como foi apontado no relatório do ministro Joaquim Barbosa sobre a Ação Penal (AP) 470, do Supremo Tribunal Federal (STF) – ganharam um reforço de peso, nesta quarta-feira, no vazamento do relatório do Banco do Brasil (BB) ao blog O Cafezinho, do jornalista Miguel do Rosário. Segundo a assessoria de imprensa do BB, provocada por um pedido de vista do Correio do Brasil aos balanços nos quais deveriam aparecer os prejuízos causados pela suposta operação fraudulenta que teria incriminado o ex-diretor de Marketing da instituição bancária Henrique Pizzolato, “todas as informações relativas ao caso já foram encaminhadas ao STF”.
Nos autos do STF sobre a AP 470, então, três auditorias internas do Banco do Brasil atestam a regularidade dos repasses do Fundo Visanet à DNA Propaganda. O Laudo 2828 e o regulamento do Fundo Visanet, além de outros documentos do BB que comprovam a isenção de Henrique Pizzolato também reforçam a tese de que os fundos usados para abastecer o esquema do ‘mensalão’ eram de uma empresa privada.
O Dossiê Pizzolato, como ficou conhecido o conjunto de documentos que o réu na AP 470 transportou para a Itália, onde se encontra, reúne, entre outras, uma das auditorias do BB sobre o Visanet, a qual atesta que os recursos constantes do Fundo eram de propriedade da Companhia Brasileira de Meios de Pagamento (CBMP) e seriam utilizados “exclusivamente para ações de incentivo aprovadas pela Visanet, não pertencendo os mesmos ao BB Banco de Investimentos e nem ao Banco do Brasil”.
Miguel do Rosário publica, ainda “dois pareceres, também do BB, atestando que os recursos do Fundo Visanet não são públicos; pertenciam exclusivamente à multinacional Visanet, embora ao BB, assim como outros bancos participantes do convênio, cabia apontar as propostas de publicidade e a agência que seria responsável pelas campanhas. Detalhe: os recursos do Fundo Visanet ficavam armazenados no Bradesco. Segundo o regulamento do Fundo, ao BB cabia nomear um gestor para aprovar campanhas e pagamentos, e este gestor do BB, na época em que tudo aconteceu, jamais foi Henrique Pizzolato”.
Cai por terra, assim, a acusação de que os R$ 73,85 milhões do Fundo Visanet foram desviados. “Foram usados em campanhas publicitárias. A (Rede) Globo recebeu R$ 5,5 milhões desse dinheiro”, afirma O Cafezinho. E continua:
“Todas as auditorias e o regulamento do Fundo Visanet mostram que os recursos eram privados. Eles eram disponibilizados pela Visanet, uma multinacional que fatura centenas de bilhões de dólares no mundo, a um conjunto de bancos brasileiros, para que estes fizessem a publicidade dos cartões de débito e crédito com a bandeira Visa”.
Ainda segundo Rosário, “é preciso entender que o BB não é casa da mãe Joana. Nenhum servidor tem o poder de ‘repassar’ R$ 74 milhões do BB para nenhuma empresa. No caso do Visanet, o BB havia nomeado um gestor para cuidar dos assuntos relativos ao Fundo Visanet. Era Leo Baptista”.
Os documentos apresentados também desmentem “que o Bônus de Volume (BV) teria sido apropriado indevidamente pela DNA, e pertenceria ao BB. Mentira. É muita hipocrisia da Globo, pois ela inventou o BV no Brasil, ou pelo menos é a empresa que mais o utiliza. Além disso, é uma contradição. Se a DNA recebeu R$ 2,9 milhões de BV é porque veiculou uma quantidade enorme de anúncios nos meios de comunicação, e portanto, o serviço foi realizado. O BV referente a campanha da publicidade do BB-Visanet entra numa relação privada entre veículos de mídia e a DNA. O BB jamais recebeu BV por nada. Perguntem a Secom (da Presidência da República) se ela cobra devolução de algum BV para os cofres públicos”.
“O Banco do Brasil quer saber se dinheiro foi desviado e quer o ‘reembolso’. A acusação, enviada pelo Procurador Geral da República e pelo relator Joaquim Barbosa, dizia que o ‘mensalão’ foi sustentado pelo dinheiro do Banco do Brasil junto ao Fundo Visanet, os R$ 74 milhões. No entanto duas pericias realizadas antes do julgamento mostraram que não houve desvios de dinheiro no Banco do Brasil”, afirma Rosário.
Ainda segundo O Cafezinho, outra pericia mostrou “que o Fundo Visanet é um fundo privado, na qual uma multinacional o controla”
“O fundo visanet hoje se tornou o CIELO. De acordo com Barbosa, o dinheiro público teria sido desviado do Fundo Visanet que é uma empresa privada. No entanto, o inquérito 2474, encaminhado ao STF, que correu sob segredo de justiça até tempo atrás mostra que o dinheiro do Fundo Visanet foi em grande parte para as Organizações Globo através da DNA propaganda de Marcos Valério e Barbosa não colocou em juízo a Rede Globo também no caso”, afirmou.
Leia aqui a íntegra do documento.
Fonte: Correio do Brasil
terça-feira, 26 de novembro de 2013
As mulheres militantes na grande Revolução de Outubro
Há uma infinidade de obras sobre a
Revolução Russa e seus grandes líderes. Porém, sobre a participação das
mulheres não há um número significativo de publicações, à exceção das
obras de Alexandra Kollontai, que foi a única ministra do primeiro
governo bolchevique. A libertação da mulher foi o eixo fundamental da
sua vida, como escritora e como militante. Num artigo raro, publicado no
Diário Feminino de Moscou, edição de 11 de novembro de 1927, é a
própria Kollontai que fala sobre essa temática. Segue um extrato do seu
artigo.
As mulheres que participaram da Grande
Revolução de Outubro – quem eram elas? Indivíduos isolados? Não, havia
multidões delas; dezenas, centenas e milhares de heroínas anônimas que,
marchando lado a lado com os operários e camponeses sob a Bandeira
Vermelha e a palavra-de-ordem dos Sovietes, passou por cima das ruínas
do czarismo rumo a um novo futuro…
Se alguém olhar para o passado, poderá
vê-las, essa massa de heroínas anônimas que outubro encontrou vivendo
nas cidades famintas, em aldeias empobrecidas e saqueadas pela guerra… O
lenço em sua cabeça, uma saia gasta, uma jaqueta de inverno remendada…
Jovens e velhas, mulheres trabalhadoras e esposas de soldados camponesas
e donas-de-casa das cidades pobres. Mais raramente, muito mais
raramente, secretárias e mulheres profissionais, mulheres cultas e
educadas. Mas havia também mulheres da intelligentsia entre aqueles que
carregavam a Bandeira Vermelha à vitória de Outubro – professoras,
empregadas de escritório, jovens estudantes nas escolas e universidades,
médicas. Elas marchavam alegremente, generosamente, cheias de
determinação. Elas iam a qualquer parte que fossem enviadas. Para a
Guerra? Elas colocavam o quepe de soldado e tornavam-se combatentes no
Exército Vermelho. Se elas portassem fitas vermelhas no braço, então
corriam para as estações de primeiros-socorros para ajudar o Front
Vermelho contra Kerenski na Gatchina. Trabalhavam nas comunicações do
exército. Trabalhavam felizes, convictas de que alguma coisa
significativa estava acontecendo. Nas aldeias, a mulher camponesa (seus
maridos tinham sido enviados para a Guerra) tomava a terra dos
proprietários e arrancava a aristocracia dos postos onde ela se alojou
por séculos.
Ainda não tinham certeza do que
exatamente queriam, pelo que lutavam, mas sabiam uma coisa: não iriam
continuar suportando a guerra. No ano de 1917, o grande oceano de
humanidade se levanta e se agita, e a maior parte desde oceano feita de
mulheres…Algum dia a historia escreverá sobre as proezas dessas heroínas
anônimas da revolução, que morreram na Guerra e amargaram incontáveis
privações nos primeiros anos seguintes à revolução, mas que continuaram a
carregar nas costas o Estandarte Vermelho do Poder Soviético e do
comunismo.
Entretanto, fora deste mar de mulheres
de lenços e toucas surradas inevitavelmente emergem as figuras daquelas a
quem os historiadores devotarão atenção particular, quando, muitos anos
depois, eles escreverem sobre a Grande Revolução de Outubro e seu
líder, Lênin.
A primeira figura que emerge é a da fiel
companheira de Lênin, NadezhdaKonstantinovnaKrupskaya, vestindo seu
vestido cinza liso e sempre se esforçando para permanecer em segundo
plano. Via e ouvia tudo, observando tudo o que acontecia; então ela
poderia mais tarde fornecer um relato completo para Vladimir Ilich,
adicionar seus próprios hábeis comentários e expor uma ideia sensata,
apropriada e conveniente.
Ela trabalhou incansavelmente como braço
direito de Vladimir Ilich, ocasionalmente dando depoimentos e relatando
críticas nas reuniões do partido. Em momentos de grande dificuldade e
perigo, quando muitos camaradas firmes perderam o ânimo e sucumbiram às
dúvidas, NadezhdaKonstantinovna permaneceu sempre a mesma, totalmente
convencida da justiça da causa e de sua vitória certa. Ela transmitia
inabalável confiança, e sua firmeza de espírito, escondia uma rara
modéstia, sempre contaminava com seu ânimo todos aqueles que entravam em
contato com a companheira do grande líder da Revolução de Outubro.
Outra figura que se destaca – outra leal
parceira de Vladimir Ilich, uma camarada-em-armas durante os anos
difíceis do trabalho clandestino, secretária do Comitê Central do
Partido, YelenaDmitriyevnaStassova. Inteligente, com uma rara precisão, e
uma excepcional capacidade para o trabalho, uma rara habilidade para
“apontar” as pessoas certas para o trabalho. Em suas mãos, segurava um
caderno de anotações, enquanto ao seu redor multidões de camaradas do
front, trabalhadores, guardas vermelhos, membros do partido e dos
Sovietes, buscavam respostas claras ou ordens.
Stassova carregou a responsabilidade por
muitos negócios importantes, mas se um camarada demonstrava necessidade
ou angústia nesses dias tempestuosos, ela sempre podia auxiliar,
fornecendo explicações, ela fazia o que estava ao seu alcance. Ela não
gostava de ser o centro das atenções. Sua preocupação não era com ela
mesma, mas com a causa.
Pela nobre e estimada causa do
comunismo, YelenaStassova experimentou o exílio e a detenção nas
penitenciárias do regime czarista, deixando-a com a saúde prejudicada…
Em nome da causa ela era firme como aço. Mas em relação ao sofrimento de
seus camaradas, ela demonstrava a sensibilidade e a receptividade que
só se encontram em uma mulher com um coração afetuoso e nobre.
KlavdiaNikolayeva era uma mulher
trabalhadora de origem muito humilde. Ela uniu-se aos bolcheviques já em
1908, nos anos da reação, e suportou o exílio e a prisão… Em1917, ela
retornou a Leningrado e se tornou a organizadora da primeira revista
para as mulheres trabahadoras, Kommunistka. Ela ainda era jovem,
cheia de ânimo e ansiedade. Então ela segurava firmemente o estandarte, e
corajosamente declarava que as trabalhadoras, esposas de soldados e
camponesas precisavam ingressar no partido. Ao trabalho, mulheres! Vamos
defender os Sovietes e o Comunismo! Ela era uma daquelas que lutou em
duas frentes – pelos Sovietes e o comunismo, e ao mesmo tempo para a
emancipação das mulheres.
Os nomes KlavdiaNikolayeva e
KonkordiaSamoilova, que morreram exercendo funções revolucionárias em
1921 (vítimas da cólera), são indissoluvelmente ligados aos primeiros e
mais difíceis passos do movimento das trabalhadoras, particularmente em
Leningrado. KonkordiaSamoilova foi uma militante do partido de
incomparável abnegação, excelência, uma oradora metódica que sabia
ganhar os corações dos trabalhadores. Aqueles que trabalhavam ao seu
lado lembrarão por muito tempo de KonkordiaSamoilova. Ela era simples
nos costumes, simples na aparência, exigente na execução das decisões,
severa com ela mesma e com os outros.
Particularmente notável é a gentil e
encantadora figura de Inessa Armand, que foi incumbida de um trabalho
partidário muito importante na preparação da Revolução de Outubro, e que
depois contribuiu com muitas ideias criativas para o trabalho entre as
mulheres. Com toda sua feminilidade e bondade nas maneiras, Inessa
Armand era inabalável em suas convicções e capaz de defender aquilo que
ela acreditava correto, mesmo quando deparada com temíveis oponentes.
Depois da revolução, Inessa Armand se dedicou à organização do amplo
movimento das trabalhadoras.
Um imenso trabalho foi feito por
VarvaraNikolayevnaYakovleva durante os difíceis e decisivos da Revolução
de Outubro em Moscou. No terreno de batalha das barricadas, ela mostrou
a determinação meritória de uma líder do quartel-general do partido.
Muitos camaradas disseram na ocasião que sua determinação e coragem
inabaláveis foi o que deu ânimo aos vacilantes e inspirou aqueles que
haviam perdido suas forças.
Ao recordar das mulheres que tomaram
parte na Grande Revolução de Outubro, mais e mais nomes e faces surgem
como mágica da memória. Poderíamos deixar de honrar a memória de Vera
Slutskaya, que trabalhou de modo abnegado na preparação para a revolução
e que foi morta pelos Cossacos no primeiro front Vermelho próximo a
Petrogrado? Podemos nos esquecer de YevgeniaBosh, com seu temperamento
inflamado, sempre pronta para a batalha? Ela também morreu no trabalho
revolu-cionário. Podemos nos omitir de mencionar aqui dois nomes
intimamente ligados com a vida e a atividade de V. I. Lênin – suas duas
irmãs e companheiras em armas, Anna IlyinichnaYelizarova e Maria
IlyinichnaUlyanova?
…E a camarada Varya, das oficinas de
linhas de trem em Moscou, sempre animada, sempre inquieta? E Fyodorova,
trabalhadora têxtil de Leningrado, com seu rosto amável e sorridente e
seu destemor quando estava lutando nas barricadas?
É impossível listar todas elas, e
quantas delas permanecem desconhecidas? As heroínas da Revolução de
Outubro formavam todo um exército, e embora seus nomes estejam
esquecidos, sua abnegação vive em cada vitória daquela revolução, em
todos os ganhos e façanhas desfrutadas pelos trabalhadores da União
Soviética.
É lógico e incontestável que, sem a participação das mulheres, a Revolução de Outubro não traria a Bandeira Vermelha da vitória.
Glória às trabalhadoras que marcharam
sob a bandeira vermelha durante a Revolução de Outubro. Glória à
Revolução de Outubro que libertou as mulheres!
José Levino, historiador
Fonte: AVERDADE
Fonte: AVERDADE
Vira-latas em Teerã
Acordo EUA-Irã, assinado ontem, foi rascunhado por Brasil, Turquia e Irã em 2010. Para mídia brasileira, única solução era guerra…
Por Paulo Moreira Leite, em seu blog
O caráter colonizado de grande parte de nossos observadores diplomáticos teve poucos momentos tão vergonhosos como em maio de 2010. Naquele momento, Brasil, Turquia e Irã assinaram um acordo nuclear que, em seus traços essenciais, era um rascunho bem feito do acerto fechado ontem, em Genebra, com apoio de Estados Unidos, China, Reino Unido, França e Alemanha.
Após três anos e seis meses de tensão e novas ameaças de confronto, o óbvio ficou um pouco mais ululante.
Desmentindo o discurso imperial que em 2010 tentava apresentar uma intervenção militar como inevitável diante da “intransigência” iraniana para defender seu programa nuclear, o novo acordo confirma que era possível avançar numa solução pacífica, respeitando a vontade soberana daquele país. Apesar disso, quem não sofreu uma perda seletiva de memoria irá lembrar-se do que ocorreu há três anos.
Com apoio inicial da Casa Branca, que voltaria atrás sob pressão de lobistas a serviço da extrema direita de Israel, Lula tomou a iniciativa de atrair o Irã e a Turquia para as conversas. Foi uma ideia do presidente brasileiro, a partir de conversas prévias com o então presidente do Ira, Mahmoud Ahmadinejad, em Nova York. Informado, Barack Obama aderiu a ideia, ainda que relutante. O chanceler Celso Amorim atuou nos bastidores entre os envolvidos.
Quarenta e oito horas depois, enquanto os Estados Unidos propunham uma nova rodada de sanções contra o Irã, inviabilizando um pacto que bastante razoável, Lula tornou-se alvo de um massacre externo e, especialmente, interno. Fez-se o possível para ridicularizar sua atuação, como se fosse um caso patológico de caipirismo diplomático. Refletindo o tom geral, um comentarista chegou a mandar os pêsames para o presidente brasileiro. Como explicar essa postura?
Um ponto, claro, era eleitoral. Cinco meses depois da viagem de Lula a Teerã, a população brasileira iria às urnas e era importante impedir qualquer vitória de seu governo, que poderia ajudar a eleição do ainda poste Dilma.
Outro aspecto é o complexo de vira-latas, que não consegue enxergar oportunidades que a conjuntura internacional pode oferecer ao país. Não se perdoou a indisciplina de Lula em relação a Washington. Já que Obama havia mudado de ideia, como é que o governo brasileiro se atrevia a teimar com seu projeto?
Como escreveu o professor José Luiz Fiori, em 2010, “o que provocou surpresa e irritação em alguns setores,não foram as negociações, nem os termos do acordo final, que já eram conhecidos. Foi o sucesso do presidente brasileiro que todos consideravam impossível ou muito improvável. Sua mediação (…) criou uma nova realidade que já escapou ao controle dos Estados Unidos e seus aliados. “
O ponto principal envolve o caráter provinciano do pensamento diplomático estabelecido no país. Incapaz de enxergar novos horizontes quando a situação internacional permite – como estava claro em 2010 – nossos professores de fim de semana procuram sabotar uma diplomacia que, vê-se agora toda clareza, abria oportunidades.
Chato, né?
Fonte: OUTRASMÍDIAS
domingo, 24 de novembro de 2013
Um espectro que ronda o Brasil?
Neste ano ocorreram pelo menos três episódios públicos
envolvendo denúncias de "doutrinação marxista" no ambiente universitário
brasileiro.
Neste ano ocorreram pelo menos
três episódios públicos envolvendo denúncias de “doutrinação marxista”
no ambiente universitário brasileiro: a recusa de um estudante em
realizar um trabalho sobre Karl Marx, a pedido de seu professor (SC); a
ação popular movida por um advogado contra um projeto de extensão de
difusão do marxismo (MG), que acarretou em sua suspensão pela Justiça
Federal do Maranhão e a acusação de um filósofo sobre a contaminação do
marxismo nas Ciências Humanas e Sociais (SP). As três notícias tiveram
cobertura em veículos midiáticos, cujas posições ideológicas são
historicamente conhecidas do público.
O espraiamento nacional de uma suposição sobre o avanço do comunismo e do marxismo no Brasil, às vésperas do cinquentenário do Golpe civil-militar, convida a todos os cidadãos e cidadãs para a seguinte reflexão: o que estes discursos e ideias representam no Brasil após 25 anos da promulgação da Constituição de 1988? Gostaríamos de sugerir que isso reflete uma paranoia, compartilhada por pessoas e grupos capazes de formar guetos de opinião e que a despeito do alcance restrito, ganham destaque desproporcional na mídia hegemônica.
O conceito de paranoia, em termos psiquiátricos, possui sua própria história, como todos os conceitos mais ou menos compartilhados pelo campo científico. A despeito das controvérsias particulares inerentes a este campo - no caso, o da psicanálise - é possível sustentar com baixo custo de prejuízo que a ideia de paranoia envolve basicamente um delírio persecutório baseado em uma desconfiança descolada da realidade, razão ou empiria.
O espraiamento nacional de uma suposição sobre o avanço do comunismo e do marxismo no Brasil, às vésperas do cinquentenário do Golpe civil-militar, convida a todos os cidadãos e cidadãs para a seguinte reflexão: o que estes discursos e ideias representam no Brasil após 25 anos da promulgação da Constituição de 1988? Gostaríamos de sugerir que isso reflete uma paranoia, compartilhada por pessoas e grupos capazes de formar guetos de opinião e que a despeito do alcance restrito, ganham destaque desproporcional na mídia hegemônica.
O conceito de paranoia, em termos psiquiátricos, possui sua própria história, como todos os conceitos mais ou menos compartilhados pelo campo científico. A despeito das controvérsias particulares inerentes a este campo - no caso, o da psicanálise - é possível sustentar com baixo custo de prejuízo que a ideia de paranoia envolve basicamente um delírio persecutório baseado em uma desconfiança descolada da realidade, razão ou empiria.
Defensivas ou preventivas, as consequências políticas da proliferação do discurso paranoico anticomunista e antimarxista ferem, paradoxalmente, dois princípios liberais básicos: liberdade de expressão e tolerância. Ao mesmo tempo, reedita a paranoia clássica alimentada pela Guerra Fria, cuja conjuntura internacional fora cúmplice do segundo período ditatorial brasileiro.
Foi justamente neste contexto que ocorreu a institucionalização das Ciências Sociais no Brasil, amplamente apoiada pela estadunidense e liberal Fundação Ford.
Neste período, várias brasileiras e brasileiros pagaram com a dor, o exílio e a vida, o preço pela defesa de suas ideias comunistas e marxistas, bem como quaisquer outros que contrariassem à lógica da Ditatura Civil-Militar. Hoje, qual é o preço a pagar por essa retórica da intransigência? Como responder a uma paranoia revestida de intelectualidade, a um despautério anacrônico e a um disparate sem fundamento?
Seria um tanto contraproducente esboçar nessas linhas argumentos e razões que tentem comprovar que o Brasil não é governado por comunistas e que a universidade brasileira não está intoxicada pelo marxismo. Inútil, de igual forma, pensar na originalidade histórica dos escritos marxianos e na importância das várias correntes do marxismo - do vulgar e ortodoxo para o crítico e arejado - para os campos das Ciências Sociais Aplicadas ou não. Da mesma maneira estéril, argumentar que o eurocentrismo, o colonialismo e o progresso moderno não são completamente afastados do marxismo e que justamente por isso, ele encontra resistência nos movimentos decoloniais latino-americanos.
Produtivo, talvez, seja observar o nascimento de um novo tipo de direita no Brasil.
Mesmo os velhos e os contemporâneos clássicos do liberalismo político moderado são capazes de aceitar a tolerância, a diferença, a liberdade de expressão, a existência do Estado e o respeito ao outro. Não estamos falando, portanto, da adversária histórica direita liberal. Ela é nova justamente porque ultrapassa a própria moral e a própria ética do liberalismo e acontece neste exato momento histórico. Ela é nova justamente porque também se apropria dos discursos da esquerda e da democracia para combater a própria esquerda e a própria democracia.
Se, cada vez mais, a esquerda não tem se restringindo à alternativa marxista, criando um repertório de resistência, emancipação e libertação próprias, a direita não tem se restringido à alternativa liberal, criando um repertório de ignorância, esquecimento e ódio próprios. Certamente, o espectro que ronda a primeira já não é mais o do comunismo. Mas, o espectro que ronda a segunda ainda desagua no seu totalitarismo oposto, o fascismo. Ou será que estamos, simplesmente, paranoicos?
(*) Professora Adjunta de Ciência Política, Coordenadora do Curso de Relações Internacionais - Centro de Integração do Mercosul Programa de Pós-Graduação em Ciência Política - Instituto de Filosofia, Sociologia e Política, da Universidade Federal de Pelotas.
sábado, 23 de novembro de 2013
Entender e defender a Coréia do Norte
Por Yongho Thae
Via Invent the Future
Traduzido por Paulo Gabriel, do Centro do Socialismo
Nota dos Editores (Centro do Socialismo): Yongho Thae é o embaixador norte-coreano na Inglaterra. Abaixo, traduzimos uma entrevista cedida por ele em Outubro a Carlos Martinez. Nela, o entrevistado trata de diversos temas que ainda causam polêmica em todos os lugares do mundo, como o programa nuclear da Coréia Popular, sua estrutura de Estado e sociedade, a Guerra Contra a Síria, a atual conjuntura latino-americana, etc.
Julgamos importante a tradução e publicação desse texto no Brasil e demais países de língua portuguesa por conta de uma experiência que vivemos recentemente.
É fato que, em totalidade, o público de nossa página e nosso blog declara-se anti-imperialista. No entanto, em Abril desse ano, quando ocorreu a tensão militar entre a Coréia do Norte e o imperialismo estadunidense, ao defendermos intransigivelmente a Coréia Popular, fomos repudiados por parte de nossos seguidores.
Stalinismo ou não, o fato é que o regime imperialista mundial quer se apoderar da Coréia do Norte para calar qualquer voz de oposição ao capitalismo e à escravidão assalariada, ou até mesmo à dominação imperialista mundial. Defender a Coréia Popular é uma questão de princípios, não de adesão total e acrítica às posições do governo coreano. Afinal, foi o próprio Trotsky quem disse: "Stálin derrubado pelo imperialismo, é a contrarrevolução que triunfa".
Esperamos que o presente texto reacenda o debate acerca da ingerência imperialista contra a Coréia Popular, e, principalmente, esperamos que ele possa servir para auxiliar nossos seguidores no objetivo auto-declarado do mesmo: entender e defender a Coréia do Norte.
ENTENDER E DEFENDER A CORÉIA DO NORTE
CM: A narrativa da mídia ocidental afirma que o programa nuclear da RDPC [República Popular Democrática da Coréia, Coréia do Norte - N. do Editor] é uma grande ameaça à paz mundial. Por que a RDPC possui armas nucleares?
YT: Quando a imprensa ocidental comenta o programa nuclear da
RDPC, ela nunca fala sobre as principais razões por trás de tal programa. A
mídia só está interessada em justificar as agressões dos EUA. Ela quer que as
pessoas permaneçam cegas à lógica básica de nossa posição. Nossa política é
simples e fácil de ser compreendida: nós precisamos de uma dissuasão nuclear.
Antes que eu entre nesta questão, eu gostaria de esclarecer
que a desnuclearização da península coreana ainda faz parte das políticas da
RDPC. Nossa política sempre foi a de salvaguardar nosso país da ameaça de uma
guerra nuclear. Mas para alcançar esse objetivo não tivemos escolha senão a de
desenvolver nossas próprias armas nucleares.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA eram o único país
do mundo que possuía armas nucleares. Com o objetivo de avançar com sua
estratégia de dominação global, o governo americano decidiu utilizar bombas
atômicas no Japão. Os fatos demonstram que não havia razão alguma para usar
tais armas naquela situação. Na Europa, em maio de 1945, Hitler foi derrotado e
a guerra chegou ao seu fim. No Pacífico, a maré já havia virado completamente
contra o Imperialismo japonês. Era óbvio que o exército soviético entraria na
guerra contra o Japão [Nota do tradutor:
o Exército Vermelho entrou na guerra contra o Japão. A Operação “Tempestade de
Agosto” destruiu todas as posições japonesas na Ásia continental em questão de
duas semanas mais ou menos. Ajudando a libertar a Coréia, inclusive.], e o
Japão já estava perdendo a guerra contra os EUA. Era apenas uma questão de
tempo até que o esforço de guerra japonês entrasse em colapso. O Japão não iria
conseguir vencer as forças combinadas da União Soviética, Europa, China e EUA,
e por isso estavam buscando uma maneira de sair do conflito. Não havia
absolutamente motivo algum para os EUA utilizarem suas armas nucleares. Dentro do
establishment [Nota do tradutor: não há tradução correlata em português. A palavra
refere-se às instituições mais poderosas de um país, tanto privadas quanto
públicas. Seria uma organização que abrange as mais importantes figuras das
classes dominantes] americano houve discussões encarniçadas sobre o uso ou
não das bombas atômicas. A população do mundo não compreendia o verdadeiro
poder destrutivo destas armas – apenas os líderes americanos sabiam. Eles
queriam que o mundo visse o quão poderosas as bombas eram, para que então todas
as nações fossem obrigadas a seguir os ditames da política dos EUA. Com esta
meta em mente, as autoridades norte-americanas não levaram em conta a
quantidade de vidas que seriam ceifadas. Para eles, as vidas de cidadãos comuns
do Japão eram como as vidas de animais, de cachorros. Eles matariam o tanto que
pudessem para favorecer seus interesses geopolíticos.
Então os EUA lançaram as bombas atômicas em Hiroshima e
Nagasaki. Mais tarde, a URSS também desenvolveu suas armas nucleares. Com o
passar do tempo o arsenal nuclear soviético passou a contrabalancear a
possibilidade do uso de armas nucleares por parte dos Estados Unidos. Esta é a
principal razão a qual os EUA não puderam usar tais armas na segunda metade do
século XX. Mais tarde o clube nuclear foi expandido, passando a incluir China,
Inglaterra e França. Em termos de paz mundial como um todo, o aumento do clube
nuclear pode ser visto intuitivamente como uma coisa ruim, mas a verdade é que a
China e a União Soviética, por possuírem também armas nucleares, foram capazes
de restringir o uso destas pelas outras nações. Eu acho que este é um fato que
deveríamos admitir.
Em relação à Coréia, você sabe que a Coréia é logo ao lado
do Japão. Muitos japoneses viveram na Coréia, pois a Coréia era colônia do
Japão. Nosso aparelho midiático era comandado pelos japoneses. Então quando
Hiroshima e Nagasaki foram bombardeadas, nós ouvimos sobre e entendemos muito
bem a escala do desastre. O povo coreano entendeu muito bem o tanto de pessoas
que foram mortas em um espaço de tempo de apenas um minuto. Então o povo
coreano teve uma experiência bem direta de guerra nuclear.
A Guerra da Coréia começou em 1950. Os americanos pensaram
que poderiam vencer facilmente a guerra, porque eles possuíam as armas
convencionais mais avançadas e haviam mobilizado 16 países satélites para o
esforço. Nessa época a China havia acabado de ser libertada – a República
Popular da China tinha apenas um ano. Enquanto isso, a URSS ainda estava se
recuperando da vasta destruição causada pela Segunda Guerra Mundial. Portanto,
os EUA pensaram que venceriam facilmente a Guerra da Coréia. Entretanto, eles
acabaram descobrindo que tal arrogância fora um equívoco. De fato, a Guerra da
Coréia foi a primeira guerra a por em cheque as ambições dos Estados Unidos.
O Exército Popular da Coréia e os voluntários chineses
lutaram com incrível força contra os EUA. Do ponto de vista dos americanos,
esta guerra era uma guerra contra o comunismo. Porém os comunistas detinham
total apoio das populações da Coréia e da China. Ambas nações eram basicamente
rurais e as pessoas eram motivadas pela ideia de conseguir suas próprias
terras. Foi o Partido Comunista – O Partido do Trabalho da Coréia – que
distribuiu as terras igualmente a todos os fazendeiros. Então o PTC tinha o
apoio incondicional das massas que participaram da Guerra da Coréia. Eles
sabiam da situação de de seus irmãos e irmãs na Coréia do Sul – dominados pelos
latifundiários e pelos interesses dos EUA – e entendiam que se a RDPC perdesse
a guerra, o poder dos grandes proprietários de terra seria restaurado e a
reforma agrária seria revertida. Esta é a razão pela qual o povo comum da
Coréia se envolveu no conflito. Todos se envolveram e ninguém hesitou em fazer
os mais árduos sacrifícios.
Quando Einsenhower percebeu que a guerra não estava seguindo
de acordo com os planos, perguntou aos seus assessores: como podemos vencer a
guerra? Os generais americanos sugeriram o uso de uma ameaça nuclear. Eles
imaginaram que se avisassem à população que eles iriam lançar uma bomba atômica
no país, as pessoas fugiriam do front. Por terem testemunhado os efeitos da
guerra nuclear há apenas cinco anos, milhões de pessoas fugiram da Coréia do
Norte e foram para o sul. O resultado desta ação foi que até hoje ainda há 10
milhões de famílias separadas na Coréia.
Então você pode ver que o povo coreano é vítima direta de
agressões nucleares – muito mais que qualquer outro povo do mundo. A questão
nuclear não é uma questão abstrata para nós, é algo que temos de encarar com
muita seriedade.
Depois da Guerra da Coréia os EUA nunca pararam com sua
política hostil contra a Coréia. Atualmente eles dizem que não podem normalizar
as relações com a RDPC porque nós possuímos armas nucleares. Porém nas décadas
de 60, 70 e 80 nós não possuíamos armas nucleares – e eles normalizaram as
relações? Não. Em vez disso eles continuaram a tentar dominar a península
coreana com suas forças militares. Foram os EUA que introduziram armas
nucleares na península coreana. Nos anos 70 eles posicionaram armas nucleares
na Europa e também na Coréia do Sul com o objetivo de restringir a influência
da União Soviética. Os Estados Unidos nunca pararam de ameaçar a RDPC com essas
armas que estavam bem no nosso quintal, apenas do outro lado da zona
desmilitarizada. A Coréia é um país bem pequeno com uma grande densidade
populacional. O quadro então é bem claro: se os EUA utilizassem suas armas
nucleares a escala da catástrofe humanitária seria inimaginável.
O governo da RDPC teve então que desenvolver uma estratégia
que fosse capaz de prevenir os EUA de usarem suas armas nucleares contra nós.
Na década de 70 houve discussões entre as grandes potências sobre como se
poderia prevenir uma guera nuclear. As cinco grande potências então decidiram pela
não-proliferação de armas nucleares.
Apenas estes cinco países teriam permissão para possuir armamentos nucleares,
os outros ficariam sem. O Tratado de
Não-Proliferação (TNP) foi realizado na década de 70. Ele afirma claramente que
potências nucleares não podem utilizar suas armas nucleares com o objetivo de
ameaçar nações não-nucleares. Então a RDPC pensou que ao assinar o TNP as amaças
nucleares por parte dos EUA cessariam. Portanto assinamos o tratado. No
entanto, os Estados Unidos nunca abandonaram seu direito de lançar um ataque
nuclear preventivo. Os EUA sempre afirmaram que se seus interesses fossem
ameaçados eles teriam sempre o direito de lançar ataques nucleares preventivos
para salvaguarda-los. Logo é bem óbvio o fato de que o TNP não pode assegurar a
nossa segurança. Com base nesta situação, nós decidimos nos retirar do TNP e
formular uma estratégia diferente para nos proteger.
A conjuntura mundial mudou após o 11 de Setembro de 2001. O
Presidente Bush afirmou que, caso os Estados Unidos quisessem se manter
seguros, deveriam remover os países do ‘Eixo do Mal’ da face da terra. Os três
países listados como ‘Eixo do Mal’ foram Irã, Iraque e Coréia do Norte. Bush
disse que os EUA não hesitariam em usar armas nucleares para eliminar este mal.
Acontecimentos desde então provaram que esta não era apenas uma ameaça retórica
– eles realmente realizaram tais ameaças contra o Afeganistão e o Iraque [Nota do tradutor: ele se refere ao uso de
projéteis e munições de Urânio Empobrecido por parte das forças armadas dos
EUA].
Voltando à Coréia do Norte, houve um acordo bilateral entre
a administração de Clinton e a RDPC em 1994, mas a administração de Bush
cancelou o acordo, argumentando que a América não deveria negociar com o mal. Os
neoconservadores disseram que ‘estados malignos’ deveriam ser destruídos pela força.
Tendo testemunhado o que ocorreu com o Afeganistão e o Iraque, percebemos que não
poderíamos por um fim às ameaças americanas com base em armas convencionais
apenas. Então nós percebemos que precisávamos de nossas próprias armas
nucleares para proteger nosso povo.
Somada a questão da ameaça nuclear direta, devo apontar que
também há a questão do ‘guarda-chuva’ nuclear. Os EUA estendem seu guarda-chuva
nuclear sobre seus aliados como, por exemplo, a Coréia do Sul, o Japão e os
países membros da OTAN. Mas a Rússia e a China não estão dispostos a abrir um
guarda-chuva nuclear a outras nações, principalmente porque têm medo da reação
dos Estados Unidos. Nós percebemos que nenhum país nos defenderia das armas
nucleares americanas, portanto chegamos à conclusão de que deveríamos desenvolver
as nossas próprias armas nucleares.
Nós podemos dizer que a escolha pelo desenvolvimento de
nossa própria força de dissuasão nuclear foi uma decisão correta. O que
aconteceu com a Líbia? Quando Kadafi quis melhorar as relações da Líbia com os
EUA e o Reino Unido, os imperialistas disseram que ele deveria desistir de seus
programas militares para atrair investimentos internacionais. Kadafi até
afirmou que iria visitar a RDPC para nos convencer a desistir de nosso programa
nuclear. Porém quando a Líbia desmontou todos os seus programa nucleares e isto
foi confirmado pela inteligência ocidental, o ocidente mudou seu tom. Isto
levou a uma situação na qual Kadafi não podia proteger a soberania da Líbia,
ele não podia proteger nem mesmo sua própria vida. Esta foi uma importante
lição histórica.
A RDPC quer se manter segura. Nós pedimos para os EUA
abandonarem sua política hostil, suas ameaças militares, pedimos para
normalizar as relações com a RDPC, para substituir o armistício por um tratado
de paz. Apenas quando a ameaça militar americana à RDPC for removida, quando
mecanismos de garantia da paz forem estabelecidos na península coreana, é que
poderemos conversar sobre desistir de nosso arsenal nuclear. Em outras
palavras, os EUA deveriam levar esta questão a sério, os americanos deveriam
ter uma abordagem positiva para resolvê-la.
Nós temos orgulho pelo fato de conseguirmos ter evitado
outra guerra, mesmo com toda a enorme presença militar americana no nordeste
asiático e na península coreana. A máquina de guerra dos EUA nunca pára.
Vietnã, Afeganistão, Iraque, Líbia e a agora a Síria... Todos os dias centenas
de pessoas inocentes morrem devido à política imperialista implantada pelos
EUA. Mas depois do fim da Guerra da Coréia em 1953, a RDPC foi capaz de manter
a paz na península coreana e consideramos isto uma grande conquista.
CM: Vocês estavam
esperançosos que, com a eleição de Barack Obama, a posição dos EUA em relação à
Coréia Popular melhoraria?
YT: Bem, a política de Obama é diferente da de Bush e dos
conservadores. Em vez de resolver estes problemas diretamente, ele os está
movendo para uma posição de ‘abandono estratégico’. Obama quer deixar a questão
do jeito que está em vez de dar passos concretos para melhorar a situação. A
administração atual afirma que há muitas questões pendentes para os Estados
Unidos resolverem.
CM: Ultimamente ocorreram
algumas visitas interessantes à RDPC como, por exemplo, a de Eric Schmidt, CEO
do Google, e também a de Dennis Rodman, o astro do basquete. Será que estas
visitas indicam – mesmo que de forma bastante frágil – que há algumas pessoas
dentro dos círculos dominantes dos EUA que estão interessadas em melhorar as
relações com a RDPC?
YT: É muito difícil dizer se tais visitas terão um efeito
positivo. O que a RDPC quer é transmitir ao povo americano que a RDPC está
sempre disposta a discutir e resolver os problemas, que a RDPC quer melhorar as
relações com os EUA, que a RDPC não considera os EUA como seu inimigo
permanente. Nós esperamos que estas visitas de cidadãos americanos proeminentes
ajudem a transmitir estas mensagens.
CM: E quanto às outras
potências imperialistas (por exemplo, Inglaterra, França, Austrália ), elas
apresentam posições mais construtivas em relação à RDPC ou elas seguem a
liderança dos EUA?
YT: Há algumas diferenças de posição. Por exemplo, o governo dos
EUA nunca reconheceu diplomaticamente a RDPC como um país soberano, enquanto
alguns dos aliados dos americanos como a Inglaterra e a Austrália reconhecem,
sim, nossa existência. Estes países apoiam uma política de conversação com a
RDPC.
CM: E os EUA ainda mantém
armas nucleares na Coréia do Sul?
YT: É muito difícil de se dizer com certeza, porque as armas
nucleares dos EUA são muito mais sofisticadas e modernizadas se comparadas com
as das década de 70 e de 80. Eles possuem mais submarinos nucleares. Eles
possuem armas que são menores e mais difíceis de detectar. Então é difícil
dizer se há armas nucleares permanentemente estacionadas na Coréia do Sul. Porém
é bastante óbvio que armas nucleares americanas visitam a Coréia do Sul com
certa regularidade. Recentemente, os EUA fizeram exercícios militares conjuntos
com o Japão e a Coréia do Sul. Com o intuito de participar de tais exercícios,
o porta-aviões americano George Washington permaneceu no porto sul-coreano de
Busan por três dias. Que tipo de aviões são carregados pelo George Washington?
Caças e bombardeiros que podem lançar facilmente bombas nucleares na península
coreana.
Em março deste ano (2013), os EUA introduziram bombardeiros
B-52 na península coreana para exercícios militares, simulando bombardeios
nucleares sobre a Coréia do Norte.
A política dos EUA é de nem confirmar ou negar se eles tem
ou não tem armas nucleares na Coréia do Sul. Mas o fato é que eles podem
introduzir estas armas e lançar um ataque a qualquer momento, logo não importa
muito se há ou não armas nucleares estacionadas na península.
CM: Você vive em Londres
já há um bom tempo e provavelmente tem alguma ideia de como o povo inglês pensa
a respeito da Coréia do Norte. O esteriótipo é de que é um país
‘não-democrático’ onde as pessoas não possuem o direito de votar; onde as
pessoas não têm nenhuma liberdade de expressão; elas não têm o direito de
criticar o governo; elas não têm o
direito de participar da administração do país. Está é uma caracterização
justa?
YT: Penso que a impressão geral que o povo inglês tem foi
formada pela imprensa burguesa. O que eu posso dizer é que aquelas pessoas que
fizeram investigações mais sérias, especialmente as que visitaram a RDPC e
viram nossas conquistas com seus próprios olhos, possuem uma visão
completamente diferente acerca de meu país.
O número de turistas ingleses têm aumentado nos últimos anos
– apenas neste ano serão mais de 500. Existem nove agências de turismo inglesas
que organizam visitas à RDPC. Vistos nunca são negados a turistas. Eu já me
encontrei com alguns turistas ingleses que haviam acabado de retornar da RDPC e
eles estavam tão surpresos em ver o quanto o país era diferente de suas
primeiras impressões formadas pela mídia. Eles não sabiam que a RDPC é um país
socialista onde existe educação gratuita, onde há um sistema de saúde gratuito,
onde há moradia também gratuita. Eles não conheciam todos estes aspectos positivos
da Coréia do Norte. A maioria deles imaginava, antes de visitar o meu país, que
nossas ruas eram lotadas de pessoas desnutridas e que não havia transportes
decentes, que todo mundo parecia triste, que não havia vida cultural de
verdade, etc. Porém quando eles chegam na Coréia percebem que as coisas são
completamente diferentes. Por exemplo, o transporte público é quase gratuito –
você paga um pouco de dinheiro, mas comparado com o que você paga na Inglaterra
e nos EUA é basicamente gratuito. Eles não conseguiam acreditar que Pyongyang é
cheia de grandes apartamentos e casas construídos e concedidos aos cidadãos de
forma gratuita. Eles também ficavam surpresos com o fato de haver tantas
escolas muito melhor equipadas dos que as escolas públicas inglesas. Eles
descobriram que as crianças norte-coreanas em geral possuem um nível
educacional muito maior que as inglesas; que a vasta maioria das crianças norte-coreanas
desfrutam de atividades extra-escolares de graça como, por exemplo, aulas de
piano, de violino, entre outras coisas. Eles descobriram que não há pedintes
nas ruas, nem problemas com drogas. Eles descobriram que podiam sair de seus
hotéis a qualquer hora da noite e caminhar pelas ruas sem temer por sua
segurança, já que não há problemas de assaltos ou de gangues.
Então eles estavam chocados e me perguntaram porque a mídia
inglesa é sempre tão negativa em relação à RDPC e nunca menciona seus aspectos
positivos. Minha resposta é que a mídia quer apresentar a RDPC como um mal, um
tipo de inferno, porque eles querem dizer ao público inglês que não há
alternativas ao capitalismo, ao imperialismo. Eles querem que as pessoas
acreditem que há apenas um sistema econômico e político, portanto é contra seus
interesses dizer qualquer coisa positiva sobre o sistema socialista.
CM: Então se pessoas da
Inglaterra quiserem visitar a Coréia do Norte é fácil de conseguir?
YT: Sim. Há várias companhias bem conhecidas como a Regent
Hollydays, Voyagers, Koryo Tours e outras que organizam visitas em grupo.
Porque a mídia descreve a RDPC tão mal, o número de pessoas interessadas em
visitar está, na verdade, se tornando cada vez maior.
CM: Se alguém for em uma
visita, visitará apenas Pyongyang?
YT: Não, você pode visitar o lugar que quiser. Há mais e mais
opções surgindo a todo momento. Por exemplo, muitos turistas querem visitar
apenas por um dia, então eles podem fazer uma visita de um dia através da
fronteira com a China. Outra viagem que nós iniciamos é uma viagem de trem, com
trens indo da China para a Coréia. Agora há também uma viagem aérea com aviões
antigos (feitos na URSS nas décadas de 50 e 60) que é bastante apreciada por
muitos turistas. Agora uma companhia da Nova Zelândia está organizando um tour
de motocicleta por toda a península coreana. É possível encontrar tais tours na
internet.
Estas viagens têm aumentado bastante nos últimos 3-4 anos,
já que agora possuímos uma infraestrutura de apoio muito melhor e assim a
indústria de turismo se tornou mais aberta e diversificada. Nós sentimos que
isto nos ajuda em estabelecer fortes relações culturais com outros países.
CM: Cada país socialista teve sua própria maneira de organizar a democracia
popular e a participação, por exemplo, os Sovietes na URSS e os Comitês para a
Defesa da Revolução em Cuba – estruturas que permitiram que as pessoas
cuidassem de seus negócios nos locais de trabalho e nos bairros, resolvendo
seus problemas básicos e elegendo representantes para assembleias nas esferas
regionais e nacionais. Existe algo semelhante na Coréia do Norte?
YT: Claro que sim. A democracia é praticada em todos os níveis
do partido e do governo. Como você sabe, o partido mais importante do governo é
o Partido do Trabalho da Coréia. Este partido é um partido de massas, com
milhões de membros, e ele é organizado de acordo com o centralismo democrático.
Se alguém em uma estrutura do partido (uma célula) não está trabalhando de acordo
com a linha do partido que foi discutida e aprovada, então haveria críticas por
parte de outros membros do partido e a oportunidade de tal membro corrigir seu
comportamento lhe seria dada. Em cada nível do partido utilizamos este sistema
de crítica, auto-crítica e responsabilidade com o objetivo de manter o trabalho
eficiente e correto.
Nós temos a Assembléia Popular Suprema a qual poderia ser
considerada um equivalente do parlamento inglês. Sob essa Assembléia Popular
Suprema existem assembleias de província, cidade e distrito. Os membros são
todos eleitos e eles se reúnem com frequência. Eles são responsáveis por
tomarem decisões importantes de uma maneira democrática normal. Por exemplo,
dado um orçamento limitado, eles poderão ter que votar onde investirão o
dinheiro: na construção de uma pré-escola, na melhoria de um hospital e por aí
vai. Desta maneira, amplas massas de pessoas são envolvidas no processo de
administração da sociedade. Se as assembleias não funcionarem corretamente,
existem mecanismos para os cidadãos criticarem-nas e para apelarem contra decisões
errôneas e trabalho mal feito. Por exemplo, se o saneamento da água de uma vila
em particular apresenta problemas e precisa ser melhorado, então o povo local
pode ir à assembléia local para protestar. Se seus protestos são levados em
conta e a situação é melhorada, tudo bem. Caso contrário, as pessoas podem
apelar para esferas mais altas – como a da cidade ou da província – para certificar-se que a assembléia está
representando-os apropriadamente.
CM: O PTC é o único
partido político na Coréia do Norte?
YT: Existem vários partidos e organizações de massas além do
PTC, como o Partido Católico e o Partido Social-Democrata. Nós não consideramos
que existam partidos de ‘governo’ e de ‘oposição’ – todos os partidos são
amigáveis entre si e cooperam em conjunto para o desenvolvimento de nossa
sociedade. Todos os partidos participam das assembleias populares – desde que
possuam votos suficientes. Inclusive eles são representados na Assembléia
Popular Suprema.
As pessoas têm preconceito em relação ao nosso país, pois
pensam que as decisões são tomadas apenas por uma pessoa, mas como isso seria
possível? Administrar um país é um processo bem complicado e que necessita da
energia e da criatividade de muitas pessoas.
CM: Estou interessado em compreender
como a RDPC foi capaz de sobreviver nas últimas duas décadas, em um contexto
político global tão complicado. A URSS – a maior nação socialista – entrou em
colapso e as democracias populares na Europa Oriental deixaram de existir. Como
que, em um ambiente internacional tão hostil, a RDPC conseguiu se manter em pé?
YT: As últimas duas décadas foram o período mais difícil para
nós. De uma hora para outra perdemos nossos principais parceiros comerciais,
sem nenhum aviso sequer. Isto teve um impacto severo em nossa economia. E com o
desaparecimento da URSS, os Estados Unidos passaram a adotar uma política mais
agressiva, acreditando que nossos dias estavam contados. Os EUA intensificaram
o bloqueio econômico e a ameaça militar. Eles bloquearam todas as transações
financeiras entre a RDPC e o resto do mundo. Os EUA controlam o fluxo de moeda
internacional: se eles dizem que qualquer banco será alvo de sanções caso faça
negócios com a RDPC, então é óbvio que os bancos terão que seguir o que eles
dizem. Os EUA lançaram um ultimato a todas as empresas: se fizerem negócios com
a RDPC, estarão sujeitas a sanções. Esta ameaça ainda está de pé. O governo dos
Estados Unidos pensou que se eles cortassem todas as relações econômicas da
RDPC com o resto do mundo, nós teríamos que nos submeter à vontade deles. A
única razão que nos manteve em pé foi a unidade sincera de nosso povo. O povo
se uniu firmemente à liderança. E nós trabalhamos duro para resolver nossos
problemas sozinhos.
Se um dia o Reino Unido perdesse de repente todos os seus
mercados nos EUA e na Europa, seria capaz de sobreviver? Se todas as transações
financeiras são interrompidas como um país pode sobreviver? E, no entanto, nós
sobrevivemos.
CM: A conjuntura global
atualmente é mais favorável para a Coréia do Norte e para outros países que
buscam um caminho independente?
YT: Sim. As últimas duas décadas foram bastante difíceis: não só
tivemos que tentar sobreviver economicamente como também tivemos que frustrar o
militarismo agressivo dos EUA, portanto, tivemos que colocar muito investimento
e foco no fortalecimento de nosso exército, na construção de armamentos e no
desenvolvimento de nossa capacidade nuclear. Agora que possuímos armas
nucleares podemos reduzir o investimento militar, porque mesmo uma pequena arma
nuclear pode servir como dissuasão. Nós estamos em uma posição em que podemos
fazer os EUA hesitarem em nos atacar. Logo, podemos nos focar mais no bem-estar
do povo agora.
CM: Você acredita que o
declínio econômico relativo dos EUA e da Europa Ocidental ajudará a Coréia?
YT: Nós temos que esperar para ver. É verdade que o poder
econômico dos EUA está em declínio, mas precisamente por causa disso eles estão
tentando consolidar suas posições políticas e militares. Neste momento, isto é
refletido no ‘pivô para a Ásia’ [Nota do
Tradutor: política da administração de
Obama em considerar a região da Ásia e do Pacífico como fundamental para seus
interesses devido ao desafio que o crescimento do poderio chinês têm trazido
para a hegemonia dos EUA], que é uma política focada na China. Portanto, a importância
da península coreana está aumentando devido à sua proximidade com a China e com
a Rússia. A península coreana é uma espécie de ponto estratégico pelo qual os
EUA pensam poder exercer controle sobre as grandes potências da Ásia.
CM: A guerra na Síria tem
sido uma questão fundamental da política mundial nestes últimos 2-3 anos. A
RDPC continua a apoiar e continua a ser amiga da Síria. Qual é a base de tal
relação?
YT: No passado, nosso falecido presidente Kim Il-Sung teve
relações bastante amigáveis com o presidente Hafez al-Assad. Ambos os líderes
compartilhavam a opinião de que se devia lutar contra as políticas
imperialistas. A Síria sempre foi uma grande adepta da auto-determinação
palestina e era também um pilar importante contra a política dos EUA e de
Israel em relação ao Oriente Médio. Enquanto isso, a RDPC era um importante
pilar contra a política dos EUA na península coreana. Então ambos os países
compartilhavam da mesma política de luta contra o imperialismo global. Esta é a
base da solidariedade entre as duas nações.
Historicamente a Síria não foi nosso único aliado no Oriente
Médio: nós éramos muito próximos ao Egito de Nasser e à OLP de Yasser Arafat –
estes líderes e estas nações compartilhavam a mesma filosofia de independência
e desenvolvimento. Tal filosofia ainda existe entre a Síria e a Coréia do
Norte.
Sob o pretexto de introduzir direitos humanos e democracia
no Oriente Médio, os EUA e os seus aliados estão semeando o caos. A chamada ‘Primavera
Árabe’ deles criou uma situação em que centenas de inocentes são mortos todos os
dias. As pessoas estão lutando entre si no Egito, Síria, Iraque, Líbano, etc.
Isto é um reflexo da política de dividir e conquistar dos EUA. Israel – o mais
importante aliado regional dos EUA – é um país pequeno, enquanto que o mundo
árabe é bem grande; logo, os EUA e Israel temem a unidade do povo árabe. Como
eles podem quebrar essa unidade? Ele tentam semear o ódio entre as diferentes
organizações políticas, entre os diferentes grupos religiosos, entre os
diferentes países. Quando o ódio é efetivamente criado, eles encorajam as
pessoas a lutarem entre si. Esta é a ‘liberdade’ que eles levaram: a liberdade
das pessoas matarem umas as outras. Esta é a estratégia para garantir a
segurança de Israel.
É essencial para o povo árabe a compreensão desta política
de dividir e conquistar. Esta política foi utilizada por centenas de anos pelo
Império Britânico, pelos americanos e por outras potências imperialistas. As
pessoas devem se unir para que possam proteger suas crianças.
CM: Nos últimos 10 ou 15
anos surgiram algumas mudanças importantes na América do Sul e Central, a
região historicamente considerada como ‘quintal’ dos EUA. Existem agora
governos progressivos não só em Cuba, como também na Venezuela, Nicarágua,
Bolívia, Equador, Brasil, Argentina e Uruguai. Você acredita que este é um
desenvolvimento promissor?
YT: Penso que sim. O povo da América do Sul está mais consciente
do que nunca. Antigamente, a América do Sul era dominada pelo imperialismo
americano, com a maior parte dos governos – boa parte deles eram ditaduras
militares brutais – apoiados diretamente pelos EUA. Mas estes governos não
melhoraram a vida de seus cidadãos. Então agora as pessoas perceberam que elas
devem quebrar a relação de dependência em relação aos EUA. Elas decidiram tomar
conta de seus próprios destinos. Apenas dê uma olhada na Venezuela: a Venezuela
sempre foi um país rico em petróleo, mas apenas quando Chávez chegou ao poder
que a riqueza do petróleo foi distribuída também para as pessoas comuns.
A RDPC tem relações bem positivas com países
latino-americanos. Nós abrimos uma embaixada no Brasil. Nós temos ótimas
relações com a Nicarágua, Bolívia, Venezuela e Cuba, claro. Chávez queria
visitar a Coréia do Norte, mas no fim sua saúde acabou não permitindo. Porém
ele sempre promoveu boas relações entre a Venezuela e a Coréia do Norte. Ele
certamente deixou muitas saudades.
Missão de Pizzolato na Itália é destruir o processo do ‘mensalão’, diz advogado
Militante petista desde a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), candidato ao governo do Paraná em 1990 e com um histórico de contribuições às campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, ora em local desconhecido, na Europa, depositou em um banco naquele continente o dossiê de mais de mil páginas que carregou com ele, na fuga do Brasil. Mais do que documentos, Pizzolato recebeu dos companheiros presos por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), entre eles o ex-ministro José Dirceu e o deputado federal José Genoino (PT-SP), o apoio para seguir adiante na missão que, aos 61 anos, o catarinense de Concórdia pretende cumprir ao longo da vida que lhe resta.
“Decidi consciente e voluntariamente, fazer valer meu legítimo direito de liberdade para ter um novo julgamento, na Itálila, em um Tribunal que não se submete às imposições da mídia empresarial, como está consagrado no tratado de extradição Brasil e Itália”, afirmou Pizzolato na nota que o Correio do Brasil divulgou, em primeira mão.
Uma vez desmontada “a farsa do ‘mensalão”, como se referem o escritor Fernando Morais e o jornalista Raimundo Pereira, editor da revista Retrato do Brasil ao julgamento da Ação Penal (AP) 470 no STF, Pizzolato terá construído o seu caminho de volta ao Brasil e conquistado a liberdade para Dirceu e Genoino.
– Pizzolato sabe que não está na Itália a passeio, muito menos porque espera que os presídios sejam mais civilizados do que aqueles lá do Brasil. Ele está em uma missão, que significa a sua liberdade e a de seus companheiros. Todos eles poderiam, sem nenhuma dificuldade, pedir asilo em uma embaixada, mas a decisão de se entregar baseia-se, fundamentalmente, na fé em Pizzolato conseguir, junto à Justiça italiana, provar que nunca existiu ‘mensalão’ algum no Brasil. Ele espera, sim, que a Justiça italiana, livre dos interesses políticos paroquiais e do espetáculo promovido pela mídia local, saiba avaliar que ele não cometeu crime algum – afirmou, por telefone, um dos advogados do ítalo-brasileiro.
Criado em um sítio, no interior do Paraná, Pizzolato “leva a sério seus compromissos”, como atestam parentes e amigos do militante petista. Acuada pela feroz campanha na mídia conservadora, a direção do PT demonstra dificuldade para sair em defesa de seus principais líderes, como Dirceu e Genoino. A presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantêm uma distância segura do processo, embora demonstrem uma “preocupação humanista”, como afirmou Dilma, em relação ao estado de saúde do parlamentar petista.
– O fato é que apenas Pizzolato poderá desconstruir a tese que Barbosa levou quase uma década para montar. Uma vez provada a inocência dele, todo o processo cai por terra, na cabeça daqueles que o construíram – acrescentou o advogado.
Gestão de risco
Contratada à época pela administradora de cartões Visa, a agência de comunicação Ketchum Estratégia fez uma avaliação que constatou a funcionalidade do esquema montado, segundo o dossiê de Pizzolato, para que a imagem da multinacional escapasse, ilesa, da CPI dos Correios, onde se originou a AP 470. Pizzolato era o único petista na diretoria de Marketing do Banco do Brasil.
Presidente do fundo Visanet, à época, Antonio Luiz Rios da Silva foi dormir tranquilo no dia 21 de Dezembro de 2005, depois que recebeu da jornalista Mayrluce Villela, hoje empregada na estatal Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), em Brasília, a mensagem eletrônica na qual afirma, textualmente, que “quem se complicou foi o ex-diretor de Marketing do BB, Henrique Pizzolato”.
“O presidente da CPI, Delcídio Amaral, chegou a dizer que o Banco do Brasil fez jus ao ditado: ‘vão-se os aneis, ficam os dedos’, para explicar que o Banco do Brsil assumiu erros, mas jogando a responsabildiade para cima do Pizzolato. Ele (Delcídio) não acha que a Visanet tenha que explicar nada”, afirma Villela.
Antonio Rios da Silva hoje ocupa a superintendência da gráfica FTD, de propriedade da Província Marista do Brasil Centro-Sul (PMBCS), ligada aos irmãos maristas, um dos grupos católicos de ultradireita em atividade no Brasil. Em 2003, porém, logo após a derrota de José Serra para o então presidente Lula, Rios ocupava a Vice-presidência de Varejo do Banco do Brasil, de onde saiu para presidir o fundo Visanet, de onde se originaram os recursos apontados na AP 470.
Rios é acusado por Pizzolato de assinar uma “carta mentirosa”, anexada ao processo, e a manipular peritos “ao fornecer ‘informações’ inverídicas a respeito do funcionamento do fundo Visanet” e, de posse dos documentos em seu dossiê, pretende apresentá-los a uma corte italiana. Procurado pelo Correio do Brasil, Rios não estava imediatamente disponível para responder à reportagem.
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Globo pulando fora?: desmoralização de JB e do STF preocupa emissora da ditadura
MENSALÃO: Globo dá sinais de que, se farsa ruir, Barbosa é quem vai pagar a conta
por Helena Sthephanowitz, Rede Brasil Atual
Conquistada
a condenação dos réus da Ação Penal 470, o chamado mensalão, a Globo
agora quer transferir o ônus do golpismo para o STF, mais
especificamente para Joaquim Barbosa. Não parece ser por virtude, mas
por esperteza, que William Bonner passou um minuto no Jornal Nacional de
quarta-feira (20) lendo a notícia: "Divulgada nota de repúdio contra
decisão de Joaquim Barbosa".
O
manifesto é assinado por juristas, advogados, lideranças políticas e
sociais repudiando ilegalidades nas prisões dos réus do mensalão
efetuadas durante o feriado da Proclamação da República, com o ministro
Joaquim Barbosa emitindo carta de sentença só 48 horas depois das ordens
de prisão.
O
locutor completou: "O manifesto ainda levanta dúvidas sobre o preparo
ou boa-fé do ministro Joaquim Barbosa, e diz que o Supremo precisa
reagir para não se tornar refém de seu presidente".
A
TV Globo nunca divulgou antes outros manifestos em apoio aos réus,
muito menos criticando Joaquim Barbosa, tampouco deu atenção a
reclamações de abusos e erros grotescos cometidos no julgamento. Pelo
contrário, endossou e encorajou verdadeiros linchamentos. Por que,
então, divulgar esse manifesto, agora?
É
o jogo político, que a Globo, bem ou mal, sabe jogar, e Joaquim
Barbosa, calouro na política, não. E quem ainda não entendeu que esse
julgamento foi político do começo ao fim precisa voltar ao be-a-bá da
política. O PT tinha um acerto de contas a
fazer com a questão do caixa dois, mas parava por aí no que diz respeito
aos petistas, pois tiveram suas vidas devassadas por adversários, que
nada encontraram. O resto foi um golpe político, que falhou
eleitoralmente, e transformou-se numa das maiores lambanças jurídicas já
produzidas numa corte que deveria ser suprema.
A
Globo precisava das cabeças de Dirceu e Genoino porque, se fossem
absolvidos, sofreria a mesma derrota e o mesmo desgaste que sofreu para
Leonel Brizola em 1982 no caso Proconsult, e o STF estaria endossando
para a sociedade a tese da conspiração golpista perpetrada pela mídia
oposicionista ao atual governo federal.
A
emissora sabe dos bastidores, conhece a inocência de muitos condenados,
sabe da inexistência de crimes atribuídos injustamente, e sabe que
haverá uma reviravolta aos poucos, inclusive com apoios internacionais. A
Globo sabe o que é uma novela e conhece os próximos capítulos desta que
ela também é protagonista.
Hoje,
em tempos de internet, as verdades desconhecidas do grande público não
estão apenas nas gavetas da Rede Globo, como acontecia na ditadura, para
serem publicadas somente quando os interesses empresariais de seus
donos não fossem afetados. As verdades sobre o mensalão já estão
escancaradas e estão sendo disseminadas nas redes sociais. A Globo, o
STF e Joaquim Barbosa têm um encontro marcado com essas verdades. E a
emissora já sinaliza que, se ela noticiou coisas "erradas", a culpa será
atribuída aos "erros" de Joaquim Barbosa e do então procurador-geral da
República, Roberto Gurgel.
Joaquim
Barbosa, homem culto, deve conhecer a história de Mefistófeles de
Goethe, a parábola do homem que entregou a alma ao demônio por ambições
pessoais imediatas. Uma metáfora parecida parece haver na sua relação
com a TV Globo. Mas a emissora parece que está cobrando a entrega antes
do imaginado.
Fonte:http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/helena/2013/11/globo-da-sinais-de-que-se-farsa-ruir-barbosa-e-que-vai-pagar-a-conta-4280.html
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