Havana
(Prensa Latina) Sem os recursos naturais da Líbia, mas no coração do
conflito no Oriente Médio, a Síria é atraente para as nações ocidentais
que tentam desestabilizar o país, avaliou nesta capital a jornalista
libanesa Ogarite Dandache.
Jovem repórter com experiência em coberturas na região, considerou em
entrevista exclusiva à Prensa Latina que além do interesse pelas
riquezas desses territórios árabes, os Estados Unidos e os países
europeus envolvidos querem a Síria e a Líbia por sua posição geográfica e
pelas relações internacionais.Desde o início dos distúrbios nestas
terras árabes, Dandache visita-as frequentemente e nos últimos meses
permaneceu nas cidades sírias de Alepo e Damasco, unida ao exército da
nação para cobrir as batalhas.
Apesar de o conflito na Síria se
estender por dois anos, o povo ainda resiste, assegurou, eles continuam
lutando numa disputa que diz respeito a todos porque pode mudar o mundo.
A jornalista explicou que a resistência síria não só enfrenta a invasão
dos Estados Unidos, governo que envia seus aviões e helicópteros ao
Oriente Médio, mas que nessa luta também defendem seus pontos de vista
políticos e sua ideologia.
Por outro lado, assinalou que a
oposição é integrada por pessoas vindas de várias partes do mundo: "é
gente que mata sem se importar, e não estão interessados no presidente,
Bashar al Assad, nem nada disso, vieram pela mentalidade de matar aos
que não pensam igual a eles".
Não obstante, alertou, nessa nação
as coisas são diferentes ao sucedido na Líbia, já que os sírios são
mais fortes e sabem como podem jogar este jogo.
Na Síria estão
conscientes do que está passando, continuou, e ao mesmo tempo os países
vizinhos sabem que se ocorre algo ali, os prejudicará também de alguma
maneira.
"Então, eles não estão lutando só por seu país, mas por
toda a região, isso nos ajudará a todos a resistir e a ganhar nossas
causas".
A jornalista da rede televisiva Almayadeen também
esteve várias vezes na Líbia para ser testemunha das contendas armadas e
"comprovar por mim mesma que eram os supostos rebeldes".
Agregou que ao chegar percebeu que os acontecimentos não tinham nada a
ver com rebeldes nem com revolução, o que interessava era o petróleo, o
gás, isto é, os recursos naturais do país.
"Numa ocasião visitei
uma pequena cidade, Ras Lanuf, a qual estava muito conturbada porque
nela havia petróleo, e esse lugar era para eles -a oposição- mais
importante até que Bengasi, por exemplo, a segunda maior cidade do
país".
Dessas experiências, Dandache concluiu que há algo maior nos planos e que inclui toda a região, não só a Líbia ou a Síria".
JORNALISMO, MINHA FORMA DE SALVAR O MEU POVO
Como profissional do jornalismo, Ogarite Dandache pôde se dedicar a
reportar espetáculos, eventos científicos, eventos esportivos ou
processos eleitorais; no entanto sua decisão foi outra: cobrir a guerra.
De acordo com suas palavras, para ela há princípios acima do perigo que
significa ir ao campo de batalha armada com câmeras, gravadores e
microfones.
"Dispararam no primeiro câmera que levei, e mesmo
que não lhe tenha causado muito dano, porque levava um jaleco antibalas,
a impressão foi forte. Eu sei que é perigoso, mas é minha forma de
lutar por minha causa", assegurou.
Com a naturalidade de quem fala sobre algo habitual, ela assume que pode morrer de muitas maneiras.
"Posso dirigir por qualquer lugar e ter um acidente. A morte é normal,
algo que devemos aceitar porque vai chegar em algum momento, e para mim
vale a pena morrer fazendo meu trabalho e lutando para salvar meu povo,
por minha independência, por minha dignidade. É meu dever", afirmou.
Na opinião da libanesa, o jornalismo é hoje uma arma principal, uma das
mais valiosas nas guerras contemporâneas, e considera necessário usar
contra o inimigo para desmascará-lo.
A isso se soma, continuou,
que muitas pessoas no mundo não sabem nada sobre as causas no Oriente
Médio; eu tenho que mostrar ao mundo nossas lutas e sobretudo nosso
direito de lutar.
"Nós lutamos para defender o direito à
independência, por nossa dignidade, de usar os recursos naturais que
estão em nossos territórios em benefício de nossos povos", apontou.
No entanto, para fazer seu trabalho teve que ultrapassar obstáculos
como a indecisão por parte dos que a dirigem na rede televisiva.
"Foi duro para eles me deixarem ir sem saber se ia regressar. Mas
quando fiz meus primeiros trabalhos na Líbia, Iêmen e Egito, começaram a
confiar e agora me deixam livre para ir onde eu quiser, porque sabem
que trarei muito trabalho, e acho que bom trabalho", assinalou.
No caso de minha família, agrega, preocupam-se o tempo todo, "às vezes
estou em regiões onde não há telefone, nem Internet e é realmente
perigoso. Mas sei que no fundo estão orgulhosos".
QUANDO ME PROPUSERAM VIR A CUBA DISSE: SIM, EU VOU
Ainda que a rotina de trabalho desta jornalista centre-se na área de
conflitos do Oriente Médio, ela decidiu fazer um alto para vir a Cuba.
"Há vezes em que meu diretor me manda a lugares e noutras eu decido por
minha conta. Em ocasiões pediram-me para cobrir coisas e tenho dito que
não porque acho que outros podem fazê-lo, mas quando me propuseram vir a
Cuba disse: Sim, eu vou".
Entre as motivações da visita,
destacou que "quero compreender como por cinquenta anos, vocês têm
resistido contra o maior império que já existiu".
Vim porque
considero-o parte de meu dever, afirma, porque o que vocês estão fazendo
aqui é parte da nossa guerra e nossa resistência contra o inimigo. É
minha primeira visita, mas acho que não será a última.
*Jornalista da redação Nacional da Prensa Latina. |
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