Em abril de 2002, de quando do Golpe de Estado na Venezuela, que não durou mais que algumas dias, podendo contar-se em não muitas horas, nós pudemos ver quem é que estava por detrás das manifestações violentas. Entre essas pessoas lá estavam os patrocinadores das mesmas representando as mais altas instâncias. A Igreja Católica estava representada pelo seu cardeal. Depois também lá estavam, entre outros, inúmeros representantes do sector das comunicações, do comércio e da indústria. A mão invisível de Washington estava sendo assunto em todas as bocas, e o presidente americano de então, George W. Bush, foi o primeiro a reconhecer o governo golpista, produto de milhões de dólares investidos para derrubar Chavez, e retornar o controle do país.
Agora um cenário semelhante está se vivendo na Venezuela. Não se trata de manifestações espontâneas, como a mídia servindo os interesses do império e das oligarquias desejam que se acredite. Trata-se aqui de um plano muito bem estruturado e organizado, cujo objetivo é a derrubada do governo e a tomada do poder pela força. Os dólares é que não faltam para que se corrompa. Aqui também não há falta de cúmplices para fazer o trabalho sujo.
Já a alguns meses os venezuelanos vem sendo submetidos a uma guerra comercial, a qual tem o objetivo de privá-los dos produtos essenciais para a sua subsistência, e a manutenção da vida quotidiana. O primeiro ponto desse plano consiste em deixar dentro dos armazéns e dos grandes recipientes, nos containers, os produtos de primeira necessidade para a alimentação e lazer da população. Foi assim os centros de compras e especiarias ficaram sofrendo falta de muitos produtos. A isso ainda se ajuntou a especulação sobre os preços do que ainda estava disponível. O objetivo era o de virar a população contra o governo, e alimentar a avidez da mídia a respeito do fiasco desse socialismo, para que pudessem então dizer que esse socialismo criava falta de tudo, privando dessa maneira o povo venezuelano dos produtos mais importantes e essenciais.
Que se traga então a memória que foi exatamente esse tipo de desejado cenário que motivou a colocação do bloqueio econômico contra Cuba.
Em 1960 Lester D. Mallory, então sub-secretário assistente do Estado em Negócios interamericanos dos Estados Unidos, escreveu num memorandum que a única maneira de se derrubar Castro seria com a provocação « da fome e do desespero » entre os cubanos, a fim de que esses viessem a « derrubar o governo », o qual era apoiado pela « grande maioria dos cubanos ». Ele declarou ainda que nesse objetivo o governo americano deveria utilizar « todos os meios possíveis para minar a vida econômica de Cuba » 19.
Nós sabemos que o presidente Maduro respondeu com determinação a esse primeiro ponto do plano de destabilização. Ele pôs em dia os armazèns e containers, os grandes recipientes, completos e cheios com todas as mercadorias pondo-as em circulação nos grandes locais comerciais. Para conter a especulação sobre os preços ele fixou um preço máximo para os diversos produtos, pondo um teto de 30% aos lucros, o qual deveria basear-se no valor básico dessas mercadorias.
Na quarta, 12 de fevereiro, nós vimos o segundo ponto do plano. Estudantes, bem remunerados, foram mobilizados para sairem as ruas, protestar, provocar incidentes violentos, saquear repartições públicas e criar um clima de crise, o que permitiria a mídia, abaixo de controle do império e das oligarquias, de difundir pelo mundo imagens mostrando os estudantes em revolta contra o governo sendo fortemente reprimidos pelas forças policiais.
Até agora o governo e as forças policiais tem agido com contenção, tomando medidas com moderação, e não deixando nada de sobra para a mídia se não as ações dos próprios estudantes e dos paramilitares infiltrados no movimento. A mídia irá apelar a truques com suas fotos velhas, isso para assegurar a cobertura internacional. A história dssa montagem de velhas fotos foi trazida a luz pelo governo. Tudo ficou já muito bem demonstrado.
Trata-se aqui de um plano implicando altos dirigentes da oposição venezuelana, infiltração de paramilitares feita através dos estudantes, representantes da mídia particular da Venezuela, e como se poderia prever, de Washington com seus milhões de dólares, e suas agências de sabotagem como por exemplo a CIA. Quanto a Igreja Católica ela habitualmente sempre está pronta a condenar a violência e o desrespeito a constituição, mas isso então discretamente demais. Poderia-se aqui confirmar o ditado que diz que quem silencia, consente?
É importante se ressaltar aqui um personagem importante da Igreja e da América Latina. Trata-se de um cardeal hondurano, o cardeal Oscar Andrés Rodriguez Maradiaga. Para os que não o conhecem, esse é o cardeal de Honduras que não exitou em colaborar, em junho de 2009, com os golpistas a fim de caçar, pela força das armas, o legítimamente eleito presidente Manuel Zelaya. Esse cardeal é também um dos homens de confiança do papa Francisco. O cardeal Oscar Rodriguez trabalha como coordenador do grupo conselheiro do papa para a reforma da cúria romana.
Esse cardeal, bem ligado a Washington e ao Vaticano, fiél aliado das oligarquias de Honduras, falou com jornalistas em Berlin, ou melhor, discursou para eles, o que só poderia fazer que se pensasse que esse cardeal seria capaz de remover montanhas.
Depois de ter constatado que a globalização era um grande fracasso, e que a corrupção se alastrava, ele proseguiu zelosamente denunciando que o mesmo estava acontecendo ao sistema venezuelano, que também seria um grande fracasso, onde a corrupção perdurava, ainda que fosse com novas personagens.
Foi dito que situaçäo exigia um novo sistema de governo e de democracia.
« Quando, exclamou ele, aqui chegará uma Primavera Latinoamericana? »
Esse apelo a uma primavera latinoamericana se põe em direta relação com as primaveras árabes no Oriente Médio. Isso soa falso, e deveria levantar suspeitas. Ele finge ignorar tudo o que se passa atualmente na América Latina. Ele parece não ver o que se passa no Equador, na Bolívia, na Nicaragua, na Argentina, no Brasil e mesmo em Cuba. Ele desqualifica, sem nenhuma consideração, a Venezuela de Chavez e o socialismo do século XXI, do qual ele se guarda de mencionar. Ele parece não ver então o que se passa com a UNASUR, coma a MERCOSUR, com a ALBA e a CELAC. Ele age como se nada disso existisse. Nós poderíamos pensar que ele está em serviço, abaixo de comandado, preparando o espírito para futuras ações de sabotagem e manipulação trazendo os ares de uma nova primavera para a América Latina.
Por seu silêncio selectivo, e seus discursos sobre uma desejada primavera latinoamericana, a qual poderia já estar em marcha a alguns anos, ele abre as portas a “salvadores humanitários” que sabem como fazer bons trabalhos de sabotagem, assim também como massacres, como os do Iraque, da Líbia e agora os da Síria. [aspas acrescentadas]
Realmente, isso nos faz refletir.
Esse cardeal não me inspira realmente nenhuma confiança. Com as suas palavras e propostas ele estimula, entre outras coisas, manifestações de sabotagem, as quais poderiam ser planejadas e organizadas desde Washington.
O futuro nos dirá, em breve, se a política do Vaticano irá se ajustar as exortações apostólicas do papa Francisco, se irão permanecer como estão, ou piorar.
Nesse meio tempo o povo da Venezuela, assim como a solidariedade latinoamericana, deveria estar preparado para lutar contra novos golpes de estado na América Latina. Seria melhor que o povo contasse só consigo mesmo, não esperando nada de falsos salvadores da humanidade, alimentados pela ganância e ambições de poder. Mais uma vez o povo de Chavez e por conseguinte a América Latina provavelmente terá que vencer esses abutres.
Oscar Fortin
Québec, 14 de fevereiro de 2014-02-17Artigo em francês :
Le Venezuela de nouveau dans la mire des putschistes, 14 de fevereiro de 2014
http://humanisme.blogspot.com
Tradução Anna Malm – http://artigospoliticos.wordpress.com
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