Num período de intensa polarização
política no cenário mundial, diante do avanço do fascismo em nível
internacional e do integralismo no âmbito nacional, a Aliança Nacional
Libertadora (ANL), criada em março de 1935, desempenhou um papel
relevante na mobilização de amplos segmentos da sociedade e da opinião
pública brasileira em defesa das liberdades públicas, gravemente
ameaçadas pelos adeptos da Ação Integralista Brasileira (AIB), liderados
por Plínio Salgado.
Nesse processo, a influência dos
comunistas mostrou-se decisiva não só na formação da ANL e em sua
atividade legal, durante os meses de março a julho de 1935, como,
principalmente, na preparação dos levantes armados de novembro daquele
ano, realizados sob as bandeiras da ANL. O grande prestígio de Luiz
Carlos Prestes - o Cavaleiro de uma Esperança que renascera com o
desgaste de Vargas após a ?Revolução de 30? - foi um fator fundamental
para a difusão e a penetração, junto a setores diversificados da
sociedade brasileira, do prograna antiimperialista, antilatifundista e
democrático levantado pelo Partido Comunista do Brasil (PCB) e adotado
pela ANL.
A justeza desse programa se evidencia pela aceitação e a repercussão
que obteve junto aos setores progressistas e democráticos da opinião
pública nacional. Como consequência, a ANL veio a transformar-se, em
pouco tempo, na maior frente única popular jamais constituída no Brasil.
Seu lema: ?Pão, Terra e Liberdade?, inicialmente lançado pelo PCB,
empolgou centenas de milhares de brasileiros.
Os comunistas, entretanto, cometeram um
grave erro de avaliação ao caracterizarem a situação do país, em 1935,
como ?revolucionária?, considerando que o desgaste do Governo Vargas
seria tal que as suas condições de governabilidade estariam esgotadas.
Confundindo os desejos com a realidade, os comunistas e muitos dos seus
aliados superestimaram as possibilidades reais de organização e
mobilização das massas populares. Consideraram que havia chegado a hora
de levantar a questão do poder, lançando a diretiva de um Governo
Popular Nacional Revolucionário, formado pela ANL, através de uma
insurreição popular. A proposta dos comunistas, assumida pela ANL,
mostrou-se fantasiosa e, portanto, inexeqüível, resultando na derrota do
movimento.
A inviabilidade de promover uma
insurreição das massas trabalhadoras no Brasil, em 1935, aliada à
conjuntura de intensa agitação e efervescência política então presente
nas Forças Armadas, induziu os comunistas e seus aliados da ANL a
sucumbirem à influência das concepções golpistas e de ?salvacionismo?
dos militares, fortemente arraigadas no imaginário nacional. Tal
fenômeno sobreveio, apesar dos esforços desenvolvidos para organizar e
mobilizar as massas, assim como das repetidas e insistentes declarações
do PCB, de Prestes e da ANL condenando o golpismo.
As Forças Armadas e, principalmente, o
Exército passaram a ser vistos pelos comunistas e aliancistas como o
instrumento privilegiado para desencadear a almejada insurreição
popular, na medida em que a mobilização dos setores civis mostrava-se
mais demorada e difícil. O renascimento das concepções golpistas e
?salvacionistas? explica o caminho trilhado pela ANL: da amplitude
inicial, quando a entidade se manteve dentro da legalidade, ao
radicalismo revelado com a eclosão dos levantes armados de novembro de
35.
A persistência de tais concepções pode
parecer fruto das influências tenentistas, supostamente trazidas, tanto
para o PCB quanto para a ANL, por L. C. Prestes e muitos dos elementos
provenientes do tenentismo. Sem negar tais influências, é necessário
considerar que o próprio tenentismo foi um movimento marcado pelo vigor
das tendências golpistas e ?salvacionistas?, resultantes da
especificidade do processo histórico de formação da sociedade
brasileira. Uma sociedade, na qual as classes dominantes sempre tiveram
força para impor aos setores populares um estado de desorganização e
desestruturação social, que viria a tornar-se um dos seus traços
característicos; uma sociedade excludente e ?gelatinosa?, na qual não
restariam espaços para que as massas populares fossem ouvidas, nem
canais através dos quais elas pudessem fazer valer seus direitos e
reivindicações. A expectativa de um golpe ?salvador? seria a
consequência natural de tal estado de coisas.
Se, em 1935, o golpismo dos comunistas e
de muitos dos seus aliados se revelou no fato de haverem delegado aos
militares o papel de detonadores da ?insurreição das massas
trabalhadoras?, deve-se considerar que o conteúdo do programa então
defendido - antiimperialista, antilatifundista e democrático - era
inteiramente distinto das propostas tenentistas. Sejam as propostas
liberais dos ?tenentes? dos anos 20, sejam as propostas autoritárias do
tenentismo do início dos anos 30. Em 1935, os militares, que iriam
desencadear a insurreição projetada, não eram mais tenentistas, mas
seguidores de Prestes, que, desde seu Manifesto de Maio de 30, deixara
de ser ?tenente? para tornar-se adepto das teses levantadas pelos
comunistas - as mesmas que seriam encampadas pela ANL.
Mas o revés do movimento antifascista no
Brasil, em 1935, não se explica apenas pela influência das concepções
golpistas e ?salvacionistas?. O Governo Vargas pôde tirar partido de uma
conjuntura internacional favorável ao fascismo e aos regimes
autoritários para, com o apoio da direita e brandindo as bandeiras do
anticomunismo, impor uma grave derrota às forças democráticas e
progressistas do país.
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segunda-feira, 19 de março de 2012
A Aliança Nacional Libertadora (ANL) e os Levantes Anfifacistas de Novembro de 1935
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