(No dia 13 de Março Gregório Bezerra completaria 112 anos. Publicamos aqui um texto do Jornal da JCA de março de 2010, trazendo a tona um pouco da história deste revolucionário, exemplo para os jovens de hoje)
"Mas existe nesta terra
muito homem de valor
que é bravo sem matar gente
mas não teme o matador,
que gosta da sua gente
e que luta a seu favor,
como Gregório Bezerra,
feito de ferro e de flor".
Ferreira Gullar
A “história oficial” faz sempre questão de apagar os episódios mais belos, os personagens mais sinceros, individuais ou coletivos, da luta popular. Nesse 2010, não poderíamos deixar de lembrar de um dos mais altos expoentes dessa luta. 13 de Março completa 110 anos do nascimento de Gregório Lourenço Bezerra, comunista brasileiro do município de Panelas, em Pernambuco.
Nascido no semi-árido nordestino aprendeu desde cedo que para viver nessa sociedade era preciso ter casca de jabuti. Filho de família rural pobre, Gregório viveu na República Velha o tempo dos “coronéis”, do mandonismo e do voto de cabresto, sofreu da seca nordestina e da fome. Perdeu os pais muito cedo: o pai faleceu após um acidente de trabalho em uma usina de açúcar; a mãe morreria em meio a uma viagem de fuga dos abusos cometidos pelos donos do engenho aos trabalhadores e suas famílias. Esse episódio foi muito marcante para o “Grilo” – como foi carinhosamente apelidado pelos familiares devido à aparência raquítica – que viajou a pé 48 km, com apenas 6 anos, sozinho para buscar duas galinhas e um vidro de remédio na esperança de salvar sua mãe, que não resistiria. Gregório viveu os últimos anos da infância com a avó, sofrendo as crueldades do latifúndio e do sistema capitalista que se desenvolvia no Brasil, mas também ali aprendeu a prática da partilha e da solidariedade entre os trabalhadores.
Perto da adolescência vai trabalhar na casa de um senhor de engenho em Recife. Era um trabalho humilhante, e Gregório opta por fugir e virar menino de rua, trabalhando durante algum tempo como freteiro e depois vendendo jornais. Ainda analfabeto (iria se alfabetizar somente aos 25 anos) trabalha na usina, na construção civil, se envolvendo nas primeiras manifestações e greves operárias impulsionadas pelo anarco-sindicalismo. Isso lhe rendeu, aos 17 anos, os primeiros 5 anos de prisão.
Depois de libertado, ingressou para o exército, e aprendendo a ler e escrever, alcançou o posto de sargento. Passou a trabalhar muito sua formação política, se aproximando do PCB, ao qual ingressou em 1930. Como comunista, foi deportado para o RJ após denúncias. O integralismo, de clara inspiração fascista, crescia, e em resposta movimentos populares e partidos políticos organizaram a ANL (Aliança Nacional Libertadora) da qual o PCB participava ativamente. Com a pauta de distribuição de terras aos camponeses, nacionalização das empresas, bancos, cancelamento da dívida externa, a ANL ganhou adesão popular, mas o comando revolucionário, em avaliação precipitada optou pelo levante armado que logo foi sufocado. Gregório Bezerra participaria ativamente do levante, sendo preso por mais dez anos. Mesmo sofrendo violentos interrogatórios e torturas, Gregório estava decidido a nada falar sobre seus camaradas e sobre o partido.
Com a derrota do nazifascismo e o fim da II Guerra, os presos políticos são anistiados em Abril de 45. O PCB entraria para a legalidade, elegendo uma importante bancada para a Assembléia Constituinte: à frente estava Luiz Carlos Prestes como senador e outros 14 deputados. Entre eles, Gregório Bezerra, eleito com expressiva votação, o que aumentaria ainda mais seu prestígio popular. Com o crescimento do movimento popular, o PCB seria posto novamente na ilegalidade em 47 e os parlamentares seriam cassados.
Gregório seria então preso ilegalmente, sendo acusado de um incêndio a um quartel no Recife. Mesmo com a ausência de provas que o incriminassem, isso lhe custou mais dois anos de prisão. Mas sempre fiel à causa dos trabalhadores, Gregório não esmoreceu, e nos anos de clandestinidade que seguiriam andaria pelos quatro cantos do país organizando o partido e o movimento, com especial dedicação na sindicalização dos trabalhadores rurais e na organização das Ligas Camponesas na luta pela Reforma Agrária. No final dos anos 50 seria preso novamente por pouco tempo.
No curto período de legalidade que seguiria, Gregório viajaria para a União Soviética e para a China, voltando para Recife aonde faria um intenso trabalho de massas, fazendo com que aumentasse a fúria dos latifundiários e usineiros da região. A intensa agitação em torno das reformas de base faria com que as classes possuidoras passassem a organizar um golpe de Estado. No clima de efervescência, Gregório voltava ao campo para debater a situação com os trabalhadores, mas foi detido. Seria barbaramente torturado pelo general Villoc, chegando a ser arrastado com cordas no pescoço pelas principais ruas de Recife. A ditadura o condenaria à 19 anos de prisão. Mas em 69, devido ao bem sucedido seqüestro do embaixador americano promovido por organizações político-militares da época, Gregório Bezerra seria libertado com 15 presos políticos. Na ocasião, Gregório afirmou em declaração:
“aceitando a minha libertação, faço questão de declarar que não abdicarei jamais dos princípios marxista-leninistas, que orientam a luta da massa contra as forças da exploração e do imperialismo longe do Brasil, farei tudo para participar da luta do nosso povo por sua final libertação".
Ele viveria 10 anos de exílio em Moscou, voltando ao Brasil em 79 após a anistia política. Já não era mais militante do PCB por discordar dos caminhos assumidos pelo partido, saindo junto de outros militantes após a crise política vivida na década de 80, mas seguiria na luta até 83, quando faleceu.
Gregório Bezerra, amante da liberdade, exemplo de humanidade, seguimos teu caminho comunista na chama acesa em nossa luta!
Fonte: Jornal Avançando Ano II noII
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