publicado no Brasil 247
MAURO SANTAYANNA
A partir de agora, o número de novos imigrantes europeus estará regido por quotas e dependerá, também, da prioridade a ser estabelecida para cidadãos locais no mercado de trabalho helvéticoTalvez o mais europeu dos países da Europa – nos seus cantões convivem as culturas alemã, francesa e italiana – a Suiça acaba de aprovar um referendo sobre "Imigração Maciça" que limitará, a partir de agora, a entrada de cidadãos da Comunidade Europeia, passando a tratá-los da mesma forma, para efeito de residência, vistos de trabalho, e direito sociais, que imigrantes de outras partes do mundo, como a África e a América Latina, por exemplo.
Além disso, a contratação de estrangeiros voltará a necessitar do consentimento prévio das autoridades locais, que terão de dar prioridade, primeiro, a qualquer cidadão suíço que estiver desempregado.
Para a vitória da proposta, apresentada pelo direitista Partido do Povo Suiço (SVP), foi fundamental o crescimento da imigração nos últimos anos – há 1.800.000 estrangeiros vivendo na Suiça, ou 23,3% da população – e outras alegações como "os interesses gerais da economia suíça"; a presença, no mercado, de trabalhadores "transfronteiriços", que vivem em outros países e trabalham em território suíço, e também – infelizmente – de asilados.
A Confederação Suiça tem uma das mais altas rendas per capita da região, o equivalente a 58.000 mil euros brutos por ano, e uma pequena taxa de desemprego de 3.7%, o que tem atraído trabalhadores de países em crise com altas taxas de desemprego, como a Espanha - com 27% da população desempregada - que tem aproximadamente 100.000 cidadãos vivendo naquele país.
Com a medida, deixam de ter validade os chamados "Acordos Bilaterais" com a União Europeia, em vigor desde 2002, que garantiam a livre circulação e a liberdade de residência de cidadãos "comunitários" e suíços, seu direito de viver em qualquer lugar da UE ou da Suiça, sempre que tivessem emprego ou uma atividade econômica regular.
A partir de agora, o número de novos imigrantes europeus estará regido por quotas e dependerá, também, da prioridade a ser estabelecida para cidadãos locais no mercado de trabalho helvético.
Como um bumerangue, a nova lei suíça está fazendo com que o resto da Europa esteja vivendo a surpresa de ver o feitiço voltar-se contra o feiticeiro, e de experimentar, didaticamente, como um repugnante remédio, um pouco de seu próprio veneno.
Mesmo que levada a isso pela extrema direita, ao tratar cidadãos da União Europeia da mesma forma que os "comunitários", muitos de países que nos enviaram milhões de emigrantes, como Portugal, Itália e Espanha, sempre trataram os estrangeiros "extracomunitários", como os da América Latina, a Confederação Suiça está exercendo, de alguma maneira, uma certa espécie de "justiça poética".
Ela mostra que o racismo, a arrogância e a xenofobia não isentam quem os pratica de ser tratado, também, por outros, do mesmo jeito excludente e humilhante. E ensina que, por mais que acredite no contrário, a ninguém foi dado o direito de estar acima de outros seres humanos.
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