As gestões sobre a crise na Síria continuam em vários níveis,
direções e cenários, enquanto no Conselho de Segurança persistem
posições distantes entre seus cinco membros permanentes.
Por Víctor M. Carriba*
Na terça-feira passada (13), o enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Koffi Annan, se reuniu na Turquia, separadamente, com o representante do chamado Conselho Nacional de Transição sírio, Burhan Ghalioun, e o chefe do governo turco, Recep Tayyip Erdogan.
Com o primeiro manteve "uma discussão útil e construtiva" e com o segundo analisou a situação na Síria e as ações que tem realizado desde sua designação como mediador em busca de uma solução para a crise.
A Turquia foi apontada como base do grupo armado Exército de Libertação Sírio que enfrenta o governo do presidente Bashar Assad.
O ex-secretário geral da ONU disse que estava esperando uma resposta do governo sírio às propostas apresentadas durante a visita de dois dias que realizou no final de semana passado a Damasco, sem dar detalhes a respeito.
Uma vez que as receba saberemos como reagir, precisou, em declarações feitas em Ancara e reproduzidas pelo porta-voz das Nações Unidas.
Durante sua estada na capital síria, Annan se reuniu duas vezes com Assad e líderes religiosos, como o Grande Mufti da República, Jeque Hassoun, e o Patriarca da Igreja Cristã Ortodoxa de Antioquia e Todo o Oriente, Ignacio IV Hazim.
Também na terça-feira passada, o mandatário promulgou um decreto que fixa para 7 de maio próximo a realização de eleições legislativas nacionais sob as normas da nova Constituição aprovada em 22 de fevereiro último.
Nessas eleições participarão pela primeira vez organizações políticas que não integram a aliança governamental encabeçada pelo Partido Árabe Socialista Baath e situadas na oposição.
Enquanto isso, o Conselho de Segurança da ONU trata de se repor do forte choque registrado na véspera entre Estados Unidos, França e Reino Unido, por um lado, e Rússia e China, por outro,
durante um debate público sobre o conflito na Síria.
Em seus respectivos discursos, Rússia e China insistiram em rechaçar qualquer intervenção militar estrangeira no país árabe, as demandas de mudança de regime e a imposição de sanções unilaterais.
Embora sem mencionar nomes, o chanceler russo, Serguei Lavrov, denunciou o estímulo à oposição síria em sua confrontação com o governo e os chamados ao enfrentamento armado e à intervenção militar estrangeira.
Disse que as autoridades sírias "não lutam contra homens desarmados, mas contra unidades de combate como o denominado Exército de Libertação Sírio e grupos extremistas, incluída a Al Qaeda, a qual tem cometido diversos atos terroristas".
Lavrov reiterou a proposta conjunta apresentada na semana passada pela Rússia e a Liga Árabe e que reclama que cesse a violência de todas as partes, a criação de um mecanismo imparcial de monitoramento e o fim da interferência estrangeira.
Também mencionou a abertura da Síria à assistência humanitária e a necessidade de dar um forte respaldo à missão de mediação empreendida por Annan.
Por sua parte, o embaixador da China na ONU, Li Baodong, ratificou o apoio de seu país a um diálogo político na Síria e exigiu que cesse imediatamente a violência, assim como o respeito à integridade, soberania e independência desse Estado árabe.
Não favorecemos nenhum partido na Síria, apenas os princípios da Carta da ONU e do Direito Internacional, precisou, e advertiu que "as resoluções do Conselho de Segurança devem ser cumpridas estritamente" e não interpretadas segundo conveniências individuais.
Tanto Moscou como Pequim expressaram seu respaldo à gestão mediadora de Annan.
Contudo, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, lançou um duro ataque contra as posturas de Rússia e China, países que vetaram em duas ocasiões os projetos de resolução impulsionados por Washington sobre a Síria.
Essas iniciativas, secundadas pelo Reino Unido, França, Alemanha e alguns países árabes, buscavam o aval do Conselho de Segurança para forçar a saída de Assad do poder em Damasco.
Em sua diatribe, Clinton chegou a justificar os grupos armados opositores sírios como civis que atuam em defesa própria.
Depois da candente reunião, o Conselho de Segurança mantém sobre a mesa outra proposta apresentada há várias semanas pelos Estados Unidos e que persiste em condenar somente o governo sírio como responsável pelo conflito.
*Chefe da sucursal de Prensa Latina na Nações Unidas.
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