A
crise econômica atual teve como estopim a falência do tradicional banco
de investimento estadunidense Lehman Brothers (fundado em 1850), em
outubro de 2008. Em efeito dominó, outras grandes instituições
financeiras quebraram, no processo também conhecido como “crise dos
subprimes”.
Em poucas semanas, importantes
instituições financeiras dos Estados Unidos, Reino Unido, Suíça e França
declararam ter tido perdas colossais em seus balanços, o que agravou
ainda mais o clima de desconfiança, que se generalizou. No Brasil,
grandes empresas como Sadia, Aracruz Celulose e Votorantim anunciaram
perdas bilionárias.
Desde que a crise de confiança se
agravou e se generalizou, paralisando o sistema de empréstimos
interbancários mundial, o governo estadunidense decidiu pôr de lado suas
teorias neoliberais e passou a socorrer ativamente as empresas
financeiras em dificuldades. Um pacote aprovado às pressas pelo
Congresso destinou 700 bilhões de dólares de dinheiro do contribuinte
americano para o socorro aos banqueiros.
No mesma época, países como Alemanha,
França, Áustria, Holanda e Itália anunciaram pacotes que somavam 1,17
trilhãode euros (o que equivale a 2,76 trilhões de reais) em ajuda aos
seus sistemas financeiros.
Em abril de 2009, o grupo dos vinte
países mais ricos do mundo, denominado G-20, reunido em Londres,
anunciou a injeção de um trilhão de dólares na economia mundial a fim de
combater a crise econômica global.
Entretanto, esses vultosos pacotes de
ajuda destinados a salvar bancos e grandes indústrias, que, na época
eram considerados antídotos para a crise econômica, acabaram se tornando
um fator agravante dela. Este fato é comprovado pela insolvência das
nações ditas desenvolvidas. O grande acúmulo da dívida governamental fez
estourar a capacidade de endividamento dessas nações e causou uma
enorme turbulência financeira ao provocar o temor de que essas nações
não pudessem honrar seus compromissos e decretassem o calote da dívida. A
principal consequência da crise das dívidas soberanas foi uma grande
instabilidade social, como se vê no caso da Grécia, causada pelos cortes
dos benefícios sociais que eram usados pela população dos países
desenvolvidos.
Em nações como o Japão, que detém o
maior percentual de endividamento, a relação dívida/Produto Interno
Bruto (PIB) já ultrapassa os 200%. Nos Estados Unidos, entretanto, está a
maior dívida bruta entre todas as nações do mundo, que já supera os
14,3 trilhões de dólares. Nesse ponto, aliado às recentes crises de
insolvência na Grécia, Irlanda e Portugal, e ao temor de que a Espanha, a
Itália e o Reino Unido também não consigam honrar seus compromissos, a
economia mundial sofreu mais um forte abalo.
Karl Marx, um autor que muitos
consideravam ultrapassado, já havia elaborado uma explicação para esse
fenômeno. Segundo ele, a enorme capacidade produtiva do capitalismo e a
constante valorização do capital (que aumenta muito mais rápido que o
poder de compra da população, fato que é potencializado pela sua
valorização fictícia através do aumento da especulação financeira a
partir dos anos 1970), são elementos que contradizem a capacidade de
consumo das sociedades (que, em relação a esse aumento assombroso da
produção, torna-se cada vez menor) e as condições de valorização desse
capital em permanente expansão. Daí as crises econômicas. Nas palavras
do filósofo alemão, “todas as contradições da população burguesa atingem
coletivamente a explosão nas crises mundiais gerais”.
Portanto, analisando a crise mundial
atual sob uma perspectiva marxista, não se pode admitir o argumento, que
muitos economistas difundem, de que este fato (e certamente as crises
anteriores) é fruto somente de uma desregulamentação do mercado
financeiro que não está presa a nenhuma estrutura produtiva. Um dos
fatos que negam esta opinião é o de que o primeiro estopim da crise
econômica, em 2008 (a “crise dos subprimes”), foi o aumento ilusório do
poder de compra dos cidadãos estadunidenses através da baixa de
exigências para a concessão de financiamento de imóveis. Esta medida
tinha como objetivo diminuir o excesso de oferta existente no mercado
imobiliário dos Estados Unidos, mas ela acabou fracassando devido à
falta de lastro nas negociações interbancárias com os papéis relativos
aos financiamentos. Isso caracteriza uma crise de superprodução.
Hoje o capitalismo mundial está num
campo minado, pois o extremo endividamento de muitos países,
principalmente os desenvolvidos, não permite a adoção de medidas
paliativas (de viés keynesiano), que colocam o Estado como o agente
indutor do reaquecimento da economia, através da realização de grandes
investimentos em áreas de interesse social. Aliás, a situação atual está
forçando o mundo inteiro a fazer cortes cada vez maiores de gastos nas
áreas sociais. Isso faz com que o grau de exploração sobre a classe
trabalhadora (que representa a maioria da população mundial) se torne
cada vez mais insuportável e que seja proporcionalmente necessário,
segundo Marx e Engels no livro A Ideologia Alemã, que a mesma realize a
abolição da propriedade privada e a instauração da regulamentação
comunista da produção por meio de uma revolução. Somente desta maneira, a
força da relação da oferta e da procura, que impera no modo de produção
capitalista, será reduzida a zero, e os homens retomarão o seu poder, o
intercâmbio, a produção, a sua modalidade de comportamento uns face aos
outros.
Felipe Vasconcelos Carneiro, Rio de Janeiro
Fonte: AVERDADE
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