Publicado em Carta Maior
As democracias não puderam criar um mecanismo de participação que substitua o papel dos partidos. Portanto, devemos nos preocupar em melhorar sua qualidade
Há uma afirmação recorrente: a democracia requer partidos políticos. Mas é qualquer tipo de partido político? São os partidos políticos colombianos que precisam da nossa democracia? Esta é uma premissa que requer uma séria reflexão, mas igualmente se necessita de uma ação do sistema político e de seus atores se quisermos que, de fato, a qualidade da nossa democracia melhore.
É verdade que o bipartidarismo liberal-conservador exerceu um papel importante na construção do nosso Estado-nação no século XIX, mas também contribuiu para incubar muitos de nossos problemas, especialmente a tendência ao uso da violência para atingir objetivos políticos. Mas não há dúvidas de que, durante o período da Frente Nacional [1] , que foi uma boa terapia para a violência entre os liberais e conservadores, foi prejudicial aos partidos políticos na medida em que começaram a se apagar diante da opinião dos cidadãos, que começaram a enxergá-los apenas como aparatos eleitorais clientelistas e sem diferenças político-ideológicas reais entre si.
Depois da Constituição de 1991, e como uma reação contra os partidos, iniciou-se um processo de proliferação de partidos pequenos que levou a uma extrema fragmentação da representação política. A reforma constitucional de 2003 procurou criar um marco legal para agrupar e fortalecer os partidos políticos. Porém, ter um novo sistema de partidos políticos críveis requer muito mais do que reformas normativas.
Em geral, os partidos políticos atualmente não despertam grande entusiasmo nem identificação nos colombianos. E menos ainda na população jovem, que seria a população-alvo para se seduzir. Todos percebem que os partidos estão afastados, presos em maquinarias que não refletem os interesses cidadãos e permeados por práticas clientelistas e corruptas – sem discutir se isso é verdade ou não.
Infelizmente, são as propostas personalistas ou caudilhistas que continuam atraindo a um segmento dos cidadãos, e não os partidos políticos
A relação dos partidos políticos com os jovens deveria ser uma preocupação fundamental para os líderes dos partidos. Em poucos momentos da história colombiana recente podemos afirmar que houve sintonia entre partidos políticos – independente de sua orientação política ou de sua cor – e os jovens, o que tem acontecido de modo mais acentuado nos partidos tradicionais do que nos da esquerda ou em outras opções – partidos novos ou de influência religiosa. Os jovens veem os partidos como retrógrados, não pela idade de seus dirigentes, apesar de ser também por isso, mas sobretudo pela “velhice” de suas práticas, de tuas propostas, e os percebem como excessivamente institucionalizados. Isto é, para os jovens, o sinônimo do que não se deve fazer.
Os partidos políticos devem ser mais audazes para atrair os cidadãos, e especialmente os jovens e acompanhá-los em suas propostas, que tendem a ser menos ideologizadas, defensoras da diversidade, de projetos de vida distintos, da defesa dos animais, e certamente em suas lutas – algumas escandalizam e atemorizam. Consequentemente, a maioria dos jovens, incrédulos na política e insubordinados diante do institucional, veem os partidos como um aparato por excelência para reproduzir o status quo.
Os partidos políticos têm um desafio grande, além de uma responsabilidade para melhorar a qualidade da nossa democracia. Devem ser sérios em seus programas, cumprir adequadamente sua função de representante de setores de opinião, serem capazes de ter um funcionamento interno democrático em sua estrutura de direção e condução, e as convenções não podem ser espaços para impedir que opiniões divergentes se manifestem, e tampouco para simplesmente ratificar aquilo que já foi acordado nos bastidores.
As democracias não puderam criar um mecanismo de participação que substitua o papel dos partidos. Portanto, todos nós devemos nos preocupar em melhorar sua qualidade.
[1] Período da Frente Nacional se refere aos anos entre 1958 e 1974, quando esteve vigente, na Colômbia, um pacto de alternância no poder entre liberais e conservadores. Por dezesseis anos, esses partidos tradicionais revezaram o Executivo e dividiram as cadeiras no Parlamento, bem como os cargos da administração pública.
(*) Alejo Vargas Velásquez é professor da Universidade Nacional da Colômbia
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