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quarta-feira, 26 de julho de 2017

Princípios Elementares de Filosofia - Materialismo filosófico Capítulo II



QUE SIGNIFICA SER MATERIALISTA?

I.     – União da teoria e da prática.
II.    -  Que significa ser adepto do materialismo, no domínio do pensamento?
III.   -  Como se é materialista na prática?
                a) Primeiro aspecto da questão.
                b) Segundo aspecto da questão.
IV.   – Conclusão.

I.    – União da teoria e da prática.

O estudo que prosseguimos tem por fim fazer conhecer o que é o marxismo, ver como a filosofia do materialismo, tornando-se dialética, se identifica com o marxismo. Sabemos já que um dos fundamentos desta filosofia é a estreita ligação entre a teoria e a prática.

É por isso que, depois de ter visto o que é a matéria para os materialistas, em seguida, como ela é, é indispensável dizer, após estas duas questões teóricas, o que significa ser materialista, isto é, como age o materialista. É o lado prático destes problemas.

A base do materialismo é o reconhecimento do ser como origem do pensamento. Mas basta repetir isso continuamente? Para ser um verdadeiro adepto do materialismo consequente, é preciso sê-lo.

                  1. no domínio do pensamento;
                  2. no domínio da ação.

II.    – Que significa ser adepto do materialismo, no domínio do pensamento?

Ser adepto do materialismo, no domínio do pensamento é, conhecendo a formula  fundamental do materialismo – o ser produz o pensamento -, saber como se pode aplicar essa fórmula.

Quando dizemos: o ser produz o pensamento, temos uma formula abstrata, porque as palavras: ser e pensamento são abstratos. O “ser”, é do ser em geral que se trata; o “pensamento”, é do pensamento em geral que se quer falar. O ser, como o pensamento em geral, é uma realidade subjetiva (ver primeira parte, capítulo IV, a explicação de “realidade subjetiva” e de “Realidade objetiva”); isso não existe: é o que se chama uma abstração. Dizer: o “o ser produz o pensamento” é, pois, uma fórmula abstrata, por que composta de abstrações.

Assim, por exemplo: conhecemos bem os cavalos, mas se falamos do cavalo, é do cavalo em geral que queremos falar; pois bem o cavalo em geral é uma abstração.

Se pomos, no lugar do cavalo, o homem ou o ser em geral, são ainda abstrações.

Mas se o cavalo em geral não existe, que é que existe? São os cavalos em particular. O veterinário que dissesse: “Trato do cavalo em geral, mas não do cavalo em particular” seria ridículo; tal como o médico que mantivesse os mesmos propósitos acerca dos homens.
O ser em geral não existe, portanto; o que existe são seres  particulares, que tem qualidades próprias. Acontece o mesmo com pensamento.

Diremos, pois, que o ser em geral é qualquer coisa de abstração e que o ser em geral e qualquer coisa de abstrato e que o ser particular é qualquer coisa de concreto; assim como o pensamento em geral e o pensamento particular.

O materialismo é o que sabe reconhecer, em todas as situações, que sabe concretizar onde está o ser e onde esta o pensamento.

Exemplo: o cérebro e as nossas ideias.

É-nos preciso saber transformar a fórmula geral abstrata numa formula concreta. O materialista identificará, portanto, o cérebro como sendo o ser e as nossas ideias como sendo o pensamento. Raciocinará dizendo: é o cérebro (o ser) que produz nossas ideias (o pensamento).  É este um exemplo simples, mas tomemos outro mais complexo, o da sociedade humana, e vejamos como os raciocinará  um materialista.

A vida da sociedade compõe-se de uma vida econômica  e de uma outra política. Quais as relações entre elas?... Qual é o fator primeiro desta formula abstrata de que queremos fazer uma concreta?

Para o materialista, o fator primeiro, isto é, o ser, aquele que dá vida à sociedade, é a vida econômica.

O fator segundo, o pensamento que é criado pelo ser, que sem ele não pode viver, é a vida política.

O materialista dirá, pois, que a vida econômica explica a vida política, uma vez que esta é um produto daquela.Tal constatação, feita aqui sumariamente, é a raiz do que se chama o materialismo histórico, e foi feita, pela primeira vez, por Marx e Engels.

Eis um outro exemplo mais delicado: opoeta.  É certo que numerosos elementos  entram em linha de conta para “explicar” o poeta, mas queremos aqui mostrar um aspecto desta questão

Dir-se-á, geralmente, que o poeta escreve porque a tal é obrigado pela inspiração.  É isso suficiente para explicar que o poeta escreve isto de preferência àquilo? Não. O poeta tem certos pensamentos na cabeça , mas é tembem um ser que vive na sociedade. Veremos que o fator primeiro, o que dá vida própria ao poeta, é a sociedade, visto que o fator segundo são as ideias que o poeta tem no cérebro. Por consequência , um dos elementos, o elemento fundamental que “explica” o poeta será a sociedade, isto é, o meio em que vivena sociedade. ( Votaremos encontrar o “poeta” quando estudarmos a dialética, porque teremos então todos os elementos para estudar bem este problema.)

Vemos, por estes exemplos, que o materialista é aquele que sabe aplicar em toda a parte e sempre, a cada movimento e em todos os casos, a fórmula do materialismo.

III.  -  Como se é materialista na prática?

1. Primeiro aspecto da questão.
Vimos que não há terceira filosofia e que, se não se é consequente na aplicação do materialismo, ou se é idealista, ou uma mistura de idealismo e materialismo.

O sábio burguês, nos seus estudos e experiências, é sempre materialista. Isso é normal, porque, para fazer avançar a ciência, e preciso trabalhar na matéria, e se o sábio pensasse verdadeiramente que ela apenas existe no seu espírito, acharia inútil fazer experiências.

Há, portanto, várias espécies de sábios.
1. Aqueles que são materialistas conscientes e consequentes.
2. Os que são materialistas sem o saber: isto é, quase todos, porque é impossível fazer ciência  sem admitir a existência da matéria. Mas, entre estes últimos, é preciso distinguir:
          a)  Os que começam por seguir o materialismo, mas param, porque não ousam assim dizer-se: são os agnósticos, aqueles que Engels chama os “materialistas envergonhados’.
          b)  Depois, os sábios materialistas sem o saber e inconsequentes. São materialistas no laboratório , mas, fora de seu trabalho, são idealistas, crentes, religiosos.

Com efeito, estes últimos não souberam ou não quiseram arrumar as suas ideias. Estão em perpetua  contradição com eles próprios. Separam os seus trabalhos, forçosamente materialistas, das suas concepções filosóficas. São “sábios”, e, todavia, se não negam expressamente a existência da matéria, pensam o que é pouco cientifico, que é inútil conhecer a natureza real das coisas. São sábios, e, no entanto, acreditam, sem nenhuma prova, em coisas impossíveis. (Ver os casos de Pasteur, Branly e outros que eram crentes, enquanto que o sábio, se é consequente, deve abandonar sua crença religiosa.) Ciência e crença opõem-se absolutamente.

2. Segundo aspecto da questão.
O materialismo e a ação:  Se é verdade que o verdadeiro materialista é aquele que aplica a formula que é a base desta filosofia, em toda a e em todos os casos, deve prestar atenção em aplica-la bem.
Como acabamos de ver, é preciso ser  consequente, e, para ser um materialista consequente, transpor o materialismo para a ação.
Ser materialista na prática e agir em conformidade com a filosofia, tomando por fator primeiro, e o mais importante, a realidade, e por segundo, o pensamento.
Vamos ver que atitudes assumem os que, sem hesitar , tomam o pensamento pelo fator primeiro, e são, portanto, nesse momento, idealistas sem o saber.
1.  Como se chama o que vive como se estivesse só no mundo? Individualista. Vive curvado sobre si mesmo; o mundo exterior só existe pra ele. Para ele, o importante é ele, é o seu pensamento. É um puro idealista,ou o que se chama solipsista. (Ver explicação desta palavra, primeira parte, cap. II.)
O individualista é egoísta, e ser egoísta não é uma atitude materialista.  O egoíta limita o universo a sua pessoa.

2. O que aprende pelo prazer de aprender, como diletante, por ele, assimila bem, não tem dificuldades, mas guarda isso só para si. Concede uma importância primeira a ele próprio, ao seu pensamento.
O idealista é fechado ao mundo exterior, à realidade. O materialista é sempre aberto à realidade; é por isso que aqueles que seguem cursos de marxismo, e que aprendem fácil, devem tentar transmitir o que aprenderam.
3. O que raciocina em todas as coisas relacionando-as consigo mesmo  sofre uma deformação idealista.
Dirá, por exemplo, de uma reunião onde foram ditas coisas desagradáveis  para ele: “É uma reunião maldizente”. Não é assim que as coisas devem ser analisadas; é preciso julgar a reunião relacionando-a com a organização, sua finalidade, e não com relação consigo mesmo.
4.  O sectarismo também não  é uma atitude materialista. Porque o sectário que compreendeu os problemas, e está de acordo consigo próprio, pretende que os outros devem ser como ele. E dar ainda a importância primeira a si ou a uma facção.
5.  O doutrinário que estudou os textos, tirou definições, é ainda idealista quando se contenta em citar textos materialistas, quando vive somente com seus textos, porque o mundo real então desaparece. Repete essas formulas sem na realidade aplicar. Dá importância primeira aos textos, às ideias . A vida desenrola-se na sua consciência sob a forma de textos, e, em geral, constata-se que o doutrinário é também um sectário.
Crer que a revolução é uma questão de educação, dizer que explicando,  “de uma vez para sempre”, aos operários a necessidade da revolução eles devem compreender, e que, se não querem compreender, não vale a pena tentar fazer a revolução, é sectarismo, não é uma atitude materialista.
Devemos constatar os casos em que as pessoas não compreendem; procurar saber por que tal acontece, constatar a repressão, a propaganda dos jornais burgueses, rádio, cinema, etc, procurando todos os meios possíveis para fazer compreender o que queremos, pelos panfletos, brochuras, jornais, escolas, etc.
Não ter o sentido das realidades, viver na lua e, praticamente, fazer projetos não tendo em situações, realidades, é uma atitude idealista que concede a importância primeira aos belos projetos, sem ver se são realizáveis ou não. Os que criticam continuamente, mas que nada fazem para que as coisas melhorem, não propondo nenhum remédio, aqueles a quem falta senso critico para com eles próprios, todos esses são materialistas não consequentes.
IV. – Conclusão.

Por estes exemplos, vemos que os defeitos, que podemos constatar mais ou menos em cada um de nós, são idealistas. Somos atingidos, porque separamos a pratica da teoria e a burguesia, que nos influenciou , gosta que não liguemos importância à realidade. Para ela, que defende o idealismo, a teoria e a pratica são duas coisas totalmente diferentes e sem nenhuma relação. Tais defeitos são, pois, nocivos, e devemos combatê-los, porque aproveitam, no fim de contas à burguesia. Numa palavra, devemos constatar que esses defeitos, produzidos em nós pela sociedade, pelas bases teóricas da nossa educação, da nossa cultura, enraizados na nossa infância , são obra da burguesia – e desembaraçar-nos deles.

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